Emergências Obstétricas: Hemorragia, Infecções e Distocias

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Hemorragia do Puerpério (HPP)

Perda sanguínea superior a 500 ml após parto vaginal ou superior a 1000 ml após cesariana.

Classificação

  • Primária ou Precoce: Ocorre nas primeiras 24 horas pós-parto.
  • Secundária ou Tardia: Ocorre após as primeiras 24 horas até 6-12 semanas pós-parto.

Complicações

  • Óbito materno
  • Coagulopatia
  • Choque hipovolêmico
  • Necrose hipofisária (Síndrome de Sheehan)

Causas (Os 4 T's)

  • Tônus: Hipo ou atonia uterina (principal causa).
  • Trauma: Laceração do trajeto, rotura uterina.
  • Tecido: Retenção de placenta ou de fragmentos.
  • Trombina: Distúrbios da coagulação.
  • Outra: Inversão uterina.

Fatores de Risco para Atonia Uterina

  • Multiparidade
  • Distensão uterina (gestação gemelar, polidrâmnio)
  • Parto rápido ou prolongado
  • Anestesia geral
  • Uso de sulfato de magnésio
  • Infecção amniótica

Prevenção

Administração de agente uterotônico (1ª opção: Ocitocina) após o desprendimento do ombro anterior, seguida por ligadura e tração controlada do cordão umbilical e extração da placenta.

Diagnóstico e Quadro Clínico (QC)

O diagnóstico é clínico, baseado na perda sanguínea e nos sinais de choque:

  • Perda de 10-15% (500-1000 ml): Palpitação, vertigem, aumento da Frequência Cardíaca (FC).
  • Perda de 15-25% (1000-1500 ml): Fraqueza, sudorese, aumento da FC.
  • Perda de 25-35% (1500-2000 ml): Agitação, palidez, oligúria.
  • Perda de 35-45% (2000-3000 ml): Colapso, dispneia, anúria.

Tratamento

  1. Medidas Iniciais: Esvaziar a bexiga, infusão de agente uterotônico (Ocitocina), compressão uterina bimanual e Misoprostol via retal.
  2. Revisão: Revisão do trajeto de parto.
  3. Tamponamento Uterino: (Quando o uterotônico falha – medida temporária para aguardar laparotomia).
  4. Cirurgia: (Quando falha o uterotônico e o tamponamento). Técnicas cirúrgicas incluem: ligadura bilateral da artéria uterina ou da ilíaca, sutura uterina de B-Lynch, histerectomia.

Infecções Pré-Natais

Vias de Transmissão

  • Transplacentária: Via hematogênica.
  • Transamniótica: Ascendente de germes da vagina e colo após ruptura prematura das membranas.

Períodos de Vulnerabilidade Fetal

  • Pré-implantação (Fertilização à Implantação): Se grande número de células afetadas, ocorre aborto. Se pequeno número, há compensação, protegendo o embrião (sobrevida sem malformação).
  • Embrionário (2ª à 9ª semana pós-concepção): Período mais vulnerável, podendo resultar em malformações morfológicas maiores.
  • Fetal (9ª semana ao termo): Pode causar malformações morfológicas menores e funcionais.
  • Paranatal (No Parto): Herpes simples, Hepatite B, HIV, Estreptococo do grupo B.

Diagnóstico

Na primeira consulta pré-natal, realizar sorologia materna para Sífilis, Toxoplasmose, HBsAg, HIV e Rubéola.

  • IgG (Infecção Antiga) e IgM (Infecção Aguda): Determinam o tempo da infecção.
  • Teste de Avidez IgG: Baixa avidez indica infecção aguda; alta avidez indica infecção antiga.
  • PCR no Líquido Amniótico: Para Toxoplasmose, Rubéola, Eritrovírus B19, CMV, Varicela Zoster.
  • Ultrassonografia (USG): Avalia a gravidade da doença.

Rubéola

  • Quadro Clínico (QC): Incubação de 14-21 dias, linfadenopatia pós-auricular 5 dias antes do exantema, exantema maculopapular (face → parte superior do tórax → todo o corpo), febrícula.
  • Síndrome da Rubéola Congênita: Catarata, malformação cardíaca, surdez.
  • Diagnóstico: Clínico, soroconversão.
  • Conduta: Não vacinar a gestante.

Hepatite B

  • Transmissão: Principalmente paranatal.
  • Risco de Transmissão Paranatal: HBsAg+ HBeAg+ = 90%; HBsAg+ HBeAg- = 30%.
  • Prevenção da Transmissão Paranatal: Rastreamento do HBsAg na 1ª consulta pré-natal, vacina universal do Recém-Nascido (RN).

