Edema: Distúrbios Hemodinâmicos, Fisiopatologia e Tipos
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Distúrbios Hemodinâmicos: O Edema
Definição de Edema
É o acúmulo de líquido nos espaços intersticiais ou nas cavidades corpóreas.
Nomenclatura do Edema
De Acordo com a Localização
- Edema de braço
- Edema de perna
- Edema pulmonar
- Edema cerebral
- Edema de gengiva
Anasarca
Edema intenso e generalizado, com tumefação profunda do tecido subcutâneo.
Nas Cavidades Corpóreas
- Hidrotórax
- Hidropericárdio
- Hidroperitôneo ou ascite
De Acordo com a Causa
- Edema inflamatório
- Edema não inflamatório
Tipos de Edema: Transudato e Exsudato
Transudato
Fluido que é basicamente um ultrafiltrado do plasma, composto por água, eletrólitos, gases dissolvidos, moléculas de baixo peso molecular, com poucas proteínas e poucas ou nenhuma célula – densidade < 1,012 g/mL.
Exsudato
Fluido ligeiramente turvo, composto por água, eletrólitos, gases dissolvidos, rico em proteínas plasmáticas e em células sanguíneas (leucócitos) – densidade > 1,020 g/mL.
O edema ocorre, portanto, por transudação ou exsudação.
Composição do Plasma, Transudatos e Exsudatos
Plasma
Possui 7-7 g/dL de proteínas, possui todos os tipos de proteínas, células sanguíneas, água, íons, moléculas pequenas e gases dissolvidos, e não possui fibrina.
Transudato
0-1,5 g/dL de proteínas, o tipo de proteína presente é a albumina, não possui células, possui água, íons, moléculas pequenas e gases dissolvidos, e não possui fibrina.
Exsudato
Possui 1,6 a 6 g/dL de proteínas, possui todos os tipos de proteínas, possui células inflamatórias (leucócitos), possui água, íons, moléculas pequenas e gases dissolvidos, e possui fibrina.
- Exemplos de proteínas plasmáticas: albumina, fibrinogênio, demais proteínas de coagulação, globinas, anticorpos, sistema complemento, proteínas do sistema fibrinolítico, nutrientes e demais macromoléculas.
Edema Inflamatório
Ocorre devido ao aumento da permeabilidade vascular (contração endotelial) durante a inflamação. É do tipo exsudato.
Edema Não-Inflamatório
Ocorre devido a causas não-inflamatórias. É do tipo transudato.
Fisiologia das Trocas de Líquidos Corpóreos
- 60% do peso corpóreo = água
- 2/3 da água = intracelular
- 1/3 da água = extracelular
- 5% da água total = plasma
Função do Sangue
Transportar e fornecer oxigênio, nutrientes, eletrólitos, vitaminas, hormônios às células e aos tecidos, e retirar CO2 e outros produtos do metabolismo celular, conduzindo-os aos órgãos de desintoxicação e eliminação: fígado e rins.
Trocas de Líquidos e Macromoléculas
As trocas de líquidos e macromoléculas entre o sangue e os tecidos ocorrem especialmente através dos capilares devido aos efeitos opostos de duas forças: a pressão hidrostática e a pressão coloidosmótica (ou pressão oncótica).
Pressão Hidrostática
Pressão exercida pelo líquido (água) na parede vascular. Permite a saída de líquido com nutrientes, oxigênio, etc., através dos capilares para o tecido conjuntivo. Não permite a saída de proteínas plasmáticas e células.
Pressão Coloidosmótica (Oncótica)
Pressão exercida pela concentração de proteínas plasmáticas, principalmente albumina (síntese hepática).
Mecanismo das Pressões no Capilar
A pressão hidrostática promove a saída de líquido na extremidade arterial dos capilares. O sangue concentra-se devido à retenção das proteínas plasmáticas, elevando a pressão coloidosmótica na extremidade venosa do capilar. O líquido com os produtos do metabolismo celular é atraído por osmose, retornando ao sangue.
Função dos Vasos Linfáticos
Os vasos linfáticos são responsáveis por retirar o excesso de líquido dos espaços intersticiais, impedindo o acúmulo. Fisiologicamente, o organismo controla as trocas de líquidos, nutrientes, gases, metabólitos, etc., impedindo a formação de edema.
