Doença Periodontal: Causas, Estágios e Riscos
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O que é Doença Periodontal?
A doença periodontal inicia-se com uma gengivite marginal e progride para uma periodontite, com formação de bolsa e perda óssea. Se não for tratada, leva à perda do dente. Uma bolsa periodontal é um sulco gengival aprofundado patologicamente, que pode ocorrer pela migração apical do epitélio juncional ao longo da raiz dentária. A destruição do ligamento periodontal e do osso alveolar ocorre como resultado de fatores bacterianos e da resposta do hospedeiro.
Transmissão e Riscos Sistêmicos
A doença periodontal é infectocontagiosa. Quando há marcadores de doença periodontal avançada, outros familiares apresentam 30% de chance de apresentar a doença também, com futura perda de dentes, se não houver tratamento. A transmissão das bactérias ocorre por meio de talheres, copos, escovas de dentes e contato direto com a saliva.
Ela está relacionada com:
- Diabetes
- Reumatismo infeccioso
- Artrite reumatoide
- Osteoporose
- Problemas cardiovasculares
Isso ocorre pois as bactérias presentes na gengiva inflamada podem penetrar no sangue através da bolsa periodontal e contribuir para um ataque cardíaco. A identificação dos casos, com exames clínicos e bacteriológicos, reduz o número de pacientes afetados.
Bactérias Envolvidas na Doença Periodontal
Gênero Bacteroides
Bacilo Gram-negativo, imóvel, capsulado, não esporulado, anaeróbio estrito.
- B. fragilis: Está relacionado a infecções no abdômen (cólon).
- B. forsythus (atualmente Tannerella forsythia): É encontrado na placa dental subgengival em associação com a doença periodontal.
Fatores de Virulência:
- LPS da parede celular
- Polissacarídeos da cápsula
- Beta-lactamase
Deu origem a outros gêneros baseados na produção de pigmentos negros e na fermentação de carboidratos, como Porphyromonas e Prevotella.
Gênero Porphyromonas sp
Produtor de pigmento negro, assacarolítico (não fermenta carboidratos).
Espécies de maior prevalência:
Porphyromonas gingivalis: Pleomórficos (cocobacilos) Gram-negativos, localizados na placa subgengival de indivíduos com periodontite. Há 3 tipos antigênicos (A, B, C). Estuda-se o desenvolvimento de vacinas contendo o epítopo da proteína fimbrial.
Fatores de Virulência: LPS da parede celular, fímbrias, cápsula e enzimas.
Porphyromonas endodontalis: É vista em abscessos associados a infecções endodônticas.
Fatores de Virulência: Colagenase e proteinase de ação proteolítica acentuada.
Gênero Prevotella sp
Caracterizam-se por fermentarem diversos carboidratos. Há espécies pigmentadas (pigmento negro) e outras não.
Espécies incluem:
Prevotella intermedia: Fermenta com pouca intensidade, produz fluorescência vermelha sob luz ultravioleta. Tem ação moderada na inflamação gengival, na gengivite ulcerativa necrosante aguda (GUNA) e na periodontite crônica do adulto.
Fatores de Virulência: Cápsula, fímbrias e enzimas.
- Prevotella melaninogenica: Fermentadora de açúcar, não parece ser um patógeno proeminente na doença periodontal.
Gênero Actinobacillus sp
(Atualmente inclui Aggregatibacter actinomycetemcomitans, fortemente associado a formas agressivas de periodontite).
Desenvolvimento e Estágios da Doença
A placa bacteriana não removida mineraliza-se, transformando-se em cálculo (tártaro). Inicia-se, então, a progressão da doença:
- Gengivite: Há deposição da placa bacteriana e formação do cálculo na superfície do dente, formando a bolsa gengival (um aprofundamento inicial do sulco). A gengiva marginal fica avermelhada e sangra facilmente durante a escovação. Nesta fase, a doença é reversível com a remoção profissional da placa e do cálculo e melhora da higiene oral.
- Periodontite Inicial: O progresso da doença ocorre se a placa e o cálculo não forem removidos. Intensifica-se o acúmulo de cálculo subgengival, a gengiva pode sangrar espontaneamente e há o aprofundamento da bolsa periodontal devido à destruição das fibras gengivais. Nesta fase, começa a haver perda óssea inicial e ocorre um aprofundamento patológico do sulco gengival.
- Periodontite Avançada: Há presença de sangramento e frequentemente exsudato (pus) na bolsa periodontal. Ocorre perda óssea significativa, mobilidade dentária e a condição pode finalizar-se com a perda do dente.
Mecanismos de Agressão Periodontal
A agressão aos tecidos periodontais ocorre pelo acúmulo de biofilme (placa bacteriana) e pela resposta do hospedeiro a essa agressão.
Fatores Bacterianos Diretos
- Enzimas bacterianas histolíticas: Hialuronidases, colagenases, sulfatases, proteinases, fosfatases, DNases, hemolisinas.
- Agentes citotóxicos:
- Endotoxinas (LPS - lipopolissacarídeos constituintes da parede celular de bactérias Gram-negativas).
- Polímeros extracelulares: Dextranos, ácido hialurônico.
- Produtos metabólicos finais do catabolismo:
- Resultantes da atividade do metabolismo de proteínas: Amônia, ácido sulfídrico, indol.
- Resultantes da atividade do metabolismo de carboidratos: Ácidos fórmico, acético, propiônico e outros.
Efeitos Indiretos (Mediados pelo Hospedeiro)
A resposta do sistema imune do hospedeiro, embora defensiva, contribui significativamente para a destruição tecidual.
- Enzimas liberadas pelos tecidos do hospedeiro: Colagenases (MMPs), hialuronidases e enzimas lisossomais liberadas por células de defesa (neutrófilos, macrófagos) e células do tecido conjuntivo.
- Resposta inflamatória: Liberação de citocinas pró-inflamatórias (IL-1, TNF-alfa), prostaglandinas, que mediam a vasodilatação, recrutamento celular e reabsorção óssea.
- Atividades do Sistema Complemento: Ativação que leva à lise bacteriana, opsonização e quimiotaxia, mas também pode causar dano tecidual.
- Reações de Hipersensibilidade:
- Imediatas (ligadas à imunidade humoral): Anafilaxia local e reações citotóxicas (Tipo II e III).
- Retardadas (ligadas à imunidade celular): Hipersensibilidade do tipo IV, mediada por linfócitos T.
- Fatores do Hospedeiro: Imunodeficiências (ex: problemas na função dos neutrófilos - quimiotaxia e fagocitose) ou respostas imunes exacerbadas podem modular a progressão da doença.