A Crise de 1929 e a Ascensão dos Totalitarismos
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O Crash Bolsista de 1929: Depressão Económica e Desemprego
As Origens da Crise
Em 1928, os americanos achavam que estavam a atravessar uma fase de prosperidade infindável. Mas essa era de prosperidade revelou-se precária. Havia indústrias que ainda não tinham recuperado da crise de 1920/21, persistia um desemprego crónico, a agricultura não se mostrava compensadora, etc. Uma política de facilitação do crédito mantinha o poder de compra americano. Crendo na solidez da economia, muitos eram os que investiam na bolsa, onde a especulação crescia.
A Dimensão Financeira, Económica e Social da Crise
O pânico instalou-se em 24 de Outubro, a “Quinta-Feira Negra”, quando milhões de títulos foram postos no mercado a preços baixíssimos e não encontraram comprador. A 29 de Outubro, milhões de ações conheceram o mesmo destino. A catástrofe ficou conhecida como o crash (quebra dos valores dos papéis e títulos postos à venda) de Wall Street. Nos meses seguintes, milhares de acionistas ficaram na ruína, pois não havia quem comprasse as suas ações. Uma vez que a maior parte dos títulos tinha sido adquirida a crédito, a ruína dos acionistas significou a ruína dos bancos, que deixaram de ser reembolsados. Com as falências bancárias, a economia paralisou, pois cessou a base da prosperidade americana: o crédito. As empresas faliram e o desemprego disparou. A produção industrial contraiu-se e os preços baixaram. Os preços dos géneros agrícolas afundaram-se, gerando uma crise na agricultura. Famílias inteiras vegetavam na miséria. Os salários sofreram cortes drásticos. Sem segurança social, as pessoas formavam filas intermináveis nas ruas à espera de refeições oferecidas pelas instituições de caridade. Às portas das cidades cresciam os bairros da lata, e a delinquência e a criminalidade proliferaram. O sonho americano desmoronou-se.
A Mundialização da Crise
Esta crise também teve repercussões a nível mundial, pois propagou-se às economias dependentes dos Estados Unidos, aos países fornecedores de matérias-primas e a todos aqueles cuja reconstrução se baseava nos créditos americanos. Por exemplo, na Alemanha e na Áustria, a retirada dos capitais americanos originou uma situação económica e social absolutamente insustentável. A conjuntura deflacionista, caracterizada pela diminuição do investimento e da produção, pela queda da procura e dos preços, parecia eternizar-se sem solução.
Expansão dos Regimes Autoritaristas
A Grande Depressão, instalada a nível mundial devido ao crash de Wall Street, provocou um declínio do comércio global. Instalada a descrença no capitalismo liberal, restou aos estados em crise uma maior intervenção na regulação das atividades económicas. Com o passar dos anos, movimentos ideológicos e políticos subordinaram o indivíduo a um Estado omnipotente, totalitário e esmagador.
Na Rússia Soviética, o totalitarismo adquiriu uma feição revolucionária, nascendo da aplicação do marxismo-leninismo e culminando no Estalinismo. (Totalitarismo: Sistema político no qual o poder se concentra numa só pessoa ou partido único, cabendo ao Estado o controlo da vida social e individual.) Já na Itália e na Alemanha, o Estado totalitário foi produto do Fascismo e do Nazismo e revestiu um caráter mais conservador.
Caracterização da Ideologia Fascista
O Fascismo foi um sistema político instaurado por Mussolini na Itália, a partir de 1922. Profundamente ditatorial, totalitário e repressivo, o Fascismo defendia:
- A supressão das liberdades individuais e coletivas;
- A supremacia do Estado e o culto do Chefe;
- O nacionalismo, o corporativismo, o militarismo e o imperialismo.
Uma Nova Ordem Antiliberal e Anticapitalista
O Estado totalitário fascista define-se pela oposição firme ao liberalismo, à democracia parlamentar e ao socialismo. O Fascismo, ao contrário do liberalismo e da democracia que se afirmam defensores profundos dos direitos do indivíduo, entende que acima do indivíduo está o interesse da coletividade, a grandeza da Nação e a supremacia do Estado. A apologia do primado do Estado sobre o indivíduo leva o Fascismo a desvalorizar a democracia partidária e o parlamentarismo, rejeitando a teoria liberal da divisão dos poderes.