Fisiopatologia do Edema Não-Inflamatório
As causas do edema não-inflamatório incluem:
- Pressão hidrostática elevada
- Pressão coloidosmótica reduzida
- Obstrução linfática
- Retenção primária de sal e água
Pressão Hidrostática Elevada (P.H.)
Promove a saída excessiva de líquido, impossibilitando sua retirada completa dos espaços intersticiais. Podem ocorrer aumentos locais ou generalizados da P.H.
Aumentos Locais da P.H.
Em geral, devido ao comprometimento da drenagem venosa.
Trombose Venosa Profunda dos Membros Inferiores
Trombo venoso dificulta o retorno sanguíneo, causando estase e acúmulo de sangue, o que aumenta a P.H. e leva a edema de perna.
Edema Gravitacional de Perna
Permanência em pé ou sentado durante muito tempo, principalmente em obesos, dificulta a circulação, causando estase gravitacional, aumento da P.H. e edema de perna.
Edema Pulmonar na ICC Esquerda
Insuficiência do Ventrículo Esquerdo (V.E.) acumula sangue, impedindo a entrada do sangue vindo dos pulmões. Isso aumenta a pressão sanguínea pulmonar retrógrada, levando ao acúmulo de sangue nos capilares pulmonares, aumento da P.H. e edema de pulmão.
Aumento Generalizado da P.H.
Ocorre na Insuficiência Cardíaca Congestiva (ICC) direita, causando edema generalizado (anasarca).
ICC Direita e Débito Cardíaco Reduzido
Insuficiência do Ventrículo Direito (V.D.) impede a entrada do sangue vindo da circulação sistêmica, aumentando a pressão sanguínea periférica e a P.H., resultando em edema (anasarca ou gravitacional: perna e região sacral). O V.D. insuficiente acumula sangue, causando estase sanguínea sistêmica, aumento da P.H. e edema (anasarca).
Obs.: Na ICC, a perda de líquido por edema diminui o volume de sangue, o que leva à hipoperfusão renal e aldosteronismo secundário, resultando em edema crescente e agravamento do quadro.
Pressão Coloidosmótica Reduzida (P.C.)
Redução da concentração de proteínas plasmáticas (principalmente albumina) impede o retorno do líquido intersticial ao sangue.
Causas de Anasarca por P.C. Reduzida
Ocorre anasarca devido à síntese reduzida de proteínas plasmáticas, causada por doenças hepáticas ou falta de substrato (aminoácidos).
Hepatopatias Difusas (Cirrose)
Diminuição da síntese de albumina leva à baixa P.C. e edema generalizado.
Desnutrição Proteica Grave
Falta de aminoácidos para síntese hepática de albumina leva à baixa P.C. e edema generalizado.
Tratamento
Corrigir o erro primário. Administrar “papa de albumina”.
Obstrução Linfática (Linfedema)
A drenagem linfática comprometida impede a remoção do excesso de líquido no espaço intersticial. Em geral, ocorre por obstrução inflamatória ou neoplásica, resultando em edema localizado – linfedema.
Obstrução Inflamatória
Resulta em fibrose local e deposição de fibras colágenas, causando obstrução dos vasos linfáticos.
Filaríase (Wuchereria bancrofti)
A infecção promove fibrose maciça dos linfonodos e vasos linfáticos na região inguinal, levando à obstrução e edema intenso localizado: Elefantíase.
Obstrução Neoplásica
Ocorre pelo crescimento tumoral ou devido à ressecção cirúrgica de linfonodos e vasos linfáticos.
Câncer de Mama e Edema de Braço
A ressecção cirúrgica de linfonodos e vasos linfáticos axilares (para impedir a disseminação) ou a cicatrização relacionada à cirurgia e radiação podem causar edema de braço.
Retenção Primária de Sal (Sódio) e Água
A absorção renal de sódio promove obrigatoriamente a reabsorção de água para a corrente sanguínea, resultando em aumento da pressão hidrostática (aumenta o volume sanguíneo) e redução da pressão coloidosmótica (o sangue dilui-se).
Causas
Pode causar anasarca (periorbitário), insuficiência renal aguda e glomerulonefrite estreptocócica.
Morfologia do Edema
Microscopia
Alargamento dos espaços entre os constituintes celulares (acúmulo de líquido).
Macroscopia: Edema de Cacifo
A compressão digital do tecido subcutâneo desloca o líquido intersticial e deixa uma depressão modelada do dedo que lentamente retorna ao normal. Pode ser local, gravitacional ou anasarca, associado a desnutrição, ICC e síndrome nefrótica.