Documentação Médica, História Clínica e Epidemiologia
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LIÇÃO 1: CONCEITOS BÁSICOS DE DOCUMENTAÇÃO MÉDICA
1.1. Documento: Conceito Geral
Em geral, podemos dizer que um documento é a combinação de um suporte e da informação nele contida. O documento regista informações para que possam ser recuperadas e comunicadas.
Suporte: é o meio físico no qual as informações são registadas.
Ex.: Livro, radiografia (RX), microficha, CD, etc.
Além disso, os documentos possuem características internas e externas:
Características Externas:
- Classe: textuais (escritos), iconográficos (imagens), audiovisuais (áudio), etc.
- Tipo: lista, relatório, questionário, etc.
- Formato: determinado pelas características do suporte (o mais usado é A4).
- Forma: original ou cópia (cópia simples ou cópia autenticada/numerada).
Características Internas:
- Logótipo do centro
- Identificação do Paciente (adesivo)
- Motivo do documento (relatório de urgência, relatório clínico, etc.)
- Informação ou conteúdo
- Local e data
- Assinatura
1.2. Documentação de Saúde
Tipos:
- Documentação de não assistência: utilizada em qualquer tipo de atividade não diretamente ligada ao cuidado do paciente.
- Ex.: Fatura, requisição, nota de entrega, etc.
- Documentação de Saúde: É o conjunto de informações geradas no atendimento a pacientes e, portanto, é específica das organizações de saúde e suas atividades.
Tipos de Documentação de Saúde:
- Documentação Clínica: Refere-se diretamente aos aspetos da assistência ao paciente.
- Ex.: História Clínica.
- Documentação Não Clínica: Relacionada com questões de gestão ou administrativas.
Tipos de Documentação Não Clínica:
- Intra-hospitalar: Documentos internos do centro.
- Ex.: Formulário de pedido de férias de funcionários.
- Extra-hospitalar: Documentos com impacto fora do hospital.
- Ex.: Declarações legais/judiciais.
- Intercentros: Utilizada para comunicação entre diferentes hospitais.
- Ex.: Relatório de transferência/referenciação.
TEMA 2: A HISTÓRIA CLÍNICA
2.1. Introdução
É o documento mais importante para a assistência a um paciente no hospital. Inclui toda a documentação gerada durante o acompanhamento do paciente.
O conceito de História Clínica (HC) evoluiu ao longo do tempo. Inicialmente, era escrita em cartões durante a visita ao doente.
- 1946: Um médico chamado Dunn estabeleceu o conceito de "Record Linkage", que era um registo unificado. Este termo descreve a HC como um livro de cada pessoa, desde o nascimento até à morte.
- 1957: Surge o termo "Family Record Linkage", onde se guardava toda a informação de saúde de todos os membros da família.
- 1969: A OMS propôs o uso do termo HCUP (História Clínica Única por Paciente). Documento composto por uma única história de saúde, permanentemente aberta, onde se incorporam novas informações por ordem cronológica. Esta história é usada principalmente a nível hospitalar.
2.2. História Clínica Tradicional
Os principais dados da HC tradicional são os seguintes:
Dados Pessoais
Ex.: Nome, idade, sexo, data e local de nascimento, telefone, etc.
Motivo da Consulta
Questiona-se o paciente sobre o que lhe acontece, desde quando e como aconteceu.
Antecedentes Familiares de Doenças Principais
Ex.: Se existem doenças metabólicas, alergias, hipertensão, história familiar de cancro, etc.
Antecedentes Pessoais Patológicos (Doenças prévias)
Ex.: Asma, hipertensão, diabetes, etc.
Antecedentes Cirúrgicos
Hábitos Fisiológicos
Ex.: Dejeções (frequência e tipo), diurese, tipo de dieta, atividade física, hábitos sexuais, etc.
Doença Atual
É uma explicação detalhada dos sinais e sintomas referidos pelo paciente, seguindo uma ordem cronológica. Também se faz uma anamnese do caso, caso o paciente tenha omitido informação importante à qual não deu relevância.