Sífilis

  • Transmissão: Placentária em qualquer estágio da doença ou época da gravidez. Causa 1/3 dos natimortos.
  • Sorologia:
    • Testes Não Específicos: VDRL (rastreio e seguimento após tratamento).
    • Testes Específicos: FTA-Abs (confirma diagnóstico; não negativa após tratamento).
  • Sífilis Congênita: Exantema, hepatoesplenomegalia, infecção de ossos, dentes, Sistema Nervoso Central (SNC) e coração.
  • Tratamento: Penicilina Benzatina (Benzetacil).
  • Seguimento: VDRL quantitativo a cada mês até o parto e depois com 3 e 6 meses.

Toxoplasmose

  • Infecção no 1º e 2º Trimestre: Aborto e morte neonatal, Síndrome Toxoplasmósica Congênita (coriorretinite, calcificações intracerebrais, hidrocefalia).
  • Infecção no 3º Trimestre: Infecção subclínica (assintomática), risco tardio (coriorretinite, problemas neurológicos).
  • Diagnóstico: Soroconversão na mãe (sorologia na 1ª consulta pré-natal), infecção no feto (PCR do líquido amniótico).
  • Tratamento:
    • Mãe: Espiramicina.
    • Feto: Pirimetamina + Sulfadiazina / Espiramicina.

Dúvida Comum no Diagnóstico de Infecção Pré-Natal

Na primeira consulta, realiza-se a sorologia. Se positiva, faz-se o teste de avidez e, se necessário, PCR do líquido amniótico. A USG e a cordocentese são utilizadas para avaliar a gravidade e confirmar a infecção fetal, respectivamente.

Sofrimento Fetal Agudo (SFA)

Ocorre durante o parto, caracterizado por hipóxia, acidose e hipercapnia.

Causas de Insuficiência

Insuficiência Útero-Placentária Aguda

  • Hipersistolia, taquissistolia, hipertonia uterina.
  • Hipotensão materna.

Insuficiência Feto-Placentária Aguda

  • Patologias do cordão umbilical.
  • Oligodrâmnio.

Diagnóstico

  • Ausculta clínica dos Batimentos Cardiofetais (BCF).
  • Cardiotocografia intraparto.

Profilaxia

  • Não realizar amniotomia desnecessária.
  • Não acelerar o parto que progride normalmente.
  • Ocitocina (quando a metrossístole é deficiente).
  • Ausculta clínica fetal regular.

Tratamento Intraparto

  1. Correção da Hipotensão Materna: Decúbito lateral, fluidos intravenosos, vasoconstritores (se necessário), repor sangue (se hemorragia).
  2. Diminuição da Atividade Uterina: Decúbito lateral, retirar Ocitocina, administrar uterolítico.
  3. Suporte Fetal: Máscara de O₂ para a mãe.
  4. Resolução: Interromper o parto (cesariana) e reanimação do RN.

Discinesia (Distúrbios da Contração Uterina)

Contração uterina insuficiente para dilatar o colo e progredir o parto, ou atividade uterina exagerada, causando parto rápido e precipitado.

Hipoatividade

Contração com intensidade < 25 mmHg (Hipossistolia) ou frequência < 2 em 10 minutos (Bradissistolia). Parto com progressão lenta.

  • Conduta: Ocitocina intravenosa em dose fisiológica.

Hiperatividade

Contrações com intensidade > 50 mmHg (Hipersistolia) ou frequência > 5 em 10 minutos (Taquissistolia). Pode causar parto precipitado, laceração do trajeto e sofrimento fetal.

  • Conduta: Decúbito lateral, administrar uterolíticos.

Outras Formas de Distocia

  • Hipertonia: Sobredistensão, incoordenação. Causa sofrimento fetal agudo. Conduta: Antecipar o parto.
  • Inversão do Gradiente: Predomínio da atividade das partes baixas do útero sobre o corpo. Conduta: Decúbito lateral, amniotomia, perfusão contínua de Ocitocina em dose fisiológica, bloqueio peridural.
  • Incoordenação Uterina: Partes distintas se contraem de forma independente e assincrônica. Conduta: Igual à inversão do gradiente.
  • Parto Obstruído: Causa sofrimento fetal agudo e rotura uterina. Conduta: Cesariana.
  • Distocia Cervical: O colo é o responsável pela não progressão do parto. Causa sofrimento fetal agudo, rotura uterina. Conduta: Bloqueio peridural.
  • Polidrâmnio: A sobredistensão uterina aumenta o tônus e diminui a intensidade das contrações. Parto lento, sofrimento fetal agudo. Conduta: Amniocentese ou amniotomia.
  • Toxemia: Hiperatividade uterina na gestação e parto, diminuindo o fluxo sanguíneo para a placenta. Aumenta a mortalidade perinatal. Resposta uterina à Ocitocina é maior que o normal.

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