A Distinção entre Conhecimento Vulgar e Científico
Classificado em Filosofia e Ética
Escrito em em português com um tamanho de 14,93 KB.
Conhecimento Vulgar e o Conhecimento Científico:
Tanto Karl Popper como Gaston Bachelard admitem a superficialidade do conhecimento vulgar.
Porém, enquanto Popper considera este tipo de conhecimento um ponto de partida inseguro para outro tipo de conhecimento mais aprofundado do real, como o científico, apesar de necessitar de ser analisado e criticado, tendo uma perspectiva de continuidade entre o conhecimento vulgar e o científico. Gaston Bachelard considera que o conhecimento vulgar constitui um obstáculo epistemológico, ou seja, impede a produção de conhecimento científico e, portanto, não basta criticá-lo nem corrigi-lo; é necessário romper totalmente com ele para que se produza ciência, tendo, por isso, uma perspectiva de descontinuidade entre estes dois tipos de conhecimento.
Sendo Comum:
O senso comum corresponde a um primeiro nível de conhecimento. É essencialmente prático na medida em que é com base nele que orientamos a nossa vida quotidiana. Este pode também ser denominado conhecimento vulgar e é formado essencialmente a partir da apreensão sensorial espontânea e imediata que fazemos da realidade. Este é não disciplinar e metódico. Baseia-se nas impressões imediatas que formamos dos objetos e acontecimentos, e também porque há grandes preocupações de o justificar, o senso comum é um tipo de conhecimento superficial, pouco ou nada aprofundado e, por vezes, errôneo da realidade. Pode ser definido como o conjunto de crenças e opiniões subjetivas, suposições, pressentimentos, preconceitos e ideias feitas. Este serve de alavanca à construção de outros tipos de conhecimentos mais elaborados, como é o caso do científico. Neste tipo de conhecimento, predomina a linguagem natural, que usamos no dia a dia.
3- Conhecimento Científico:
O conhecimento científico representa um nível mais aprofundado do conhecimento que podemos ter acerca da realidade. Baseia-se em pesquisas e investigações apoiadas em procedimentos (métodos) coerentes e consistentes relativamente a um conjunto de pressupostos teóricos que são adotados pelos cientistas. Faz-se acompanhar, na maioria dos casos, de instrumentos de medida, implica a construção de conceitos e teorias e o recurso a uma linguagem própria, procurando descrever, explicar e prever fenômenos e as suas relações, e apontando as leis que lhes presidem. A linguagem utilizada por este é específica e rigorosa, recorre a conceitos técnicos, a símbolos e, na generalidade, à linguagem matemática. Procura ser objetivo, resulta de um método específico e da formulação de hipóteses, é constituído por um conjunto de teorias, procura leis, é preditivo, revisível e provisório.
4- Distinção entre o Senso Comum e o Conhecimento Científico:
A crítica ou ruptura que o conhecimento científico estabelece com o conhecimento vulgar resulta de uma atitude diferente face ao real. Enquanto o conhecimento vulgar confia nos sentidos, é sensitivo, manifesta-se numa atitude dogmática, é prático, imetódico e assistemático, o conhecimento científico, pelo contrário, desconfia dos sentidos, é problematizador e racional, manifesta-se numa atitude crítica, é explicativo, metódico e sistemático.
O conhecimento vulgar é um tipo de conhecimento superficial, que não é especializado em qualquer domínio, mas que apresenta respostas imediatas e funcionais com vista à resolução dos problemas do dia a dia, utilizando uma linguagem natural, enquanto o conhecimento científico resulta de uma leitura dos fenômenos diferente daquelas que o conhecimento vulgar nos proporciona, é um tipo de conhecimento mais aprofundado e especializado em diferentes domínios, desde o mundo físico e natural ao humano e social, que constrói explicações dos fenômenos, tendo por base uma organização teórica e um método e utilizando uma linguagem específica e rigorosa.
5 - Método Indutivo:
O indutivismo é a perspectiva epistemológica que salienta a importância da indução para a ciência.
A visão indutivista do método científico, defendida por Bacon, entre outros, considera que a atividade científica obedece a uma lógica de procedimentos.
O ponto de partida deste método é a observação dos fenômenos, onde o cientista observa os fatos ou fenômenos de forma neutra, objetiva e imparcial e regista-os de forma sistematizada para encontrar as suas causas. Este processo deve ser repetido várias vezes com rigor e método.
