Conceitos Fundamentais da Filosofia: Ética e Escolas de Pensamento

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1. O que é Ética?

A palavra ética é de origem grega, derivada de ethos, que diz respeito ao costume, aos hábitos dos homens. Teria sido traduzida em latim por mos ou mores (no plural), sendo essa a origem da palavra moral. Uma das possíveis definições de ética seria a de que é uma parte da filosofia (e também pertinente às ciências sociais) que lida com a compreensão das noções e dos princípios que sustentam as bases da moralidade social e da vida individual. Em outras palavras, trata-se de uma reflexão sobre o valor das ações sociais, consideradas tanto no âmbito coletivo quanto no âmbito individual.

A ética seria uma reflexão acerca da influência que o código moral estabelecido exerce sobre a nossa subjetividade e de como lidamos com essas prescrições de conduta: se aceitamos de forma integral ou não esses valores normativos e, dessa forma, até que ponto damos o efetivo valor a tais valores.

2. A Ética Aristotélica

A ética em Aristóteles pode ser definida como uma busca pela felicidade dentro do âmbito do ser humano, se este se esforçar para atingir sua excelência, isto é, para se tornar uma pessoa virtuosa.

Na concepção aristotélica, a noção de felicidade está intrinsecamente ligada à ética e, assim, é caracterizada como "ética eudaimônica", ou seja, a felicidade possui papel central na ética.

Em outras palavras, a felicidade está no centro da ética aristotélica. A felicidade, para Aristóteles, consiste na realização humana e no sucesso daquilo que o homem pretende obter ou fazer, e ele o faz no seu mais alto grau de excelência humana. Ou seja, para ele chegar onde deseja, desenvolve suas virtudes (areté), suas qualidades de caráter, as quais possibilitarão atingir sua excelência, e isso em si já supõe uma "ética perfeita".

3. O que é Estoicismo?

O estoicismo afirma que todo o universo é corpóreo e governado por um Logos divino (noção que os estoicos tomam de Heráclito de Éfeso e desenvolvem). A alma está identificada com este princípio divino como parte de um todo ao qual pertence. Este Logos (ou razão universal) ordena todas as coisas: tudo surge a partir dele e de acordo com ele; graças a ele, o mundo é um kosmos (termo grego que significa "harmonia").

O estoicismo ensina o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza como um meio de superar emoções destrutivas. Defende que tornar-se um pensador claro e imparcial permite compreender a razão universal (logos). Um aspecto fundamental do estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bem-estar moral: "A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza." Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais: "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme" e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza."

A ética estoica defende uma perspectiva determinista. Com relação àqueles que não têm a virtude estoica, Cleanto uma vez opinou que o homem ímpio é "como um cão amarrado a uma carroça, obrigado a ir para onde ela vai." Já um estoico de virtude, por sua vez, alteraria a sua vontade para se adequar ao mundo e permanecer, nas palavras de Epicteto, "doente e ainda feliz, em perigo e ainda assim feliz, morrendo e ainda assim feliz, no exílio e feliz, na desgraça e feliz", assim afirmando um desejo individual "completamente autônomo" e, ao mesmo tempo, um universo que é "um todo rigidamente determinista".

4. O que é Epicurismo?

Chamamos de epicurismo o sistema filosófico que prega a necessidade da busca pelos prazeres moderados, de forma a atingir um estado de libertação do medo, ausência do sofrimento corporal e tranquilidade. Pois, quando os desejos são exaltados e exacerbados, podem causar perturbações constantes. Isso impediria o alcance da verdadeira felicidade, que só pode ser alcançada por meio da saúde do corpo e da serenidade do espírito.

Epicuro e sua doutrina surgiram em um momento de insatisfação com a condição das Cidades-Estados gregas, onde predominava a injustiça social e a concentração do poder nas mãos da aristocracia urbana. Todos se encontravam infelizes, e as pessoas se interessavam principalmente pelas riquezas e pelo poder. A religião tornou-se algo cercado de mitos e ritos sem significado, além de aumentar a crença e a procura por oráculos e adivinhações. Apoiando-se em coisas supérfluas como poder e dinheiro, as pessoas eram apenas relativamente felizes, esquecendo do que realmente é importante para chegar à verdadeira felicidade. Tendo isso em mente, Epicuro criou sua doutrina indo contra essas superstições e os bens materiais, de forma a mostrar qual era o real caminho para a felicidade.

