Espanha: Virada Econômica e Mudanças Sociais (1957-1973)

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1. Virada da Economia Espanhola

1.1. Governos do Desenvolvimento

Os governos de Franco a partir de 1957: Transição do domínio dos princípios falangistas para o domínio dos tecnocratas, relacionados à Opus Dei. O crescimento econômico como principal garantia da estabilidade social. Objetivo principal: incorporar critérios de racionalidade e eficácia na gestão estatal para garantir a continuidade do regime. Reforma técnica, sem desafiar a ditadura, buscando uma solução para a grave situação econômica e social decorrente da autarquia.

Mudança de curso devido à má situação econômica no final da década de 1950: Exaustão das reservas do Banco de Espanha. Inflação. Aumento do desequilíbrio orçamentário. Pressão de organismos internacionais. Crescente protesto social. Fase de recuperação econômica na Europa pós-Segunda Guerra Mundial.

1.2. O Plano de Estabilização

O Plano de Estabilização (1959) teve como objetivos: Fim da intervenção estatal dos anos anteriores. Remoção das barreiras ao comércio e liberalização financeira.

O Plano de Estabilização (1959) atuou nas seguintes áreas:

  • Estabilização da economia: Reduzir a inflação (3%) e o déficit orçamentário (1%). Medidas incluíram:
    • Aumento das taxas de juros.
    • Limitação do crédito bancário.
    • Congelamento de salários.
    • Reforma fiscal para aumentar as receitas e limitar os gastos do governo.
  • Liberalização interna da economia: Eliminação de agências reguladoras e auditores com preço fixo.
  • Liberalização externa da economia: Eliminação de barreiras à entrada de mercadorias estrangeiras e facilitação da conversibilidade do capital estrangeiro e do investimento da peseta para facilitar o comércio, além da desvalorização contra o dólar.

Em troca desses compromissos, várias organizações internacionais forneceram financiamento para a Espanha. Essas disposições visavam incorporar a Espanha nos mercados internacionais para o crescimento econômico.

1.3. Planos de Desenvolvimento

Os Planos de Desenvolvimento Econômico e Social eram criados a cada três ou quatro anos. A Comissão de Desenvolvimento do Plano era liderada pelo Comissário Laureano López Rodó. O planejamento econômico indicativo significava que o Estado promovia o crescimento da economia espanhola através da programação da atividade do setor público e fornecendo informações e previsibilidade para investidores privados.

Linhas de Desenvolvimento:

  • Estruturais: Resolver algumas deficiências setoriais.
  • Polos de Desenvolvimento: Reduzir os desequilíbrios econômicos regionais, promovendo novas indústrias em áreas de baixa industrialização.

Falhas: A implementação dos planos foi mais condicionada pelo desempenho econômico dos grupos de poder próximos aos generais. Planos de investimento ineficientes.

Conquistas: Orientaram o setor privado para infraestruturas e materiais básicos, contribuindo para o crescimento industrial em um clima econômico favorável.

2. Desenvolvimento Econômico

Introdução: Fatores que levaram ao crescimento econômico:

  • Boa situação econômica internacional: prosperidade da economia europeia.
  • Investimento estrangeiro de capitais: instalação de empresas estrangeiras (Siemens, Nestlé, Ford, etc.).
  • Receitas do turismo: fluxo significativo de turistas.
  • Remessas: dinheiro enviado por migrantes que foram para o exterior em busca de trabalho.
  • Redução de custos de infraestrutura.
  • Gastos públicos.

O crescimento desacelera em 1973 com a crise do petróleo, decorrente de confrontos entre palestinos (apoiados por países árabes) e Israel (apoiado pelos EUA). Consequentemente, os países produtores de petróleo concordam em elevar o preço do barril. A crise afeta principalmente a Europa, que não possui petróleo. Isso implica uma paralisação da emigração espanhola.

2.1. A Rápida Industrialização

O motor central da expansão da economia espanhola foi a indústria, impulsionada por maior produtividade.

Fatores:

  • Baixa remuneração.
  • Importação de tecnologia.
  • Investimentos de capital estrangeiro.
  • Aumento do peso dos setores de bens de capital.