Depois dá-se a descoberta da relação entre os fenômenos, em que, por intermédio da comparação e classificação dos casos observados, o investigador procura aproximar os fatos para descobrir a relação existente entre eles. Assim, ele parte para a formulação de hipóteses, explicações acerca dos fenômenos e das suas relações.
Por fim, dá-se a generalização da relação, em que, recorrendo ao raciocínio indutivo, o cientista generaliza a relação encontrada entre os fenômenos ou fatos semelhantes, traduzindo-a em leis que expressam a relação constante entre esses fatos. Na prática, a hipótese explicativa enunciada terá de ser testada (experimentação, etapa fundamental) e, confirmando-se o que ela propõe, pode passar a lei científica.
6 - Critério da Verificabilidade:
Na linha do indutivismo, é habitual defender-se como critério legitimador da cientificidade o critério da verificabilidade.
Segundo este critério, uma teoria só é científica se for possível verificar empiricamente, isto é, através da experiência, aquilo que ela propõe.
Considera-se que uma proposição é empiricamente verificável se for possível determinar, através da observação, o valor da verdade dessa proposição.
Na maioria dos casos, a atividade científica propõe enunciados gerais que não podem ser garantidos a partir de uma estrita verificação universal. Face a este problema, alguns filósofos neopositivistas afirmam que basta que os enunciados sejam empiricamente confirmáveis: aquilo que se verifica ser verdadeiro para os casos observados garante, em princípio, a probabilidade de ser verdadeiro para todos os casos (conhecidos e desconhecidos).
7 - Críticas ao Indutivismo:
Há duas críticas principais dirigidas contra o indutivismo: A primeira que defende que a observação não é ponto de partida do método científico e que, ainda que o cientista recorra à observação, ela não é totalmente neutra e isenta, ou seja, que ao contrário do que a perspectiva indutivista supõe, a observação dos fenômenos nunca é completamente neutra e imparcial. Ela ocorre num contexto. O nosso conhecimento e as nossas expectativas afetam a observação que fazemos das coisas; assim, também a observação do cientista é afetada por pressupostos teóricos, por conceitos e pelas expectativas que ele desenvolve face à investigação. A segunda crítica ficou conhecida como o problema da indução e foi levantada por Hume. Este afirma que o raciocínio não confere o rigor lógico necessário às teorias científicas, ou seja, que a indução constitui, em termos lógicos, uma operação que obriga a um salto do conhecido (de proposições particulares) para o desconhecido (para proposições universais) e não é possível, em termos lógicos, garantir a validade dos argumentos indutivos unicamente pela forma que apresentam. Segundo este filósofo, não é possível provar empiricamente a existência de uma relação necessária de causa e efeito entre os fenômenos. Nesse sentido, a generalização indutiva nada mais será que uma mera crença ou expectativa de que os fatos se repitam daquele modo. Se o princípio da uniformidade da natureza decorre do hábito, o raciocínio que nele se baseia não pode garantir rigorosamente a verdade da sua conclusão.
8 - Problema da Indução:
O problema da indução foi levantado por Hume. Este afirma que o raciocínio não confere o rigor lógico necessário às teorias científicas, ou seja, que a indução constitui, em termos lógicos, uma operação que obriga a um salto do conhecido (de proposições particulares) para o desconhecido (para proposições universais) e não é possível, em termos lógicos, garantir a validade dos argumentos indutivos unicamente pela forma que apresentam. Segundo este filósofo, não é possível provar empiricamente a existência de uma relação necessária de causa e efeito entre os fenômenos. Nesse sentido, a generalização indutiva nada mais será que uma mera crença ou expectativa de que os fatos se repitam daquele modo. Se o princípio da uniformidade da natureza decorre do hábito, o raciocínio que nele se baseia não pode garantir rigorosamente a verdade da sua conclusão.
9 - Método Conjetural:
Para Karl Popper, a ciência faz-se por um processo de construção criativa de hipóteses - conjeturas - para responder a problemas. Este lançou então as principais bases daquilo que hoje se designa por método hipotético-dedutivo (ou conjetural).