Além disso, pode-se perguntar: "A que atribui a sua doença?"
Exame Físico
Realiza-se um exame físico do paciente, começando pelos sinais vitais (frequência cardíaca, frequência respiratória, tensão arterial, etc.).
Depois disso, uma avaliação geral (se está consciente ou inconsciente, orientado, pálido, etc.).
Finalmente, realizam-se várias explorações no corpo (tórax, abdómen, neurológico, etc.).
Exames Complementares
São todos os exames possíveis que podem ser feitos num paciente.
Ex.: Análises clínicas, radiografias, Tomografia Computorizada (TC), etc.
Hipóteses de Diagnóstico
O diagnóstico possível, embora não definitivo. Parte do pressuposto do médico.
Orientações Terapêuticas e Encaminhamentos
Estes são tratamentos ou encaminhamentos para outras especialidades, se o paciente necessitar.
Se o paciente estiver internado no hospital:
Evolução Clínica
Consiste em preencher a folha de evolução clínica, onde se regista a evolução do paciente. Contém alterações significativas na situação do paciente:
- Modificações no diagnóstico e as razões para as mudanças no plano terapêutico.
- Resultados relevantes de exames.
- Etc.
As notas são assinadas pelo médico e datadas.
Documentação de Enfermagem
Os profissionais de enfermagem formalizam e refletem os cuidados prestados pelos enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Os documentos mais importantes são:
- Avaliação de Enfermagem: Usada para reunir de forma ordenada e completa os dados da avaliação inicial de enfermagem.
- Plano de Cuidados e Evolução: Contém o diagnóstico de enfermagem e o plano de assistência ao paciente. Deve indicar a data e a assinatura de quem realiza os tratamentos.
- Registo de Administração de Terapêutica: Registo da administração de medicamentos e outros tratamentos médicos prescritos.
Diagnóstico Final
Este é o diagnóstico final a que o médico chega após todas as avaliações do paciente e todos os exames.
Prescrições Médicas
São as "ordens médicas".
Estrutura e Organização da História Clínica
Num sistema HCUP (História Clínica Única por Paciente), deve existir um contentor que inclua todos os documentos gerados para o mesmo paciente.
Este contentor é a pasta e deve ter as seguintes características:
- Deve ser de cartão grosso, mas suficientemente resistente para suportar anos de uso e desgaste.
- O tamanho deve ser maior que A4, que é o formato normalmente usado em documentos hospitalares.
- Externamente, deve incluir:
- O nome do paciente
- Nº da História Clínica
- A identificação do centro
- O número da história clínica deve estar visível mesmo quando a HC está arquivada.
- No caso da HC hospitalar, é aconselhável ter um sistema de fixação que permita manter todas as páginas juntas e inserir novos documentos à medida que são gerados.
- Na pasta não devem constar sinais ou marcas que identifiquem a doença do paciente. Esta informação, juntamente com alergias, deve ser visível num documento interno, mas nunca no exterior da pasta.
Para facilitar a utilização e localização da informação, é necessário que os documentos da HC estejam organizados uniformemente em todo o hospital. Existem três modelos básicos de organização de documentos numa HC:
- Cronológica
- Por fonte de informação (ou por serviço)
- Orientada por problemas (ou por episódios de doença)
Vantagens e Desvantagens da História Clínica Tradicional
Vantagens:
- Informação rápida sobre o paciente.
- Ordem cronológica dos documentos armazenados.
- Inclui toda a informação do paciente.
Desvantagens:
- Se dois médicos desejarem consultar a história clínica simultaneamente, não o podem fazer.
- Para entender a situação global do paciente, é necessário ler toda a história clínica e a sua evolução.
- A informação é recolhida de acordo com os diferentes estilos de cada médico (Ex.: tipo de letra, expressões, etc.).
2.3. História Clínica Informatizada
Devido ao grande número de histórias clínicas em hospitais, bem como à necessidade de trocar informações rapidamente entre hospitais, tenta-se introduzir histórias clínicas informatizadas ou digitais (HCI). Isto implica deixar de usar o suporte em papel e passar a usar sistemas digitais.
