Conceitos Fundamentais da Psicologia: Teorias e Métodos

Classificado em Psicologia e Sociologia

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Objeto da Psicologia

O objeto da Psicologia (o que a psicologia estuda) são os comportamentos e os processos mentais. Os comportamentos, em sentido estrito, significa toda a atividade que pode ser observada, que é acessível aos nossos sentidos. Exemplos:

  • movimentos e mudanças no espaço e no tempo
  • o que dizemos e escrevemos
  • dormir
  • chorar
  • abraçar
  • beijar
  • agredir, etc.

Distinguir Comportamento de Processo Mental

Os processos mentais referem-se a toda e qualquer atividade que não pode ser diretamente observada. Exemplos:

  • pensamentos
  • motivações
  • sonhos
  • perceções
  • emoções
  • a memorização
  • a compreensão, etc.

Os comportamentos e os processos mentais não formam compartimentos estanques porque se influenciam mutuamente.

Vários psicólogos contemporâneos afirmam que os processos mentais podem ser estudados mediante a observação de alterações no comportamento em situações específicas. A partir de alterações comportamentais inferem que também ocorrem mudanças nos processos mentais.

Objetivos da Psicologia Científica

Desde William James e de Wundt (pelo menos), a psicologia se considera como disciplina científica. Para Koffka, a psicologia científica tem três objetos de estudo: a consciência, a mente e o comportamento. No entanto, ao contrário de muitos psicólogos, a posição defendida por Koffka é a de que a psicologia não pode ser apenas uma ciência da mente, da existência ou do comportamento, mas sim uma ciência que deve ser capaz de explicar os três objetos de estudo.

Perspetiva Estruturalista de Wundt

O estruturalismo é uma corrente de estudo da psicologia que procurou investigar os fenómenos da consciência, seus elementos e estrutura. Na Alemanha, no final do século XIX, na Universidade de Leipzig, o pesquisador Wilhelm Wundt criou o primeiro laboratório de psicologia experimental. Tornando-se um dos fundadores da psicologia experimental, tinha como objeto de estudo a estrutura consciente da mente e do comportamento, sobretudo as sensações. Para tal, utilizou o método da introspeção a fim de obter informações sobre processos elementares da experiência consciente.

Método Introspetivo

A introspeção ou perceção interior, tal como é praticada no laboratório criado por Wundt, seguia condições experimentais restritas e obedecia a regras explícitas. Wundt raramente usava o tipo de introspeção qualitativa em que o sujeito apenas descreve as suas experiências interiores, não sendo sujeito a qualquer método objetivo e rigoroso. Esta introspeção foi adotada por Titchener e Kulpe (alunos de Wundt). Este tratava, principalmente, julgamentos conscientes acerca do tamanho, intensidade e duração de vários estímulos físicos. Só um pequeno número de estudos envolvia o relato de natureza qualitativa e subjetiva, tal como o caráter agradável ou não de diferentes estímulos ou a qualidade de determinadas sensações.

Psicanálise: Mente e Método

A teoria psicanalítica foi desenvolvida pelo neurologista austríaco Sigmund Freud (1856-1939) e está intimamente relacionada à sua prática psicoterapêutica. É uma teoria que procura descrever a etiologia dos transtornos mentais, o desenvolvimento do homem e de sua personalidade, além de explicar a motivação humana. Com base nesse corpo teórico, Freud desenvolveu um tipo de psicoterapia. Ao conjunto formado pela teoria, a prática psicoterapêutica nela baseada e os métodos utilizados, dá-se o nome de psicanálise. A psicanálise é um campo clínico e de investigação teórica da psique humana, independente da Psicologia, que tem origem na Medicina, desenvolvido por Sigmund Freud.

O Eu Segundo Freud

ID

É o primeiro elemento. É inato, o que significa que a energia psíquica deriva apenas de tendências instintivas de natureza biológica que visam a satisfação imediata na busca exclusiva do prazer. A busca egocêntrica de prazer leva a constantes frustrações e conflitos, dado que, no mundo real, não existem condições que permitam que o objeto necessário esteja disponível sempre que o indivíduo o procura.