Para o Fascismo, a luta de classes é algo abominável porque divide a Nação e enfraquece o Estado. Por isso, concebeu na Itália um modelo peculiar de organização socioeconómica, o corporativismo, destinado a promover a colaboração das classes. O totalitarismo do Estado fascista exerceu-se a vários níveis: político, económico, social e cultural.
Elites e Enquadramento das Massas
O Fascismo, ao contrário do demoliberalismo, parte do princípio de que os homens não são iguais; a desigualdade é útil e fecunda, e o governo só aos melhores, às elites, deve competir. Os chefes foram promovidos à categoria de heróis, simbolizando o Estado totalitário, encarnando a nação e guiando os seus destinos.
As elites não incluíam apenas os chefes. Delas faziam parte a raça dominante (para Hitler, a raça ariana), os soldados e as forças militarizadas, os filiados no partido e os homens de uma forma geral. Consideradas inferiores, os ideais das mulheres nazis resumiam-se aos três K: Kinder, Kuche, Kirche (crianças, cozinha, igreja). Numa sociedade perfeitamente hierarquizada e rígida, as elites mereciam o elevado respeito das massas.
Processos de Atuação dos Fascismos: Repressão e Propaganda
Enquadramento das Massas e Propaganda
Os ideais fascistas implantavam-se primeiramente nos jovens. A educação fascista era contemplada na escola, através de professores profundamente subservientes ao regime, ao qual prestavam juramento, e de manuais escolares impregnados dos princípios totalitários. A arregimentação de italianos e alemães prosseguia na idade adulta, esperando-se deles a total adesão e identificação com o Fascismo.
Contava-se, para o efeito, com diversas organizações de enquadramento das massas:
- O Partido Único e as milícias, cuja filiação se tornava indispensável para o desempenho de funções públicas e militares;
- A Frente do Trabalho Nacional Socialista e as corporações italianas, que forneciam aos trabalhadores condições favoráveis na obtenção de emprego;
- A Dopolavoro (Itália) e a Kraft durch Freud (Alemanha), associações destinadas a ocupar os tempos livres dos trabalhadores com atividades recreativas e culturais que não os afastassem da ideologia fascista.
No controlo das mentes e das vontades, o Estado totalitário fascista investiu numa gigantesca máquina de propaganda, apoiada nas modernas técnicas audiovisuais, que promovia o culto do Chefe, publicitava as realizações do regime e submetia a cultura a critérios nacionalistas e racistas. Grandiosas manifestações eram alvo de uma cuidada encenação teatral que entusiasmava as multidões.
O Culto da Força e a Repressão
Não bastaram ao Fascismo e ao Nazismo a eficácia das organizações de enquadramento nem o aparato da propaganda para obter a perfeita adesão das massas. A repressão policial e a violência, exercida pelas milícias armadas e pela polícia política, tornaram-se decisivas para garantir o controlo da sociedade e a sobrevivência do totalitarismo. Antipacifistas, ambas as ideologias defenderam o culto da força.
Na Itália, os esquadristas (reconhecidos em 1923 como Milícia Voluntária para a Segurança Nacional) e a polícia política, apelidada de OVRA (criada em 1925), vigiavam, denunciavam e reprimiam qualquer ato conspiratório. Na Alemanha, o Partido Nacional Socialista criou as S.A. e as S.S. (1921 e 1923), milícias temidas pela brutalidade das suas ações, em que espancamentos e a tortura eram procedimentos correntes. As milícias e a polícia política exerceram um controlo apertado sobre a população e a opinião pública.
Violência Racista e o Holocausto
O desrespeito do Nazismo pelos direitos humanos atingiu os cumes do horror com a violência do seu racismo. Para Hitler, os povos superiores eram os arianos, que tinham nos alemães os seus mais puros representantes. Os nazis promoveram o eugenismo, aplicando as leis da genética na reprodução humana. Aos alemães competiria fatalmente o domínio do mundo, se necessário à custa da submissão e/ou eliminação dos povos inferiores, como os judeus, os ciganos e os eslavos.
Os judeus tornaram-se alvo preferencial da barbárie nazi, sofrendo humilhações e torturas. As perseguições antissemitas ocorreram em fases:
- 1ª Vaga (1933): Boicote às lojas dos judeus; interdição do funcionalismo público e das profissões liberais aos não arianos.
- 2ª Vaga (1935): Adoção das Leis de Nuremberga, que privaram os alemães de origem judaica da nacionalidade e proibiram o casamento e as relações sexuais entre arianos e judeus.
- 3ª Vaga (1938): Liquidação das empresas judaicas e confisco dos seus bens.
