Emoções, Motivação e a Construção da Identidade
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Diferenças entre Emoções, Afetos e Sentimentos
Emoções
As emoções são reações intensas e visíveis que podem ser agradáveis ou desagradáveis. Normalmente, são de curta duração e de grande intensidade, surgindo como resposta a um acontecimento inesperado que interfere na relação que o sujeito estabelece com a realidade.
Afetos
Os afetos são predisposições do indivíduo para reagir de modo penoso ou agradável nas relações de vinculação que estabelece com as pessoas ou outros elementos do mundo que o envolve. Podem assumir várias formas, mas constituem sempre uma espécie de capacidade apreciativa da realidade, que nos leva a encará-la como algo atraente ou repulsivo, como algo que se detesta ou em que se gosta de estar. Os afetos originam reações como os sentimentos e as emoções.
Sentimentos
O sentimento é um estado afetivo agradável ou desagradável, de grande estabilidade e média intensidade, com um papel moderador nas relações que o sujeito estabelece com as pessoas e com os outros elementos do mundo.
A Perspetiva de António Damásio
António Damásio também diferencia emoção e sentimento. Associa as emoções a alterações corporais, como por exemplo a aceleração dos ritmos circulatório e respiratório, e alia os sentimentos à experiência consciente dessas mesmas alterações. Para ele, o sentimento é a consciência ou a experiência do que se está a passar no organismo no momento da emoção.
Emoções Primárias e Secundárias
Alguns autores consideram apenas duas emoções básicas: o prazer e a dor. Há quem defenda o medo e a cólera. Outros, a alegria, a tristeza e a cólera. Outros ainda, a raiva, a tristeza, o medo, a alegria, o nojo e a surpresa.
Existem critérios para definir as emoções básicas:
- Devem ser praticamente as mesmas em todas as pessoas de diferentes culturas, obedecendo a uma espécie de padrão natural com tendência para a generalidade ou universalidade.
 - Devem manifestar-se muito cedo na vida do homem, tendo assim grandes hipóteses de assentar numa base inata, não dependendo da experiência pessoal.
 
Com base no primeiro critério, concluiu-se que todas as pessoas expressam de modo semelhante a tristeza e a alegria. Pelo segundo critério, o medo e a cólera são emoções básicas, em contraste com a nostalgia e o orgulho, que surgem tardiamente na existência do ser humano.
A Teoria de Robert Plutchik
Robert Plutchik lista 8 emoções básicas: presentimento, cólera, alegria, serenidade, surpresa, medo, pesar e repulsa. A partir destas, e variando a sua intensidade, é possível chegar a outras emoções que considera derivadas ou secundárias. O medo, por exemplo, pode assumir a forma de timidez, apreensão, pânico ou terror.
A Distinção de Damásio
Damásio estabelece também uma diferenciação entre emoções primárias e secundárias. As emoções primárias são inatas, correspondendo a uma espécie de equipamento básico útil para os seres vivos reagirem ao meio de forma mais ou menos automática. As emoções secundárias, como a satisfação que sentimos quando encontramos um amigo ou o desgosto ao recebermos a notícia da morte de um amigo, envolvem uma avaliação cognitiva dos acontecimentos, o que implica associações com determinados estímulos já presenciados e com aprendizagens anteriormente feitas.
As Componentes da Emoção
As componentes da emoção são: reações fisiológicas, reações expressivas e a experiência consciente.
Reações Fisiológicas
Qualquer emoção faz-se sempre acompanhar de reações corporais e fisiológicas, tais como:
- Respiração ofegante
 - Tremuras musculares
 - Dilatação das pupilas
 - Modificação da cor do rosto
 - Aceleração do ritmo cardíaco
 
Estas reações são uma defesa para o organismo. O ritmo respiratório intensifica-se para que o oxigénio, levado pelo sangue, abasteça os órgãos em situação de desgaste. A aceleração do ritmo cardíaco faz afluir sangue ao coração, ao sistema nervoso e aos músculos para se poder pensar e agir com maior rapidez. O aumento da pressão arterial reflete-se no caudal sanguíneo que chega aos diferentes órgãos. A libertação de açúcar pelo fígado faz aumentar a energia muscular. A estimulação das glândulas suprarrenais contribui para a secreção de adrenalina e noradrenalina, hormonas excitantes que reforçam a ação estimuladora da secção simpática.
Todas as reações fisiológicas são coordenadas pela colaboração integrada do Sistema Nervoso Autónomo e do Sistema Nervoso Central.
- Sistema Nervoso Autónomo: Mecanismo de autorregulação que controla o funcionamento interno do organismo (batimentos cardíacos, digestão). É constituído pelo simpático e parassimpático, com a função de garantir a estabilidade do nosso meio interno. Em situações de acalmia, predomina a atividade do parassimpático. Em situações de emergência (caso das emoções fortes), o simpático mobiliza os recursos do corpo, preparando-o para comportamentos como agressão ou fuga. Estas reações são independentes da vontade.
 - Sistema Nervoso Central: Participa também nos comportamentos emotivos por ação do sistema límbico e do ativador reticular. O sistema límbico, designadamente o hipotálamo, ativa o sistema simpático para o controlo das alterações fisiológicas. O ativador reticular alerta as diversas áreas do córtex cerebral de modo a estarem aptas a emitir respostas ajustadas, funcionando como uma campainha que avisa o cérebro para entrar em ação.
 
