Endodontia e Cárie Dentária: Infecções, Fatores e Tratamento

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Endodontia: Camadas Internas do Dente

A Endodontia é a especialidade que trata das camadas internas do dente, incluindo a polpa dentária, os canais radiculares e os tecidos internos associados. Microrganismos conseguem proliferar-se nesses locais, aproveitando-se de infecções prévias e da destruição dos tecidos externos. A invasão de bactérias nas camadas internas do dente ocorre tanto na coroa quanto abaixo do sulco gengival.

No tratamento de canal, a polpa dentária infeccionada e inflamada é retirada, juntamente com o tecido que contém bactérias patogênicas. A remoção do tecido doente evita a reincidência das bactérias. As bactérias que infectam os tecidos dentários podem causar diversas doenças sistêmicas, como doenças coronarianas, AVC, prematuridade e baixo peso ao nascimento em bebês (especialmente em mulheres grávidas com bacteremia).

Procedimentos invasivos são necessários, pois a bactéria pode continuar a crescer e causar doenças graves, como a angina de Ludwig, se o tratamento de canal não for efetivo.

Gênero Enterococcus

O gênero Enterococcus é composto por bactérias Gram-positivas, anaeróbias facultativas, catalase negativas e degradadoras da esculina. Crescem em temperaturas entre 10°C e 45°C e não fermentam manitol (álcoois) nem sacarose (carboidratos). São bactérias da flora intestinal e genital, pouco comuns na região bucal de pessoas saudáveis. No entanto, em pacientes com doenças periodontais e, particularmente, endodônticas, apresentam fatores de virulência únicos que lhes conferem vantagens sobre outras bactérias.

E. faecalis: Fatores de Virulência e Resistência

A espécie E. faecalis possui plasmídeos que conferem resistência a antibióticos como tetraciclina e gentamicina, o que dificulta o tratamento pós-operatório. A bactéria possui inúmeras proteínas de ligação a substratos e células do dente.

Substância de Agregação

Composta por pili, a substância de agregação facilita a troca de plasmídeos e a ligação da bactéria ao substrato. A bactéria é resistente à fagocitose por células de defesa, devido à produção de superantígenos (proteínas de superfície), que geram uma resposta inflamatória intensa e destruição tecidual. A resistência da bactéria ao sistema imune, combinada com a destruição tecidual, potencializa a invasão.

Biofilme e Proteína ESP

A proteína ESP (Substância Polimérica Extracelular), composta por polissacarídeos (EPS), tem a função de proteger a bactéria em regiões profundas do dente, como os canais radiculares. A produção de ácido lipoteicoico facilita a ligação das bactérias às células de defesa do organismo e impede a fagocitose. As células de defesa produzem mediadores inflamatórios, resultando na destruição do tecido dentário. A produção extracelular de superóxido (radicais livres) estimula a morte de células do dente e de defesa presentes no local, ativando a resposta imunológica. O aumento da resposta imune intensifica a destruição tecidual, potencializando a infecção e permitindo a invasão.

Bacteriocinas

São moléculas produzidas por E. faecalis no local da infecção, que funcionam como antibióticos e impedem o crescimento de outros microrganismos, contribuindo para a prevalência da bactéria na infecção endodôntica.

Gelatinase

É uma enzima (proteinase) capaz de hidrolisar diversos componentes do tecido dental, como colágeno, fibrina, caseína e hemoglobina.

Hialuronidase

Degrada o ácido hialurônico, um componente de ligação entre as células, facilitando a invasão de tecidos e auxiliando no estabelecimento e progressão da bactéria no interior do dente.

Tratamento e Desafios

É necessária a remoção do conteúdo bacteriano e a aplicação de medicação intracanal com atividade antimicrobiana. Exemplos incluem clorexidina 0,2% e hidróxido de cálcio, que são componentes antimicrobianos eficientes. No entanto, muitas cepas são resistentes ao tratamento com Ca(OH)2, o que, associado à complexidade dos canais radiculares, contribui para o insucesso do tratamento.

Outras bactérias que podem colonizar os tecidos incluem Porphyromonas, Fusobacterium, Prevotella, Treponema, entre outras espécies, e também podem possuir resistência a antibióticos.

Cárie Dentária: Definição e Características

A cárie é a decomposição lenta do dente, caracterizada pela perda de cristais de hidroxiapatita da matriz mineralizada, o que reduz a integridade do dente. É uma doença infecciosa e transmissível, de caráter multifatorial, onde algumas pessoas possuem maior propensão a desenvolvê-la do que outras. Essas pessoas podem transmitir as bactérias causadoras da cárie para outras. O pH crítico para a desmineralização do esmalte é entre 5,3 e 5,7.

Fatores Etiológicos da Cárie (Tríade de Keyes)

  1. Hospedeiro (dente, saliva, sistema imunológico);
  2. Microbiota cariogênica;
  3. Dieta rica em sacarose;
  4. Tempo: A interação desses fatores por um período de tempo é necessária para o desenvolvimento da cárie.

Fatores Etiológicos Secundários

Interferem nos fatores primários, favorecendo a progressão e severidade da doença.

Elementos de Retenção Bacteriana na Superfície Dentária

  1. Pili (Adesinas/Lectinas): Proteínas presentes na membrana das bactérias, responsáveis pela ligação das bactérias à superfície do esmalte, proporcionando condições para o seu crescimento.
  2. Glicocálice (Glicocálix): Estrutura de proteção externa à membrana externa das bactérias.
  3. Polissacarídeos Extracelulares (Biofilme): Secretados pelas bactérias formadoras da placa, possuem propensão a gerar cáries.
  4. Hidroxiapatita: Minerais do dente (íons cálcio), que servem como elementos de ligação para as bactérias no dente.

Processo de Início e Estabelecimento da Lesão Cariosa

Os principais responsáveis pelos primeiros processos de lesão (colonizadores primários da placa bacteriana) são os Streptococcus do grupo mutans, incluindo S. mutans, S. sobrinus e S. rattus (este último menos comum).

Processo de Progressão das Lesões de Cárie

Não são capazes

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