De acordo com ele, a felicidade é alcançada por meio do controle dos medos e desejos, de modo a chegar à ataraxia, que representa um estado estável de prazer e equilíbrio, tranquilidade e ausência de perturbações. Ainda segundo Epicuro, possuir bens materiais limitados e não obter cargos públicos ocasionaria uma vida plena e feliz, com tranquilidade interior. Epicuro criou quatro remédios que seriam necessários para alcançar a felicidade:

  • Não temer aos deuses;
  • Não temer à morte;
  • O bem não é difícil de alcançar;
  • Os males não são difíceis de suportar.

5. O que é Hedonismo?

O hedonismo é uma doutrina que defende que o prazer é o meio correto para atingir o objetivo supremo do homem, a saber, a felicidade; felicidade esta que tem como essência precisamente o prazer. A moral, para o hedonista, deve ser ordenada segundo o modelo dado pela busca do prazer, ou seja, é considerado moral tudo aquilo que dê prazer e imoral tudo o que faça sofrer. Esta doutrina resulta da observação de que todos os seres buscam o prazer e tentam escapar ao sofrimento.

Os primeiros hedonistas de que se tem notícia, organizados em Escola, são os cirenaicos. A Escola Cirenaica foi fundada, segundo alguns, por Aristipo de Cirene (c. 435-365 a.C.), segundo outros, por seu neto e seu homônimo. A preocupação fundamental desta escola era a busca do prazer, essencialmente o físico, uma vez que considerava este superior ao prazer intelectual. Esta era a orientação original desta escola, mas, em seguida, houve divergências, e a orientação foi reformulada a tal ponto que essas conclusões tardias levaram a contradições com a ambiência inicial: o próprio Aristipo chega a afirmar que o homem deve ser o dominador do prazer e não o contrário.

O epicurismo — movimento fundado por Epicuro (341-271 a.C.) — é já a orientação do hedonismo em outro sentido, menos radical e individualista do que o primeiro. A principal preocupação do epicurismo é a ética, em um sentido aproximado da ética cirenaica. O epicurismo considerava também que o objetivo supremo do homem era o prazer, mas entendendo que este se conquistava através da capacidade de superar a dor e que a felicidade não está necessariamente no prazer imediato, pois há prazeres estáticos e outros fugazes: os primeiros são enganadores e os segundos são os que se deve buscar.

6. O que é Existencialismo?

A contribuição mais importante desta escola é sua ênfase na responsabilidade do homem sobre seu destino e em seu livre-arbítrio.

Para os existencialistas, a existência tem prioridade sobre a essência humana; portanto, o homem existe independentemente de qualquer definição pré-estabelecida sobre seu ser. Assim, não há uma inquietação relativa aos postulados produzidos pela ciência ou às especulações metafísicas, e sim no que se refere ao sentido da existência. Daí a predominância de elementos da Fenomenologia de Husserl — movimento que procura compreender os fenômenos tais como eles parecem ser, sem depender do real conhecimento de sua natureza essencial — nesta corrente filosófica, já que ambas privilegiam a vivência subjetiva em detrimento da realidade objetiva.

O existencialismo pressupõe que a vida seja uma jornada de aquisição gradual de conhecimento sobre a essência do ser; por esta razão, ela seria mais importante que a substância humana. Seus seguidores não creem, assim, que o homem tenha sido criado com um propósito determinado, mas sim que ele se construa à medida que percorre sua caminhada existencial.

Portanto, não é possível alcançar o porquê de tudo que ocorre na esfera em que vivemos, pois não se pode racionalizar o mundo como o percebemos. Esta visão dá margem a uma angústia existencial diante do que não se pode compreender e conceder um sentido. Resta a liberdade humana, característica básica do existencialismo, a qual não se pode negar.

7. Alegoria da Caverna de Platão e a Ética

Para Platão, somente os filósofos, amantes da verdade, teriam condições de libertar-se da Caverna das ilusões e atingir o mundo luminoso da realidade e da sabedoria.

