Estado, Neoliberalismo e Impactos Sociolaborais
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Conceito de Estado: Perspectivas Críticas
- Segundo Carlos Nelson Coutinho, para Marx: O Estado é definido como "uma entidade particular que, em nome de um suposto interesse geral, defende os interesses comuns de uma classe particular". Assim, o Estado deixa de parecer apenas a encarnação formal e alienada do suposto interesse universal, passando a ser visto como um organismo que exerce uma função precisa: garantir a propriedade privada (sentido restrito).
- Ampliação do conceito em Engels e Gramsci: Posteriormente, o conceito é ampliado, resultando no Estado Ampliado ou Estado Integral. Nessa visão, o Estado não é simplesmente um instrumento da classe burguesa, mas traduz as relações sociais e a hegemonia de determinados interesses de classe.
O Estado-Nação e o Capital Internacional
Questão: Como o Estado-Nação protege sua sociedade? Por que se abre aos interesses do capital internacional e se submete a eles?
Resposta: Geralmente, por meio de acordos econômicos que geram relações de dependência, como dívida externa, ausência de tecnologia para produção própria, embargos, etc.
A Contrarreforma do Estado no Brasil
As mudanças iniciadas timidamente na década de 80 no Brasil ganharam força com o Consenso de Washington (1989), fundamentado pela ideologia neoliberal, que prega: "Mais Mercado Livre e menos Estado Social".
O que os neoliberais chamam de Reforma do Estado, críticos nomeiam como contrarreferma, pois a consideram um retrocesso estatal que retorna à barbárie e ao conservadorismo.
Funções do Estado Pós-Reforma no Brasil
As funções do Estado no Brasil, a partir da Reforma, foram estabelecidas da seguinte forma:
- Núcleo Estratégico: compreende os Poderes Executivo, Legislativo, Judiciário e o Ministério Público.
- Atividades Exclusivas: serviços que só o Estado pode realizar, como regulamentar, fiscalizar e fomentar (por exemplo, previdência básica, educação básica, segurança, assistência aos mais pobres).
- Serviços não exclusivos: produção de bens e serviços como escolas, universidades, centros de pesquisa científica e tecnológica, creches, ambulatórios, hospitais, entidades assistenciais, museus, emissoras de rádio e TV educativas e culturais. Estas são deslocadas do núcleo exclusivo do Estado e compreendidas como atividades competitivas que podem ser controladas pelo mercado.
- Produção de bens e serviços para o mercado: compreende o segmento produtivo e o mercado financeiro.
É precisamente no núcleo de “serviços não exclusivos” que o governo estabelece as premissas da Reforma do Estado em sua relação com a sociedade e o mercado. Isso inclui transferir os serviços não exclusivos para as organizações sociais – “entidades públicas de direito privado que celebram um contrato de gestão com o Estado e assim são financiadas parcial ou mesmo totalmente pelo orçamento público”.
Diretrizes do Projeto de "Reforma" do Estado
- Diminuir o investimento público em políticas sociais.
- Aplicar de forma contínua e desregulada no mercado financeiro e produtivo investimentos do fundo público.
- Reformar a área administrativa, implementando:
- Plano de demissão voluntária.
- Programa de terceirização.
- Não realização de concursos públicos em diferentes áreas do Estado.
- Reforma da previdência social.
- Programa de privatização das empresas estatais.
- Flexibilização das leis trabalhistas que regulam e controlam a relação conflituosa entre capital e trabalho.
Tendências da Crise do Capital
Essas tendências caracterizam-se por respostas do capitalismo à sua própria crise, incluindo:
- Substituição dos padrões rígidos taylorista/fordista por padrões mais flexíveis como o toyotismo (profissional polivalente e multifuncional).
- Mudança do modelo de regulação social-democrático do Estado de Bem-Estar Social para o modelo neoliberal – privatizante e antissocial.
Modelos Produtivos: Fordismo e Toyotismo
O Fordismo
- O binômio fordista/taylorista predominava nas grandes indústrias e fábricas ao longo do século XX, especialmente no período Pós-Segunda Guerra Mundial até as décadas de 70 e 80.
- Tanto o taylorismo como o fordismo foram marcados pela racionalização da produção, divisão e especialização do trabalho, mecanização e produção em massa. O princípio básico era a fragmentação do processo de trabalho na divisão de tarefas, aumentando a produtividade e acelerando a produção em massa, com movimentos repetitivos no menor tempo possível.
