Contos de Baldomero Lillo: Mineiros e Mais

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Contos de Baldomero Lillo

O Marisco

Cipriana retirava mariscos das fendas das rochas, deixando a criança na praia. Viu um caracol numa fenda estreita e pensou que poderia servir de brinquedo para o filho. Sua mão ficou presa e ela morreu, vendo as ondas levarem seu filho, como uma mãe amorosa.

Como o homem sucumbe à natureza, por vezes cruel, sobre a qual não tem controle.

O Afogado

Personagens: Madalena, Sebastião

Sebastião mergulhou no mar e começou a relembrar sua história de desgosto. Desde a infância, era noivo de Maria Madalena. Ambos eram pobres, até que ela recebeu uma herança que mudou suas vidas. Agora, seus pais queriam um bom partido para a filha e a comprometeram com um marinheiro que investiria seu capital em um negócio com o pai dela no futuro.

Sebastião encontrou um náufrago morto com um casaco que lhe permitiu flutuar. De repente, percebeu que o náufrago tinha um saco de moedas de ouro. Pegou o saco, o salva-vidas desinflou e o jovem afundou, mas ele não percebeu que o saco estava amarrado com uma corda e afundou junto. Perturbado, retorna à cidade, entrega-se à vida noturna e embarca bêbado, sem rumo. Vê o afogado em todos os lugares, até que se vê sozinho em um recife, sem poder avançar ou retroceder. Vê o náufrago que o persegue e se afoga.

Irredenção

Personagens: Empregada doméstica, Princesa

A princesa havia organizado uma festa, com toda a atenção voltada para a decoração com flores, que estavam espalhadas por toda parte – uma ideia espetacular, na opinião dos convidados. Antes de dormir, a princesa quis espalhar algumas pétalas no quarto e teve o seguinte sonho: caminhava pela floresta e um sopro de sua boca arrebatava as flores das árvores, que, em seguida, a impediam de passar e a sufocavam com os ramos. Depois, foi para o purgatório, onde assistiu ao julgamento de ladrões que foram para o inferno, e pensou que não havia grande diferença entre ela e um ladrão. As regras do julgamento ditavam que ela não se desculpou por tirar as flores do pessegueiro e matar milhares de insetos que lá viviam. A empregada a acordou e disse que dormir com flores é como dormir com os mortos: causa pesadelos.

A Roda

Personagens: Cinza e Clavel

Ela tem dois galos de briga, Cinza e Clavel. Este último teve as esporas arrancadas. Na feroz luta, Clavel perdeu, mas se recusou a morrer. Olhando para o ar, sucumbiu. No outono, colidiu com uma pereira; o golpe fez cair flores sobre ele, criando um manto fúnebre.

Véspera Morta

Personagens: Mulher, Vendedora, Menina

A mulher de preto conta à vendedora a promessa que fez a uma mulher antes de morrer. A falecida a fez prometer cuidar de sua filha como se fosse sua. Ela deu sua palavra, mas não cumpriu a promessa, abusando da criança sem sentido. No inverno, não trocou suas roupas por outras mais grossas e, numa noite de tosse intensa, expulsou-a de casa. Uma chuva torrencial caiu e, quando a menina entrou, já estava em agonia e morreu. Para reparar o dano causado pela sua consciência pesada, a cada véspera de finados, leva as melhores flores.

Ouro

A ambição do homem pela eternidade e materialidade; não há mais qualquer senso de valor.

O Andarilho

Personagens: Sem-teto, Agricultores, Dom Simon, Isidro

Um andarilho conta sua história: um dia, jogando amarelinha, sua mãe lhe pediu para trazer gravetos. Ele a ignorou, irritado, e sua mãe o repreendeu. Ele a empurrou, e ela o amaldiçoou. Desde então, carrega a mão presa ao peito, deixando a lição de que as crianças devem obedecer aos pais, como diz a Bíblia. Todos os camponeses que o ouviam davam-lhe esmolas.

Dom Simon, proprietário do local onde o galpão estava, gritava que o andarilho havia adquirido com muito trabalho tudo o que tinha. Ele era viúvo; seu filho, Isidro, era muito diferente dele, como óleo e água. O jovem tinha aversão ao trabalho e desprezo pelo dinheiro.

Dom Simon, irritado, disse ao filho para tirar a mão do peito do andarilho. Isidro recusou repetidamente, até que preferiu que o pai o fizesse. Jogou o andarilho no chão e pegou sua mão. Depois disso, algo mudou nele. Isidro resolveu se rebelar e, correndo com seus amigos, discutiu com o pai, que o espancou. Isidro revidou, acertando o pai. Isidro saltou sobre o cavalo, tentando estimulá-lo, mas a fivela quebrou, ele rolou na poeira, que amorteceu a queda, e sobreviveu. As mulheres gritaram: "Um milagre!"