Quando falamos dessa Alegoria, podemos destacar alguns pontos que normalmente não são tão bem lembrados. Por exemplo: a questão dos paradigmas e a questão do "conhecimento". (Veremos isso mais à frente).

Podemos dividir e entender esta alegoria da Caverna em três etapas:

  • O ambiente, o local e a situação em que se encontram as pessoas.
  • A libertação dolorosa e a saída também dolorosa da caverna.
  • O retorno à caverna: a educação e o desejo de repassar o conhecimento deslumbrado.

Outros pontos que podem ser lembrados: o prisioneiro que escapa pode ser Sócrates; quando ele retorna e tenta libertar os outros presos, demonstra o que deve fazer um bom político, um bom governante ou um bom educador, como queiram. Todos esses sentidos estão subjacentes no diálogo.

8. O Conceito Aristotélico de Valor

Para Aristóteles, é preciso educar a criança criando hábitos desde cedo. A vida feliz é a vida conforme à virtude. A virtude depende da prática de valores morais. Ninguém nasce virtuoso. Só nos tornamos justos praticando atos justos; só somos bons praticando bons atos. A virtude é cultivada pela educação, pois ela é uma disposição de caráter que torna alguém bom e o faz agir bem.

Os principais valores morais têm a ver com a moderação, pois tanto o excesso quanto a falta são prejudiciais. Para aplicar as virtudes, é necessária uma sabedoria prática, ou seja, um discernimento da razão voltada para a vida, para as decisões do dia a dia.

A coragem é o meio-termo entre o medo e a falta de confiança; o justo orgulho é o meio-termo entre a vaidade oca e a humildade servil; a calma é o meio-termo entre a raiva e a inércia; a verdade é o meio-termo entre o exibicionismo e a falsa modéstia; a amabilidade é o meio-termo entre aquele que briga à toa e o que vive elogiando ("puxa-saco"). Enfim, a prática do justo meio, da moderação, é fundamental.

É preciso mostrar isso à criança com exemplos, com histórias, sem forçar, mas sempre incentivando.

9. O que é Maiêutica Socrática?

A Maiêutica Socrática tem como significado "dar à luz" (parto intelectual), a procura da verdade no interior do ser humano. Sócrates conduzia este parto em dois momentos: No primeiro, ele levava seus discípulos ou interlocutores a duvidar de seu próprio conhecimento a respeito de um determinado assunto; no segundo, Sócrates os levava a conceber, de si mesmos, uma nova ideia, uma nova opinião sobre o assunto em questão. Por meio de questões simples, inseridas em um contexto determinado, a Maiêutica dá à luz ideias complexas. A maiêutica baseia-se na ideia de que o conhecimento é latente na mente de todo ser humano, podendo ser encontrado pelas respostas a perguntas propostas de forma perspicaz.

A autorreflexão, expressa no nosce te ipsum — "conhece-te a ti mesmo" — põe o homem na procura das verdades universais que são o caminho para a prática do bem e da virtude.

A Maiêutica, criada por Sócrates no século IV a.C., tem seu nome inspirado na profissão de sua mãe, Fanerete, que era parteira. Sócrates esclarece isso no famoso diálogo Teeteto.

10. O que é Utilitarismo?

O utilitarismo é uma doutrina ética defendida principalmente por Jeremy Bentham e John Stuart Mill, que afirma que as ações são boas quando tendem a promover a felicidade e más quando tendem a promover o oposto da felicidade.

Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: "Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar" (Princípio do Bem-Estar Máximo).

Trata-se, então, de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa.

O utilitarismo, concebido como um critério geral de moralidade, pode e deve ser aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio econômico quanto nos domínios sociais ou judiciários.

O utilitarismo é um tipo de ética normativa — com origem nas obras dos filósofos e economistas ingleses dos séculos XVIII e XIX, Jeremy Bentham e John Stuart Mill — segundo a qual uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também a de todos afetados por ela.

O utilitarismo rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir seus próprios interesses, mesmo às custas dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados, independentemente das consequências que eles possam ter.

O utilitarismo, assim, difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mau de uma ação depender do motivo do agente, porque, de acordo com o utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma má motivação no indivíduo.

11. Principais Teóricos do Utilitarismo

Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806-1873) sistematizaram o princípio da utilidade e conseguiram aplicá-lo a questões concretas — sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, emancipação feminina, etc.

