Dom Quixote: Estrutura, Temas, Personagens e Legado

Argumento e Estrutura

Na primeira parte, um velho louco, após ler muitos romances de cavalaria, decide sair em busca de aventuras com seu cavalo. Chega a uma estalagem, que ele confunde com um castelo, e lá, zombando dele, é feito cavaleiro. Em seguida, retorna para casa para buscar um escudeiro, Sancho Pança, e inicia sua segunda saída. Após vários eventos, os vizinhos de Quixote, preocupados, conseguem enganá-lo para que volte para casa. Na segunda parte, Dom Quixote faz sua terceira saída. Sancho se torna governador de uma ilha, mas finalmente se cansa e volta para seu mestre. Dom Quixote é derrotado pelo Cavaleiro da Lua Branca e, finalmente, retorna para casa, onde recupera sua sanidade e morre.

Temas Centrais

• Utopia e Realidade: O conflito entre o indivíduo que quer realizar seu sonho e o ambiente familiar e social que o impede é o tema mais imitado desta obra.
• Justiça: O espírito quixotesco o move integralmente em busca da justiça.
• Amor: Dom Quixote, na imitação dos romances de cavalaria, sente a necessidade de ter sua bela dama para amar.
• Literatura: Toda a obra é repleta de referências a temas literários (como a “Idade de Ouro do Homem”). Este trabalho foi concebido para parodiar os romances de cavalaria.

Personagens

Nesta obra, Cervantes apresenta mais de 700 personagens, mas dois se destacam acima dos outros: Dom Quixote e Sancho Pança.

• Dom Quixote: Um senhor de 50 anos, enlouquecido por ler muitos romances de cavalaria. Ao longo da obra, recupera sua sanidade mental, tornando-se completamente são ao final.
• Sancho Pança: Um agricultor humilde, fiel ao seu mestre e com uma filosofia de vida peculiar. Na segunda parte do livro, ganha maior importância.

Estilo

O estilo da obra de Cervantes transita entre a simplicidade e naturalidade, contrastando com a complexidade e artifício renascentista e barroco. Este é um romance que combina diferentes estilos e técnicas. O principal êxito estilístico de Cervantes é a capacidade de se adaptar às necessidades de uma obra aberta, utilizando o estilo popular de Sancho, com a apresentação de paisagens idealizadas e pinturas bucólicas. O livro combina o estilo arcaico e erudito com um estilo simples, muito mais natural e expressivo. Uma técnica bastante moderna é o perspectivismo narrativo. Cervantes aparece na obra como um narrador que se limita a transcrever um manuscrito que diz ter encontrado. As técnicas e recursos mais comuns da obra são a ironia, a paródia e a presença constante do diálogo.

Dom Quixote e a Criação do Romance Moderno

A publicação de Dom Quixote foi uma revolução para as letras universais, marcando o início de uma representação mais ampla e significativa do gênero que conhecemos hoje como romance. A obra de Miguel de Cervantes introduz inovações estruturais e formais que marcam a evolução do gênero. As principais podem ser resumidas a seguir:

• Realismo e Verossimilhança: A obra envolve a criação de um universo próximo da realidade, distanciando-se da idealização em voga na época.
• Protagonista Não Heroico: Não há heróis clássicos, mas personagens com suas misérias e grandezas.
• Profundidade Psicológica dos Personagens: O caráter inabalável do herói clássico é substituído por personagens com complexidade psicológica.
• Confronto Indivíduo vs. Sociedade: O romance nos coloca entre o desejo e a realidade.
• Consistência Interna da Narrativa: Cervantes consegue integrar todos os elementos da narrativa de Dom Quixote.
• Narrativa Dialogada: A narrativa avança através do diálogo dos personagens, cujas palavras servem para caracterizá-los.