Doença de Chagas: Parasita, Vetores, Transmissão e Controle
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Trypanosoma cruzi e Doença de Chagas: O Parasita
- Parasita heteroxeno e eurixeno.
- Desenvolve-se no tubo digestivo de triatomíneos (hemípteros hematófagos), no sangue e nos tecidos de diferentes mamíferos (marsupiais – gambá, desdentados – tatu, quirópteros – morcego, roedores – rato, primatas – macaco, lagomorfos – coelho, carnívoros – cão e gato).
- Não infecta aves nem répteis.
- Multiplica-se por divisão binária (assexuada).
Vetores da Doença de Chagas
- Triatoma infestans: amplamente distribuído, estritamente domiciliar.
- Panstrongylus megistus: ocorre nas áreas mais montanhosas e frias.
- Triatoma brasiliensis: ocorre nas áreas mais quentes, importante no Nordeste.
- Triatoma sordida, Triatoma rubrofasciata, Triatoma pseudomaculata, Rhodnius pictipes, Panstrongylus geniculatus: importância secundária.
- Rhodnius prolixus: principal vetor na América Central.
Os principais vetores incluem: Panstrongylus sp., Rhodnius sp. e Triatoma infestans.
Mecanismos de Transmissão
- Vetorial: de maior importância epidemiológica. Forma infectiva: tripomastigota metacíclico.
- Transfusional: importante nas áreas urbanas. Forma infectiva: tripomastigota sanguícola.
- Congênita: importância relativa. Forma infectiva: tripomastigotas diferenciados a partir de ninhos de amastigotas na placenta.
- Acidental: inoculação por agulha ou contato com mucosa de material contendo tripomastigotas.
- Ingestão: leite materno, alimentos contaminados com fezes de triatomíneos, canibalismo. Forma infectiva: tripomastigotas.
- Transplante de Órgãos: pode resultar em doença aguda grave. Forma infectiva: amastigotas.
Formas Clínicas da Doença de Chagas
Fase Aguda
- Alta parasitemia e alto parasitismo tissular.
- Sinal de Romaña: edema periorbital (1-2%).
- Sintomas: Sintomática (mais comum em crianças) ou assintomática, linfadenite, chagoma de inoculação, febre, elevada parasitemia.
- Início da produção de anticorpos (Ac) específicos (2ª semana após a infecção).
Forma Indeterminada
- Fase latente: 10-30 anos.
- Ausência de sinais/sintomas.
- Exames parasitológicos/sorológicos positivos.
Fase Crônica
- Baixa parasitemia e baixo parasitismo tissular.
- Nenhum sinal aparente.
- Diferentes formas: cardiopatias, megas (cólon, esôfago), ou mista.
Fisiopatogenia das Formas Cardíacas
- Substituição do tecido muscular por fibrose, resultando em diminuição da força contrátil do miocárdio e Insuficiência Cardíaca (IC).
- Formação de trombos intracavitários devido à estase sanguínea nas áreas de flacidez muscular, levando a aneurismas e fenômenos tromboembólicos.
- Comprometimento do sistema nervoso autônomo (afetando feixe de Hiss, nódulo sinusal, nódulo AV), causando bloqueios de condução (bloqueios de ramo, arritmias, BAV) e risco de morte súbita.
Cardiomegalia e Aneurisma Apical são manifestações comuns.
Fisiopatogenia das Formas Digestivas
- Destruição do plexo mioentérico pelo infiltrado inflamatório.
- Alterações da peristalse.
- Estase do conteúdo do tubo digestivo.
Manifestações Digestivas
- Megaesôfago e Megacólon.
- Causam disfagia e refluxo gastroesofágico.
- Podem levar à constipação intestinal.
Resposta Imune e Inflamatória
A interação parasita/célula leva ao rompimento celular e à liberação de fragmentos celulares e antígenos parasitários. Isso desencadeia uma inflamação focal aguda, proporcional aos ninhos de parasitas, resultando na formação de anticorpos (Ac) IgG e IgM e, consequentemente, na redução da parasitemia.
