Conceitos Fundamentais de Filosofia, Ciência e Sociedade
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1. O Significado Filosófico e a Necessidade da Filosofia
Filosofia: História, Definição e Etimologia
Etimologia: FILO = amor. SOFIA = sabedoria. Significa Amor ao Saber, Busca pelo Conhecimento, Desejo de Sabedoria.
A filosofia é um conhecimento teórico, uma vez que as conclusões não podem ser demonstradas através de experimento. A filosofia é tão antiga quanto o homem. Os seres humanos são naturalmente curiosos e desejam saber e conhecer o que está ao seu redor. Quando fazemos filosofia, buscamos saber sobre o que não sabemos. A filosofia reside na autonomia racional. Devemos criar nossa própria personalidade e usar a razão para criticar o que não compartilhamos. Filosofia é, portanto, ter uma atitude crítica perante a vida e tudo o que se refere aos seres humanos.
Perguntas sobre a realidade são mais importantes do que respostas. Ao fazer uma pergunta, mesmo que tenha sido respondida, ela está sempre aberta, e podemos chegar a novas reflexões. Qualquer resposta é considerada filosoficamente correta sob o nome de filosofia. No entanto, nas ciências empíricas, a resposta é determinada empiricamente, e há apenas uma resposta correta.
A filosofia se interessa por tudo: História, Ética, Matemática, natureza humana, e assim por diante. Ela busca respostas que de alguma forma são consideradas verdadeiras, mas nunca se resolvem como verdade absoluta, porque tudo pode mudar. Se há uma lógica para demonstrar e aprender a verdade, tentamos chegar o mais perto possível dela.
Filosofia e Estilo de Vida
Os seres humanos estão constantemente a tomar decisões. Devem pensar que as decisões que tomamos não prejudiquem ninguém. Uma atitude filosófica perante a vida é essencial. A filosofia pode ser um estilo de vida, mas não para todos, mas para aquele que toma decisões baseadas na reflexão e análise.
A filosofia está interessada na vida, que pode ser vivida de maneiras diferentes. Há duas formas de viver:
- Desenvolver a nossa própria natureza social, racional, emocional... Se desenvolvida, teremos uma vida humana.
- Não desenvolver a mente e, portanto, não ter natureza humana.
Se não refletirmos e analisarmos, o ambiente tem influência sobre nós e não usamos a nossa liberdade. Assim, temos um comportamento animal, não exercemos a nossa natureza humana.
Origem da Filosofia e sua História
A filosofia começa no século VI a.C. na Grécia. As circunstâncias que favoreceram o seu surgimento foram:
- Geográficas: A Grécia era costeira e seu povo era marinheiro. Foi um ponto de entrada e saída de produtos e cultura.
- Socioeconómicas: Muitos gregos se espalharam para outros lugares através do mar, enriquecendo sua cultura. Além disso, os cidadãos da polis começaram a ter tempo para pensar porque os escravos podiam sustentá-los.
- Políticas: O sistema político democrático permitia a liberdade de pensamento.
- Cultural e Religiosa: A religião na Grécia era pouco rígida e baseada em um extenso conjunto de deuses, muitas vezes inconsistentes e que expressavam comportamentos humanos. Isso facilitou o surgimento de explicações diferentes da realidade humana, buscando explicações racionais.
2. Conhecimento Científico: Origens, Métodos e Limites
Origens do Conhecimento Científico
O conhecimento científico é uma abordagem crítica da realidade, baseando-se no método científico que, essencialmente, tenta perceber e explicar, desde os elementos essenciais até o mais prosaico, o porquê das coisas e sua evolução, ou pelo menos tende para esse fim.
Conhecimento Científico |
Objetividade |
É válido para todos |
É universal. Está relacionado com o objetivismo moral. É defendida por Sócrates, sobre os conceitos de verdade e de justiça (direitos humanos universais, 10/12/48) |
Platão e Aristóteles alertaram para a necessidade de seguir um método com um conjunto de regras ou axiomas que devem levar ao fim proposto de antemão. Sócrates, Platão, Aristóteles e outros grandes filósofos gregos propuseram os primeiros métodos de raciocínio filosófico, matemático, lógico e técnico. Na Idade Média, filósofos, físicos, matemáticos, astrónomos e médicos do mundo islâmico elaboraram e divulgaram a filosofia grega. Mas foi apenas na Idade Moderna que se consolidou uma nova filosofia natural. Descartes (século XVII) definiu pela primeira vez um método de direcionamento das regras da boa razão e de busca da verdade na ciência. Muitos defendiam a necessidade de um método que permitisse a investigação da verdade. Os pioneiros do método científico, como Leonardo da Vinci, Copérnico, Kepler e Galileu, foram aqueles que aplicaram regras metódicas e sistemáticas para alcançar a verdade.
