Empirismo de Hume: Ideias Inatas, Causalidade e Imaginação
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1. Locke e Hume: Semelhanças e Diferenças sobre Ideias Inatas
Hume argumenta que Locke estava correto ao considerar que não há ideias inatas – a tese fundamental do empirismo, que afirma que a experiência é a fonte de todo o nosso conhecimento. Isso ocorre porque todas as nossas ideias derivam de nossas impressões, e não podemos conceber algo do qual não tenhamos tido uma impressão prévia.
No entanto, o texto sugere que Locke designava todos os conteúdos mentais pelo termo “ideia”, o que tornaria falsa a afirmação de que não existem ideias inatas. Acredita-se que Locke concordava que as nossas paixões (mas não as impressões de sensação causadas pelo mundo exterior) são inatas, sendo nada mais do que instinto natural, derivado da nossa mentalidade peculiar.
2. A Contradição Aparente: Ideias sem Impressões Correspondentes
Existe uma aparente contradição na filosofia de Hume: se não há ideia na imaginação que não tenha a sua impressão correspondente, como é possível identificar ideias que não são derivadas de qualquer impressão?
Esta questão requer uma explicação: a imaginação tem a capacidade de decompor ideias complexas em ideias simples (que são cópias relevantes e necessárias de impressões simples) e, em seguida, recompor essas ideias simples para formar uma ideia complexa que não foi dada previamente à mente. Essa nova ideia complexa pode não ter correlação alguma com as nossas impressões complexas ou com a nossa experiência direta.
3. Justificativa das Expectativas e o Ceticismo de Hume
Como justificar o jogo constante entre as nossas expectativas, baseadas numa convicção de natureza psicológica, e as experiências percebidas?
Hume não oferece uma resposta satisfatória. A falta de resposta a esta questão impulsionará novos esforços para superar o ceticismo, como o empreendido por Kant.
4. Memória vs. Imaginação: Força e Fidelidade das Ideias
Nossas percepções originais são as impressões. Estas impressões são copiadas pela memória e pela imaginação, transformando-se em ideias. A diferença entre o comportamento da memória e da imaginação reside em:
- As ideias da memória são muito mais vivas e fortes do que as da imaginação.
- A memória reproduz fielmente as impressões derivadas, preservando a ordem e a posição, tanto quanto possível.
- A imaginação não é obrigada a manter essa ordem ou posição.
A imaginação pode decompor ideias complexas em ideias simples (cópias necessárias de impressões simples) e, em seguida, recombinar essas ideias simples para criar uma ideia complexa que não foi previamente dada à mente, sem correlação com as nossas impressões complexas ou experiência.
5. O Fundamento Psicológico das Relações Causais em Hume
A nossa convicção nas relações causais é devida a um hábito ou costume, originado em nós pelo processo psicológico de “associação de ideias”. Este hábito ou prática carece de qualquer fundamento objetivo.
Esta certeza – de natureza puramente psicológica – provém, de acordo com Hume, do hábito, do costume, da observação repetida no passado das mesmas ligações entre dois eventos. É o costume que nos convence de que esses laços continuarão a ocorrer no futuro.
Esta crença é um produto meramente subjetivo, baseado em certos preconceitos, como a crença de que a natureza não muda, que os fenómenos acontecem sempre na mesma ordem, ou que conhecemos os mecanismos de relacionamento, etc. O nexo de causalidade é, portanto, uma ideia complexa elaborada pela imaginação ao constatar a conjunção constante de dois eventos. Levada pelo hábito e costume, a mente liga-os necessariamente. Contudo, não há impressão sensorial desta conexão (do nexo causal em si).