Controlo Hormonal e Reprodução Feminina

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Controlo Hormonal na Mulher

Os ciclos ovárico e uterino são controlados por gonadotrofinas secretadas pela hipófise (FSH e LH). A produção destas hormonas é estimulada pela produção de gonadotrofina (GnRH) pelo hipotálamo.

Até à puberdade, a secreção de gonadotrofinas é reduzida, mantendo-se os ovários inativos. Na puberdade, o hipotálamo aumenta a secreção de GnRH, o que estimula a hipófise a secretar as hormonas FSH e LH. Isto tem como consequência o início da produção de estrogénio e progesterona pelos ovários.

Ciclo Ovárico e Uterino

Uns dias antes do início da menstruação (início do ciclo uterino), a hipófise aumenta a secreção de LH e FSH.

Em consequência, alguns folículos começam a sofrer maturação nos ovários, ocorrendo um aumento da produção de estrogénio.

O estrogénio, por um processo de retroalimentação negativa, controla a libertação de gonadotrofinas pela hipófise durante os primeiros 12 dias do ciclo ovárico. Nesta fase, o aumento moderado de estrogénio diminui a produção de FSH.

Entre o 12º e o 14º dia do ciclo ovárico, o contínuo aumento da concentração de estrogénios passa a exercer um controlo por retroalimentação positiva sobre a hipófise, resultando num aumento acentuado de LH e um aumento ligeiro de FSH. A elevada concentração de LH provoca a rutura do folículo maduro e a libertação do oócito II (ovulação).

A LH também estimula, posteriormente, a transformação das células foliculares em corpo lúteo. Este passa a secretar progesterona e estrogénios entre o 15º e o 26º dia do ciclo, sendo estas hormonas fundamentais para o crescimento e manutenção do endométrio.

O estrogénio e a progesterona, por retroalimentação negativa, inibem a produção de gonadotrofinas e impedem o início de um novo ciclo ovárico.

Menopausa

Por volta dos 50 anos, a mulher atinge o fim da sua fertilidade, entrando gradualmente na menopausa. Os últimos oócitos degeneram, não havendo produção de oócitos II. Os níveis de progesterona e estrogénio diminuem drasticamente, enquanto as concentrações de GnRH, FSH e LH aumentam. A menopausa envolve inúmeras alterações físicas e emocionais, principalmente devido à diminuição de estrogénio.

Fecundação

  • Processo de fusão de gâmetas que resulta na formação de um zigoto.
  • Ocorre habitualmente nas trompas de Falópio.
  • Durante uma ejaculação, são depositados na vagina entre 50 e 120 milhões de espermatozoides, mas a maioria não alcança as trompas.

Desafios para os Espermatozoides:

  • Problemas que reduzem a sua mobilidade.
  • Secreções produzidas pela vagina e pelo colo do útero que reduzem a mobilidade e viabilidade.
  • Contacto dos espermatozoides com o muco cervical, produzido pelas glândulas do colo uterino em quantidade e consistência variáveis ao longo do ciclo ovárico.

O aumento da concentração de estrogénios (aproximadamente no 12º dia) estimula a produção de grandes quantidades de muco pouco viscoso e com elevada percentagem de água, formando canais que facilitam a passagem do esperma no cérvix e criando condições mais favoráveis à fecundação. No início e no fim do ciclo, as concentrações hormonais estimulam o cérvix a produzir um muco mais viscoso, que bloqueia os canais glicoproteicos, criando uma barreira antiespermatozoides.

Percurso Final:

  • Deslocação do oócito II em direção ao útero, auxiliada por contrações da trompa de Falópio e movimentos do seu epitélio ciliado.
  • Progressão dos espermatozoides através do colo do útero. Menos de 100 alcançam as trompas de Falópio.
  • Encontro do oócito II e dos espermatozoides, que são atraídos por substâncias libertadas pelas células foliculares.
  • Penetração dos espermatozoides entre as células foliculares e reconhecimento pela ligação a recetores específicos da zona pelúcida.