Métodos Científicos
Método Empírico-Analítico
Conhecimento de autocorreção e progressivo. Característico das ciências naturais, sociais ou humanas. Caracteriza a ciência descritiva. É o método mais amplamente utilizado em geral. Baseia-se na lógica empírica. Dentro deste método, podemos observar várias especificações técnicas específicas. Podemos distinguir entre os elementos de um fenómeno e são revistos separadamente.
Método Lógico
Este é outro grande ramo do método científico, mas é mais clássico e menos fiável. Sua união com o método empírico levou ao Método Hipotético-Dedutivo, hoje um dos mais fiáveis.
- Método Dedutivo Lógico: Aquele que vai do geral para o particular.
- Método Indutivo Lógico: Aquele que vai do particular para o geral.
Método Histórico
Está ligado ao conhecimento das diferentes etapas dos objetos em ordem cronológica. Para a evolução e desenvolvimento do objeto de pesquisa ou fenómeno, é necessário revelar sua história, as principais etapas do seu desenvolvimento e principais conexões históricas. Ao analisar a trajetória histórica da teoria concreta, o seu condicionamento para diferentes períodos da história.
3. O Problema da Verdade: Critérios, Linguagem e Lógica
Diferentes Sentidos do Termo Verdade
O significado da verdade não é o mesmo em cada caso. Existem factos e objetos que são reais, mas também acreditamos que as nossas afirmações são verdadeiras.
- Verdade de Fato: É preciso distinguir entre a realidade autêntica do mundo de objetos e eventos como eles realmente são, e a realidade aparente, como esta realidade aparece ou se manifesta. As coisas nem sempre são como parecem; as aparências nos enganam e escondem a verdadeira realidade. A verdade é identificada com a realidade autêntica; os factos verdadeiros são os factos autênticos face ao aparente ou enganoso. Isso significa a busca da verdade como um processo de revelação do autêntico.
- Verdade de Proposições: A verdade é atribuída às afirmações que fazemos sobre os factos. A verdade seria uma propriedade dessas frases que, ao afirmar ou negar algo, podem ser verdadeiras ou falsas.
- Verdade de Proposições Empíricas: Proposição sobre alguns eventos e acontecimentos no mundo.
Critérios de Verdade
- Verdade como Coerência: Uma proposição é verdadeira se não contradiz o resto das propostas aceites.
- Verdade como Sucesso (Pragmatismo): Uma proposição é verdadeira quando é útil, o que leva ao sucesso. A verdade ou falsidade de uma proposição coincide com as consequências que resultariam da aplicação. Uma proposição é verdadeira se a sua aplicação tiver sido bem-sucedida; uma proposição falsa é aquela que tem consequências negativas.
- Verdade das Proposições Formais: A verdade é como a consistência. Só pode ser verdade se não contradizer o resto das propostas aceites pelo sistema ou teoria.
Critérios para o Reconhecimento da Verdade
- A Evidência: Muitas vezes é um critério insuficiente. A evidência é a forma especial como se apresentam certos factos e proposições que consideramos óbvios, ou seja, que é impossível duvidar da sua verdade.
- Certeza: Sentimentos subjetivos.
- Intersubjetividade: Nossas crenças devem ser aceitáveis para qualquer sujeito racional, buscando um acordo de consenso.
Linguagem e Conhecimento
Outro aspeto que alguns pensadores consideram que pode influenciar o nosso conhecimento é a linguagem, que nos permite adquirir e formular conhecimento. Os esquimós têm diversos conceitos para descrever a neve, por exemplo. A linguagem influencia o pensamento e as nossas perspetivas.
É possível distinguir o conhecimento coletivo do pessoal. O conhecimento pessoal é aquele que adquirimos e verificamos pessoalmente e diretamente; o conhecimento coletivo é aquele que adquirimos indiretamente através da sociedade.
Introdução à Lógica das Proposições
Como se Constrói um Argumento ou Silogismo?
Através de premissas. Uma premissa é uma afirmação ou frase que contém informações que podem ser verdadeiras ou falsas e que nos levam a uma conclusão. Exemplo: "Hoje está ensolarado."
Estrutura do Raciocínio
Premissa 1 Premissa 2 Premissa 3 | Conclusão
Raciocínio Dedutivo
É aquele que vai do geral para o particular. Exemplo:
- Todas as plantas precisam de água e luz.
- A rosa é uma planta.
