Diálogos entre Literatura e Cinema: A Adaptação de O Primo Basílio

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O ato de relatar histórias passou, desde o surgimento da arte do Cinema, a integrar a gênese cinematográfica, correlacionando, assim, cinema, televisão e literatura através do processo de adaptação de obras literárias para o meio audiovisual. Podemos constatar, neste processo, a forte valorização dos recursos visuais na sociedade contemporânea, que se vale da imagem para ilustrar quase tudo o que nos cerca. Pensando nesta forte valorização dos recursos audiovisuais, este estudo lança mão da análise de uma adaptação fílmica de um clássico da literatura portuguesa, O Primo Basílio. Lembrando sempre que essa versão audiovisual constitui uma nova produção que mantém relações, em maior ou menor grau, com o texto original, entrelaçada pelo diálogo que se estabelece entre a cultura da palavra e da imagem.

O romance O Primo Basílio (1878) é um clássico da literatura portuguesa que, apesar de decorridos mais de cento e trinta anos de sua publicação, segue despertando interesse do público e de constantes estudos, possuindo, assim, uma vasta fortuna crítica que, no entanto, não limita ou impede novas possibilidades de leitura e refacção desta obra. Uma das possibilidades de leitura desse romance é a transposição de sua narrativa para outro mecanismo de comunicação: a linguagem audiovisual, realizada pela adaptação de obras literárias para o audiovisual. Nesse cenário, apenas no Brasil, já foram produzidas duas adaptações que têm o romance português como base.

Sabe-se que toda adaptação deve, necessariamente, transformar o texto do qual faz parte, uma vez que se utiliza de signos e códigos diferentes em sua feitura e perpassa por um processo de releitura muito comum nas obras da atualidade. Por isso, este trabalho analisa a produção fílmica do romance que foi deslocada de seu suporte original. As obras audiovisuais de O Primo Basílio se concentram em suportes diferenciados: uma minissérie para televisão e um filme. Porém, o foco deste estudo será a produção fílmica, que teve como diretor Daniel Filho, o mesmo que dirigira em 1988 a minissérie global.

O trabalho de transcodificação, elaborado pelo adaptador e pelo próprio diretor, pressupõe uma leitura crítica desse texto. A adaptação não só efetua ampliações ou reduções na narrativa, como também mantém um diálogo com todo o universo da cultura: não apenas com a obra literária que a motivou, mas com todo o aparato cultural de sua época. O adaptador pode, ao conceber o seu texto, dar-lhe novos significados, deslocar alguns, subverter outros. É nesse sentido que este artigo buscará discutir, em termos gerais, as relações dialógicas e intertextuais que se manifestam entre a literatura e o processo de adaptação na obra de Eça de Queirós. O enfoque recai, especialmente, na reelaboração de mecanismos para ajustar a história, ou até mesmo transportá-la do livro para a tela, perpassando pelos diversos símbolos que foram concebidos para essa transposição, assim como as ampliações e os jogos estabelecidos pela própria linguagem do cinema.

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