- Solução Final (1942): Durante a Segunda Guerra Mundial, na Conferência de Wannsee, foi posto em prática o plano de extermínio (genocídio) de milhões de judeus. Deportados para campos de concentração (campos de trabalho, que se tornaram campos de morte), sofreram com a fome, a falta de higiene, doenças, brutalidade dos trabalhos, execuções e massacres nas câmaras de gás.
Autarcia como Modelo Económico
Tanto a Itália como a Alemanha sofreram com a crise do pós-guerra e os efeitos da Grande Depressão. Em ambos se adotou uma política económica intervencionista e nacionalista, conhecida como Autarcia. Propôs-se a autossuficiência económica, apelou-se ao heroísmo e ao empenho do povo trabalhador, prometeu-se o fim do desemprego e a glória da nação.
Na Itália, o Estado fascista reforçou a intervenção na economia, realizando grandes "batalhas na produção". O comércio foi alvo de um rigoroso enquadramento por parte do Estado, que subiu os direitos alfandegários e controlou as importações e exportações.
Na Alemanha, Hitler chegou ao poder em 1933. Uma política de grandes trabalhos (em arroteamentos e na construção de autoestradas, aeródromos, pontes e linhas férreas) permitiu reabsorver o desemprego. O Estado reforçou a autarcia e o dirigismo económico, fixando preços (cereais, açúcar). O vasto programa de rearmamento permitiu que a indústria alemã se elevasse ao 2º lugar mundial nos setores da siderurgia, eletricidade e mecânica. As realizações económicas do Nazismo e a quase eliminação do desemprego renderam-lhe a adesão das massas.
A Ação Política e Económica de Estaline (1928-1953)
De 1928 a 1953, Estaline foi o chefe incontestado da União Soviética. Empenhou-se na construção da sociedade socialista e na transformação da Rússia em potência mundial, conseguindo-o através da coletivização dos campos, da planificação económica e do totalitarismo repressivo do Estado.
Coletivização dos Campos e Planificação Económica
A coletivização avançou a um ritmo acelerado, considerada imprescindível ao avanço da indústria, pois libertaria mão de obra para as fábricas e forneceria alimentos para os operários. O movimento foi empreendido com brutalidade contra os Kulaks (pequenos proprietários que tinham beneficiado com a NEP), a quem foram confiscados terras e gado. Muitos sofreram a execução ou a deportação para a Sibéria.
As novas quintas coletivas, ou cooperativas de produção, chamavam-se Kolkhozes. As famílias camponesas deviam entregar as suas terras e instrumentos à coletividade. Uma parte da produção ficava para o Estado e a restante era distribuída pelos camponeses, de acordo com o trabalho efetuado. Apesar da resistência, os resultados foram satisfatórios.
Entretanto, a produção industrial desenvolveu-se sob o signo da planificação. O Estado soviético estabeleceu metas para a economia através dos Planos Quinquenais:
- Primeiro Plano Quinquenal (1928-32): Visou o incremento da indústria pesada, levando ao quase desaparecimento do setor privado. Promoveu investimentos maciços e apostou na formação de especialistas e engenheiros.
- Segundo Plano Quinquenal (1933-37): Iniciou-se no setor da indústria ligeira e dos bens de consumo, com resultados considerados honrosos.
- Terceiro Plano Quinquenal (1938): As prioridades foram as indústrias pesada, hidroelétrica e química.
O Totalitarismo Repressivo do Estado
O Estado estalinista revelou-se omnipotente e totalitário. Os cidadãos viram-se privados das liberdades fundamentais. Toda a sociedade ficou enquadrada em organizações que a vigiavam, desde os jovens aos trabalhadores, obrigatoriamente filiados nos sindicatos afetos ao Partido Comunista.
Só o Partido Comunista monopolizava o poder político (às eleições apenas se apresentavam os candidatos por ele propostos). O centralismo democrático permitia-lhe o controlo dos órgãos do Estado. A superintendência da economia cabia também ao Estado, através da coletivização e da planificação. A própria cultura exaltou a grandeza do Estado soviético e rendeu culto à personalidade do seu chefe.
O Estado Totalitário aguentou-se à custa de uma repressão brutal, levada a cabo pela polícia política (NKVD). A partir de 1934, a URSS enveredou pela repressão crónica, caracterizada pelas purgas e pelos processos políticos. Até ao final da década, milhões de pessoas foram deportadas para os campos de trabalho forçados e outras foram executadas.