EGO

Tem por função orientar as pulsões de acordo com as exigências da realidade, de modo a tornar possível a adaptação do indivíduo ao mundo externo. No seu papel de árbitro na luta entre as pulsões inatas e o meio, o Ego conta com a ajuda de um conjunto de mecanismos de defesa que se vão formando e exercem um controlo inconsciente sobre as pulsões que ameaçam o equilíbrio psíquico do indivíduo.

SUPEREGO

Se considerássemos a criança apenas em termos de Id e Ego, poderíamos dizer que ela seria perfeitamente amoral. O desenvolvimento do sentido de moralidade só é possível quando se forma uma outra instância do aparelho psíquico: o Superego. Este controlo imposto a partir do exterior tende, pouco a pouco, a ser interiorizado e, por volta dos sete anos, o Superego é já uma instância interna que, segundo Freud, atua de modo automático e espontâneo.

Estádios Psicossexuais de Freud

Fase Oral (Nascimento até 1 ano)

Interação primária de uma criança com o mundo é através da boca. A boca é vital para comer, e a criança obtém prazer da estimulação oral por meio de atividades gratificantes, como degustar e chupar. Se esta necessidade não é satisfeita, a criança pode desenvolver uma fixação oral mais tarde na vida, cujos exemplos incluem:

  • chupar o dedo
  • tabagismo
  • roer unha
  • comer demais.

Fase Anal (1 a 3 anos)

Freud acreditava que o foco principal da libido estava no controlo da bexiga e evacuações. A aprendizagem do uso da casa de banho é uma questão primordial com as crianças e os pais. Demasiada pressão pode resultar numa necessidade excessiva para a ordem ou a limpeza mais tarde na vida, enquanto que muito pouca pressão dos pais pode levar a um comportamento confuso ou destrutivo mais tarde.

Fase Fálica (3 a 6 anos)

Freud sugeriu que o foco principal da energia do Id é sobre os órgãos genitais. De acordo com Freud, a experiência do menino é uma experiência de Complexo de Édipo e da menina é Complexo de Electra, ou uma atração para o pai do sexo oposto. Para lidar com este conflito, as crianças adotam os valores e as características do pai do mesmo sexo, formando assim o Superego.

Fase Latente (6 a 11 anos)

Durante esta fase, o Superego continua a se desenvolver, enquanto as energias do Id são suprimidas. As crianças desenvolvem habilidades sociais, valores e relacionamentos com colegas e adultos fora da família.

Estágio Genital (11 a 18 anos)

O início da puberdade faz com que a libido se torne ativa novamente. Durante esta fase, as pessoas desenvolvem um forte interesse no sexo oposto. Se o desenvolvimento é bem-sucedido neste ponto, o indivíduo irá continuar a evoluir para uma pessoa bem equilibrada.

Estratégias Inconscientes (Mecanismos de Defesa)

Estratégias inconscientes que a pessoa utiliza para tentar reduzir a tensão e a ansiedade, fruto da tensão entre Id, Ego e Superego:

  • Recalcamento: envio para o Id pulsões/desejos e sentimentos que não se podem admitir no Ego; conteúdos tendem a reaparecer de forma disfarçada (sonhos, atos falhados, etc.).
  • Negação: sujeito recusa-se a aceitar ou reconhecer a situação causadora de ansiedade.
  • Regressão: adoção de modos de pensar, atitudes que o caracterizam de uma fase de desenvolvimento anterior; procurar proteção de épocas passadas.
  • Racionalização: ocultar a si e aos outros as verdadeiras razões, e justificar racionalmente o seu comportamento (justificação aceitável).
  • Projeção, Deslocamento, Formação Reativa, Sublimação, Ascetismo, Intelectualização.

Pressupostos Básicos do Behaviorismo

As mudanças significantes que observamos no desenvolvimento podem ser atribuídas à aprendizagem. A análise do desenvolvimento da criança pode começar com uma descrição das respostas que a criança dá e em que condições ambientais dá as respostas.

