Desenvolvimento Psicossexual, Pulsões e Psicossomática

Escrito em 4 de Outubro de 2025 em português com um tamanho de 18,11 KB

O Desenvolvimento

A personalidade é uma construção, fruto de uma interação constante entre o indivíduo e seu meio. As vias privilegiadas dessas trocas são os orifícios corporais, que constituem diversas zonas erógenas. Inicialmente, isso diz respeito às funções fisiológicas, mas depois farão parte do desenvolvimento psicossexual. As zonas erógenas são as sedes dos impulsos parciais. Assim, quando estimuladas, dão origem a uma experiência de prazer.

Pulsão

Trata-se de uma força, com a finalidade de satisfação, para que o aparelho psíquico reduza ao nível mais baixo possível a quantidade de estímulos (energias e excitações internas). É um conceito situado na fronteira entre o mental e o somático, o representante psíquico dos estímulos que se originam de dentro do organismo e alcançam a mente.

Pulsão de Vida (Eros): Prolongamento vital, presente desde o início da vida. Manifesta-se sob várias formas, como na sobrevivência da espécie (reprodução, sexualidade) e na autoconservação (necessidades fisiológicas).
Pulsão de Morte (Tanatos): Aparece sob a forma de agressividade e destrutividade, impulsionando para um estado de inércia total.

O Nascimento

A criança já nasce com uma história;
Herdeira da história do filho imaginário de seus pais;
Confrontação entre o filho imaginário e o filho real.

O Impacto da Infertilidade nos Casais

Vida sexual comprometida;
Intimidade abalada;
Autoestima em baixa;
O casal tem a sensação de estar à prova;
Culpa.

O Que Significa Ter um Filho

Prolongamento de si próprio;
Desejo de imortalidade do eu;
Fantasias originárias;
Identificações primárias.

Fator Feminino: A Mulher e a Feminilidade

Papel social e biológico: Concepção;
Atualmente, há uma demora maior para que o desejo da maternidade se manifeste, o que acaba por entrar em contradição entre o corpo biológico e o desejo;
Identidade feminina.

Fator Masculino: O Homem e a Masculinidade

Homem versus potência e virilidade;
Função paterna: função simbólica.

O Tratamento

Possibilidade de realização de um desejo;
Ruptura entre sexualidade e reprodução (biológica e simbólica).

Resultado Positivo: Marcas da Infertilidade

Comparação: Gestação natural versus Gestação pós-infertilidade.

Resultado Negativo

Tristeza profunda;
Aborto do filho e dos sonhos;
Necessidade de explicações;
Deparam-se com a falta de controle e de garantias.

Seja qual for a forma de fecundação, a filiação simbólica precisa continuar permeando todo o processo.

UTI Neonatal e Parto Prematuro

O parto prematuro é, em geral, abrupto e, por isso, sentido de forma violenta. Questões levantadas:

Como se sentir mãe de um bebê que fere narcisicamente, apontando que a mulher não conseguiu levar a gravidez até o final e gerar uma criança saudável?
Como sentir-se mãe de um bebê que não dá sinal? (Não chora à noite, não mama, tem as funções vitais supridas por outros).

Os "não-ditos" podem se constituir num solo sobre o qual se assentam as defesas paranoides que, no momento de crise, ficam exacerbadas. Na UTI e UTI neonatal, há muitos não-ditos, no sentido de que algo não é dito e não há respostas.

Primeiro Ano de Vida

Conceitos de Winnicott

Separação, mas não individuação;
Necessidade da continuidade na relação entre a mãe e a criança.
Holding: O fato de que a criança desconhece a existência de tudo o que não seja ela própria. O holding feito pela mãe é o fator que decide a passagem do estado de não-integração, que caracteriza o recém-nascido, para a integração posterior.
Preocupação materna primária: A mãe adquire, graças à sensibilização, uma capacidade particular para se identificar com as necessidades do bebê.
O sentimento contínuo de existir; saber estar ausente; a desilusão; a tendência antissocial.

Desamparo Inicial e Narcisismo

A mãe transforma, através da sua atividade psíquica, as experiências fisiológicas do lactente em experiências psíquicas.