Reação Acrossómica

  • Os espermatozoides sofrem a maturação final nos epidídimos.
  • Contudo, ainda não se encontram totalmente aptos para fecundar o oócito II, necessitando de atingir um estado de capacitação, que ocorre no trato reprodutor feminino, imediatamente antes da fecundação.

Para ocorrer a fecundação, um espermatozoide tem de reconhecer o oócito II e, em seguida, atravessar a zona pelúcida e a membrana celular do oócito II. O reconhecimento ocorre quando a cabeça do espermatozoide entra em contacto com a zona pelúcida (situada externamente à membrana do oócito II), induzindo o espermatozoide a sofrer a reação acrossómica.

A reação acrossómica envolve uma série de fusões entre a membrana externa do acrossoma e a membrana plasmática do espermatozoide, resultando na formação de poros. Isto leva à libertação do conteúdo do acrossoma, incluindo diversas enzimas proteolíticas que digerem localmente a zona pelúcida, permitindo a fusão entre a membrana do espermatozoide e a membrana do oócito II, com a consequente entrada da cabeça do espermatozoide no oócito.

  • Após a entrada do espermatozoide, o oócito II conclui a meiose II, formando-se o óvulo (haploide, n) e o 2º glóbulo polar. Os núcleos do óvulo e do espermatozoide fundem-se (cariogamia), formando o zigoto (diploide, 2n).
  • Formação da membrana de fecundação, que impede a entrada de mais espermatozoides (poliespermia). Esta resulta da exocitose de grânulos corticais para o espaço entre a zona pelúcida e a membrana plasmática do óvulo.

Desenvolvimento Embrionário e Gestação

Conjunto de transformações que ocorrem depois da formação do zigoto e que conduzem à diferenciação e especialização celular, formando um novo organismo.

Após a formação do ovo (zigoto), inicia-se o desenvolvimento embrionário ou embriogénese, o qual termina com o nascimento. Apesar de os fenómenos do desenvolvimento embrionário ocorrerem de modo contínuo, podem ser assinalados dois períodos principais:

  • Período embrionário: As primeiras 8 semanas, ao fim do qual todos os órgãos estão essencialmente esboçados.
  • Período fetal: Da 9ª semana até ao nascimento (aproximadamente 40 semanas), corresponde ao desenvolvimento dos órgãos e ao crescimento do feto.

Fases Iniciais (Segmentação)

No período embrionário inicial, o ovo sofre numerosas divisões mitóticas (clivagem ou segmentação), formando um embrião que se implanta no endométrio.

O embrião move-se lentamente pela trompa de Falópio até ao útero. A sua massa total permanece constante, mas o número de células (blastómeros) aumenta, tornando-se cada vez menores. Quando chega ao útero, cerca de 4 dias após a fecundação, o embrião é uma massa compacta de células chamada mórula.

A mórula (geralmente com 16 a 32 células) flutua livremente e é alimentada por secreções uterinas, continuando a desenvolver-se e passando a blastocisto. O blastocisto é constituído por:

  • Botão embrionário (Embrioblasto): Massa celular interna que dará origem ao embrião/feto e que se posiciona em contacto com o endométrio durante a implantação.
  • Trofoblasto: Camada celular externa que rodeia o botão embrionário e a cavidade do blastocisto (blastocele). Dará origem à parte embrionária da placenta e a outros anexos.

Nidação

Nidação (ou implantação): Fixação do blastocisto à parede interna do útero (endométrio), que ocorre aproximadamente 6 a 7 dias após a fecundação.

Após a nidação, começa a formar-se um anexo embrionário – o córion – que possui vilosidades coriónicas. Estas vilosidades invadem o endométrio, mergulhando em lacunas preenchidas por sangue materno, resultante da rutura de capilares uterinos, estabelecendo a base para a formação da placenta.

Processos do Desenvolvimento Embrionário

Crescimento

Ocorre devido ao aumento do número de células (por mitose) e do volume celular.

Morfogénese

Consiste no conjunto de movimentos e rearranjos celulares que levam à formação da estrutura do embrião, incluindo a formação das três camadas germinativas (gastrulação).

