Epistemologia e Métodos Científicos: Uma Análise Abrangente

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Epistemologia

A Epistemologia é a reflexão sobre o conhecimento científico que iremos empreender. Esta reflexão não se realiza no sentido de julgar como bom ou mau, nem de indicar aquilo que deveria ser. Trata-se apenas da análise crítica sobre este modo de conhecer o real, destacando a sua especificidade metodológica, bem como as suas principais dificuldades e limitações, assim como o seu valor e a sua importância objetiva.

Senso Comum e Ciência

O senso comum é um conhecimento construído de forma imediata e espontânea, com base nos dados sensoriais, na transmissão social dos princípios coletivos, crenças e preconceitos que expressam a experiência coletiva da nossa comunidade, e na experiência adquirida ao longo da vida, no decurso do processo de educação e socialização. Serve para resolver os problemas práticos do dia a dia, para permitir a integração nos hábitos estabelecidos pela sociedade e para orientar a nossa vida. Contudo, não oferece uma explicação nem uma compreensão da verdadeira natureza da realidade.

Por outro lado, a ciência é um conhecimento sistematizado e metódico, que utiliza raciocínios, provas e demonstrações para ir além da experiência e obter conclusões mais precisas e rigorosas acerca do funcionamento da natureza. Usa processos metodológicos próprios para explicar e compreender os fenómenos, e pretende formular leis e teorias explicativas que permitam controlar a natureza e pô-la ao seu serviço.

Em suma, o senso comum é um conhecimento superficial, resultante de generalizações empíricas, influenciado pela cultura e pela experiência quotidiana, e utilitário para a adaptação ao meio. Contrariamente, a ciência é um conhecimento racional, conceptual e técnico, caracterizado por uma análise metódica, objetiva e sistemática, resultando num conhecimento operativo, preciso e teórico-prático, num processo de aproximações à verdade e reajustamentos sucessivos.

Teorias de Bachelard e Popper

Gaston Bachelard era defensor da tese descontinuísta no desenvolvimento da ciência. Segundo ele, os novos aspetos sucedem os antigos, invalidando-os e substituindo-os completamente. A ciência só evolui se houver uma rutura com os obstáculos ao conhecimento científico – os obstáculos epistemológicos, ou seja, qualquer elemento ou processo extracíentífico que impeça ou desacredite a produção de conhecimentos. O cientista deve, por isso, psicanalisar o seu conhecimento para o limpar desses obstáculos que podem impedir o desenvolvimento.

Pelo contrário, Karl Popper era defensor da tese continuísta. Para Popper, o senso comum é o ponto de partida para o desenvolvimento da ciência e da filosofia. Importa, no entanto, que ao senso comum seja aplicada a crítica, pois esta é um instrumento de progresso. O senso comum, por si só, é muitas vezes um alicerce inseguro, por ser vago e mutável.

Método Indutivo

A aplicação do Método Indutivo baseia-se no princípio de que os casos ainda não observados serão semelhantes aos que já foram observados. As regularidades observadas são projetadas para o futuro, ou assume-se que as coisas ainda não observadas exibem as mesmas regularidades que as coisas já observadas. Por exemplo, a observação de muitos corvos negros confirma a hipótese de que todos os corvos são negros e a hipótese de que o próximo corvo a ser visto será negro. O grau de confirmação de uma hipótese depende do número de casos observados que estão de acordo com ela.

Método Hipotético-Dedutivo

O Método Hipotético-Dedutivo (hip-ded.) é assim denominado porque, a partir de uma determinada hipótese, são deduzidas consequências testáveis que se confrontam com factos empíricos para verificar se são verdadeiras. Contudo, esta forma de conceber este método encontra problemas lógicos. A afirmação ou confirmação do consequente não é prova válida da verdade do antecedente.

Método Falsificacionista

O Método Falsificacionista pode ser entendido como uma depuração do método hipotético-dedutivo, afastando qualquer referência à verificação e à indução. Há semelhanças entre o método falsificacionista e a descrição habitual do método hipotético-dedutivo: também se deduzem certas consequências de determinadas hipóteses. No entanto, o facto de aquilo que se observa ser o que se deduziu da hipótese não a confirma.

O falsificacionismo, em vez de procurar o acordo entre a predição e a observação, procura observações que falsifiquem a hipótese. O desacordo entre o que a conjectura prediz e o que é observado conduz à refutação da hipótese. O acordo, por sua vez, corrobora a hipótese, mas nunca a confirma definitivamente.

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