Narcisismo: O bebê irá explorar seu próprio corpo, conhecer seus vários componentes, sentir emoções, estimular o ambiente social e ser estimulado por ele, desenvolvendo a base do seu autoconceito. Este autoconceito está alicerçado no esquema corporal, isto é, na ideia que a criança forma de seu próprio corpo.

Fase Oral

A fonte corporal das excitações pulsionais se dá na região bucal. A atividade mais importante é a amamentação (vínculo seio-boca/mãe-bebê). O primeiro objeto é a mãe (a função materna), seguido pelo acesso à ambivalência e o desmame.

Características Psicológicas da Fase Oral

Onipotência;
Não distinção interno-externo;
Intolerância à frustração;
Agressividade não intencional;
Passividade;
Dependência.

Segundo Ano de Vida

Meios de Interação entre a Criança e o Ambiente

O jogo/o brincar;
Aquisição da linguagem.

Fase Anal

Ocorre entre o 2º e o 3º ano de vida. A criança adquire uma série de funções que lhe permitem um afastamento relativo e progressivo dos pais. Fatos importantes: andar, falar, controle dos esfíncteres.

Zona erógena: região anal.
Defecação: modo de controle motor geral, sensações de domínio, prazer na expulsão ou retenção.
Bolo Fecal: Valor de troca entre a criança e o mundo externo.

Características Importantes da Fase Anal

Busca de autonomia;
Agressividade intencional;
Formação das noções de tempo e espaço;
Formação das noções de ordem, higiene e limpeza;
Controle e manipulação.

Fase Fálica (3º ao 5º Ano)

Os órgãos genitais são o alvo da concentração energética. Características:

Curiosidades com relação à sexualidade;
Exibicionismo;
A percepção da diferença;
Angústia de Castração.

O Complexo de Édipo é uma estrutura, uma organização central e alicerçadora da personalidade humana.

Complexo de Édipo no Menino

Investimento libidinal ou amor pela mãe e ódio pelo pai.
Descoberta da diferença sexual e ameaça de castração.
Sepultamento do Complexo de Édipo (Latência).

O Período de Latência

Após os 6 anos de vida, um recalque da sexualidade infantil leva à amnésia dos primeiros anos de vida, e a criança estará pronta para a socialização e alfabetização. Ressurge na Puberdade, período de grandes transformações físicas e fisiológicas.

Complexo de Édipo na Menina

Investimento libidinal ou amor pela mãe e ódio pelo pai.
Descoberta da diferença sexual: verificação e constatação da castração.
Ressignificação da relação com a mãe: devastação.
Mudança do objeto de amor: da mãe para o pai.

Adolescência

É a etapa da vida durante a qual o indivíduo procura estabelecer sua identidade adulta, apoiando-se nas primeiras relações objeto-parentais internalizadas e verificando a realidade que o meio social lhe oferece. Isso é feito mediante o uso dos elementos biofísicos em desenvolvimento, que tendem à estabilidade da personalidade num plano genital, o que só é possível quando se consegue o luto pela identidade infantil.

Na adolescência, há a consolidação de um processo de desenvolvimento psicossexual que teve início na infância. A pulsão, antes satisfeita através do próprio corpo, passa a ser substituída pela satisfação genital que acena para o desejo pelo outro. A adolescência é marcada pelo excesso pulsional.

Luto na Adolescência

Pelo corpo infantil;
Pelo papel e identidade infantis (o que obriga a uma renúncia da dependência e a uma aceitação de responsabilidades que muitas vezes desconhece);
Pelos pais da infância (o que é recíproco).