- Conclusão: A rosa precisa de água e luz.
Raciocínio Indutivo
É aquele que vai do particular para o geral. Exemplo:
- O íman atrai cobre, ouro, prata, bronze...
- Ouro, bronze, cobre e prata são metais.
- Conclusão: O íman atrai todos os metais.
4. Os Grandes Problemas da Metafísica Ocidental
É Kant quem afirma que a metafísica é uma disciplina que investiga alguns problemas específicos que se situam fora do âmbito de investigação puramente científica. Em sua Crítica da Razão Pura, ele mostrou a impossibilidade da metafísica como uma ciência, isto é, como conhecimento objetivo sobre o mundo, sobre a alma e sobre Deus. Ele também afirma que a alma e Deus não são acessíveis ao conhecimento científico, visto que ambos não são fenómenos que ocorrem na experiência. Ele disse que o lugar onde se levanta a questão de Deus, a imortalidade da alma e da liberdade está na razão prática.
Em sua Crítica da Razão Prática, Kant tenta recuperar os conceitos metafísicos de liberdade, Eu e Deus. A Razão tem duas funções claramente diferenciadas:
- Razão Teórica: Preocupa-se em saber como as coisas são, ou seja, o conhecimento da natureza.
- Razão Prática: Preocupa-se com a forma como o comportamento humano deve ser. A razão prática não visa o conhecimento de como é, de facto, o comportamento humano, mas sim o conhecimento de como deve ser. Não se interessa pelos motivos que determinam empiricamente e psicologicamente os homens (desejos, sentimentos, egoísmo, etc.), mas sim pelos princípios que devem determinar a ação.
A Ciência (razão teórica) está preocupada com o Ser, enquanto a Moralidade (razão prática) está preocupada com o Dever Ser.
A diferença entre as atividades racionais manifesta-se, de acordo com Kant, no modo completamente diferente em que ambas expressam seus princípios ou leis: a razão teórica (ciência) faz juízos, como "o calor expande o corpo", enquanto a razão prática faz obrigações ou mandamentos, como "Não matarás".
Disciplinas Metafísicas Fundamentais
São fundamentais três disciplinas metafísicas, responsáveis pelo estudo desses objetos (alma, Deus e o mundo):
- Psicologia Racional (estudo da Alma)
- Cosmologia Racional (estudo do Mundo)
- Teologia Racional (estudo de Deus)
5. Filogenia, Antropogénese e Sociogénese
Filogenia
O conceito de Filogénese refere-se à origem ou surgimento de diferentes espécies e envolve o facto de que algumas espécies se relacionam ou derivam de outras. Este processo é conhecido como evolução, que coloca alguns problemas para demonstração e comparação, mas também é considerado um facto inegável.
Evidências da Evolução
- Testes Taxonómicos (Classificação): Considera-se que características comuns podem ser definidas entre as espécies (da menor para a maior similaridade) que as classificam por ramos de um tronco comum. No caso da taxonomia humana, é a seguinte: Filo: Cordados; Classe: Mamíferos; Ordem: Primatas; Família: Hominídeos; Género: Homo; Espécie: Homo sapiens sapiens.
- Evidência Paleontológica: Provas fornecidas pelo estudo de fósseis.
- Evidência Anatómica: Provas que comparam os diferentes órgãos de indivíduos de espécies distintas que têm morfologia semelhante e localização no corpo. Isto permite conexões evolutivas interespécies.
- Testes Embriológicos: Similaridade e dissimilaridade no desenvolvimento de embriões de espécies diferentes.
- Exames Bioquímicos: Fornecidos pelas semelhanças e diferenças entre os genótipos de diferentes espécies, estudando o seu DNA, o que permite relações filogenéticas entre grupos de seres vivos.
Antropogénese
Estuda a origem e o surgimento da espécie humana. Está diretamente relacionada com os primatas (orangotangos, gorilas e chimpanzés). A "semelhança" entre as espécies, que no início era enorme, é perdida à medida que avançamos, e as grandes diferenças evidentes na região anatómica são ainda maiores em relação ao intelectual ou cultural.
Principais Características da Antropogénese
- Bipedalismo: Devido a algumas alterações no meio ambiente relacionadas a mudanças climáticas, foi muito adaptável e vantajoso mover-se sobre duas pernas e libertar os membros anteriores do seu papel de caminhantes. A partir desta mudança, apareceram outros derivados: os pés especializam-se, a mão é libertada, a pélvis e a coluna são modificadas, e pode aumentar o tamanho do cérebro e a inteligência.
