Contabilidade: Ciência, Técnica e a Superação do Dilema Arte

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Pelo que desenvolvemos neste trabalho, podemos afirmar que a Contabilidade é uma ciência social aplicada, assim como o Direito, a Administração e a Economia. É ciência por preencher os requisitos da ciência, conforme o conceito dos especialistas. Tem objeto específico de investigação, tem metodologia própria (o que não proíbe que esta metodologia seja utilizada por outras ciências), descreve fenômenos empíricos, tem suas próprias leis e existe uma teoria própria da Contabilidade. Inclusive, muitos estudos sobre a Contabilidade preenchem os quatro requisitos básicos, segundo Eco (1983:23), para serem classificados como trabalhos científicos.

Com relação à técnica, existem técnicas contábeis que são os modos de materializar a ciência contábil, assim como existe uma técnica médica, uma técnica odontológica e uma técnica jurídica, por exemplo. E não existem dúvidas sobre o caráter científico desses ramos do conhecimento humano. A técnica é o modo operante, é o know-how, como dizem os americanos, ou o savoir-faire, no dizer dos franceses. Afinal, toda ciência tem sua própria técnica.

Com referência à arte contábil, pelo conceito de arte, é difícil pensar-se na Contabilidade como arte. Atribuímos a ideia aos conceitos que muitos tinham da Ciência Contábil, nos séculos XVIII e XIX, onde se confundia Contabilidade com simples técnica de escrituração. Como vimos no desenvolvimento deste trabalho, a Contabilidade era feita em livros e, como os Guarda-livros tinham obrigatoriamente uma boa caligrafia, e como muitos exageravam na perfeição material desse trabalho, muitos tomavam essa técnica como arte. Acreditamos que o engano vem desse procedimento.

Não é admissível que hoje, em plena era da informática, aqueles que veem a contabilidade apenas como técnica e até como arte não se deem conta do erro em desconsiderar a contabilidade como ciência, pois basta uma reflexão na evolução do pensamento contábil e associá-la ao progresso da humanidade para entender a utilidade de ter que se considerar a contabilidade - Ciência.

É prova inconteste que toda ciência advém de um conjunto de teorias explicativas lógicas relacionadas a fatos ocorridos e devidamente observados. Desse modo, se a contabilidade se enquadrar nessa linha de pensamento, então ela tem todas as prerrogativas para ser reconhecida e considerada como ciência. Então, esta absurda e avassaladora contradição a respeito de se questionar Contabilidade: Ciência, Arte ou Técnica, e todo o conflito gerado a nível emocional e intelectual acarretando frustrações e ansiedade nos profissionais da área, tenderá a durar um curto espaço de tempo.

No Brasil, a ciência contábil ainda encontra-se, no nosso ponto de vista, mais do que nunca no exercício da sabedoria convencional, ou seja, mais no prisma da explicação do que propriamente da aceitação geral do conhecimento. Isto se deve a ela estar mais voltada a cumprir os efeitos legais do FISCO do que colaborar para a tomada de decisões a nível de empresa, seja na esfera pública ou privada, mas mesmo com essa deficiência ela tende a ser incorporada à ciência como conhecimento científico, por constituir-se em um bem público e um acervo da humanidade.

O Professor Alberto Almada Rodrigues (1997: 24-31) em seu trabalho de pesquisa evidencia o fato de que a contabilidade é uma ciência e uma ciência exata porque se utiliza na prática do dia-a-dia, e sempre faz inferência aos métodos quantitativos. Ele salienta que a contabilidade como ciência tem precedência sobre a administração vez que esta adquiriu notoriedade neste século enquanto àquela surgiu e adquiriu notoriedade no século passado por ocasião do Tratado de Contabilidade por Partidas Dobradas. Sua teoria é bastante lógica quando baseia-se na exposição de aplicação da Álgebra na Contabilidade quando da convenção de que: ... o campo negativo representará origens de recursos (na forma de capital, dívidas ou rendas), e o campo positivo representará destinos ou aplicações de valores (na forma de bens, direitos e consumo). Ou, em uma linguagem contábil: o campo negativo representará créditos, e o campo positivo, débitos. Daí a consideração que ele faz é a de que a contabilidade opera sempre com números simétricos ou opostos, isto é, números qualificados ou relativos, de mesmo valor absoluto e, simultaneamente, de sinais diferentes. Para ele a Contabilidade, ou Patrimoniologia, é a ciência do Patrimônio e do Controle, do mesmo modo que a Economia é a ciência da Riqueza. No entanto, essa lógica fica comprometida por não fazer inferência ao aspecto da responsabilidade social que a contabilidade deve ter.

Desta forma, concluímos que a Contabilidade é Ciência, tem uma técnica contábil, porém não pode ser considerada arte. Acreditamos que com este trabalho, procuramos desenvolver subsídios para melhorar a compreensão deste nosso grande dilema to be or not to be science, que até hoje, como vimos no trabalho, tal como um fantasma, atormenta até mesmo os notáveis da nossa profissão.

A contabilidade encarada como ciência não está muito longe de alcançar unanimidade, é só uma questão de decisão e vontade de querer enxergar neste sentido.

Hoje, com este trabalho, estamos na linha de frente, lado a lado com aqueles conceituados estudiosos que defendem a posição da contabilidade ser uma ciência.

Durante toda a realização deste trabalho procuramos manter a certeza de que estávamos frente a uma oportunidade impar, principalmente pelo desafio de podermos desenvolver um tema que requer muito esforço de transmitir, com simplicidade, e tentar convencer o leitor a considerar a contabilidade uma ciência, dada a polêmica existente.

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