Iname

Personagens: Guarda, Martin, Oficial de plantão, Juiz

Rupert, apelidado de "Parede", guarda da polícia local, tinha grande prestígio por ser considerado um homem culto. Sua característica mais marcante era usar termos rebuscados, que não inventava, mas que surgiam na oportunidade.

Foi designado para ficar de guarda em uma área industrial onde o tráfego era quase nulo, o que não o agradava, pois não havia infrações para surpreender. Uma menina estava correndo, e Martin a perseguia com uma cobra morta que havia encontrado no quintal. O guarda o prendeu por levar animais "iname" à via pública. No quartel, o oficial ficou com raiva. O inspetor perguntou por que o prenderam; ele não entendia o significado da palavra e, quando estava prestes a perguntar, arrependeu-se, pois já havia usado o termo antes e percebeu que estava errado. Por isso, não queria parecer ignorante para seu subordinado. Martin pensou que a prisão era por maltratar cavalos, e explicou o que havia acontecido.

Quando o policial perfeito chegou, também hesitou e pediu para não parecer ignorante perante seus subordinados. O juiz fez o mesmo e aplicou uma multa de 20 pesos e 20 dias de prisão. Na sede, o oficial de plantão perguntou sobre a condenação, e o guarda-costas lhe disse que seria impossível pagar 20 pesos, pois ele havia deixado a carroça. O guarda perguntou como ele havia infringido a lei da estrada se não estava andando com a carroça. Foi aí que percebeu o erro cometido ao escrever o relatório e o ridículo que estava passando. Rasurou o documento para apagar a palavra e arquivou tudo. No dia seguinte, o juiz colocou o dinheiro em alguns envelopes e os entregou a Martin, mostrando que a dívida havia sido paga.

A Armadilha

Trata-se de ladrões de cavalos que devastavam os campos, matando as vacas para extrair apenas a pele e a língua. Por um ano, a polícia não agiu, até que, graças aos conselhos de Antonio a Luis Rivera, o problema foi resolvido. Luis alugou um campo chamado "Laurel".

Baldomero Lillo: Biografia e Contribuições

Contador de histórias chileno nascido em Lota, perto de Concepción, centro de mineração, em 6 de janeiro de 1867. Estudou no Liceu de Lebu, onde cursou até o 2º ano de Ciências Humanas. Seu pai, José Nazario, gerente da mina, promovia leituras diárias em casa. O filho trabalhou no comércio de carvão para ajudar nas finanças da família. Em 1897, casou-se com a Sra. Natividad Miller, com quem teve quatro filhos: Marta, Laura, Eduardo e Oscar.

Em 1898, viajou para Santiago, onde se tornou funcionário administrativo da Universidade do Chile. Continuou sua leitura, juntou-se a outros escritores na "Colônia Tolstoy" e, após uma breve incursão na poesia, publicou os livros de contos Sub Terra (1904) e Sub Sole (1907). O primeiro denuncia a exploração, o sofrimento e a morte dos trabalhadores do carvão, de forma direta, vigorosa, por vezes bruta e patética, embora haja também questões tranquilas, amorosas, bem-humoradas e até urbanas. O segundo, mais elaborado literariamente, aborda costumes, dramas psicológicos, questões indígenas e até o fantástico. Considerado o mestre do conto na América do Sul, Lillo foi traduzido para o inglês e outras línguas.

Em 1903, ganhou o primeiro prêmio concedido pela Revista Católica com o conto "Juan Fariña". Obras póstumas de Dom Baldomero são "A Descoberta" e "Histórias Populares". Ele também deixou um romance inacabado intitulado "A Greve", que tratava da vida dos mineiros nos campos de nitrato do norte.

Sua esposa faleceu em 1912 e, em 10 de setembro de 1923, Baldomero Lillo deixou de existir na cidade de San Bernardo, vítima de tuberculose.

A Contribuição para a Literatura Chilena

Baldomero Lillo foi, acima de tudo, um atento observador da vida. Desde tenra idade, impressionou-se com o que viu no Extremo Norte, onde conheceu o mundo dos trabalhadores das pampas, e depois com o dos mineiros de Lota e Coronel, o que resultou em suas obras mais famosas: "Sub-Terra" e "Sub-Sole".

Seus maiores sucessos como contador de histórias estão na descrição de ambientes e figuras que agem, que parecem emergir do inferno. Ele foi fiel, com sua pena, às sensações obtidas na experiência real vivida, imbuído do naturalismo que conheceu do escritor francês Émile Zola. O resultado ainda emociona os leitores de hoje e sempre.

Sozinho disse o melhor: "O homem mergulha no reino da dor e desliza sobre a superfície das alegrias, como se o sofrimento previsse uma contradição íntima e misteriosa, alegrias mais vibrantes e agitando seu corpo mais plenamente."

É considerado um dos grandes contadores de histórias do Chile e do romance.

Baldomero Lillo foi um dos grandes nomes da geração de 900. Em seus 56 anos de vida, escreveu um total de 45 contos de grande conteúdo humano.

Seu nome estará sempre associado aos túneis escuros e úmidos das minas de carvão.

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