Escape do Sistema Imune
Mecanismos de Escape
- Escape da via do complemento: A glicoproteína de 160 kDa, homóloga à proteína regulatória da via do complemento (fator de aceleração de decaimento), liga-se ao C3b e C4b, inibindo a formação do complexo de ataque à membrana.
- Trans-sialidase (TS): Sialilação da superfície do tripomastigota.
Diagnóstico da Doença de Chagas
Diagnóstico Clínico
- Sinais de porta de entrada.
- Febre.
- Adenopatia.
- Edema.
- Hepatoesplenomegalia.
- Taquicardia.
- Alterações no ECG.
Diagnóstico Laboratorial
Fase Aguda
- Aumento da parasitemia.
- Anticorpos (Ac) inespecíficos e início de Ac específicos IgM e IgG.
Métodos Parasitológicos
- Exame de sangue a fresco.
- Gota espessa corada pelo Giemsa.
- Cultura.
- Inoculação em camundongos.
- Xenodiagnóstico e hemocultura (resultados demorados).
Métodos Sorológicos
- RIFI (IgM constante na fase aguda).
- ELISA.
Fase Crônica
- Diminuição da parasitemia.
- Anticorpos (Ac) específicos.
Métodos Parasitológicos
- Xenodiagnóstico.
- Hemocultura.
- Inoculação em ratos.
Métodos Sorológicos
- RFC.
- RHA.
- RIFI.
- ELISA (atenção para diagnóstico cruzado com Leishmania).
Outros métodos incluem: lise mediada por complemento, pesquisa de anticorpos (Ac) anti-Trypanosoma vivos e PCR.
O Xenodiagnóstico e o ELISA são frequentemente utilizados.
Tratamento da Doença de Chagas
- Parcialmente ineficaz, sem cura definitiva.
- Monitoramento por 5 anos.
Critérios de Cura
- Negativação parasitológica (xenodiagnóstico, hemocultura e PCR).
- Negativação da sorologia convencional.
- Lise Mediada por Complemento (LMCo).
- Anticorpos Anti-Trypanosoma Vivos (AATV).
Medicamentos
- Existem diferenças regionais de suscetibilidade do T. cruzi aos medicamentos.
- Nifurtimox.
- Benzonidazol.
Profilaxia e Controle
- Melhoria das habitações rurais, higiene e limpeza.
- Combate ao vetor ("barbeiro") com inseticidas. Estudos de Carvalho e colaboradores (2000) sugeriram associação entre a diminuição da transmissão e medidas profiláticas em São Paulo, com redução de 13,3% de T. infestans infectados em 1968 para 1,5% em 1976.
- Identificação e seleção rigorosa dos doadores de sangue ou esterilização do sangue pela violeta de genciana.
- Controle da transmissão congênita.
- Vacinação: atualmente em estudos.
Estratégias de Controle da Transmissão
Controle Físico
- Melhorias habitacionais: recuperação de telhados, adequação de áreas de iluminação, aplicação e/ou complementação de reboco, substituição de paredes de taipa, adição de instalações sanitárias, pintura e pavimentação.
- Construção de novas unidades habitacionais quando a recuperação das existentes não for viável.
- Construção de unidades sanitárias equipadas com fossa sumidouro.
- Construção ou recuperação de sistemas de abastecimento de água.
- Limpeza do terreno e adequação de instalações contíguas (ex: galinheiros).
- Ações de combate a focos de infestação intradomiciliares e peridomiciliares através da aplicação de produtos químicos, quando as condições exigirem.
Controle Socioeducativo
- Programas de educação sanitária, ambiental e de saúde, a serem obrigatoriamente desenvolvidos com as comunidades beneficiadas.
- Programas de capacitação de mão de obra da população local em atividades de construção, especialmente em localidades onde o sistema construtivo adotado for sob a forma de mutirão.
Para controlar a transmissão transfusional, é essencial fiscalizar a qualidade do sangue dos doadores, mediante exames que comprovem que eles não são portadores da doença.