Condições para a implementação de um sistema de história clínica informatizada:
- Dispor de um sistema informático centralizado, com uma ligação potente que possa gerir os terminais.
- Um software aplicativo robusto que abranja todos os setores do hospital.
- Para informatizar todas as histórias clínicas, é necessário padronizar os processos de trabalho para todos os utilizadores.
Vantagens:
- Hospital: Permite padronizar todas as histórias clínicas e, consequentemente, obter uma significativa economia de espaço.
- Médico: Pode aceder instantaneamente à informação de qualquer lugar e pode ter toda a informação organizada.
- Paciente: Atendimento mais rápido e a sua história clínica pode estar disponível a partir de vários centros.
Desvantagens:
- Despesa económica importante.
- O problema da confidencialidade da informação.
- Possibilidade de falha do sistema informático.
Sistemas de Segurança de um Sistema Informático
As possíveis vulnerabilidades de um sistema informático podem ser agrupadas em três categorias:
- Acesso não autorizado à informação: Consiste em aceder à informação que circula através do sistema para fazer um uso fraudulento.
- Alteração da Informação: Consiste em modificar as informações contidas no sistema.
- Acesso não permitido ao sistema: Trata-se de aceder ao sistema informático para alterar a sua programação.
Para evitar esses problemas, existem diferentes mecanismos de segurança:
- Controlo da identidade dos utilizadores: Utilizam-se identificações e senhas.
- Uso de criptografia (símbolos ou cifras): Estes sistemas podem ser incorporados no próprio software.
- Mudança frequente de senhas.
- Bloqueio do sistema: Quando um utilizador tenta repetidamente entrar no sistema com credenciais erradas.
Além destes mecanismos de segurança, deve ser considerado que podem ocorrer erros no software ou no hardware.
Para evitar estes problemas, existem os seguintes mecanismos:
- Sistema de Alimentação Ininterrupta (UPS): São sistemas que protegem contra a interrupção de energia elétrica ou variações de tensão.
- Sistema de Back-up (Cópia de Segurança): Consiste em realizar cópias de segurança periódicas das informações contidas no disco rígido dos servidores.
2.4. A História Clínica Orientada por Problemas
Em 1969, um médico chamado Weed propôs uma nova forma de recolher informação clínica. Consiste em organizar toda a informação sobre o paciente em torno de uma guia chamada "lista de problemas".
Nesta lista são classificados os dados, interpretações e tratamentos dos pacientes. É mais trabalhoso elaborar uma história clínica desta forma, mas é mais lógica e permite que os médicos entendam a situação do paciente apenas consultando a lista de problemas.
Ex.: Estrutura de uma HC orientada por problemas:
- Dados Iniciais: Dados do Paciente.
- Lista de Problemas: Os problemas são classificados como ativos ou inativos.
- Plano Inicial: O médico sugere um diagnóstico e tratamento para cada problema.
- Notas de Evolução (SOAP): Registo da evolução do paciente (Subjetivo, Objetivo, Avaliação, Plano).
- Registos Narrativos: O médico justifica as suas decisões.
- Folha de Fluxo e Avaliação Constante.
- Relatório de Alta.
TEMA 3: EPIDEMIOLOGIA
3.1. Conceito e História da Epidemiologia
Etimologicamente, a palavra epidemiologia deriva das raízes gregas "epi" (sobre), "demos" (população) e "logos" (estudo, ciência). É o estudo científico de tudo o que ocorre numa população.
Em 1975, MacMahon definiu epidemiologia como o estudo da distribuição e dos determinantes da frequência de doenças no ser humano. Esta definição tem duas vertentes:
- Distribuição: Consiste em conhecer as características do grupo de pessoas que sofrem de uma doença específica (idade, sexo, local de residência, etc.).
- Determinantes: Consiste em conhecer os fatores que influenciam essa distribuição, ou seja, saber diferenciar quais os fatores envolvidos na doença que têm um valor de risco, são causais ou protetores.
Prevalência: A probabilidade de os indivíduos de uma população terem a doença num determinado momento.
