Entendendo o Câncer: Classificação, Estadiamento e Biologia

Classificado em Medicina e Ciências da Saúde

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Classificação dos Tumores

  • Comportamento Biológico: Comportamento clínico do tumor, estabelecido por critérios de diferenciação entre tumores malignos e tumores benignos.
  • Histogênese: Refere-se ao tecido de origem da neoplasia. Determinada pela análise de: padrões de crescimento; evidências estruturais de produtos celulares; detecção de produtos celulares por métodos histoquímicos ou imuno-histoquímicos.
  • Diferenciação: O tumor reproduz a estrutura histológica do tecido de origem.

Etapas da Evolução do Câncer

  • Carcinoma in situ: O tumor se desenvolve no interior do tecido de origem.
  • Carcinoma microinvasor: O tumor ultrapassa a membrana basal e atinge o tecido conjuntivo, mas não alcança profundidade superior a 5mm.
  • Carcinoma Invasor: Presença de infiltração, com invasão mais profunda dos tecidos adjacentes.

Nomenclatura dos Tumores

Tumores Benignos (T.B.)

Acréscimo do sufixo “-oma”:

  • Tumores de origem mesenquimal:
    • Ex.: tecido cartilaginoso – condroma; tecido gorduroso – lipoma; tecido fibroso – fibroma; tecido muscular liso – leiomioma; vasos linfáticos – linfangioma.
  • Tumores de origem epitelial:
    • Ex.: epitélio de revestimento – papilomas; epitélio glandular – adenomas.

Tumores Malignos (T.M.)

É necessário considerar o tecido embrionário e o tipo de tecido ou célula-mãe:

  • Tumores originados de tecidos mesenquimais: sufixo “-sarcoma”, mais o nome do tecido ou célula de origem.
    • Ex.: tecido cartilaginoso – condrossarcoma; tecido gorduroso – lipossarcoma.
  • Tumores originados de tecido epitelial:
    • Ex.: tecido epitelial não glandular – são denominados carcinomas. Ex.: Carcinoma basocelular da face.
    • Tecido epitelial glandular – denominados adenocarcinomas. Ex.: Adenocarcinoma gástrico.

Exceções

  • Tumores originários de células blásticas: chamados de blastomas.
    • Ex.: hepatoblastoma, nefroblastoma, neuroblastoma, retinoblastoma, osteoblastoma.
  • Tumores mistos: contêm mais de um tipo de célula neoplásica.
    • Ex.: teratomas – podem ser malignos e benignos.
  • Epônimos: tumores com nome de cientistas.

Estadiamento

Avaliação da extensão da doença no sítio de origem, nos órgãos e estruturas vizinhas, nos linfonodos regionais e à distância.

É fundamental para:

  • Auxiliar no planejamento terapêutico;
  • Sugerir prognóstico;
  • Auxiliar na avaliação da resposta terapêutica;
  • Facilitar a troca de informações entre diferentes centros de tratamento;
  • Contribuir para a pesquisa sobre câncer humano.

Sistema de Classificação TNM (UICC)

Tem como base:

  • A avaliação da dimensão do tumor primário (T);
  • A extensão da disseminação em linfonodos regionais (N);
  • A presença ou não de metástase à distância (M).

T – Tumor Primário (Tu)

  • TX: Tumor primário não pode ser avaliado.
  • T0: Não há evidência de tumor primário.
  • Tis: Tumor in situ.
  • T1, T2, T3, T4: Variam com o diâmetro do tumor e extensão local.

N – Linfonodos Regionais

  • NX: Linfonodos regionais não podem ser avaliados.
  • N0: Ausência de metástase em linfonodos regionais.
  • N1, N2, N3: Comprometimento crescente dos linfonodos regionais.

M – Metástase à Distância

  • MX: A presença de metástase à distância não pode ser avaliada.
  • M0: Ausência de metástase à distância.
  • M1: Metástase à distância.

Fisiopatologia do Câncer

Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em comum o crescimento desordenado de células que invadem os tecidos e órgãos, podendo espalhar-se para outras regiões do corpo.

Etiologia do Câncer

Depende da intensidade e duração da exposição das células aos agentes desencadeadores da doença.

Biologia Molecular do Câncer

As principais classes de genes envolvidas no desenvolvimento do câncer são:

  • Oncogenes

    Derivados de proto-oncogenes, genes celulares que podem reproduzir-se de forma desordenada, resultando em tumores; Codificam componentes essenciais para o funcionamento normal de uma célula; O modo de ação das mutações é dominante; A tumorigênese reflete a disfunção de moléculas de sinalização; A ativação dos proto-oncogenes leva à hiperprodução desses fatores, resultando em crescimento celular excessivo e desordenado.

  • Genes Supressores de Tumor (GST)

    Codificam componentes essenciais para o funcionamento normal de uma célula; Atuam como reguladores negativos do crescimento celular; São recessivos no seu modo de ação; A perda ou inativação de um GST resulta em perda da inibição do crescimento da célula.

  • Genes de Reparo do DNA

    Condição resultante da habilidade da célula normal de reparar danos no DNA e prevenir mutações nos genes.