Síndrome Normal da Adolescência (Dez Pontos)

Busca de si mesmo e da identidade: O adolescente busca a sua individualização. O corpo e o esquema corporal (representação mental que o indivíduo tem de seu próprio corpo) são variáveis intimamente ligadas no processo de definição de si mesmo e da identidade. O esquema corporal é uma resultante intrapsíquica da realidade do sujeito.
Tendência grupal: Na busca de identidade, o adolescente recorre a situações que o apresentam como favoráveis no momento, sendo a uniformidade uma delas. Transfere a dependência que tinha do grupo familiar para o grupo externo. O fenômeno grupal facilita a conduta psicopática normal no adolescente.
Necessidade de intelectualizar e fantasiar: Recorrer ao pensamento para compensar as perdas que ocorrem dentro de si mesmo e que não pode evitar (mecanismo defensivo).
Crises religiosas: O adolescente pode passar da posição de um entusiasmo formal em contraposição com uma indiferença frente aos valores religiosos essenciais.
Deslocalização temporal: O adolescente vive no tempo presente e seus desejos precisam ser imediatamente satisfeitos.
Evolução sexual: Caráter exploratório e preparatório para a verdadeira genitalidade procriativa. Ocorre a reativação do triângulo edípico.
Atitude social reivindicatória: O adolescente, com sua força e atividade reestruturadora da personalidade, tenta modificar a sociedade que, por outro lado, o submete a necessidades que o mundo adulto impõe.
Contradições sucessivas: A conduta do adolescente está dominada pela ação, mas ele não consegue manter uma conduta rígida e permanente.
Separação progressiva dos pais: Desvalorização dos pais e identificação com ídolos e diferentes modelos.
Constantes flutuações de humor: Base dos mecanismos de projeção e de luto pelas perdas vivenciadas.

Velhice

Processo marcado pelo aguçamento de diferentes reduções e modificações no funcionamento de diversas funções, bem como determinadas modificações celulares, não implicando, todavia, um acúmulo de doenças.

O corpo físico que envelhece, somado às perdas objetais que se tornam mais numerosas (viuvez, perda de amigos e parentes) e perdas sociais, resulta em consequências sobre o narcisismo. A velhice evidencia os limites.

Medicina: A velhice é marcada pelo determinismo biológico.
Psicanálise: A velhice é um destino singular a ser traçado por cada sujeito e não pode ser reduzida à idade cronológica ou à diminuição de determinadas funções orgânicas. Há uma distância entre o envelhecimento corporal inevitável e um psíquico que não envelhece.

A velhice impõe o luto dos objetos perdidos (desinvestimentos) e a criação de novos investimentos para o desejo, a partir das trilhas e dos traços marcados por cada um.

Psicossomática

Toda perturbação somática que comporta no seu determinismo um fator psicológico intervindo de modo essencial na gênese da doença.

Fenômeno Psicossomático

Disfunção do corpo biológico em consequência de uma falha na organização pulsional da ordem da falha na inscrição representativa. É uma falha na inscrição pulsional, colocando-se no limite do impensável, exatamente no limite do mental com o somático, em que o instinto se transforma em pulsão. Na construção da anamnese, deve-se abordar fatores psicológicos na gênese da patologia.

Sintomas Comuns

Fadiga generalizada;
Sensibilidade cutânea;
Anormalidades do sono (sono intermitente e sensação de cansaço ao acordar);
Redução da memória;
Cefaleia;
Cólon espástico.

Tipos de Neuroses e Vulnerabilidade Somática

Neuroses bem mentalizadas: Boa capacidade de elaboração mental dos conflitos, vida imaginária disponível, acesso fácil às representações inconscientes. Vulnerabilidade somática limitada.
Neuroses de caráter suficientemente estruturadas: Menor capacidade de elaboração mental, mecanismos de defesas mentais para conter a angústia. Certa rigidez nos modelos de pensamento e na relação com os outros, mas uma maior resistência às doenças físicas.
Neuroses de caráter mal estruturadas e neuroses de comportamento: Importantes dificuldades de elaboração mental de conflitos, recurso sistemático ao agir para descarregar tensões emocionais. Nítida vulnerabilidade somática.

