Escritores Espanhóis: Baroja, Unamuno e Azorín

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Pío Baroja: Vida e Obra Literária

Baroja nasceu em San Sebastián em 1872. Devido ao trabalho do pai, desenvolveu um sentimento de desenraizamento. Iniciou a carreira de medicina sem vocação. Exerceu como médico numa vila rural em Gipuzkoa, mas demitiu-se, pois este mundo não o atraía. Tinha um humor fatalista e repudiava qualquer consolo religioso, elementos que constituem a sua visão de mundo. A sua família mudou-se para Madrid, onde ficou encarregue de uma padaria, confrontando-se com a guilda e a burguesia, e começando a simpatizar com o socialismo. Publicou os seus primeiros contos e, depois, os seus primeiros romances (Caminho da Perfeição). Apenas se envolveu na política como candidato, sem sucesso, durante a República. No início da Guerra Civil, foi preso por tropas nacionalistas, sendo libertado e exilando-se em França. Regressou a Espanha após a ocupação alemã e morreu em Madrid em 1956.

Características e Ideologia de Baroja

Sensibilidade à violência física ou moral e medo de relacionamentos íntimos. Baroja demonstrava rejeição e, ao mesmo tempo, fascínio pela violência e pela natureza irracional dos personagens violentos. Os três núcleos da obra de Baroja são: a) reflexão sobre o ambiente social; b) subjetividade; c) reflexão consciente sobre a momentaneidade da vida, a sua falta de transcendência e permanência. Baroja era cético e adotava posturas niilistas. Politicamente, definia-se como anticaciquista, antimilitarista e anticlerical. Era um nacionalista liberal e laico, mas nunca um democrata. O jovem Baroja tinha uma atitude crítica, próxima do regeneracionismo. Destaca-se o seu antissemitismo e antiparlamentarismo. A hostilidade contra o povo judeu devia-se ao facto de ser uma cultura não enraizada em nenhum local específico. O nacionalismo de Baroja convivia com a sua consciência de pertença ao povo basco. Interessava-se pela cultura basca, mas nunca aderiu a nenhum projeto independentista.

Géneros Literários e Tendências na Carreira de Baroja

A obra de Baroja é vasta. Escreveu várias trilogias de romances desde 1900 até à sua morte e 22 volumes de romances históricos sob o título Memórias de um Homem de Ação, focados num único protagonista, Eugenio Avinareta, ancestral de Pío Baroja que levou uma vida singularmente aventureira durante o século XIX. Paralelamente, a sua produção completa-se com artigos e ensaios. Toda a obra em prosa de Baroja demonstra o seu talento e as suas preocupações estilísticas, com um importante cunho autobiográfico. Baroja projetava as suas experiências nos seus livros, com uma mistura de realidade e ironia. Foi o escritor por excelência da Geração de 98. Destaca-se o facto de agrupar os seus romances em trilogias, como "Terra Basca" e "A Luta pela Vida", que retrata a vida no submundo de Madrid no início do século XX, com ambientes de pobreza e criminalidade, e uma estrutura aberta. Outra trilogia importante é "A Raça", que inclui *A Árvore do Conhecimento*.

Técnica e Estilo de Baroja

As primeiras leituras de Baroja foram romances de aventura e folhetins, de autores como Júlio Verne, Alexandre Dumas e Victor Hugo. Estas leituras influenciaram a sua forma de entender os seus leitores. Desde cedo, leu filósofos como Schopenhauer e Nietzsche, e autores clássicos como Shakespeare, Cervantes e Molière. Dos seus contemporâneos, preferia Ortega y Gasset e Azorín, mas não se sentia muito ligado a Unamuno e Valle-Inclán. Baroja interessava-se pela cultura popular, pelo vulgar e pitoresco, o que se evidencia no seu léxico coloquial. Preocupava-se com o porquê e para quem escrevia, dando importância aos prólogos e epílogos, onde explicava as suas obras. Afirmava escrever para entreter, distrair e manter contato com o leitor. Os seus livros são abertos, começam *in medias res* e terminam inconclusivos. As mudanças de personagens e ambientes, e a mistura de elementos urbanos, filosóficos e aventureiros, criam uma dinâmica que cativa o público em geral.

Os seus personagens são principalmente de dois tipos:

  • Personagens pessimistas, antissociais e críticos, que refletem o intelectual burguês, escritor e, muitas vezes, hipócrita.
  • Personagens aventureiros, homens de ação, aproveitadores incansáveis, que projetam a tese vitalista de Nietzsche e refletem o que o autor gostaria de ser.

Ambos os tipos são diferentes. Baroja defendia que as coisas difíceis e cheias de personalidade atraem para uma vida de ação, embora não saibam para onde ir ou por que fazem as coisas. Apresenta um homem oprimido pelas circunstâncias, descrevendo-o em ação. Os diálogos são geralmente de dois tipos: filosóficos e familiares, caracterizando perfeitamente os personagens.