Segundo este método, primeiro deve-se dar a formulação da hipótese ou conjetura a partir de um fato-problema que é um problema que surge de conflitos decorrentes das nossas expectativas ou das teorias já existentes. O cientista terá de formular uma hipótese sugestiva (ou conjetura) que possa candidatar-se a explicá-lo. A formulação de hipóteses corresponde a um momento criativo da atividade científica, associado à intuição e à imaginação. A hipótese resulta de um raciocínio abdutivo (criativo). Uma hipótese é assim uma suposição, uma explicação provisória de um dado fenômeno que exige comprovação. Depois deve dar-se a dedução das consequências, ou seja, formulada a hipótese, o cientista procura prever o que pode acontecer se a sua hipótese ou conjetura for verdadeira; por fim, dá-se a experimentação, etapa em que a hipótese é testada, confrontada com a experiência. Os resultados podem mostrar o “sucesso” ou o fracasso da conjetura proposta. Se for validada pela experiência, a hipótese é considerada como credível e passará a ser reconhecida na comunidade científica - teoria corroborada; se não for validada, teremos de a abandonar ou reformular - teoria refutada.
10 - Resposta de Popper ao Problema da Demarcação:
O problema da demarcação consiste na procura do critério da cientificidade. O critério que permite distinguir aquilo que é científico daquilo que não é. Karl Popper responde a esta questão abordando a perspectiva epistemológica do falsificacionalismo que aponta para o método conjetural ou hipotético-dedutivo e para o critério da falsificabilidade que determina que uma teoria é científica se, e só se, for falsificável, isto é, se for passível de ser submetida a testes ou confrontada com a experiência e refutável através de dados empíricos. Por exemplo, um enunciado como “Deus não existe” não pode ser falsificável, pois não podemos apresentar provas de que Deus não existe e, por isso, não constitui um enunciado científico, ao contrário do enunciado “Todos os cisnes são brancos”, que é possível de ser falsificado, bastando apenas a existência de um caso de um cisne de outra cor para invalidar o enunciado; logo, este é um enunciado científico.
11 - Distinção entre o Critério da Verificabilidade e o Critério da Falsificabilidade:
Enquanto, segundo os positivistas, que defendem o valor predicativo da indução, o critério da cientificidade que permite distinguir aquilo que é científico daquilo que não é, que deve ser utilizado é o critério da verificabilidade, que defende que uma teoria só é científica se for possível verificar empiricamente, isto é, através da experiência, aquilo que ela propõe. Por exemplo, a proposição “Todos os corvos são negros” é científica porque, apesar de ser impossível observar todos os corvos existentes, esta é com forte possibilidade verdadeira, pois todos os corvos observados até ao momento eram de fato negros, enquanto que no caso da proposição “Há anjos negros” não se pode verificar empiricamente o que ela afirma; logo, esta não é científica. Segundo Popper, o critério que deve ser utilizado é o critério da falsificabilidade, que defende que uma teoria só é científica se for falsificável, isto é, se for passível de ser submetida a testes ou confrontada com a experiência e refutável através de dados empíricos. Por exemplo, um enunciado como “Deus não existe” não pode ser falsificável, pois não podemos apresentar provas de que Deus não existe e, por isso, não constitui um enunciado científico, ao contrário do enunciado “Todos os cisnes são brancos”, que é possível de ser falsificado, bastando apenas a existência de um caso de um cisne de outra cor para invalidar o enunciado; logo, este é um enunciado científico.
12 - Crítica ao Falsificacionismo de Popper:
Alguns críticos de Popper apresentam duas objeções à sua perspectiva.
Primeiro, afirmam que o processo de refutação ou falsificação não é o procedimento mais comum entre os cientistas, defendendo que a atitude falsificacionista não corresponde exatamente àquela que os cientistas demonstram na atividade científica e que estes geralmente procuram é confirmar aquilo que as teorias científicas propõem e, mesmo que dada observação implique a rejeição de uma previsão, isso não os demove de investigar no mesmo sentido.
A segunda crítica ao falsificacionismo de Popper é que, considerando a história da ciência, não parece que ela possa evoluir por um processo assente nas refutações, ou seja, também ao nível da história da ciência encontramos episódios que parecem pôr em causa a perspectiva falsificacionista e a ideia de que a ciência progride por meio de conjeturas e refutações. Copérnico, Galileu ou Newton, por exemplo, não abandonaram as suas teorias na presença de fatos que aparentemente as poderiam falsificar.