Distúrbios Cognitivos em Idosos: Delirium, Demência e Alzheimer

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Delirium: Uma Emergência Geriátrica Comum

Delirium é uma emergência geriátrica e, ao mesmo tempo, o distúrbio psiquiátrico mais comum em pacientes idosos hospitalizados. Raramente é diagnosticado e/ou tratado, sendo frequentemente confundido com depressão, demência ou psicose. Apresenta altos índices de morbidade e mortalidade. Prevenir o delirium tem se tornado uma grande preocupação e uma árdua tarefa.

É uma síndrome que se inicia subitamente, tem curso flutuante e se manifesta por comprometimento global das funções cognitivas, distúrbio da atenção e do ciclo sono-vigília, e atividade psicomotora anormalmente elevada ou reduzida. É secundária a doença física grave, intoxicação medicamentosa e abstinência a hipnossedativos, álcool ou outra droga de abuso.

Estudos indicam que 57 a 80% dos pacientes idosos com distúrbios cognitivos não são diagnosticados pelos clínicos na admissão hospitalar (O’Neill, 1989); no caso do delirium, essa falha pode chegar a 70% (Francis, 1998). Pode ser a única manifestação clínica consequente a infarto agudo do miocárdio (IAM), pneumonia, septicemia, distúrbios metabólicos e hidroeletrolíticos em idosos hospitalizados. A palavra delirium define um estado de confusão mental aguda potencialmente reversível. Em idosos, a forma mais comum de apresentação do delirium é a hipoativa, com sonolência ou torpor. A família é a primeira a perceber os sinais.

Critérios Diagnósticos para Delirium

  1. Distúrbio da consciência: isto é, diminuição da percepção do ambiente com diminuição na capacidade para focalizar, manter ou mudar a atenção.
  2. Alteração na cognição: tal como uma deficiência de memória, desorientação ou distúrbio de linguagem, ou o desenvolvimento de um distúrbio da percepção que não possa ser atribuído a uma demência preexistente, estabelecida ou em evolução.
  3. Desenvolvimento agudo e flutuante: o distúrbio desenvolve-se em curto espaço de tempo (usualmente horas a dias) e tende a flutuar durante o curso do dia.
  4. Causa fisiológica: há evidência na história, exame físico ou exames laboratoriais de que o distúrbio seja causado pelas consequências fisiológicas diretas de uma condição clínica geral qualquer.

Epidemiologia do Delirium

Cerca de 10 a 15% dos pacientes de todas as idades apresentam delirium na admissão hospitalar. Outros 5 a 30% desenvolverão delirium durante o internamento, muitas vezes como consequência de iatrogenia (Francis, 1998). Idade, gravidade da doença física subjacente e limitação da função cognitiva são reconhecidos como os mais importantes fatores de risco para delirium.

Estima-se que 30 a 50% dos pacientes geriátricos agudos e 60% dos pacientes geriátricos cirúrgicos apresentem delirium durante o internamento. Além disso, 45% dos pacientes dementados apresentam delirium e 25% dos pacientes deliriosos têm algum tipo de demência (Lipowski, 1994).

Prevenção do Delirium

Inouye e colaboradores (1999) demonstram que podemos reduzir a incidência global de delirium abordando preventivamente fatores de risco como deficiências cognitiva, visual e auditiva, privação do sono, imobilidade e desidratação. Essa intervenção pode reduzir a incidência de delirium em 40%.

Demência: Definição e Tipos

A demência requer a existência de múltiplos déficits cognitivos, incluindo memória e pelo menos mais um domínio, como a linguagem, habilidades visoespaciais, funções executivas, entre outras. Pode ser decorrente de lesões primárias ou secundárias do Sistema Nervoso Central (SNC).

  • Lesões Primárias: levam à deterioração cognitiva, com degeneração e morte dos neurônios no SNC. A demência é a principal manifestação clínica, ou faz parte de uma doença em que ocorrem outros sinais neurológicos, em geral afetando o sistema motor. Exemplo: Doença de Alzheimer; Doença de Parkinson com demência.
  • Demências Secundárias: decorrentes de uma série de condições clínicas, com dano neuronal. Exemplo: Doença cerebrovascular, hidrocefalia, infecções do SNC, entre outras.

Tipos Comuns de Demências

  • Demência Vascular
  • Demência Frontotemporal
  • Demência com Corpúsculos de Lewy
  • Doença de Alzheimer
  • Síndromes Parkinsonianas com Demência
  • Doença de Parkinson
  • Paralisia Supranuclear Progressiva
  • Degeneração Corticobasal
  • Atrofia de Múltiplos Sistemas
  • Doença de Huntington
  • Doenças Priônicas: Creutzfeldt-Jakob
  • Infecções: HIV, Neurossífilis, Meningites Crônicas

As demências afetam um maior número de idosos e representam um desafio significativo às políticas de saúde pública. No Brasil, a prevalência de demência dobra a cada 5 anos; estudos indicam 7,1% na cidade de Catanduva, SP. Outros estudos apontam 5% em indivíduos com mais de 65 anos e 20% ou mais daqueles com mais de 80 anos (Herrera e cols., 2002).

Doença de Alzheimer: Prevalência e Fatores

A Doença de Alzheimer é a principal causa de demência em pessoas com mais de 60 anos no Brasil. Atinge 1% dos idosos entre 65 e 70 anos; 6% aos 70; 30% aos 80 anos e 60% depois dos 90 anos. No mundo, o número de portadores de Alzheimer é de cerca de 25 milhões, com aproximadamente 1 milhão de casos no Brasil.

Existe uma relação inversamente proporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com oito anos ou mais de escolaridade, a prevalência é de 3,5%, enquanto que nos analfabetos é de 12,2%. A probabilidade de um parente próximo ter a doença é quatro vezes maior que na população em geral, que tem probabilidade menor que 1%.

Diagnóstico da Doença de Alzheimer

O diagnóstico é baseado no quadro clínico e na exclusão de outras causas que possam levar à deterioração cognitiva. Não há achados específicos nos exames de neuroimagem, como tomografia computadorizada ou ressonância magnética.

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