Consolidação do Regime de Franco e Mudanças Sociais

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A Consolidação do Regime

Transformações Econômicas: Da Autarquia ao Desenvolvimento

O fim do isolamento do regime de Franco coincidiu com uma crise política. Incidentes na universidade entre alunos e membros do anti-SEU Franco (Falange da união dos estudantes) levaram os falangistas a solicitar aumento de poder. Isso resultou em uma remodelação governamental em 1957, com representantes mais radicais da Falange. Mudanças significativas ocorreram nos ministérios econômicos, com a ascensão dos chamados tecnocratas, formados em universidades e simpatizantes da liberalização da economia, ligados à Opus Dei e influenciados por mudanças na Europa. Mariano Navarro Rubio (Ministro das Finanças) e Alberto Ullastres (Ministro do Comércio) ingressaram no governo.

No início da década de 1950, as políticas autárquicas fracassaram. Apesar da ajuda dos EUA desde 1951, o orçamento e a balança comercial permaneceram em déficit. Em 1955, greves e protestos eclodiram. Franco concordou em entregar a liderança econômica aos tecnocratas, que implementaram o "plano de estabilização" de 1959, seguindo diretrizes do FMI e do Banco Mundial. O plano visava liberalizar a economia, permitindo a importação de capital, reduzindo a inflação e estabilizando preços e salários. A desvalorização da peseta e uma tentativa de reforma tributária foram implementadas. Inicialmente, os resultados foram negativos: salários baixos, queda na produtividade, aumento do custo de vida e desemprego. A partir de 1961, os efeitos positivos do plano surgiram, iniciando um período de expansão econômica baseada no setor industrial, turismo, investimentos estrangeiros e exportação de mão de obra.

A expansão industrial foi sustentada por baixos salários e investimentos estrangeiros. Tecnologia, bens de capital e energia (principalmente petróleo) foram importados, tornando a economia espanhola dependente do exterior.

O crescimento industrial causou migração de trabalhadores rurais para as grandes cidades e para a Europa, reduzindo a mão de obra no campo, aumentando salários rurais e estimulando a mecanização agrícola e a demanda por bens industriais. Modernização no campo e despovoamento rural foram fenômenos paralelos.

O déficit da balança de pagamentos foi compensado pela entrada de turistas e pelas remessas dos emigrantes, reduzindo o desemprego.

Foram lançados "planos de desenvolvimento" governamentais de três e quatro anos entre 1963 e 1975. O Estado incentivou o capital privado com subsídios, créditos baratos e incentivos fiscais, investindo em "polos de desenvolvimento" em novas cidades industriais (Valladolid, Huelva, Vigo). Os objetivos não foram totalmente alcançados.

O crescimento econômico entre 1961 e 1973 foi alto e constante, impulsionado pela expansão econômica global. A crise de 1973, devido ao aumento dos preços do petróleo, interrompeu o crescimento espanhol.

Mudança Social

As mudanças econômicas impactaram significativamente a sociedade espanhola.

A sociedade dos anos 40 e 50 era marcada pelo atraso, pobreza, ruralização e retrocesso técnico, científico e cultural.

O crescimento econômico dos anos 60 provocou migração em massa, concentração populacional nas cidades, mudança de estilo de vida e mentalidade. A abertura ao exterior, principalmente pelo turismo, e o baby boom, impulsionado por políticas pró-natalidade, contribuíram para essas mudanças. O crescimento populacional forçou a expansão do ensino público e do sistema de previdência e saúde, embora insuficientes.

O acesso das mulheres ao trabalho aumentou. Durante a ditadura, as mulheres perderam direitos conquistados na Segunda República, sendo relegadas à maternidade e ao lar. A mudança de mentalidade nos anos 60 permitiu o acesso ao trabalho e às universidades.

A classe média cresceu, tornando-se mais aberta e dinâmica, com acesso a bens de consumo, contrastando com os valores cristãos do regime. Eletrodomésticos, carros e férias tornaram-se acessíveis. Em 1958, a televisão estatal iniciou transmissões, impactando o comportamento social, apesar da censura.

A estrutura social dos anos 60 mostrava uma classe trabalhadora em ascensão, uma classe média emergente e uma classe dominante menor, com a chegada de uma elite ligada aos bancos e executivos.

No final dos anos 60, a classe dominante conservadora defendia os valores de Franco, enquanto as gerações mais jovens adotavam novas atitudes, como menor frequência religiosa, novos padrões de relações sociais e sexuais, e aceitação de modas e movimentos culturais estrangeiros.

Essas mudanças não resultaram em abertura política, gerando frentes de oposição ao controle e restrição de liberdades.

A Igreja iniciou um processo de distanciamento, denunciando a situação dos trabalhadores. A ascensão de João XXIII e o Concílio Vaticano II intensificaram as tensões.

Tensões nacionalistas ressurgiram. Em 1959, membros do PNV fundaram o ETA, optando pela luta armada pela libertação basca.

A partir de 1961, greves no setor industrial expuseram a falta de liberdade sindical e política.

Em 1962, após a Espanha solicitar adesão à CEE, o Contubernio de Munique recomendou a rejeição da Espanha sem liberdades. O regime reagiu com detenções de opositores. Em 1963, Julián Grimau, líder comunista, foi executado, gerando protestos internacionais. O regime tentou melhorar sua imagem com leis de modernização, como a Lei de Imprensa de 1966, mas a censura persistiu. Em 1966, a Lei Orgânica do Estado foi aprovada em referendo, e em 1969, Juan Carlos de Borbón foi nomeado sucessor de Franco.

A oposição cresceu em fábricas e universidades. Em 1968, a Faculdade de Ciências Políticas de Madrid foi fechada, e em 1969, a Universidade de Barcelona. O envelhecimento de Franco, protestos e pressão internacional desgastaram o regime.

Elementos de Mudança na Fase Final da Ditadura: Cultura

A partir de 1969, iniciaram-se os últimos anos de Franco. Em 1973, Carrero Blanco foi nomeado primeiro-ministro. Duas tendências surgiram: aperturistas, que buscavam abertura política e integração europeia, e o bunker, que rejeitava reformas. Em dezembro de 1970, o "processo de Burgos" condenou membros do ETA à morte, gerando protestos e comutação das penas. O governo enfraqueceu, enfrentando oposição estudantil e operária. Em 1973, surgiu a FRAP. Franco nomeou Arias Navarro primeiro-ministro após Carrero Blanco ser assassinado pelo ETA. Arias tentou reformas, mas enfrentou resistência do bunker.

A oposição ao regime cresceu, exigindo democracia. A Igreja distanciou-se do regime. Em 1974, Franco transferiu poderes a Juan Carlos. Em 1975, membros do ETA e FRAP foram condenados à morte, gerando protestos. O conflito do Sahara resultou na entrega do território ao Marrocos e Mauritânia. Em 20 de novembro de 1975, Franco morreu e Juan Carlos assumiu, iniciando a transição democrática.

A classe média cresceu, tornando-se mais dinâmica. A classe trabalhadora urbana aumentou, mas perdeu consciência de classe. O sindicato CCOO, controlado pelo PC, infiltrou-se nas fábricas. Protestos estudantis surgiram, questionando valores morais e políticos.

A fase final do regime foi marcada pela ruptura entre a cultura e os valores franquistas. A censura e doutrinação marcaram a educação. Artistas e intelectuais exilados contribuíram de fora. Surgiu uma cultura não oficial, com eventos literários e artísticos. A Lei de Imprensa de 1966 permitiu novas publicações. A Lei Geral de Educação promoveu a coeducação. Nos últimos anos, a cultura manifestou oposição ao regime.

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