  • Endoderme (camada interna): Origina o revestimento do tubo digestivo, fígado, pâncreas, sistema respiratório, etc.
  • Mesoderme (camada média): Origina o esqueleto, músculos, sistema circulatório, sistema excretor, sistema reprodutor, etc.
  • Ectoderme (camada externa): Origina a epiderme e seus anexos (pelos, unhas), órgãos dos sentidos, sistema nervoso, etc.

Diferenciação Celular

Processo pelo qual as células se tornam estrutural e bioquimicamente especializadas, adquirindo funções específicas. O aumento do número de células e a sua especialização permitem formar os diferentes tecidos que, por sua vez, se organizam em órgãos e sistemas de órgãos.

Anexos Embrionários

Os anexos embrionários também se formam por diferenciação celular. São estruturas transitórias que apenas existem durante a gravidez, sendo expulsas aquando do parto (com exceção de partes do cordão umbilical e âmnio).

São essenciais na nutrição, respiração, excreção, proteção e manutenção da integridade do embrião e do feto ao longo da gravidez.

  • Cordão umbilical: Estrutura tubular que liga o embrião/feto à placenta. Contém vasos sanguíneos (duas artérias e uma veia umbilical) que permitem as trocas entre a mãe e o feto através da placenta.
  • Placenta: Órgão complexo que resulta da fusão do córion (parte fetal) com a mucosa uterina (parte materna). Funciona como local de trocas seletivas de gases (O₂ e CO₂), nutrientes e produtos de excreção entre o sangue materno e o fetal. Importante: o sangue materno e o fetal normalmente não se misturam. Tem também função endócrina (produz hormonas como hCG, progesterona, estrogénios), metabólica e de barreira protetora (embora algumas substâncias nocivas e microrganismos possam atravessá-la).
  • Âmnio (ou Saco Amniótico): Membrana que delimita a cavidade amniótica, preenchida por líquido amniótico. Protege o embrião/feto da dessecação, de choques mecânicos e de variações térmicas, além de permitir os seus movimentos.
  • Córion: Membrana mais exterior que reveste os outros anexos embrionários e o próprio embrião/feto. Contribui, juntamente com os tecidos da parede uterina, para a formação da placenta. Constitui uma ampla superfície de trocas entre o feto/embrião e a mãe.
  • Alantoide e Saco Vitelino: Em humanos, são estruturas vestigiais ou de dimensões muito reduzidas. O alantoide contribui para a formação dos vasos do cordão umbilical e da bexiga. O saco vitelino tem função na formação inicial das células sanguíneas e das células germinativas primordiais.

Fase Fetal e Regulação Hormonal da Gravidez

A fase fetal (da 9ª semana ao nascimento) caracteriza-se pelo desenvolvimento e maturação dos órgãos e por um crescimento rápido do feto.

A gravidez está sujeita a uma complexa regulação hormonal. Assim que o blastocisto se implanta, o trofoblasto (e depois o córion/placenta) inicia a produção da hormona gonadotrofina coriónica humana (hCG).

A hCG é a primeira hormona embrionária a ser produzida e atua de forma semelhante à LH, mantendo o corpo lúteo ativo. O corpo lúteo continua a produzir estrogénios e progesterona nas primeiras semanas de gravidez. Estas hormonas atuam no útero, mantendo o endométrio espesso e vascularizado, impedindo a menstruação e permitindo a continuação da gravidez após a nidação.

O aumento dos níveis de estrogénios e progesterona inibe o complexo hipotálamo-hipófise por um processo de retroalimentação negativa. Este processo é importante para garantir baixos níveis de FSH e LH, bloqueando o ciclo ovárico durante a gravidez.

Após as primeiras semanas (cerca de 7-12 semanas), a placenta assume a produção de progesterona e estrogénios em quantidades suficientes para manter a gravidez, e o corpo lúteo regride.

Parto

Durante a maior parte do período normal de gestação (cerca de 40 semanas), o músculo uterino (miométrio) não apresenta contrações fortes e coordenadas. Com o crescimento do feto, o útero é distendido, aumentando a sua contratilidade.

Contrações fracas e esporádicas (contrações de Braxton Hicks) ocorrem ao longo da gravidez, mas com o aproximar do parto, estas tornam-se mais fortes, regulares e frequentes, iniciando o trabalho de parto.