História da Epidemiologia
- Hipócrates: Afirmou que a doença e a saúde estavam relacionadas com aspetos como a localização geográfica, estação do ano, água consumida, etc.
- 1662: John Graunt: Publicou um livro sobre a contagem da mortalidade. Foi o primeiro a introduzir métodos quantitativos nos estudos de saúde, contabilizando nascimentos e mortes.
- 1747: James Lind: Foi o primeiro a realizar estudos experimentais com pessoas. Fez estudos sobre o escorbuto (doença sofrida por marinheiros que passavam muito tempo no mar e não comiam verduras ou frutas, o que causava deficiência de vitamina C).
- 1839: William Farr: Realizou um estudo da mortalidade em determinados locais, como minas ou prisões.
- 1849: John Snow: Fez um estudo sobre a incidência da cólera (que causava diarreia grave e desidratação) em Londres. Agrupou diferentes amostras de estudo de acordo com a companhia de água a que pertenciam.
Epidemiologia como Ciência
Os estudos epidemiológicos seguem os mesmos passos do método científico, que são:
- Observação do fenómeno: Deve ser feita uma observação detalhada do fenómeno, e para isso é necessário ter conhecimento prévio sobre o assunto.
- Formulação de uma hipótese: Consiste em dar uma explicação para o fenómeno observado. Para formular uma hipótese, devem ser feitas observações repetidas do fenómeno.
- Demonstração das hipóteses: Consiste na aplicação de técnicas estatísticas para provar as suposições feitas.
- Emissão de uma lei geral: Só pode ser feita quando se encontra uma explicação definitiva, ou seja, que se cumpre sempre para o fenómeno observado.
3.2. Biodemografia: Indicadores Demográficos (Censos e Registos)
É a parte da epidemiologia que estuda as características das populações, com vista ao estudo de fenómenos de natureza médica.
Utiliza dois tipos de dados: o censo e o padrão municipal (registo).
CENSO: É uma contagem regular e simultânea de toda a população, na qual são registados dados de todos os tipos (económicos, demográficos, sociais, etc.).
Em Espanha, o censo é realizado pelo INE (Instituto Nacional de Estatística). A população é obrigada por lei a responder às perguntas do censo. O censo é realizado a cada 10 anos, nos anos terminados em 1. Este documento é meramente estatístico, não administrativo, e secreto. A administração só pode utilizar esses dados de forma coletiva e não nominal.
Cálculo da População Intercensitária
Primeiro método: Progressão Aritmética
Incremento anual médio (D) = (P₂ - P₁) / 10
População após n anos (Pn) = P₁ + (n * D)
Onde P₁ é a população do primeiro censo, P₂ é a população do segundo censo (10 anos depois), e n é o número de anos desde o primeiro censo.
Segundo método: Progressão Geométrica
Taxa de crescimento geométrico anual média (G) = (P₂ / P₁)1/10
População após n anos (Pn) = P₁ * Gn
Exemplo: Suponha que a população do primeiro censo (P₁) é 33.956.047 habitantes e a do censo seguinte (P₂) é 37.683.365 habitantes. Calcule a população após 2 anos do primeiro censo, usando ambos os métodos.
Primeiro método:
D = (37.683.365 - 33.956.047) / 10 = 3.727.318 / 10 = 372.731,8 habitantes/ano
P2 anos = 33.956.047 + (2 * 372.731,8) = 33.956.047 + 745.463,6 = 34.701.510,6 habitantes (Resultado original: 34.701.511)
Segundo método:
G = (37.683.365 / 33.956.047)1/10 = (1,10977)0,1 ≈ 1,01047
P2 anos = 33.956.047 * (1,01047)2 = 33.956.047 * 1,0210500809 ≈ 34.671.103,9 habitantes (Resultado original: 34.670.808)
Exemplo 2: Se a população do primeiro censo (P₁) é 35.178.042 habitantes, e a do segundo censo (P₂) é 39.883.644 habitantes. Calcular a população após 5 anos, com ambos os métodos.
