Descartes: Dúvida Metódica, Cogito e Critério de Verdade

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Resumo

Este fragmento pertence à obra de Descartes intitulada "Discurso do Método". No campo da moral, por vezes, temos opiniões incertas; não sabemos se certas ações são boas ou más. Na vida, agimos com incertezas, cujas consequências podem ser boas ou não. Por seu lado, a filosofia tem como objetivo conhecer a verdade. A única maneira de alcançar a verdade é através da dúvida, e a dúvida metódica é uma ferramenta essencial. Rejeitam-se, portanto, todos os argumentos dos sentidos, pois são enganadores. Os mesmos pensamentos que nos ocorrem quando acordados podem surgir nos sonhos.

Conceitos-Chave: Dúvida e Certeza

A **dúvida metódica** é uma ferramenta para a abordagem da verdade. Essa dúvida não é cética no sentido de negar o conhecimento, mas metódica. O objetivo da dúvida é rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo sobre o qual se possa imaginar a menor dúvida. Descartes duvida, primeiramente, dos sentidos, pois estes nos enganam e, portanto, não podem ser invocados como fonte de conhecimento seguro. Em segundo lugar, ele questiona a razão, pois o homem tende naturalmente ao erro (a hipótese do gênio maligno ilustra essa possibilidade de engano radical). Mesmo em áreas como a aritmética ou a geometria, podem ocorrer enganos, o que sugere que a razão, assim como os sentidos, pode falhar. Finalmente, Descartes também duvida da realidade, já que é impossível distinguir entre o sono e a vigília. Representações de objetos do mundo exterior no estado de vigília são indistinguíveis das representações nos sonhos. Neste ponto, Descartes chega à primeira verdade indubitável: "Eu penso, logo existo". A **verdade** é uma afirmação objetiva e universalmente válida. A **certeza**, por outro lado, é um estado subjetivo de convicção que leva uma pessoa a considerar algo como verdadeiro. Uma ideia pode ser **clara** (distinta de outras ideias) e **distinta** (com seus componentes bem separados), mas não vice-versa. Descartes baseia-se na razão, que é una e a mesma para todos. "O que entendemos como real é universal, pois a razão é uma e a mesma para todos."

O Cogito e o Critério de Verdade

Descartes foi enviado para o Colégio dos Jesuítas e recebeu uma sólida formação clássica, filosófica e científica. Seu principal objetivo era encontrar um conhecimento certo e estável, livre de qualquer dúvida. A cultura filosófico-científica contemporânea não oferecia garantias, nem a tradição aristotélica, ainda em vigor na educação. O movimento cético levantava a questão de saber se o homem era realmente capaz de adquirir conhecimento certo e estável do mundo exterior através de sua capacidade natural. Admirado pela certeza e evidência do raciocínio matemático, Descartes adquiriu a convicção de que todo conhecimento deveria ser estruturado à maneira da matemática. A matemática é um sistema axiomático que parte de axiomas, ou seja, princípios verdadeiros que comprovam o restante das proposições. Portanto, a questão primordial era encontrar um princípio absolutamente garantido, imune à dúvida, uma primeira verdade de clareza e distinção indubitáveis.

Por sua vez, essa primeira verdade é o início da construção ordenada e metódica do conhecimento, de acordo com as regras do método cartesiano. Estas são:

  • Regra da Evidência: Não aceitar como verdadeiro nada que não se apresente à mente de forma tão clara e distinta que não haja margem para dúvida.
  • Regra da Análise: Dividir cada dificuldade em tantas partes quantas forem possíveis e necessárias para melhor resolvê-las.
  • Regra da Síntese: Conduzir os pensamentos por ordem, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para ascender gradualmente ao conhecimento dos mais complexos.
  • Regra da Enumeração/Revisão: Fazer enumerações tão completas e revisões tão gerais que se tenha a certeza de nada ter omitido.

Descartes utilizou a dúvida metódica para buscar a verdade, o que se alinha com a primeira regra da evidência. Não se trata de uma dúvida cética que compromete toda a verdade ou nega a validade do conhecimento, mas sim de uma ferramenta para a abordagem da verdade. O objetivo é rejeitar como absolutamente falso tudo aquilo sobre o qual se possa imaginar a menor dúvida. Primeiro, duvidamos dos sentidos, pois estes nos enganam e, portanto, não podem ser invocados como fonte de conhecimento seguro. Nem a razão é um conhecimento totalmente confiável, pois o homem tende naturalmente ao erro (o gênio maligno que nos engana). Na vida cotidiana, cometemos falácias, ou seja, fazemos julgamentos que parecem verdadeiros, mas na realidade são falsos. Portanto, nossa razão, assim como os sentidos, pode falhar. Finalmente, Descartes também duvida da realidade, já que é impossível distinguir o sono da vigília. Representações de objetos do mundo exterior no estado de vigília são indistinguíveis das representações nos sonhos. Neste ponto, Descartes afirma a primeira verdade indubitável: "Eu penso, logo existo" (em latim, Cogito ergo sum). Esta declaração tem duas consequências principais: a primeira é a descoberta da natureza do eu: "Eu sou uma substância que pensa", ou seja, uma alma (res cogitans), cuja essência é o pensamento. A segunda consequência é o estabelecimento do critério de verdade: a **clareza** e a **distinção**. A verdade, para Descartes, é uma afirmação universalmente válida. Ele argumenta que a certeza subjetiva do Cogito serve de modelo para toda verdade objetiva: o que é claro e distinto para mim deve ser claro e distinto para todos, pois a razão é una e a mesma para todos. Assim, o que concebemos como real e universal é acessível a todos pela mesma razão.

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