- Separação entre elaboração e execução (pensar e fazer).
- Profissionais fortemente especializados.
- Estrutura organizacional hierarquizada e relação salarial baseada em acordos coletivos, com forte identidade do trabalhador como operário e um Sistema de Proteção Social.
O Toyotismo
- O “modelo japonês” (Toyotismo) surge para responder à concorrência internacional.
- Baseado na flexibilidade dos processos de trabalho, produtos e mercados, marcou a produção em pequenas séries e a participação do trabalhador nos objetivos empresariais. Alguns autores consideram o modelo flexível japonês precursor por valorizar a subjetividade dos operários, buscando sua adesão e "participação".
- Este é chamado de processo de cooptação / trabalho em equipe.
- O modelo toyotista incorpora alta tecnologia e controle de qualidade, permitindo a produção em pequenas séries (evitando estocagem e desperdício). O trabalhador opera mais máquinas e possui maior nível de conhecimento técnico, com automatização do trabalho em menor escala.
- Busca aumentar a produção sem aumentar o número de trabalhadores.
- Substituição da mecânica pela microeletrônica.
- Outras características e consequências do Toyotismo:
- Informatização e alta tecnologia.
- Contraste entre profissionais altamente qualificados e trabalhadores de massa mais desqualificados e precarizados.
- Ganho salarial por produtividade, em detrimento de salários conquistados por acordos coletivos.
- Combate ao sindicalismo e à organização operária, promovendo o sindicalismo por empresa.
- Novos padrões de gestão da força de trabalho: qualidade total, gestão participativa, “envolvimento manipulatório”.
Consequências das Transformações no Mundo do Trabalho
- Mudanças nas formas de inserção na estrutura produtiva e nas formas de representação sindical e política.
- Classe trabalhadora: aquela que vive da venda de sua força de trabalho e não detém os meios de produção.
- A "classe-que-vive-do-trabalho" sofreu a mais aguda crise do século em sua materialidade, subjetividade e forma de ser.
- Desproletarização da classe trabalhadora (redução da classe operária tradicional), impulsionada pela recessão e automação.
- Expansão do trabalho assalariado no ramo de serviços, devido à complexidade do processo de urbanização e desenvolvimento tecnológico.
- Aumento da subproletarização: trabalho precário, parcial, temporário, terceirizado, informal. Jornadas de trabalho mais flexíveis resultam em uma força de trabalho que entra facilmente no mercado e é demitida sem custos.
- Crise do sindicalismo: tensão entre trabalhadores estáveis versus informais ou precários.
- Individualização das relações de trabalho: reduzindo as esferas e o universo de atuação, com foco no sindicato por empresa.
- Desregulamentação e flexibilização dos direitos: através da “negociação aberta”.
- Descrença na luta dos trabalhadores.
Teses Conclusivas do Autor
Não há uma tendência generalizante e uníssona quando se pensa no mundo do trabalho; há, sim, uma processualidade contraditória e multiforme. Por outro lado, o operariado não desaparecerá tão rapidamente, nem é possível perspectivar a eliminação da "classe-que-vive-do-trabalho".
Resultado no Âmbito das Políticas Sociais
- Estado mínimo para a população e trabalhadores, e Estado máximo para o capital. Confronto entre o conceito de cidadão-consumidor versus cidadão de direitos.
- O reordenamento das funções do Estado implica que as políticas sociais são geridas sob uma nova perspectiva. Isso afeta diretamente as condições e relações de trabalho dos profissionais de serviço social, assim como ocasiona mudanças profundas em termos de mercado de trabalho e contratação.
Repercussões no Serviço Social
- "As políticas sociais constituem base de sustentação funcional e ocupacional do Serviço Social, caracterizando sua funcionalidade, sua legitimidade, criando o espaço de inserção ocupacional. Se elas foram e estão sendo significativamente alteradas no atual contexto socioeconômico e político, podemos então afirmar que a profissão de Serviço Social tende a sofrer transformações relevantes na sua demanda e no seu campo de atuação, na sua modalidade de intervenção e no seu vínculo empregatício.” (Montano, 2002, p. 244).
- O profissional/trabalhador assalariado do Serviço Social atua na contradição entre o capital e o trabalho (a questão social) e, portanto, se transforma e se redimensiona com as mudanças do desenvolvimento capitalista.