Consequências:

  • Redução de preços, incentivando as exportações.
  • Aumentos salariais.
  • Popularização da compra e aluguel.
  • Aumento da demanda por bens de consumo duráveis.

Setores industriais que lideraram o processo: indústria química, energia, siderurgia, construção naval e automobilística. Além disso, setores de baixa tecnologia: vestuário, calçado, mobiliário. As zonas industriais tradicionais (País Basco, Catalunha e Astúrias) continuaram seu crescimento, e houve expansão para novas áreas (Madrid) e novos polos industriais (Valência, Sevilha, Vigo, Burgos, etc.).

2.2. A Conversão da Agricultura Tradicional

Na década de 1960, a crise da agricultura tradicional baseava-se em:

  • Abundância de mão de obra com salários baixos.
  • Adequação da oferta às necessidades do mercado, mas com dificuldades para suprir as necessidades alimentares.
  • Minifúndios com grandes dificuldades que persistiam ao lado de grandes propriedades mal trabalhadas.

Novas oportunidades de trabalho na indústria levaram ao êxodo rural, resultando na redução e aumento dos salários dos trabalhadores agrícolas. A agricultura iniciou um processo de mecanização e uso de adubos químicos para intensificar o cultivo, o que diminuiu a ocupação no campo e aumentou a migração. Houve diversificação da demanda por alimentos: redução de cereais para animais e aumento de produtos hortícolas.

O governo incentivou a consolidação e a construção de sistemas de irrigação, o que mudou a aparência do campo espanhol, diminuiu a força de trabalho agrícola, levou ao desaparecimento de pequenas explorações e aumentou a produção de sistemas empresariais.

2.3. O Progresso do Setor Terciário

Houve a terceirização da economia, impulsionada por:

  • Intensa urbanização.
  • Aumento das redes de distribuição e comércio.
  • Melhoria dos transportes e comunicação.
  • Boom do turismo: Afluxo massivo de turistas, alta fonte de renda e operações de hotéis e serviços. O bem-estar europeu e a generalização das férias pagas tornaram a Espanha o destino preferido por seu clima, praias e preços baixos.

O crescimento do setor bancário: significativo investimento de capital em empresas industriais, gerando uma série de benefícios. Estimulado pela proibição de bancos estrangeiros operarem na Espanha, o que, no entanto, restringiu a concorrência e diminuiu a modernização dos bancos espanhóis.

Comércio Internacional: Aumento do volume de importações e exportações. Alteração da sua composição. Principais exportações: produtos acabados para o exterior. O saldo comercial resultante foi negativo (o valor das importações superou as exportações), mas o déficit foi compensado por receitas provenientes do exterior (turismo, remessas, etc.), gerando um superávit na balança de pagamentos.

2.4. A Dependência Externa

Uma situação internacional favorável abriu grandes mercados, permitiu o abastecimento de energia a preços reduzidos e o acesso a melhor tecnologia. A Espanha recebeu financiamento para o déficit da importação de máquinas. Além disso, vários países absorveram o excedente de mão de obra na agricultura, o que poderia ter limitado o crescimento do desemprego, e as remessas equilibraram a balança de pagamentos.

2.5. Limitações da Economia Espanhola

Dados Positivos:

  • Aumento do PIB acima da média dos outros países europeus.
  • Aumento da renda per capita.
  • Melhoria da qualidade de vida.

Limitações:

  • Desigualdade no crescimento setorial: indústria (química, siderurgia, cimento, automóveis, etc.) e serviços (turismo) aumentaram seu desenvolvimento, enquanto bens de consumo e agricultura ainda estavam atrasados. O setor industrial não conseguiu absorver toda a população agrícola, e a maioria teve que emigrar para a Alemanha.
  • Persistência do desequilíbrio inter-regional: regiões tradicionalmente ricas continuaram a crescer, enquanto outras regiões pobres não se desenvolveram. Emigração interna.
  • Manutenção de um sistema inadequado de serviços sociais.
  • Expansão desordenada das grandes cidades: a falta de uma norma urbana minoritária.
  • Manutenção de um imposto que beneficiava um privilégio social.
  • Desastre ecológico.
  • Dependência de tecnologia e investimento estrangeiro.
  • Fraqueza congênita e de recursos financeiros.
  • Falha do Estado na redistribuição de benefícios e desenvolvimento de infraestrutura.