Pressupostos:

  • 1. Princípio de Causa e Efeito – o comportamento não acontece de maneira livre.
  • 2. O comportamento é moldado pelas forças do ambiente.
  • 3. Enfatiza o comportamento observável.
  • 4. Qualquer coisa pode ser aprendida, assim como desaprendida.
  • 5. As mudanças que regem os experimentos são as mesmas que regem as mudanças do comportamento (método experimental).
  • 6. Não está preocupada com as causas do comportamento, mas com a eliminação dos sintomas.

Método Experimental do Behaviorismo

O Método experimental é um conjunto de procedimentos rigorosos que, desenvolvendo-se habitualmente em contexto laboratorial, procura controlar variáveis estranhas ou parasitas de modo a que os resultados se devam única e simplesmente à manipulação da variável independente, isto é, que a esta se devam as alterações na variável dependente.

Etapas:

  • 1. Formulação de um problema
  • 2. Experimentação
  • 3. Observação
  • 4. Conclusão e generalização

Perspetiva de Piaget: Adaptação ao Meio

Segundo Piaget, a adaptação ao meio assenta em três mecanismos: assimilação, acomodação e equilibração.

  • A assimilação: É o mecanismo que integra ou incorpora novas informações e experiências em esquemas já existentes.
  • A acomodação: É o mecanismo de ajustamento dos esquemas existentes (ou de criação de novos) quando as novas informações e experiências não podem ser assimiladas.
  • A equilibração: Consiste em procurar estabelecer um equilíbrio entre assimilação e acomodação. Excessiva assimilação e excessiva acomodação impedem ou perturbam o desenvolvimento cognitivo.

Fatores do Desenvolvimento Cognitivo (Piaget)

Principais fatores do desenvolvimento cognitivo segundo Piaget:

  • 1. A hereditariedade e a maturação física: Piaget refere-se a mudanças biologicamente determinadas no desenvolvimento físico e neurológico que ocorrem de forma relativamente independente em relação às experiências.
  • 2. A experiência: Por ela entende Piaget, não o simples registo passivo dos dados da experiência, mas sim a atividade do sujeito sobre os objetos – física e mental – que permite distingui-los e organizá-los.
  • 3. A transmissão social: Piaget refere-se ao processo através do qual somos influenciados, não pela nossa atividade própria, mas pelo contexto social, pela observação dos outros e pela educação.
  • 4. A equilibração: Cada novo estádio define-se pelo surgimento de novos esquemas e estruturas ou de estruturas e esquemas mais complexos. A equilibração é um conceito a explicitar no próximo ponto.

Para Piaget, o desenvolvimento cognitivo implica que a atividade do sujeito na interação com o meio responda aos desequilíbrios cognitivos procurando atingir um estado de equilíbrio entre a assimilação e a acomodação, mecanismos de adaptação ao meio.

Estádios de Desenvolvimento (Piaget)

  • Estádio Sensório-Motor (0 aos 2 anos): Estádio em que a inteligência se adapta ao meio essencialmente através de esquemas sensório-motores (atividade percetiva e atos motores). É o estádio da inteligência prática.
  • Estádio Pré-Operatório (2 aos 7 anos): É nesta fase que surge, na criança, a capacidade de substituir um objeto ou acontecimento por uma representação.
  • Estádio das Operações Concretas (7 aos 12 anos): Para Piaget, é neste estádio que se reorganiza verdadeiramente o pensamento.
  • Estádio das Operações Formais (dos 11/12 aos 15/16 anos): A transição para o estádio das operações formais é bastante evidente dadas as notáveis diferenças que surgem nas características do pensamento.

A Mente Segundo António Damásio

Diferença entre Emoção e Sentimento (Damásio)

Usualmente, emoção e sentimento surgem como sinónimos, mas segundo António Damásio, a relação entre ambos é muito estreita.

  • Segundo António Damásio, a emoção é um conjunto de reações corporais, automáticas e inconscientes, face a determinados estímulos provenientes do meio onde estamos inseridos.
  • O sentimento surge quando tomamos consciência das nossas emoções, isto é, o sentimento dá-se quando as nossas emoções são transferidas para determinadas zonas do nosso cérebro, onde são codificadas sob a forma de atividade neuronal.

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