- Libertação do Membro Superior: Presumivelmente, um número de mudanças nas funções realizadas pelas mãos implica, por sua vez, mudanças no resto do rosto. Desaparece a característica de prender com a boca, o que envolve a redução do tamanho da mandíbula (prognatismo), mudança no formato do rosto e dos dentes, e assim por diante. Os dedos são estilizados e alongados, e as pernas e pés são especializados nas suas funções de apoio e locomoção.
- Telencefalização: É a evolução do sistema nervoso e, especialmente, o aumento no tamanho do cérebro. É interessante notar a estreita relação entre o aumento no tamanho do cérebro e a maior especialização na gestão útil das mãos e melhor utilização das pernas e pés. Dizemos que há uma ligação bidirecional entre os dois. Não só aumenta o tamanho do cérebro, mas a sua complexidade estrutural aumenta, e isso torna as áreas mais interessantes, como o córtex em geral e as áreas relacionadas com as faculdades superiores.
Sociogénese
Os seres humanos têm um estágio de dependência infantil longo, em parte devido ao seu lento desenvolvimento fisiológico. Isso acontece na maioria dos vertebrados, mas no caso dos humanos é particularmente extenso. A duração deste período tem implicações importantes no psicológico e sociológico: nesta fase, adquirem-se as habilidades, a cultura, a personalidade; em suma, ocorre a socialização num longo processo de aprendizagem. Noutras espécies, as influências genéticas determinam o comportamento dos indivíduos muito mais, algo que não acontece na nossa espécie, onde a educação, por um lado, e a liberdade, por outro, tornam o comportamento quase imprevisível.
A Sociogénese é inseparável da Antropogénese, porque os seres humanos são sociais por natureza. Não há ser humano, desde os primeiros vestígios da humanidade, que não esteja também nas primeiras formações sociais. Note-se que, em geral, vemos a sociedade como algo positivo, como uma conquista do desenvolvimento, quando na verdade a sua origem se baseia, sim, no contrário. As parcerias envolvem a perda de alguma liberdade, uma transferência de direitos, viver com amigos e inimigos; em suma, um certo grau de desconforto em troca de determinados benefícios. A sociedade, portanto, baseia-se tanto no conflito quanto na cooperação, sendo inseparável um do outro.
7. Estrutura da Cultura, Interação Social e Estado
A Cultura
A cultura é um fator de humanização e nos diferencia dos animais. Edward Tylor (antropólogo norte-americano) define a cultura como um conjunto de costumes, hábitos, crenças... que nos definem e nos tornam diferentes dos outros. São modos de ser (em exercício) e de pensar.
Tipos de Cultura
- Cultura Material: Ferramentas, instrumentos de trabalho, instrumentos musicais... (Exemplo: pauzinhos na cultura chinesa, que são como talheres para os europeus).
- Cultura Mental: Pensamentos, ideias, crenças (políticas, sociais, religiosas...).
Democracia Ateniense: Democracia Direta
Os atenienses, no século V a.C., instituíram a democracia. A Grécia era um conjunto de polis ou cidades-estado com sistemas políticos e leis diferentes. A sociedade de cada polis era composta por aristocratas ou nobres, o povo (demos) e escravos. Os nobres eram livres, ricos e não trabalhavam a terra, possuíam escravos para trabalhar por eles. Os demos eram livres, pobres, não possuíam terra ou escravos, e trabalhavam na agricultura ou em comércios para viver.
Somente os nobres eram considerados cidadãos e tinham o direito de governar. No século V a.C., a cidadania também se estendeu aos demos, e o regime político passou a chamar-se Democracia (governo de todos os homens livres). Isto significava que todos os homens livres tinham direitos políticos iguais e eram considerados iguais no que diz respeito a governar. Governar é fazer leis sobre as questões comuns e obedecê-las. Todos os cidadãos são iguais perante a lei: têm o direito de fazer e o dever de obedecer.
Os cidadãos propunham, debatiam, votavam e aprovavam as leis na Assembleia, e as faziam aplicar pelos tribunais. Para fazer leis e administrar a justiça, são necessárias duas coisas: cultura e tempo livre para se dedicar a essas tarefas. Cultura significa ter a capacidade de adquirir e desenvolver a chamada virtude cívica, que é ter um senso de bem comum e não apenas de autointeresse. Os nobres eram educados e não trabalhavam (porque tinham escravos), de modo que adquiriam virtude cívica e tinham tempo para exercer suas funções políticas e judiciais da cidadania. Os demos não eram educados, não tinham escravos e tinham que trabalhar, de modo que não estavam em pé de igualdade com os nobres para cumprir seus deveres como cidadãos. A democracia foi possível porque os atenienses disseminaram a educação a todos os homens livres e deram um subsídio aos cidadãos pobres para que pudessem cumprir o seu papel público.
