Conceitos Fundamentais de Direito Penal: Tipicidade, Tipo e Dolo
Classificado em Direito
Escrito em em português com um tamanho de 5,01 KB
Tipicidade: Conceito e Espécies
Existem duas espécies de adequação na tipicidade:
- Adequação Típica de Subordinação Imediata (Adequação Direta) ou Tipicidade Direta/Imediata: Ocorre quando os fatos do mundo real se encaixam diretamente na descrição legal do crime. A conduta se subsume de forma imediata à norma penal.
Exemplos de adequação direta: subtração de coisa alheia móvel para si ou para outrem (furto), proferir ofensas a alguém (injúria/difamação), matar alguém (homicídio). - Adequação Típica de Subordinação Mediata (Adequação Indireta) ou Tipicidade Indireta/Mediata: Na adequação indireta, o fato passa por uma norma de extensão ou de reenvio. É necessário valer-se de uma norma de extensão para aplicar a adequação típica.
Exemplo de adequação indireta: mandar matar alguém. Neste caso, o mandante não cometeu o crime diretamente, mas sua conduta é alcançada pela norma penal através de uma regra de extensão (participação, autoria mediata).
Tipo Penal: Definição e Elementos Constitutivos
Tipo: É o conjunto dos elementos que descrevem a conduta criminosa.
Os elementos do tipo penal podem ser divididos em três categorias:
- Elementos Objetivos: São descritivos e podem ser observados objetivamente. Descrevem a conduta (verbo), o sujeito (ativo ou passivo), o objeto material, tempo e lugar.
Exemplos: matar (verbo) alguém (sujeito passivo). O sujeito ativo (ex: no crime de concussão) e o verbo podem descrever tempo e lugar. Quando o tipo penal contém apenas elementos objetivos, ele é denominado tipo normal ou congruente. - Elementos Subjetivos: Indicam a finalidade especial do agente ou seu estado de consciência.
- Finalidade especial do agente: A intenção específica do agente ao praticar a conduta.
Exemplos: No Art. 307 do Código Penal, a finalidade é obter vantagem econômica e causar prejuízo a outrem. Outro exemplo é o Art. 131. - Estado de consciência: O conhecimento ou a ciência do agente sobre determinada circunstância.
Exemplos: No Art. 130, a pessoa sabe ou deve saber que está com doença venérea. No Art. 180 (receptação), a pessoa tem que saber a origem ilícita do bem.
- Finalidade especial do agente: A intenção específica do agente ao praticar a conduta.
- Elemento Normativo: Depende de uma interpretação valorativa, que pode ser jurídica ou extrajurídica.
Exemplo: Art. 178 do Código Penal.
Dolo: Espécies e Aplicação no Código Penal
As espécies de dolo são:
- Dolo Direto: É aquele em que o agente dirige sua conduta diretamente para a produção de um determinado resultado criminoso. Há a vontade de realizar o tipo penal.
- Dolo Indireto: A conduta do agente não se dirige a uma finalidade específica, mas ele assume o risco de produzir o resultado. Pode ser dividido em:
- Dolo Eventual: O agente prevê o resultado, não o deseja, mas assume o risco de produzi-lo, sendo-lhe indiferente que ocorra.
- Dolo Alternativo: O agente age com a intenção de produzir um de dois ou mais resultados possíveis (ex: matar ou lesionar). O Código Penal não aceita o dolo alternativo como uma categoria autônoma, mas sim como dolo direto em relação a ambos os resultados possíveis.
O dolo é a regra no Código Penal. Todos os crimes previstos neste código são, em princípio, dolosos, não necessitando de expressa menção para tal. A modalidade culposa, por sua vez, deve estar expressamente prevista.
Teorias do Dolo: Vontade, Representação e Consentimento
Existem três teorias principais para explicar o conceito de dolo:
- Teoria da Vontade (ou Subjetiva): Para esta teoria, o dolo é a vontade consciente de praticar a conduta criminosa e produzir o resultado.
- Teoria da Representação: O dolo é uma representação mental do crime. O agente prevê o resultado, mas não necessariamente o deseja. Esta teoria é considerada insuficiente para o dolo eventual.
- Teoria do Consentimento (ou Assentimento): É um "plus" em relação à Teoria da Representação. O sujeito representa mentalmente o crime e, mesmo não o desejando diretamente, assume o risco de sua ocorrência, aceitando-o. A ocorrência do crime é indiferente para o agente.
No Art. 18, I do Código Penal, a primeira parte do artigo reflete a Teoria da Vontade (ou Subjetiva), enquanto a segunda parte se alinha à Teoria do Consentimento.