3. Crescimento da População e Mudança Social

3.1. O Aumento da População

Na década de 1960, a taxa de crescimento anual da população foi a maior de todo o século, consequência da redução da mortalidade (especialmente infantil) e das altas taxas de natalidade (melhoria da qualidade de vida).

Melhores perspectivas econômicas mantiveram um elevado número de nascimentos. Métodos de planejamento familiar eram inexistentes e a política natalista de Franco contribuiu para que a taxa de fertilidade se mantivesse elevada ao longo da década.

Boom populacional: A distribuição por idade mostrou um aumento de jovens (0-14 anos, devido ao aumento de nascimentos) e de pessoas com mais de 65 anos (aumento da expectativa de vida).

3.2. Os Movimentos Migratórios

A mecanização e modernização da agricultura deixaram muitos produtores sem trabalho, levando ao êxodo rural devido às condições de vida miseráveis, falta de emprego e de perspectivas.

As zonas agrícolas da Andaluzia, Extremadura, Castela, Galiza e Múrcia foram as principais fornecedoras de migrantes para o exterior (França, Alemanha, Suíça e Bélgica).

Migração interna: Aumento para as áreas mais dinâmicas da economia (Madrid, Catalunha e País Basco/Valência). Desequilíbrios demográficos e econômicos: As grandes cidades industriais e suas periferias cresceram à beira da saturação, sem a infraestrutura necessária para acomodar os migrantes, o que gerou o chabolismo (formação de favelas).

3.3. Mudanças na Estrutura Social

O desenvolvimento industrial e a expansão da economia do setor de serviços transformaram o contexto socioprofissional, reforçando a sociedade industrial capitalista. Os funcionários do setor eram amplos e variados, enquanto a classe média aumentou seu peso.

Distribuição setorial da população ativa: A parcela agrícola passou de 50% para 21%, enquanto a industrial aumentou de 24% para 38% e a de serviços de 25% para 41%. Isso resultou no crescimento do número de trabalhadores industriais, maior presença das classes médias e consolidação da burguesia urbana. Houve também crescimento de autônomos, colaboradores e profissionais qualificados para a gestão industrial ou financeira.

3.4. Novos Padrões Sociais e Culturais

Transformações na sociedade:

  • Sociedade de consumo: Aumento do poder de compra, levando os lares espanhóis a serem equipados com novos utensílios, geladeiras, aparelhos de TV e cozinhas. Popularização do automóvel de produção nacional (Seat 600).
  • Demanda por educação: Necessidade de alcançar maior remuneração e status. A Lei Geral da Educação de 1970 resultou no aumento da população escolar e dos investimentos estatais em educação. O analfabetismo diminuiu, aproximando a Espanha dos países mais avançados, e houve democratização do sistema de ensino com a inclusão de alunos de famílias de classe mais baixa.
  • Estrutura familiar: A família de tradição rural foi substituída pela típica família nuclear do mundo urbano. Os jovens começaram a viajar para o exterior e introduzir novas ideias na Espanha.
  • Status da Mulher: Abandono do papel tradicional de mãe e esposa para entrar no mundo da educação e trabalho remunerado. Muitas mulheres alcançaram um nível de estudos comparável ao dos homens e defenderam sua liberdade e realização pessoal. Emergência de um novo movimento feminista. No entanto, a taxa de emprego feminino manteve-se bem abaixo da média da Europa Ocidental.
  • Renovação da Igreja: O Concílio Vaticano II levou uma parte da Igreja espanhola a se distanciar do regime e a se alinhar com os setores sociais que exigiam a democratização. A secularização cresceu e sua influência diminuiu em todas as áreas.

O progresso social e os padrões de mudança cultural enfraqueceram o sistema de apoio social, gerando um novo tipo de oposição que impulsionou a democratização do regime, as liberdades políticas e uma sociedade mais aberta, alinhada aos movimentos da Europa.

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