A Dignidade Humana na Ética de Kant: Fins em Si Mesmos
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Contexto Filosófico: Kant e o Iluminismo
Kant pertence ao período da filosofia moderna, especialmente ao movimento do Iluminismo. Influenciado por ideias racionalistas e empiristas sobre o conhecimento, ele superou ambas as posições com sua própria filosofia transcendental, o idealismo crítico. Por outro lado, representou uma conquista na filosofia moral, propondo uma nova ética formal caracterizada pela defesa incondicional da dignidade humana.
Análise do Texto de Kant: Fundamentação da Metafísica dos Costumes
Tema Central: O Homem como Fim em Si
O homem deve ser considerado um fim em si mesmo e não como um meio para outra coisa.
Ideias Principais: O Valor Intrínseco
- Qualquer ser racional existe como um fim em si mesmo, não apenas como um meio, e esta premissa deve guiar todas as nossas ações.
- Os objetos das inclinações possuem um valor condicional, dependente dos desejos que despertam nos seres humanos.
- A ausência de inclinações absolutas: seres racionais devem libertar-se totalmente delas (o mais racional é não ter qualquer tipo de necessidade).
- O valor dos objetos obtidos através de nossas ações é sempre condicionado.
- Os seres irracionais, cuja existência é determinada pela natureza, são chamados de "coisas" e possuem um valor relativo.
- Os seres racionais são chamados de "pessoas" porque são fins em si mesmos e, portanto, objeto de respeito.
Relação entre as Ideias
A tese central do texto surge no início, quando Kant afirma que em todas as nossas ações devemos considerar a existência de qualquer ser racional como um fim em si mesmo.
Explicação das Ideias
A filosofia de Kant representou um marco em todos os sentidos: na filosofia, ao apresentar a revolução copernicana na concepção do conhecimento; e na ética, ao estabelecer uma ética formal baseada na defesa incondicional da dignidade humana.
Assim, neste texto, encontramos Kant como herdeiro dos ideais iluministas e dos movimentos políticos da época, defendendo desde o início que todo ser humano deve ser sempre considerado como um fim em si mesmo e nunca como um meio para qualquer outra coisa.
Esta tese nada mais é do que a segunda formulação do imperativo categórico, que não explica o conteúdo da regra, mas sim a estrutura que toda ação deve manter para ser moral. A ética kantiana, portanto, não é regida por imperativos hipotéticos (sempre sujeitos à condição de alcançar um bem maior antecipadamente), mas apenas por um imperativo que comanda de forma absoluta e categórica o cumprimento do dever.
Além disso, este texto mostra que, embora a ética kantiana coloque a ênfase da moralidade na vontade com que a ação é executada, sua implementação parece conduzir a uma ordem específica. Para Kant, a moralidade deve conduzir a uma comunidade humana onde os indivíduos são considerados como fins em si mesmos e nunca como meios, levando a um "reino dos fins".
Para discutir esta ideia, o texto de Kant diferencia entre os objetos de nossas inclinações (que, longe de ter um valor absoluto, possuem um valor dependente do desejo que despertam em nós) e os seres humanos (que têm um valor absoluto como fins em si mesmos). Assim, ao associar os primeiros a seres irracionais, eles recebem a designação de "coisas", cujo valor flutuará e será condicionado e comparativo. Coisas, para Kant, possuem o que o autor chamou de «preço».
Mas os seres racionais, como fins em si mesmos, possuem dignidade pelo simples fato de existirem. A dignidade é um valor invariável, ou seja, absoluto e incomparável, pois a dignidade de uma pessoa é e deve ser independente de seu status social, popularidade ou "utilidade social". Nunca se pode dizer, portanto, que uma pessoa tem mais dignidade do que outra. O que é dotado deste valor absoluto não pode ser trocado ou sacrificado, pois não pode ser substituído por algo de valor inferior à dignidade. Se colocarmos a vida humana em termos de outra coisa, os seres humanos se tornam uma "coisa", sendo reificados ao serem tratados como um meio para satisfazer determinados interesses.
Desta forma, a ética de Kant promove um respeito máximo pela pessoa, fundamentando-se na dignidade da natureza racional do sujeito, que o torna auto-legislador. Um ser humano, portanto, sente o respeito dos outros ao reconhecer a racionalidade e, consequentemente, a natureza moral em si e nos demais.
Para Kant, a razão torna as pessoas seres livres e autônomos, sendo a liberdade moral que confere valor intrínseco a elas. Qualquer ataque contra a dignidade humana deve ser eticamente rejeitado.