As Concepções de História em Benjamin, Hegel e Kant
Classificado em Filosofia e Ética
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Walter Benjamin: Materialismo, Teologia e Redenção Histórica
Walter Benjamin estabelece uma relação entre materialismo e teologia, afirmando que o materialismo sempre vence. Interpretar a história corretamente indica pensá-las. O autor entende que o materialismo tem que vencer o inimigo, que é o fascismo. Sem interpretar corretamente a história, Benjamin afirma que não se vence o inimigo que elabora uma visão de progresso, deixando um grande rastro de destruição. Para Benjamin, cada vítima do passado tem que ser lembrada pela história para que assim fosse redimida. Isso não se reduz a apenas reconhecer o passado, pois cairia no positivismo, e o historiador, na visão do autor, não é um sujeito passivo. Ainda assim, Benjamin introduz o conceito de melancolia. Para o autor, a teologia só pode agir no mundo de modo oculto; a teologia implica a redenção e a recordação daqueles que perderam uma luta histórica. O autor ainda afirma que a história possui uma função teológica, ou seja, é preciso contar a história das vítimas do nazismo, fascismo, ditaduras, e ainda conferir-lhes justiça. Para Benjamin, existe um paraíso perdido – as sociedades sem classes, primitivas, comunistas – apresentadas no cristianismo primitivo. O progresso ocultou um paraíso perdido: as sociedades coletivas que se anunciavam no início da humanidade. Para Benjamin, o anjo da história, descrito em sua tese IX, quer parar e cuidar dos feridos, das vítimas esmagadas da indústria e do progresso. A história deve ser redentora e não repetidora. Benjamin passa a pensar a história não mais como progresso, mas pelas dores e ruínas que o próprio progresso produziu, pois ele é tempestuoso e deixa sua marca de destruição. Portanto, o papel do historiador é inverter essa visão do progresso e observar as ruínas produzidas pelo mesmo progresso. Deve-se, portanto, tomar distância do campo da análise e ser capaz de recriar, diante da atualidade política, para encontrar suas causas, o que para o autor seria distanciar-se das ilusões e tentações do século, como, por exemplo, movimentos que foram apresentados como redentores e messiânicos.
Hegel: A História como Palco do Espírito e da Liberdade
Até Hegel, a história não era uma preocupação filosófica, e isso vai influenciar as próximas gerações de filósofos. Para o autor, a história das ideias, que deve ser entendida filosoficamente, deve ser entendida historicamente, pois ele afirma que a história é o palco das ideias mais elevadas e consideradas as mais absolutas por ele. Antes de Hegel, a história era entendida por pensadores a partir dos homens; a história era revestida por ideais subjetivos, onde somente o homem nobre podia fazer história. Para o autor, as ideias orientam a história pelas escolhas feitas pelos homens, e que aconteceram no terreno da luta, travada por meio das paixões. Portanto, a história é a luta para o reconhecimento. A história, para o autor, é o desenvolvimento, e todo sistema é constituído numa tríade: a ideia, a natureza e o espírito. Quando Hegel examina a maneira que o espírito se revela na história, ele mostra que na natureza certos lugares são mais propensos aos estudos e outros com uma tendência à barbárie, e se não se pode fazer filosofia, não é possível ter história, pelo fato de que a exterioridade da história se mostra no desenvolvimento. Para o autor, a história somente se realiza no estado liberal, sendo a materialização e concretização do espírito. Deus é imanente na história, mas não na natureza. Com isso, Hegel restabelece Deus como um problema filosófico ao colocá-lo na história, afirmando que Deus é a história e a história revela Deus. Hegel tem uma visão otimista da história. O autor compreende a história como um reino da pura liberdade que só pode acontecer no estado e não fora dele. Para ele, não pode haver outro tipo de liberdade além daquele que ele estabeleceu como horizonte de existência. A partir da ideia do autor, o fim da história se dá no estado livre; todas as sociedades caminham para a liberdade.
As Três Formas da História em Hegel
- História Original: O momento em que é escrita por autores, como um imperador ao descrever seu reino.
- História Refletida: Nela, meditam-se os fatos passados e, a partir desse horizonte, o filósofo faz uma leitura para identificar o espírito e a visão de mundo que predominavam em uma época.
- Filosofia da História: A manifestação e o desenvolvimento do espírito.
A história, portanto, se faz visível, perceptível e se evidencia no percurso da racionalidade que se mostra livre ao longo do tempo.
Kant: A História como Projeto Crítico e Teleológico
Dentro do aspecto antropológico, Kant vai pensar a ideia de filosofia da história. Para Kant, a história é pensada como um projeto crítico, enquanto horizonte ético do espaço da ação do homem no mundo. Cabe entender como o homem age na história. A história caminha no reino da liberdade, e o reino da liberdade caminha no estado liberal. Dentro da teoria do autor, é abordado o sentido da história, de modo particular do ponto de vista jurídico, o que implica disposições voltadas para o uso da razão, e isso só é possível com uma constituição política. O autor considera que todos os homens pertencem a uma mesma espécie, mesmo não estando em condições iguais. Para ele, a liberdade é natural e o homem é naturalmente livre. Quando o autor fala de suas manifestações, ele diz que são regulares e progressivas. A história, portanto, apresenta um conjunto de ações humanas em suas manifestações regulares e progressivas. A história, portanto, orienta e evidencia o palco de ações humanas, que, embora pareçam confusas e desordenadas nos indivíduos, se mostram regulares e progressivas na história. Segundo ele, quando o homem age de maneira instintiva, as ações parecem desordenadas; quando age de maneira racional, as ações são ordenadas. Para Kant, cabe à história revelar um aspecto teleológico da natureza. A razão deve ser cultivada para progredir de um saber ao outro. Do ponto de vista do autor, para o homem se tornar civilizado, ele precisa ser educado. A educação contém dois aspectos fundamentais: negativa e positiva. A parte negativa, segundo o autor, tem a função da disciplina, conferindo ao homem o domínio dos instintos. A parte positiva refere-se à autonomia sob o ponto de vista da lei moral, epistemológico e civil. Portanto, para Kant, quem produz história é o indivíduo que sabe se adequar a essa categoria. Em suas proposições, o autor afirma que só é possível compreender filosoficamente a história da humanidade quando se toma o conjunto das ações humanas em uma perspectiva teleológica, ou seja, sobre a sua finalidade, e se entende a história a partir da realidade dos conhecimentos humanos. Para Kant, a liberdade se realiza na história coletiva e nunca no indivíduo. Ainda dentro das proposições, vemos a ideia de sociabilidade que deve se opor ao egoísmo. Para o autor, o homem é naturalmente ambicioso. Com Kant, a experiência possibilita construir épocas melhores, tendo em vista as épocas passadas.