Reações Expressivas
A função mais importante da expressão emocional consiste provavelmente na comunicação da emoção a outras pessoas, para que adaptem o seu comportamento. Harold Schlosberg, num estudo, verificou que muitas expressões faciais podem ser identificadas e descritas com bastante rigor, agrupando as emoções segundo três diretrizes. Paul Ekman defendeu a universalidade emocional. No entanto, a universalidade da alegria ou tristeza não invalida a diversidade dos comportamentos emotivos, motivada por aspetos culturais. Otto Klineberg observou na cultura chinesa que a inquietação pode ser expressa pelo bater de palmas, a cólera pelo riso e a surpresa por deitar a língua de fora. O polegar levantado, que na nossa sociedade significa simpatia, noutras culturas pode ser um insulto. O condicionamento social modifica as reações naturais da emoção.
A Ação Humana: Atividade Voluntária e Involuntária
Atividade Involuntária
Conjunto de atos de natureza automática, como os implicados no funcionamento dos nossos órgãos internos, os reflexos simples e as condutas habituais.
Atividade Voluntária
Conjunto de atos em que a pessoa elege os fins a prosseguir, seleciona os meios para os poder alcançar e prevê as consequências dos seus atos. Os atos humanos são:
- Conscientes: realizados por um sujeito que conhece os contextos em que age.
 - Voluntários: premeditados por um sujeito que quer praticá-los porque assim o decidiu livremente.
 - Intencionais: praticados por um sujeito que sabe para que age, ou seja, que está consciente do que pretende atingir.
 
As Fases do Ato Voluntário
- Conceção: Representação dos objetivos a alcançar e dos meios adequados.
 - Deliberação: Análise das hipóteses de ação, ponderando vantagens, inconvenientes e consequências.
 - Decisão: Escolha de uma conduta entre as várias possíveis.
 - Execução: Concretização do que se decidiu fazer.
 
Críticas ao Modelo Fásico
Esta classificação tem sido alvo de críticas. Blondel considera-a artificial. Ricoeur destaca a descontinuidade criada num processo que é contínuo. Jean-Paul Sartre defende que a deliberação ocorre depois da decisão.
Motivação: O Porquê da Ação
A ação humana tem intencionalidade (esforço da mente para agir de forma deliberada). A intenção é a finalidade que dinamiza um ato. As tendências são disposições internas para efetuar determinadas ações.
O Ciclo Motivacional
- Necessidade: Estado de desequilíbrio por uma carência (ex: falta de alimento).
 - Impulso: Estado energético que ativa e dirige o comportamento.
 - Comportamento: Atividade desencadeada pela pulsão.
 - Objetivo: Meta que se procura atingir (ex: ingestão do alimento).
 - Saciedade: Redução ou eliminação da pulsão (ex: desaparecimento da fome).
 
A Hierarquia das Necessidades de Maslow
Abraham Maslow propôs uma hierarquia de necessidades que nos impulsionam a agir. As pessoas só tendem a atingir um nível superior de motivação se as necessidades dos níveis inferiores estiverem satisfeitas. Os níveis são:
- Necessidades Básicas: Fisiológicas e de Segurança.
 - Necessidades Psicológicas: Sociais e de Estima.
 - Necessidades de Realização Pessoal: Autorrealização.
 
Segundo Maslow, a realização pessoal é uma construção continuada, e a passagem para um nível superior exige que as necessidades do nível anterior estejam satisfeitas.
A Construção da Identidade Pessoal
A compreensão de um ser humano implica dar atenção à diversidade e aos caracteres que o singularizam como indivíduo. A infância e a adolescência são estádios relevantes na constituição da nossa identidade. A nossa história pessoal integra o autoconceito, que é o conjunto de noções que cada um tem de si e que serve de base à autoestima.
A identidade pessoal liga aspetos públicos e privados. Os privados são pessoais (biológicos, psicológicos), enquanto os públicos caracterizam a pessoa enquanto pertencente a grupos (família, profissão).
A identidade é uma construção global e interativa, integrando elementos hereditários, ambientais, fisiológicos, afetivos, éticos e culturais. É uma estrutura dinâmica e aberta, que se vai reformulando e reorganizando ao longo da vida. É também uma construção social e cultural, que se efetua no convívio com os outros, sendo uma condição necessária para a realização da pessoa.