Primeiro método:
D = (39.883.644 - 35.178.042) / 10 = 4.705.602 / 10 = 470.560,2 habitantes/ano
P5 anos = 35.178.042 + (5 * 470.560,2) = 35.178.042 + 2.352.801 = 37.530.843 habitantes (Resultado original: 37.530.843)
Segundo método:
G = (39.883.644 / 35.178.042)1/10 = (1,1337605)0,1 ≈ 1,01263
P5 anos = 35.178.042 * (1,01263)5 = 35.178.042 * 1,064851 ≈ 37.456.363,49 habitantes (Resultado original: 37.456.363)
PADRÃO MUNICIPAL (REGISTO): São semelhantes aos censos, mas de caráter municipal. São documentos administrativos, não secretos e não primariamente estatísticos. Usados para planear os gastos nos orçamentos municipais.
Um dos dados que mais influencia os estudos epidemiológicos é a idade da população, devido à sua implicação nos dados de saúde. A partir da idade da população constroem-se as pirâmides populacionais. Estas pirâmides podem ser classificadas de três maneiras:
1. Método de Friz: Calcula-se primeiro o índice de Friz.
Índice de Friz = (População Jovem (J) / População Adulta (A)) * 100
A partir dos resultados deste índice, pode-se saber se a população é jovem, madura ou velha.
- Se o resultado for superior a 160, a população é jovem ou progressiva.
- Se o índice estiver entre 60 e 160, a população é madura ou estacionária.
- Se o índice for inferior a 60 (original diz 160, mas deve ser 60 para regressiva), a população é velha ou regressiva.
2. Método de Bürgdörfer: Este método dá atenção especial a dois grupos etários:
- Faixa entre 6-15 anos
- Faixa entre 45-65 anos
- Se % (6-15 anos) > % (45-65 anos): população jovem
- Se % (6-15 anos) = % (45-65 anos): população madura
- Se % (6-15 anos) < % (45-65 anos): população velha
3. Método de Sundbärg: Classifica a população em três grupos:
- Jovens (0-14 anos)
- Adultos (15-49 anos) (original diz 15-50)
- Idosos (>49 anos) (original diz >50)
Os cálculos são relativos aos jovens e idosos em relação aos adultos. Comparam-se as proporções J/A e I/A (Idosos/Adultos).
- Se J/A > I/A: População jovem
- Se J/A = I/A: População Madura
- Se J/A < I/A: População Velha
3.3. Os Indicadores de Saúde
A epidemiologia tem como um dos seus principais objetivos o estudo da distribuição e dos determinantes de diferentes doenças. A medida mais básica da frequência de uma doença é o número de pessoas que a sofrem (nº de pacientes com hipertensão, Alzheimer, etc.) ou que morrem por ela, mas esta medida isolada não tem utilidade para determinar a importância de um problema de saúde específico.
As medidas devem sempre referir-se ao tamanho da população da qual provêm os casos e ao período de tempo em que esses casos foram identificados. Assim, em epidemiologia, trabalha-se com diferentes tipos de frações para quantificar adequadamente o impacto de uma determinada doença.
RAZÃO (RATIO): É a expressão da relação entre dois números que pertencem a dois grupos, nenhum dos quais está contido dentro do outro.
Tipos:
- Independência: Quando o numerador e o denominador não têm relação direta de inclusão.
- Ex.: Nº de homens na empresa / Nº de mulheres na empresa.
- Interseção: Quando o numerador e o denominador têm uma parte comum (embora a definição de razão geralmente implique que não há inclusão).
- Ex.: (Casos de cancro do pulmão devido ao tabagismo) / (Total de casos de cancro do pulmão). Nota: Este exemplo pode ser mais uma proporção se o numerador estiver contido no denominador. Uma razão típica seria Odds Ratio.
O valor de uma razão pode variar entre 0 e infinito. A razão não tem unidades; é um conceito estático que reflete a situação de uma população num dado momento.
PROPORÇÕES: É a expressão da relação entre a parte e o todo.
Ex.: Proporção de mortalidade por cancro.
