Educação Alimentar e Nutricional: História, Conceito e Objetivos
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Educação Alimentar e Nutricional: Histórico, Conceito e Objetivos
Histórico da Educação Alimentar e Nutricional no Brasil
No Brasil, o interesse pela Educação Nutricional surgiu na década de 1930, com o início da industrialização e a organização da classe trabalhadora. Foram instituídas leis trabalhistas e a criação da cesta básica.
Marcos importantes:
- A educação nutricional era vista como um dos pilares dos programas governamentais de proteção ao trabalhador.
- Nasceu com a perspectiva de ser uma alavanca para mudanças nas condições de alimentação da população trabalhadora.
- As estratégias de EAN eram dirigidas aos trabalhadores e suas famílias, com uma abordagem considerada preconceituosa, visando ensiná-los a se alimentar "corretamente" segundo parâmetros biológicos descontextualizados.
- As ações eram focadas em campanhas para introduzir alimentos não usuais e práticas educativas para camadas de menor renda.
O “Lado Negro” da Educação Nutricional
Na década de 1940, surgiram as “Visitadoras de Alimentação”, que visitavam domicílios ditando recomendações alimentares. Essa atividade foi considerada invasiva e teve curta duração.
Nas décadas de 1970 e 1980, houve o estímulo ao consumo de soja e seus derivados, devido à necessidade de escoar o excedente de produção. O convênio MEC-USAID orientava o consumo de produtos “doados” pelos EUA aos países pobres, como excedentes agrícolas americanos, visando garantir a estabilidade dos preços no mercado internacional e fomentar mercados externos.
Essas práticas valorizavam apenas a dimensão nutricional, desconsiderando aspectos culturais e sensoriais, evidenciando a interferência de interesses econômicos. Isso levou ao descrédito da educação nutricional por razões éticas e políticas.
Durante a década de 1960, as publicações sobre o assunto no Brasil se restringiram a materiais de divulgação, como folhetos e livretos. As campanhas entre 1950 e 1970 enfatizavam a ignorância alimentar e a desnutrição, focando no binômio educação-alimentação. As ações educativas eram destinadas à população de baixa renda, baseadas no mito da ignorância, visando ensinar a população pobre a comer, corrigindo hábitos prejudiciais. A Educação Nutricional era vista como um meio de ensinar a usar alimentos com baixo valor nutricional.
Nas décadas de 1970 e 1980, a educação nutricional passou a ser vista como prática domesticadora e repressora. Comer o que se quer, quando e como se quer era uma forma de exercer o direito à liberdade, e ensinar “como e o que comer” era visto como repressão. Estudiosos sugeriram que a educação nutricional deveria partir para o “exílio”.
Repensando a Educação Nutricional
A partir da década de 1980, houve uma revisão dos conceitos, estratégias e métodos da educação nutricional. Tradicionalmente, ela consistia em orientações em centros de saúde e serviços de extensão universitária, com uso inadequado de técnicas educativas, como palestras, transmitindo conhecimentos de forma fria.
Mudança da Visão da Saúde
No final dos anos 1990, o termo “promoção de práticas alimentares saudáveis” ganhou força na saúde pública, presente em documentos oficiais. Modos de vida saudáveis e práticas alimentares saudáveis se tornaram estratégias para enfrentar problemas alimentares e nutricionais.
EAN Ganha Espaço na Saúde Pública Brasileira
No início dos anos 2000, o Programa Fome Zero (PFZ) trouxe novos caminhos para a EAN, com duas frentes de atuação:
- Campanhas publicitárias e palestras sobre educação alimentar e para o consumo, com a inclusão obrigatória desses temas no currículo escolar do primeiro grau.
- Criação de uma Norma Brasileira de Comercialização de Alimentos Industrializados, similar à de alimentos para lactentes. O programa também alertava sobre a importância do controle da publicidade e do aprimoramento da rotulagem de alimentos.
A partir de 2003, houve um aumento progressivo de ações de EAN em iniciativas públicas, como restaurantes populares, bancos de alimentos, equipes de atenção básica de saúde, requalificação do Programa Nacional de Alimentação Escolar e do Programa de Alimentação do Trabalhador (PAT).
O Conceito de EAN
A adoção de um conceito de EAN deve considerar a evolução histórica e política da EAN no Brasil, as múltiplas dimensões da alimentação e do alimento, e os diferentes campos de saberes e práticas, integrando o conhecimento científico ao popular.
Adota-se o termo "educação alimentar e nutricional" para abranger desde os aspectos relacionados ao alimento e alimentação (produção, abastecimento, transformação) até os aspectos nutricionais.
Definição: A Educação Alimentar e Nutricional (EAN), no contexto do Direito Humano à Alimentação Adequada e da Segurança Alimentar e Nutricional, é um campo de conhecimento e prática contínua, permanente, transdisciplinar, intersetorial e multiprofissional que visa promover a prática autônoma e voluntária de hábitos alimentares saudáveis. A EAN deve usar abordagens e recursos educacionais problematizadores e ativos, que favoreçam o diálogo com indivíduos e grupos, considerando todas as fases da vida, etapas do sistema alimentar e as interações e significados do comportamento alimentar.
Segundo a Resolução CFN Nº 380/2005: EAN é um “procedimento realizado pelo nutricionista junto a indivíduos ou grupos populacionais, considerando as interações e significados que compõem o fenômeno do comportamento alimentar, para aconselhar mudanças necessárias a uma readequação dos hábitos alimentares”.
Objetivos da Educação Alimentar e Nutricional
A educação nutricional tem como objetivo a prevenção de doenças, a proteção e a promoção de uma vida mais saudável, conduzindo ao bem-estar geral do indivíduo. Educar no campo da Nutrição significa criar novos sentidos e significados para o ato de comer. Para promover a EAN, é preciso conhecer profundamente a alimentação e o ato de se alimentar.
O Papel do Nutricionista
O nutricionista atua como um conselheiro nutricional, facilitando a mudança de comportamento. Ele oferece apoio emocional, auxilia na identificação de problemas nutricionais e de estilo de vida, sugere comportamentos a serem modificados e facilita a compreensão e o controle do cliente.
A mudança de comportamento deve ser específica às necessidades e à situação de cada indivíduo. O paciente deve reconhecer o desejo de mudança; sem esse desejo interno, o trabalho de educação é inútil.
Atualmente, o desafio da EAN é ultrapassar os limites das ações dirigidas ao consumo de alimentos e ao impacto na saúde, estendendo-as às dimensões da produção e do abastecimento de alimentos.
Desafios atuais da EAN:
- Ser uma estratégia prioritária dos programas de saúde.
- Ser uma responsabilidade compartilhada com outros profissionais, e não apenas uma atividade privativa do nutricionista.
- Não ser uma missão ou um dom, mas requerer estudo, metodologia, processos e instrumentos.
Diferenças entre Educação Nutricional e Educação Alimentar Nutricional
Educação Nutricional: Envolve aspectos biológicos (absorção, digestão, hormônios). É um processo educativo que visa à melhoria da saúde e do estado nutricional do indivíduo, com foco na prevenção de doenças, proteção e promoção de uma vida mais saudável.
Educação Alimentar Nutricional: Considera o ato político, cultural e socialmente construído de comer e suas escolhas. Abrange aspectos relacionados ao alimento e à alimentação, processos de produção, abastecimento e aspectos nutricionais. Busca criar novos sentidos e significados para o ato de comer.