A Árvore do Conhecimento

É uma das obras mais representativas de Baroja, revelando a sua personalidade e as preocupações dos homens de 98. Retrata o declínio da Espanha após o desastre de 98, um país louco, irresponsável e vazio. Faz parte da trilogia "A Raça" e divide-se em sete secções, cujos títulos são importantes pelo seu conteúdo. As suas experiências como estudante e médico rural, e os seus pensamentos sobre a existência humana, permitem conhecer a atitude do escritor perante a vida e a sociedade da época. Uma das conclusões dos autores de 98 foi a paisagem de Castela. Enquanto Azorín se comove com as terras de Castela e Unamuno conhece a alma espanhola através da paisagem, Baroja oferece uma visão pessimista e amarga, que se estende à análise dos costumes dos habitantes de Alcolea. Toda a sua obra mostra desconfiança nos seres humanos, e os seus personagens aparecem como párias da sociedade. Uma faceta deste escritor é o seu anticlericalismo e falta de religiosidade. Andrés Hurtado (e o próprio Baroja) é cético quanto à possibilidade de revolução e não oferece soluções. Baroja, e Hurtado, não são revolucionários, mas céticos, mostrando-se indiferentes a qualquer partido político.

Miguel de Unamuno: Vida e História Literária

Nascido em Bilbau em 1864, numa família burguesa abastada, expressou desde criança uma forte religiosidade. O estudo das artes e as leituras racionalistas levaram-no a uma crise religiosa. Ingressou no Partido Socialista e, no ano seguinte, os seus livros começaram a aparecer, embora sempre tenha praticado o jornalismo. Reuniu os seus ensaios num volume intitulado Em Torno do Tradicionalismo, que busca a essência do povo espanhol. A sua visão da história divide-se em dois tipos: os grandes homens e acontecimentos políticos, que constituem a superfície, e a história das pessoas anónimas que trabalham diariamente sem qualquer impacto, a história da consciência da própria morte, que causa angústia. Perante isto, Unamuno procura duas saídas: a sobrevivência biológica e a sobrevivência espiritual (através da obra). Este é o verdadeiro sentido da literatura de Unamuno: sobreviver através das suas próprias obras.

Ideias de Unamuno sobre o Romance

Para Unamuno, o romance é uma forma de conhecimento intuitivo, cujo objeto de estudo é o mundo íntimo, e não o externo. A personalidade é uma entidade complexa, e cada indivíduo tem quatro personalidades:

  • A personalidade real, que só Deus conhece.
  • A que cada pessoa pensa que é.
  • A que cada pessoa é para os outros.
  • A que cada pessoa quer ser, que é a identidade criativa do indivíduo.

Unamuno pensa que o romance é autobiográfico, pois os personagens são os seus adversários, o seu outro eu, tornando-se seus heterónimos. Analisa a literatura para captar o tempo, dar uma forma duradoura à obra e sobreviver ao longo do tempo, acreditando que o escritor morre no seu antagonista, o protagonista do romance. Unamuno dá grande importância ao leitor, pois este, ao ler, torna-se autor e ator do romance. A literatura é, portanto, uma aventura partilhada, na qual o leitor, de certa forma, morre no final do romance.

Unamuno distinguia dois tipos de romances: ovíparos e vivíparos. Os ovíparos são aqueles que o autor prepara cuidadosamente, fornecendo ideias e argumentos. Os vivíparos são escritos de improviso, sem esquema prévio, seguindo o fluxo do pensamento. Esta é a forma de romance que ele prefere, tornando-o um romance aberto. As questões existenciais são frequentes, refletindo os dramas íntimos dos personagens, que são descritos de forma sucinta, apaixonados e com vidas interessantes. Os seus romances mostram símbolos, imagens e formas em que a realidade quotidiana é distorcida e exagerada. Interessa-se pelo essencial da vida íntima, ignorando descrições espaço-temporais e físicas. Começa frequentemente *in medias res*. Todos os seus romances são atravessados por conflitos entre vítimas e perpetradores de paixões intensas, podendo dar a impressão de falta de exposição, meio e fim, parecendo puro nó. Por vezes, não têm um desfecho, pois a questão fica no ar: apresenta-se uma luta, uma agonia de um personagem, sem solução definitiva. Estes finais abertos são inovadores. Portanto, para Unamuno, o romance é um género aberto, sem padrões, que não se trata de ver o que acontece ao protagonista, mas sim o que ele é.

Os romances apresentam diferentes visões, muitas vezes antagónicas, justapondo o ponto de vista das personagens e do narrador, que se torna mais um. Isto traduz-se na importância do diálogo, do monólogo e do monólogo interior. Como crítico, poder-se-ia dizer que os argumentos de Unamuno são confusos e carecem de unidade de ação, o que se observa nas histórias interpoladas e nas conversas entre personagens, que parecem quebrar o fio da ação. Os seres aparecem frequentemente divididos entre o que são e o que acreditam ser, questionando a sua existência e sentindo-se insignificantes. Outro tema recorrente é a mistura de ficção e realidade.

No que diz respeito ao seu estilo, Parker afirma que Unamuno o chama de "cómico-trágico", ou seja, uma mistura de caricatura humorística e exasperação trágica. Há nas suas obras uma tendência para o culto da linguagem, com vocabulário abstrato e escolhido. No entanto, como pretende escrever de forma direta e apaixonada, usa frases curtas, interjeições, repetições e expressões coloquiais e até vulgares.

