De Descartes à Ciência Cognitiva: O Paradigma Mente-Corpo e a Revolução
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René Descartes e o Método Cartesiano
René Descartes desenvolveu o Método Cartesiano, no qual defende que só se deve considerar algo como verdadeiramente existente caso se possa comprovar sua existência. Segue o princípio de que devemos duvidar de todo conhecimento que não possua explicações evidentes.
O Dualismo Mente-Corpo e a Glândula Pineal
Descartes foi também um defensor do dualismo mente-corpo. Diferente de defensores anteriores do dualismo, Descartes defendeu que a relação não é unidirecional. Sua hipótese era de que o corpo funciona como uma máquina, enquanto a mente é imaterial e não segue as leis da natureza. Mente e corpo seriam conectados pela Glândula Pineal, através da qual a mente comanda o corpo, mas também o corpo influencia a mente. Dessa forma, a relação é bidirecional, sendo possível explicar os momentos em que agimos pelas paixões.
A Revolução Cognitiva e a Ciência Cognitiva
A Revolução Cognitiva foi a expressão utilizada para designar um movimento científico iniciado nos anos 50, que deu origem à chamada Ciência Cognitiva. É o estudo da mente e das perspetivas fundamentais da mente e do cérebro. Trata-se de um movimento interdisciplinar que combina novas ideias da Psicologia, da Antropologia e da Linguística, com os recentes campos da Inteligência Artificial, Ciência da Computação e Neurociência. Ou seja, não é o nome de uma ciência, mas sim a cooperação de muitas ciências.
Todo o estudo da mente, tal como tudo o que está na mente, é cognição.
Resposta ao Behaviorismo
A Revolução Cognitiva na Psicologia foi uma resposta ao Behaviorismo, que era a escola predominante de psicologia experimental à época. Esta escola foi bastante influenciada por Ivan Pavlov, B.F. Skinner e outros fisiologistas.
A partir do Behaviorismo, podemos referir que a Psicologia é o estudo da mente e do comportamento.
O Paradigma da Ciência Cognitiva: Pós-Dualismo
O paradigma da Ciência Cognitiva refere-se à relação entre a mente, o cérebro, o corpo e, em particular, a relação entre razão e emoção. O conceito de paradigma permite-nos compreender o processo histórico de transformação. Este paradigma rompe com as visões dualistas da mente e do corpo.
Da Visão Dualista à Pós-Dualista
Hoje, vivemos uma superação das visões dualistas da mente e do corpo, ou seja, temos uma visão pós-dualista da vida mental. O Dualismo é a visão de duas substâncias. A visão dualista tradicional considerava a mente como uma realidade não-física (metafísica), tal como era vista pelo Cristianismo e pelo Platonismo. Nessa perspetiva, a mente está alojada no corpo, tal como os seres humanos estão alojados na caverna, no mundo. O cérebro é parte da caverna, e a mente é superior ao corpo, como Platão referiu.
O paradigma atual é que a mente é parte do corpo, onde só existe corpo, sendo a mente essencialmente corpo. Nas visões dualistas, o corpo não pensa; quem pensa é a mente que está alojada no corpo.
A Relação Razão e Emoção no Dualismo
A emoção tem sempre a ver com os estímulos do meio, sendo a razão o domínio superior da mente que deve controlar o domínio inferior do corpo. Toda a moral sexual, em particular na moral religiosa, é baseada numa perspetiva que opõe a razão (que pertence à mente) e a emoção (que pertence ao corpo).
Tudo o que é emoção é físico, é uma pulsão física que influencia as atitudes mentais. Quando se diz que a mente é superior ao corpo, isso tem a ver com a dicotomia entre razão e emoção. No mundo das emoções, a mente torna-se a expressão das emoções físicas. A emoção expressa o corpo e a razão expressa a mente. Quando a emoção domina uma pessoa, é o corpo que domina a mente. A emoção ou é a expressão do corpo, que acaba por desvirtuar a vida da mente, ou é o declínio da mente, que acaba por gerar rutura e destruição. O dualismo corpo-mente é sempre o dualismo razão-emoção.
A Nova Ciência da Cognição: Mente e Corpo Pensam
Nas visões tradicionais da cognição, a mente pensa e o corpo sente. Para a Nova Ciência da Cognição, o corpo e a mente pensam. A mente é uma dimensão do corpo que não está apenas alojada no cérebro; a mente é fundamentalmente corpo. O corpo pensa e a mente sente. Para o paradigma cognitivo, a mente é corpo e apenas corpo, não tendo nada de metafísico. Esta ideia de rutura paradigmática já era defendida por Thomas Kuhn.