Normalmente, a cabeça do bebé posiciona-se para baixo, encostada ao colo do útero (cérvix), preparando-se para o parto.

Fases do Parto

  1. Dilatação: O colo do útero dilata progressivamente até cerca de 10 cm, devido às contrações uterinas.
  2. Expulsão: O bebé é expulso do útero através da vagina, auxiliado por contrações uterinas fortes e pelo esforço materno.
  3. Dejecção (ou Delivramento): Expulsão da placenta e restantes anexos embrionários após o nascimento do bebé.

Durante o nascimento, o bebé continua ligado à mãe pelo cordão umbilical. Alguns minutos após o parto, os vasos sanguíneos do cordão contraem-se, interrompendo a troca de substâncias. O cordão é então laqueado e cortado. A placenta separa-se da parede do útero e é expulsa pela ação de contrações uterinas.

Hormonas do Parto

O parto é regulado por diversas hormonas:

  • Oxitocina: Libertada pela hipófise posterior. No início do trabalho de parto, o estímulo mecânico dado pela pressão da cabeça do feto contra o colo uterino inicia um reflexo neuro-hormonal que aumenta a libertação desta hormona. A oxitocina potencia em elevado grau as contrações uterinas.
  • Prostaglandinas: Produzidas pelo útero e membranas fetais, promovem as contrações do músculo uterino e ajudam a amolecer e dilatar o colo do útero.
  • Relaxina: Produzida pelo corpo lúteo e placenta, ajuda a relaxar os ligamentos pélvicos e amolece o colo uterino, podendo contribuir para o desencadeamento do trabalho de parto no final da gestação.
  • Progesterona: Inibe as contrações uterinas durante a gravidez. A diminuição da sua influência relativa (ou da sensibilidade do útero a ela) perto do termo é crucial para o início do parto.

Controlo Hormonal do Aleitamento

Uma série de hormonas, incluindo estrogénio, progesterona, prolactina e lactogénio placentário humano, estimulam o desenvolvimento das glândulas mamárias (seios), que aumentam de tamanho durante a gravidez.

A prolactina, produzida pela hipófise anterior, é a principal hormona responsável pela produção de leite materno.

A oxitocina, libertada pela hipófise posterior, estimula a contração das células mioepiteliais que rodeiam os alvéolos mamários, provocando a ejeção do leite.

  • Estimula células secretoras (produção de leite) -> Prolactina
  • Estimula células contráteis (ejeção de leite) -> Oxitocina

As elevadas concentrações de estrogénios e progesterona durante a gravidez estimulam o desenvolvimento mamário, mas inibem a produção efetiva de leite. A expulsão da placenta durante o parto causa uma queda abrupta nos níveis daquelas hormonas, permitindo a ação estimuladora da prolactina na síntese de leite materno nos alvéolos mamários.

O leite é produzido nos alvéolos e direcionado para os ductos mamários. Estes encontram-se circundados por músculo liso (células mioepiteliais), cuja contração (estimulada pela oxitocina) encaminha o leite para os seios lactíferos e, através de canais, até ao mamilo.

Associados a cada amamentação, ocorrem picos de secreção de prolactina e oxitocina. A sucção do bebé no mamilo provoca uma estimulação nervosa que chega ao hipotálamo e à hipófise, desencadeando a libertação destas hormonas.

O pico de concentração de prolactina pode durar cerca de uma hora após a mamada, estimulando a produção de leite que fica armazenado para a amamentação seguinte.

Se não ocorrer estimulação pela sucção, a produção de leite cessa em cerca de 7 dias. Em condições normais de amamentação, verifica-se uma diminuição gradual da produção de leite entre o sétimo e o nono mês pós-parto, mas pode prolongar-se por mais tempo.

A ejeção do leite (reflexo de descida do leite) pode também ser impulsionada por estímulos psicológicos, como visuais (ver o bebé) ou auditivos (ouvir o choro). Por outro lado, situações de stress ou ansiedade podem inibir a libertação de oxitocina e impedir a ejeção do leite.

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