Bentham

Por princípio da utilidade, entendemos o princípio segundo o qual toda a ação, qualquer que seja, deve ser aprovada ou rejeitada em função de sua tendência de aumentar ou reduzir o bem-estar das partes afetadas pela ação. (...) Designamos por utilidade a tendência de alguma coisa em alcançar o bem-estar, o bem, o belo, a felicidade, as vantagens, etc. O conceito de utilidade não deve ser reduzido ao sentido corrente de modo de vida com um fim imediato.

12. Principais Teóricos do Existencialismo

O existencialismo é um movimento filosófico e literário distinto, pertencente aos séculos XIX e XX, mas seus elementos podem ser encontrados no pensamento (e vida) de Sócrates, Santo Agostinho e no trabalho de muitos filósofos e escritores pré-modernos.

O filósofo do início do século XIX, Søren Kierkegaard, é geralmente considerado o pai do existencialismo. Ele sustentava a ideia de que o indivíduo é o único responsável por dar significado à sua vida e por vivê-la de maneira sincera e apaixonada, apesar da existência de muitos obstáculos e distrações como o desespero, a ansiedade, o absurdo, a alienação e o tédio.

13. O que é Determinismo?

Os críticos do determinismo reivindicam a não causalidade para justificar o livre-arbítrio e a livre escolha, geralmente atribuindo aos deterministas um mecanicismo ou fatalismo, tal como no pré-determinismo e no pós-determinismo citados acima. O que, acima de tudo, diferencia os deterministas, quaisquer que sejam, de seus críticos é a afirmação destes últimos de que a alma, a vontade, o desejo e a escolha existem em um universo à parte, separado do universo causal.

Para os críticos do determinismo, só essa posição dominante e exterior da alma pode explicar a liberdade. No entanto, há quem considere que essa crítica não leva em conta o terceiro exemplo de determinismo (codeterminismo), que reconhece modos de causalidade que engendram vários níveis de realidade (por exemplo, molecular, biológico, psíquico, social, planetário...), cada qual com uma consistência que lhe dá autonomia, jamais cessando, porém, de interagir com os outros níveis.

Filósofos como Nicolai Hartmann, Deleuze, Espinosa e Nietzsche não veem contradição alguma entre determinismo radical e liberdade. Para Deleuze, liberdade não é livre escolha nem livre-arbítrio, mas sim criação. Somos livres porque somos imanentes ao mundo determinista, mundo onde não existe nada que seja singularmente determinado que não seja ao mesmo tempo singularmente determinante. Se supuséssemos que somos exteriores ao mundo determinista, cai-se em um determinismo inerte passadista (pré-determinismo), onde, segundo ele, só nos resta a liberdade empobrecida chamada livre-arbítrio e livre escolha, que é pré-determinismo porque toda escolha e arbítrio se dá entre duas ou mais entidades dadas, isto é, já determinadas, já criadas.

14. O que são Parcas e Moiras?

A Moira era compreendida inicialmente como uma unidade, sendo descrita na Ilíada como uma norma localizada acima de tudo e de todos. Na Odisseia, ela já representa as fiandeiras, perdendo seu papel singular e conquistando um valor tríplice. As três irmãs, assim, assumem tarefas distintas. Clotho é a que tece, significando em grego 'fiar'; ela detém o fuso, manipula-o e estimula o fio da vida a iniciar sua trajetória.

Lachesis avalia os compromissos, as provas e as dores que caberão a cada ser, distribuindo assim entre os homens seus respectivos destinos; ela também sorteava quem partiria para o reino da Morte, denotando no idioma grego 'sortear'. E Átropos, que tem sob sua égide o poder de romper o fio da vida com sua tesoura encantada; na Grécia, seu nome tinha o sentido de 'não voltar'. As Moiras estão ligadas às etapas essenciais da existência: o início e o final da vida; o nascimento e a morte; e o casamento.

Entre os romanos, elas são conhecidas como Parcas, sendo batizadas de Nona, Décima e Morta, basicamente com as mesmas antigas atribuições, mas agora regendo apenas os mortais. O Destino continua a ser feminino, ligado a momentos próprios da mulher, como o parto, o matrimônio e a morte, a qual também sela o futuro da natureza masculina.

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