Educação Libertária: Liberdade e Autonomia na Aprendizagem

Os termos "libertário" e "anarquista" são frequentemente considerados sinônimos na vida cotidiana.

No domínio da educação, a orientação libertária reivindica a liberdade absoluta do estudante. Na prática, a ideologia libertária rejeita o comportamento autoritário e dá às crianças total liberdade de escolha, eliminando a imposição da vontade dos adultos. O movimento libertário recusa a iniciativa da educação estatal.

Leo Tolstoi (1828-1910)

Nasceu numa família nobre na fazenda paterna de Yasnaya Polyana e recebeu educação de acordo com seu estatuto social. Antes de criar sua escola na propriedade de Yasnaya Polyana, fez uma viagem pela Europa para conhecer as tendências educacionais contemporâneas e observar a organização escolar e os métodos utilizados, mas voltou decepcionado da viagem. Mostrou-se favorável apenas à escola e ao método de Pestalozzi.

A escola de Yasnaya Polyana foi fundada como alternativa ao ensino tradicional russo da época. Durante aproximadamente 4 anos, Tolstoi deu aulas gratuitas aos filhos dos camponeses. Esta escola assentava no princípio fundamental da liberdade: os alunos tinham a mais ampla liberdade para assistir ou não às aulas. Não tinham deveres, nem precisavam usar livros ou cadernos, nem havia exames. O mestre deixou de ser o centro do processo educativo para ser um coordenador ou árbitro, baseando sua função na motivação dos alunos a partir de seus interesses e necessidades. Tolstoi distinguia entre instrução e educação. Para ele, as escolas deveriam ocupar-se da instrução, pois a educação era uma questão familiar. O pensamento pedagógico de Tolstoi era libertário.

Paul Robin (1837-1912)

Pedagogo francês, nasceu numa família burguesa e piedosa. Cometeu suicídio em 1912. Em 1880, foi nomeado diretor do orfanato de Cempuis, onde colocou em prática o conceito de educação integral sob o regime da coeducação dos sexos. Foi considerado o primeiro centro educacional organizado segundo a ideologia anarquista.

Os princípios fundamentais do pensamento e da prática em Cempuis foram:

• Educação intelectual
• Educação física
• Educação técnico-militar baseada no trabalho produtivo

As aulas, sempre que possível, eram dadas ao ar livre; a higiene e a limpeza eram essenciais. Apesar de ser uma escola com abordagens anarquistas, aplicava-se uma disciplina rígida. Para Robin, a ciência e o trabalho libertariam o mundo. Para tirar o monopólio da ciência da burguesia, era preciso uma revolução social e a organização de uma instrução integral.

Francisco Ferrer y Guardia (1859-1909)

Nasceu em Alella (Barcelona) e morreu executado em 1909, acusado de ser o principal instigador da chamada "Semana Trágica". Em 1901, uma rica ex-aluna sua faleceu e deixou-lhe um importante legado, que ele dedicou à criação da Escola Moderna, pensada para crianças durante o dia e para adultos à noite. A missão da Escola Moderna de Ferrer era fazer com que as crianças se tornassem pessoas instruídas, verdadeiras, justas e livres de preconceitos. Para isso, substituía o estudo dogmático pelo racional das ciências naturais.

Características da Escola Moderna:

• A criança é o centro.
• Na escola, os alunos desfrutavam de ampla liberdade de movimento (ir ao quadro, sair da sala para consultar livros quando quisessem).
• Não havia exames, recompensas ou castigos.

Ferrer rejeitava a competição e incentivava as crianças a trabalhos manuais, jardinagem, limpeza e trabalhos domésticos, colocando ambos os sexos no mesmo nível.

A Escola Moderna de Barcelona não era gratuita. Adotou-se um sistema de compensação para acomodar a situação econômica dos pais; Ferrer não a queria como uma escola para pobres, mas sim uma escola que promovesse a coeducação de ricos e pobres.

As suas últimas palavras perante o pelotão de fuzilamento foram: "Viva a Escola Moderna!"

A.S. Neill (1883-1973)

Pedagogo escocês, expressava ampla confiança na natureza da criança e de toda a humanidade. Argumentava que é a sociedade (a escola e a família) que afeta negativamente o comportamento infantil. A finalidade da educação deveria ser ensinar as pessoas a viver, preparar as crianças para uma vida feliz.

Para Neill, Summerhill era a escola mais feliz do mundo, "mais que uma escola, é uma forma de vida em comunidade". Os componentes básicos da sua abordagem eram o "eu" e a psicanálise. A liberdade e o antiautoritarismo eram determinantes: as crianças podiam fazer o que desejassem, desde que não interferissem na liberdade dos outros.

Dois princípios fundamentais de Summerhill eram a autorregulação, entendida como a síntese da liberdade e do "eu", e o autogoverno (as próprias crianças estabeleciam as regras e zelavam pelo seu cumprimento).

Em Summerhill, a instrução era secundária; as aulas eram opcionais, não existiam notas nem graus acadêmicos. Os estudantes que decidiam assistir às aulas recebiam um ensino tradicional.

Carl Rogers (1902-1987)

Psicólogo americano, cuja atividade principal foi a psicoterapia. Baseou sua ideologia na crítica ao sistema de ensino tradicional, especialmente o universitário. Sua teoria baseia-se em promover a não-diretividade, a liberdade de escolha e a opção pessoal, evitando a participação excessiva do educador. A aprendizagem que pode realmente influenciar o comportamento é aquela que o indivíduo descobre por si mesmo e assimila.

O procedimento fundamental é que os alunos assumam a responsabilidade pela sua própria aprendizagem. Educar não é ensinar, mas sim facilitar a aprendizagem. A aprendizagem só pode ocorrer quando o aluno expressa o desejo de aprender; tentar ensinar a quem não tem interesse não faz sentido. A avaliação desempenha um papel importante: apenas o próprio aluno será capaz de avaliar seu processo de aprendizagem. Este tipo de autoavaliação motiva positivamente o aluno e ajuda-o a sentir-se mais responsável.

Tudo, tanto na terapia como na aprendizagem rogeriana, baseia-se na liberdade de ação, na autonomia, na pesquisa pessoal e na descoberta do próprio "eu" (self).