José Martínez Ruiz "Azorín": Vida e História Literária

Azorín nasceu em Alicante. O seu pai era advogado e politicamente conservador. Em criança, era tímido e introvertido, atitude visível em *Confissões de um Pequeno Filósofo*, romance autobiográfico. Estudou Direito em Valência por imposição do pai, pois não tinha interesse. Introduziu-se nos ambientes intelectuais da cidade, descobrindo a sua vocação para a literatura e o jornalismo. Começou a escrever artigos em jornais e revistas sobre literatura e política. Iniciou a sua carreira política como deputado conservador e tornou-se membro da Real Academia Espanhola. Durante a Guerra Civil, refugiou-se em Paris, mas depois regressou a Espanha e juntou-se ao regime de Franco. Morreu em Madrid em 1967.

Anarquista Azorín

Até 1891, Azorín permaneceu fiel às crenças familiares, num ambiente conservador. A partir desta data, influenciado por círculos intelectuais progressistas e leituras, tornou-se anarquista. Sob o forte vento do sofrimento humano, encontram-se as instituições (pátria, Estado e Igreja), cujo princípio de autoridade ignora o indivíduo. As suas ideias rebeldes e radicais surgem nos seus artigos de jornalismo. O escritor sofreu uma crise vital, filosófica e profissional. Mudou-se para Madrid com o desejo de fazer carreira literária, mas não coincidiu com os outros membros da sua geração. Passou por momentos difíceis, sem dinheiro e com ambições elevadas. Trabalhou no jornal *El País*, mas foi expulso por um artigo contra o matrimónio. Perdeu a fé nas ideias revolucionárias, pois o seu trabalho não lhe deixava tempo para a sua vocação artística, e o seu radicalismo podia prejudicá-lo. Isto resultou num pessimismo evidente. Leu Schopenhauer e Nietzsche, tornando a sua filosofia pessimista, mas sem uma atitude crítica. O que mais se destaca desta época é o seu primeiro romance, *Diário de um Doente*, onde narra, na primeira pessoa, a crise de um escritor envolvido na vida frenética de Madrid, misturada com uma história de amor melodramática. Apresenta um personagem que é a projeção do próprio Azorín, mostrando os seus conflitos pessoais, embora o autor negue a identificação.

O personagem vê a sua arte como algo que deve impressionar. Com o passar dos anos, o pessimismo substitui o anarquismo. Azorín inventa um personagem para transferir as suas experiências (Antonio Azorín). Podemos falar de três romances autobiográficos deste tipo: *La Voluntad*, *Antonio Azorín* e *Las Confesiones de un Pequeño Filósofo*. Os três romances apresentam um personagem intelectual e levantino, que representa três estados de Azorín, sem ordem cronológica. Estes romances são heterogéneos, com pouca ação, abertos, muito descritivos e detalhados, lembrando o naturalismo. Há passagens que parecem auto-histórias, pois Azorín tem o hábito de saltar entre géneros, procurando um híbrido de romance, ensaio e poema lírico.

Azorín Contemplativo

O escritor é agora um analista do centro histórico, literário e político do país, através de artigos de jornal que deram origem a livros de ensaios. Além destes, há três romances inspirados em mitos e personagens da literatura espanhola: *Don Juan*, recriação original de Don Juan Tenorio, e *Doña Inés*, recriação muito pessoal da Dona Inês de Zorrilla. Através destes personagens, mostra a realidade espanhola, com uma atitude de observador benevolente, tentando representar os aspetos positivos e sugerir os negativos, sem condenar, ou seja, com uma atitude compreensiva. Azorín é um narrador omnisciente que acede à sua privacidade. Usa o tempo presente, realizando uma combinação de ciência e mistério nas suas obras.

  • Ciência: Descreve a realidade (objetos visíveis e tangíveis) com precisão, rigor e observação direta e minuciosa.
  • Mistério: Percepção subjetiva das coisas, envolvida num tema obsessivo: a fugacidade da vida intrahistórica perante a morte.

Em termos de estilo, os adjetivos utilizados são selecionados, com grande riqueza e precisão, particularmente aqueles relacionados com a audição, usando estes recursos para captar as nuances essenciais das coisas.

Azorín Super-realista

Azorín também se sentiu fascinado pelas tendências surrealistas. Escreveu três romances experimentais neste sentido. Nestes romances, o surrealismo não é apenas psicológico e estético, mas marcado por uma profunda preocupação moral e postura ética. O seu estilo caracteriza-se pelo presente narrativo, o uso de frases curtas e justapostas, muitas vezes prescindindo de verbos.

O Pós-Guerra

Durante a Guerra Civil, Azorín mudou-se para Paris e, ao regressar a Espanha, foi recebido com indiferença e hostilidade pelo novo regime, que lhe permitiu publicar em *Presno*. A partir daí, procurou o favor de algumas autoridades falangistas, escreveu um romance de autojustificação e regressou ao jornal *ABC*. Mais tarde, escreveu romances e uma obra de natureza estética.

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