    Os reparos podem acontecer:

    • Reparo por excisão de nucleotídios: a lesão do DNA é excisada e substituída por novo DNA; reconhece várias alterações químicas do DNA, que lhe causam alterações.
    • Reparo dos erros de pareamento: na replicação, desempenha função essencial na correção dos erros de pareamento para assegurar a fidelidade da replicação do DNA.

Processo Fisiopatológico do Câncer

  • Crescimento celular normal: Equilíbrio entre fatores estimulantes e fatores inibidores.
  • Ação de um agente causal: Equilíbrio rompido.

Características das Células Cancerosas

Características microscópicas das células malignas:

  • Pleomorfismo: Tamanho e forma variáveis, podendo ser observados múltiplos núcleos.
  • Hipercromatismo: Os principais genes coram-se de forma mais acentuada.
  • Polimorfismo: O núcleo é maior e varia em formato.
  • Aneuploidia: Observados números incomuns de cromossomos.
  • Arranjos cromossômicos anormais: Translocações, deleções, adições, pontos frágeis.
  • Propriedades Cinéticas: Perda de controle de proliferação e perda do ponto de controle de restrição.
  • Imortalidade: Capacidade de se duplicarem infinitamente.
  • Redução da inibição da divisão celular por contato: As células se dividem mesmo quando se empilham sobre as outras.
  • Perda da capacidade de diferenciação: Perda da semelhança entre células cancerosas e as normais correspondentes.
  • Propriedades bioquímicas alteradas: Por modificações no padrão enzimático ou de alterações no DNA.
  • Perda da coesão e da aderência entre as células: As células cancerosas invadem as outras, sem restrição, assim como o tecido adjacente.
  • Instabilidade cromossômica: Surgimento de mutações cada vez mais malignas.
  • Capacidade de formar metástase: Diminuição da aderência > maior mobilidade celular > disseminação.
  • Heterogeneidade: Diferenças individuais entre células contidas em um tumor.

Carcinogênese

Caracterizada pelas etapas:

  • Iniciação

    Primeira etapa no processo de carcinogênese. Interação do agente iniciador com o DNA da célula; devido à ação de fatores carcinogênicos, ocorrem mutações irreversíveis na estrutura molecular do DNA da célula. A eficiência depende da replicação do DNA e da divisão celular subsequente.

  • Promoção

    Etapa caracterizada pelo desenvolvimento de focos de células fenotipicamente alteradas e/ou lesões tumorais benignas; Os agentes promotores não reagem diretamente com o material genético da célula, mas afetam sua expressão por diferentes mecanismos; Acumula novas alterações e adquire vantagens proliferativas e capacidade de não responder aos mecanismos de controle do organismo.

  • Progressão

    Representa a etapa em que as células malignas apresentam o fenótipo característico, desenvolvem maior agressividade, crescimento rápido e potencial de invasão e disseminação. Apresentam características celulares que fornecem substrato biológico para a última etapa da carcinogênese.

  • Manifestação

    Última etapa da carcinogênese – manifestação clínica do câncer. Infiltração de tecidos vizinhos.

  • Metástase

    É um tumor secundário que cresce separadamente do tumor primário e sem conexão direta entre ambos. Origina-se de células que se destacaram do tumor primário e foram transportadas para outros locais; Geralmente ocorrem no sistema nervoso central, pulmão, ossos e fígado.

Disseminação de Tumores Malignos

  • Direta: Ocorre invasão e destruição dos tecidos adjacentes ao tumor.
  • Indireta: Ocorre invasão e destruição de tecidos não adjacentes ao tumor. Pode ocorrer por:
    • Via linfática: As células cancerosas penetram nos canais linfáticos que drenam o local onde se iniciou o tumor primário.
    • Via hematogênica: Deslocamento das células cancerosas do tumor primário e invasão da parede dos vasos sanguíneos.
    • Transcavitária: Ocorre quando células de um tumor maligno penetram alguma cavidade corporal, crescendo e disseminando-se. Cavidades mais afetadas: peritoneal e pleural.

Proliferação das Células Normais

Classificadas em relação às categorias de crescimento celular:

  • Estáticas: Não se dividem; deixam de se dividir após o período pós-embrionário; quando lesadas ou destruídas, não são substituídas. Ex.: células nervosas.
  • Expansivas (em repouso): Interrompem temporariamente a sua replicação ao atingir suas dimensões normais; podem se dividir em períodos de necessidade fisiológica. Ex.: células do fígado, rim, glândulas endócrinas.
  • Renováveis (que se dividem continuamente): Elevado nível de atividade reprodutora; se replicam continuamente para substituírem as células que morrem. Ex.: células epiteliais da mucosa gastrointestinal e células sanguíneas.

Padrões de Crescimento Celular Não Neoplásicos

  • Hipertrofia

    Aumento no tamanho da célula devido ao aumento da carga de trabalho.

    • Fisiológica: Prática de musculação.
    • Patológica: Espessamento do miocárdio.
  • Hiperplasia

    Aumento localizado e autolimitado do número de células de um órgão ou tecido, permanecendo normais na forma e na função.

    • Fisiológica: Glândula mamária na gestação.
    • Patológica: Hiperplasia endometrial – excesso de estrógenos.

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