Os próprios cidadãos governavam e eram governados por todos eles. Mulheres livres, estrangeiros e escravos não eram cidadãos. Para ser um cidadão, era preciso ser um homem cujo pai e mãe fossem atenienses. A democracia ateniense foi um avanço na humanidade por considerar pela primeira vez na história que todos os homens livres eram iguais e tinham os mesmos direitos e deveres como cidadãos.
Havia coesão entre os cidadãos enquanto o estado ateniense era rico. Mas Atenas empobreceu porque as colónias se tornaram independentes e houve guerra. Em seguida, o subsídio público passou a ser obtido de impostos sobre os nobres atenienses, que se recusaram a pagar. Os pobres não os recolhiam e, na prática, não se diferenciavam da escravidão, o que quebrou a coesão social que tornava a democracia possível. A democracia ateniense, após um século de existência, acabou por morrer.
Democracia Moderna: Democracia Representativa
No final do século XVIII, surgiu a primeira constituição democrática, baseada na Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789). A democracia espalhou-se depois por muitos países e é considerado que o mundo deve ser regido por uma constituição democrática. Não se veem mais cavalheiros com direitos e deveres, mas sim funcionários com cidadãos livres e iguais com direitos e deveres.
Na Democracia Representativa, todos os cidadãos são livres e iguais e governam a si mesmos, fazem as leis e obedecem-nas. Delegam ao governo a elaboração das leis, para que legislem tendo em mente o bem comum. Os cidadãos voluntariam-se para governar e são eleitos por sufrágio. Uma vez eleitos, reúnem-se, debatem, votam e aprovam ou derrubam a lei numa assembleia chamada Parlamento. Não são cidadãos escolhidos ao acaso, mas sim advogados e juízes.
Críticas à Democracia Representativa
Baruch Spinoza disse que a liberdade só pode ser direta na democracia, não podendo ser delegada sob pena de se perder, e que, se nem todos os cidadãos exercerem a sua capacidade de governar, a democracia não é uma realidade, mas uma palavra. Rousseau disse que a democracia representativa, devido ao seu próprio design, não predispõe à virtude cívica e ao exercício da cidadania. Rousseau disse que "os cidadãos não pagam diretamente os deputados, mas as leis, e ficam em casa."
As inter-relações entre os representantes que pertencem a partidos políticos concebidos como adversários são relações de confronto e desqualificação sistemática do oponente, quando a sua função real é pensar juntos sobre o que é melhor para todos. Os representados, por sua vez, ignoram o rosto público como cidadãos, e os seus representantes não pensam no bem comum quando votam, mas sim nos seus próprios interesses. As eleições políticas, realizadas a cada quatro anos, deveriam talvez ser realizadas a cada dois anos. Todos estão conscientes dos seus direitos, mas quase ninguém cumpre os seus deveres. Os deveres estão implícitos no cumprimento dos direitos.
Democracia Participativa
É uma reformulação ou redesenho da democracia pela qual os cidadãos desenvolvem virtude cívica através da sua educação e decidem ativamente e diretamente muitas das leis que os regem. É uma mistura entre a democracia direta e a representativa. A população já não é analfabeta, é inteiramente educada através de educação pública gratuita e obrigatória, os estados são ainda muito grandes e não podemos reunir fisicamente assembleias de todos os cidadãos, mas temos telecomunicações que nos permitem reunir virtualmente todos online e tomar decisões.
8. Principais Teorias sobre a Origem da Sociedade e do Estado
Por que Vivemos em Sociedade?
Para estas questões, há duas respostas principais:
Teorias Naturalistas
Defendidas por Platão, Aristóteles e David Hume. Estes filósofos dizem que o homem é social por natureza, ou seja, precisa interagir com outros indivíduos desde o momento em que nasce. Lembre-se das palavras de Aristóteles: "Quem mora sozinho ou é um deus ou uma besta."
Teorias Contratualistas
Defendidas por J. Locke, Hobbes (ambos do século XVII), J.J. Rousseau e I. Kant (ambos do século XVIII). Para esses filósofos, a sociedade surge como resultado de um pacto ou contrato social. Os seres humanos não nascem sociais, mas de alguma forma são forçados a sê-lo.
- Famosa frase de Rousseau: "O homem é bom por natureza, é a sociedade que o torna mau."
- Citação atribuída a Locke no texto: "O homem nasce mau, é o lobo do próprio homem."