Conceitos Relacionados à Psicossomática

Pensamento Operatório: Modo de pensar pragmático, com carência na capacidade de representar e fantasiar e com pobreza nos investimentos libidinais. Caracteriza-se por ser pobre em fantasia, preso aos elementos factuais e objetivos da ação e com poucos elementos simbólicos. (Referência: http://www.medicinapsicossomatica.com.br/glossario/fantasia.htm)
Alexitimia: Déficit na verbalização das emoções. Ausência de palavras para exprimir as emoções. Incapacidade em reconhecer, identificar e exprimir suas próprias emoções; limitação da vida imaginária; tendência em recorrer à ação para resolver os conflitos.
Falha Epistemo-Somática: A doença manifestada no corpo não representa nada para o doente. Fenômeno que se inscreve no corpo, sem qualquer representação.
Fenômenos Psicossomáticos: Afetam o real do corpo, lesando-o em sua consistência imaginária. Também são induzidos pelo significante, mas se encontram fora da subjetivação.
Conversões Histéricas e Manifestações Hipocondríacas: Não há presença de alteração orgânica. Ligadas à fantasia inconsciente. Afetam o imaginário, mas não lesam o corpo real.

Psicossomática Aplicada

Dermatologia

A pele é o único órgão que se relaciona com o meio externo e com o interno, formando a fronteira entre o próprio e o não próprio, expressando as reações dos níveis não físicos do ser e ligando-se aos grandes sistemas de regulação do corpo e da mente.

Obesidade

Para compensar a baixa autoestima, recorre-se ao prazer que o alimento causa, contribuindo para a manutenção e agravamento da obesidade. A fuga por meio da comida é uma tentativa de atenuar as angústias e as frustrações, assumindo a função de preencher o vazio afetivo e de trazer alívio para tensões e dificuldades que o obeso não consegue resolver, buscando, assim, um certo estado de paz ou equilíbrio psíquico.

Oncologia

Sabe-se que o sistema imune tem papel de extrema importância no combate à proliferação das células cancerígenas. Baixas imunológicas estão diretamente relacionadas ao surgimento do câncer. Alterações psíquicas como o stress, a depressão e a ansiedade estão diretamente relacionadas, uma vez que estas diminuem a imunidade do paciente.

Cardiologia

Emoções Negativas: Podem influenciar indiretamente tanto o risco quanto o prognóstico de pacientes com doença coronariana, por influenciarem a adesão a comportamentos prejudiciais à saúde.
Emoções Positivas: Otimismo e atitudes positivas podem fazer com que os eventos negativos sejam encarados com a confiança de que o futuro reserva algo melhor.

Ética e Fim de Vida

Limitação do Esforço Terapêutico (LET)

Consiste numa suspensão progressiva do tratamento em caso de enfermos irrecuperáveis ou com prognóstico certo de morte em curto prazo. Continuar um tratamento considerado fútil é contra todos os princípios fundamentais da ética médica:

Contra a beneficência, pois não provê nenhum benefício ao paciente;
Contra a não-maleficência, pois pode causar sofrimento e prejuízo ao paciente;
Contra a justiça, pois exige custos, tempo e energia que poderiam ser mais bem usados em outros pacientes;
Contra a autonomia, pois ninguém quer receber uma terapia fútil que simplesmente prolonga por horas ou dias o sofrimento e a morte inevitável.

Eutanásia

O paciente terminal, padecendo de sofrimento que não suporta mais, pede para morrer. É um suicídio assistido. O paciente pede a morte a uma terceira pessoa (geralmente a equipe médica) que atende o pedido e ministra substâncias que provoquem uma parada cardiorrespiratória, por exemplo. Na eutanásia, há a presença da intenção de causar a morte.

Tanatologia

No mundo moderno, a morte está escondida como algo sujo e vergonhoso, sinônimo de absurdo, horror e sofrimento. As sociedades modernas tendem a escamotear a morte. Apesar de termos consciência de nossa finitude, falar sobre ela é, normalmente, considerado um ato mórbido, uma tentativa de mau gosto.

Luto

O luto é um processo mental destinado à instalação de uma perda significativa na mente. A importância do luto reside na possibilidade de o indivíduo viver essa transição psicossocial, de maneira a poder incluí-la em sua vida sem a tentativa de anular a relação, mas, sim, para poder encontrar uma condição segura para ter essa mesma relação na vida que viverá dali para a frente.

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