(Nº de óbitos por cancro / Total de óbitos) * 100 (para percentagem)
O valor da proporção varia de 0 a 1 (ou 0% a 100%). As proporções são conceitos estáticos que não têm unidades. Seu valor pode ser expresso das seguintes maneiras:
- Como frações.
- Em percentagem (%).
- Na forma decimal.
- Por potência (notação científica).
3.4. Medidas de Frequência da Doença
As medidas de frequência incluem a prevalência e a incidência.
Prevalência: Refere-se aos casos existentes de uma doença num determinado momento.
Cálculo da Prevalência: A prevalência é entendida como a probabilidade de um indivíduo da população apresentar a doença num dado momento. É calculada dividindo o número de pacientes pela população total, geralmente expressa como percentagem (%).
Prevalência = (Número de casos existentes da doença num momento t / População total nesse momento t) * k
INCIDÊNCIA: Refere-se aos casos novos que aparecem num determinado período.
Portanto, um caso prevalente é uma pessoa que está doente no momento da medição; no entanto, um caso incidente é uma pessoa que adoeceu durante o período de observação.
Cálculo da Incidência: O cálculo pode ser feito de 3 formas:
- Incidência Acumulada (IA): É definida como a probabilidade de um indivíduo da população desenvolver a doença num determinado período de tempo. É calculada dividindo o número de casos novos no período pela população em risco no início do período.
- IA = (Número de casos novos durante um período / População em risco no início do período) * k
- Ex.: De 1665 pessoas com VIH, 168 desenvolveram pneumonia entre 1994 e 1998.
- IA = 168 / 1665 ≈ 0,1009 ou 10,09% no período de 4 anos.
- ODDS da doença: Odds ou chance é a probabilidade de contrair a doença em relação à probabilidade de não a contrair. É calculado comparando o risco da doença (IA) com a probabilidade de não a ter (1-IA).
- Odds = IA / (1 - IA)
- Os valores de incidência acumulada e as odds são muito semelhantes para doenças de baixa incidência.
- Taxa de Incidência (TI) ou Densidade de Incidência: Pode ser definida como a velocidade com que uma determinada doença aparece na população. Considera o tempo de observação de cada indivíduo.
- TI = (Número de casos novos durante um período / Soma dos períodos de tempo em risco de cada indivíduo da população)
TEMA 4: DESENHO DO ESTUDO EPIDEMIOLÓGICO
4.1. Introdução
Em epidemiologia, os estudos podem ser observacionais ou experimentais.
Estudo Observacional: Estudos em que o investigador se limita a observar como se comportam dois ou mais grupos de população que diferem (ou não) por um fator de exposição. Existem 3 tipos principais:
- Estudo transversal: Seleciona-se uma amostra de indivíduos da população e verifica-se simultaneamente se estão expostos ou não a um fator e se têm a doença ou não.
- Estudos de caso-controlo: Seleciona-se um grupo de pacientes (casos) e um grupo de indivíduos saudáveis (controlos) e compara-se a história de exposição a um fator de interesse.
- Estudos de coorte: Seleciona-se um grupo de indivíduos expostos a um fator e um grupo de indivíduos não expostos, e acompanha-se ao longo do tempo para observar quem desenvolve a doença.
Estudos Experimentais:
- Ensaios Clínicos: São aqueles em que o investigador pode selecionar um grupo de indivíduos e decide quem será exposto a um fator (intervenção) e quem não será, para observar os resultados.
4.2. Estudos Transversais
Estes estudos podem estimar a relação entre um fator e uma doença num ponto específico no tempo. Têm a limitação de que, ao medir simultaneamente a exposição e a doença, é difícil saber se a exposição precedeu a doença. Para avaliar a associação, usa-se a razão de prevalências (RP) ou o odds ratio de prevalência.
Quanto mais forte for a relação entre a exposição e a doença, maior será a prevalência nos expostos em comparação com os não expostos.
4.3. Estudos de Caso-Controlo
Seleciona-se um grupo de pacientes (casos) e um grupo de indivíduos saudáveis (controlos) e compara-se a história de exposição a um fator.
