Dermatozoonoses: Pediculose e Escabiose - Guia Completo
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Dermatozoonoses e Ectoparasitoses: Pediculose e Escabiose
Pediculose: Um Problema de Saúde Pública
História e Epidemiologia da Pediculose
A pediculose, infestação por piolhos, existe há milhares de anos em todas as partes do mundo. Sua incidência diminuiu na década de 1940, mas voltou a aumentar a partir da década de 1960.
É encontrada em qualquer região climática, infestando pessoas de todas as etnias e níveis sociais. Em países em desenvolvimento, a prevalência é maior em crianças e mulheres, podendo atingir até 40% em comunidades carentes no Brasil. Contudo, em países como Estados Unidos e Israel, as infestações também são altas, afetando anualmente entre 15% e 20% das crianças.
Tipos de Piolhos e Suas Características
- Pediculus capitis: Vive agarrado aos fios de cabelo e ataca o couro cabeludo. A transmissão ocorre principalmente pelo contato direto de cabeça com cabeça, mas também pelo uso compartilhado de objetos como tiaras, escovas, pentes, capacetes e bonés. É o tipo mais comum.
- Pediculus humanus: Infesta o corpo, vivendo agarrado às roupas. É mais comum em países frios e frequente em casos onde os hábitos de higiene são precários.
- Phthirus pubis: Vive agarrado aos pelos da região genital, afetando homens e mulheres a partir da puberdade. Pode também ser encontrado nos pelos da parte inferior do abdome, coxas e nádegas.
Aspectos Gerais e Impactos da Pediculose
A pediculose é uma doença parasitária. Os ovos (lêndeas) eclodem entre 15 a 20 dias. Crianças infestadas podem apresentar baixo desempenho escolar devido à dificuldade de concentração, consequência do prurido contínuo e distúrbios do sono. Em casos de infestação severa, também podem desenvolver anemia devido à hematofagia do piolho.
Manifestações Clínicas e Diagnóstico
A principal característica clínica é o prurido intenso no couro cabeludo, especialmente na parte posterior da cabeça, que pode se estender ao pescoço e à região superior do tronco, onde se observam lesões avermelhadas e papulares. O achado comum que confirma o diagnóstico são as lêndeas (ovos do piolho) aderidas aos fios de cabelo.
Controle e Prevenção da Pediculose
O controle da pediculose nas escolas é fundamental, mas o isolamento de crianças infestadas não é suficiente. O tratamento baseado na aplicação de substâncias tópicas pode ser problemático devido à baixa adesão e à resistência do parasita a algumas substâncias. O uso do pente fino é uma ferramenta importante e eficaz no controle.
Opções de Tratamento para Pediculose
- Benzoato de benzila
- Compostos sulfurados: monossulfiram ou monossulfeto de tetraetiltiuram
- Piretróides sintéticos: deltametrina e permetrina
- Bioaletrina
- Ivermectina (indicada para casos resistentes ao tratamento tópico)
Escabiose: Sarna Humana e Seus Desafios
Epidemiologia da Escabiose
A escabiose, popularmente conhecida como sarna, apresenta uma prevalência de aproximadamente 10% em populações carentes. Condições socioeconômicas precárias, aglomerações, baixa adesão aos tratamentos tópicos e resistência medicamentosa são os principais fatores responsáveis pela sua alta prevalência.
Aspectos Gerais e Agente Etiológico
A escabiose é uma dermatose pruriginosa cujo agente etiológico é o ácaro Sarcoptes scabiei, variedade hominis. O período de incubação é de 4 a 6 semanas para o primeiro contato e de 1 a 4 dias para o segundo contato.
Ciclo de Vida do Sarcoptes scabiei
- O ciclo de vida dura aproximadamente 15 a 30 dias. Uma fêmea deposita cerca de 40 a 50 ovos que, em 3 a 5 dias, eclodem em larvas, que se desenvolvem em ninfas e, finalmente, em ácaros adultos.
- Após a fecundação, a fêmea penetra na epiderme e escava um túnel subcórneo, progredindo cerca de 2 a 3 mm por dia abaixo da camada córnea e liberando produtos metabólicos.
- A progressão do ácaro e a atividade da fêmea são geralmente noturnas, o que caracteriza o prurido predominantemente noturno, um sintoma clássico da escabiose.
Transmissão da Escabiose
A transmissão da escabiose ocorre principalmente por contato físico direto prolongado, o que confere grande importância epidemiológica à doença.
Lesões Típicas e Manifestações Clínicas
As lesões típicas incluem um túnel pequeno (de 5 a 15 mm), extremamente pruriginoso, caracterizado pela presença de pápulas da cor da pele ou cinza-claro. Nas suas extremidades, formam-se pequenas vesículas, denominadas "eminência acarina". Infecções secundárias são comuns devido ao ato de coçar.
Localização Comum das Lesões
- Adultos: Dedos, pregas interdigitais, punhos, cotovelos, axilas, região mamária (principalmente ao redor dos mamilos), ao redor do umbigo, nádegas e hipogástrio.
- Crianças: Manifestações peculiares podem incluir couro cabeludo, palmas e plantas dos pés. Em crianças muito pequenas, lesões nos tornozelos são observadas devido ao ato de esfregar um pé no outro pelo prurido.
Controle e Medidas Preventivas
É fundamental que todos os membros da família do indivíduo acometido sejam tratados, inclusive os assintomáticos. Roupas de cama e de uso pessoal devem ser lavadas em água quente e passadas com ferro quente. Recomenda-se afastar o indivíduo da escola ou do trabalho até 24 horas após o início do tratamento.
Opções de Tratamento para Escabiose
- Uso de escabicidas (loções) por 3 noites seguidas, com repetição após uma semana ou até dez dias.
- Principais escabicidas:
- Permetrina – 5%
- Benzoato de benzila – 25%
- Monossulfiram – 25%
- Deltametrina
- Pasta d’água com enxofre – 5% a 10% (aplicada 2 a 3 vezes por dia, especialmente indicada para crianças ou gestantes)
- Ivermectina (utilizada em casos resistentes aos tratamentos tópicos)