Se a exposição for muito mais comum entre os casos do que entre os controlos, pode-se deduzir uma associação com a doença.
Estes estudos são úteis para investigar doenças raras, e a chave do sucesso é escolher um grupo de controlo adequado. A estratégia para a seleção de controlos é retirá-los da mesma população de onde os casos foram selecionados. Podem ser selecionados de duas formas:
- Emparelhados (Matched): Para cada caso, procura-se um controlo com características semelhantes em certas variáveis (ex: idade, sexo).
- Não emparelhados (Unmatched): Os controlos são selecionados da população sem restrições de emparelhamento com os casos.
Nesses estudos, há dois fatores principais que podem causar erros:
- Seleção de Controlos (viés de seleção).
- A medição retrospetiva da exposição (viés de memória ou de informação).
Nestes tipos de estudos, para medir a relação entre exposição e doença, utiliza-se o Odds Ratio (OR), que pode ser interpretado como a razão de chances de exposição.
4.4. Os Estudos de Coorte
Neste tipo de estudo, são selecionados dois grupos semelhantes de indivíduos saudáveis, onde alguns estão expostos a um fator e outros não, e são acompanhados por um período (anos) para comparar o aparecimento da doença.
Neste tipo de estudo, pode-se concluir uma relação temporal entre a exposição e a doença. Podem surgir problemas com os indivíduos que não concluem o estudo (perdas de seguimento), o que pode alterar o resultado. Para medir a relação entre exposição e doença, utiliza-se o Risco Relativo (RR) ou a Razão de Taxas de Incidência.
Se o RR tiver um valor maior que 1, a exposição é um fator de risco, porque haverá mais doentes entre os expostos.
Se o RR tiver um valor menor que 1, a exposição não será um fator de risco, mas sim um fator de proteção, porque a maioria dos doentes não estará entre os expostos (ou a incidência será menor nos expostos).
(O texto original menciona "Calcule o odds ratio e risco relativo de um estudo onde obtiveram os seguintes resultados." mas não fornece os resultados.)
4.5. Os Ensaios Clínicos
É um método experimental que, em essência, é um estudo de coorte prospetivo, mas no qual o investigador manipula a exposição (intervenção) e seleciona os indivíduos. Em princípio, o investigador seleciona um grupo de pessoas semelhantes que serão aleatoriamente designadas para receber a intervenção ou não (grupo controlo).
Como o investigador decide a exposição, estes estudos são eticamente justificados apenas se a exposição (intervenção) for potencialmente benéfica para o indivíduo e os riscos forem aceitáveis.
Para evitar ao máximo os erros (vieses), tenta-se que o estudo seja "duplamente cego" (double-blind), ou seja, nem os participantes sabem que tratamento estão a receber, nem o investigador/avaliador sabe quem está a receber qual tratamento.
4.6. Tipos de Erros em Estudos Epidemiológicos
Precisão (Reliability): Um estudo é preciso quando, repetido várias vezes nas mesmas condições, obtém sempre os mesmos valores ou valores muito próximos. Isto também é chamado de confiabilidade ou reprodutibilidade.
Exatidão (Validity): O grau de proximidade entre os valores obtidos no estudo e o valor real do parâmetro que se pretende determinar na população. Também chamada de validade.
Dependendo da precisão e exatidão, temos dois tipos de erros:
- Erros aleatórios (Chance): São devidos a variações casuais que ocorrem como resultado de trabalhar com amostras e não com toda a população. Estes erros estão relacionados com a precisão ou confiabilidade do estudo. Para reduzir ao máximo os erros aleatórios, deve-se trabalhar com a maior amostra possível e usar métodos estatísticos adequados.
- Erros sistemáticos (Vieses ou Biases): São desvios sistemáticos da realidade que não têm a ver com o acaso, mas com a forma como o estudo é planeado ou conduzido. Ocorrem quando há um erro na mecânica da investigação que se repete cada vez que o estudo é realizado (ou em cada medição). Os erros sistemáticos estão relacionados com a exatidão ou validade do estudo, e para reduzir esses erros deve-se rever cuidadosamente o desenho e a condução do estudo.