O Estrangeiro, o Refugiado e o Cosmopolita
Classificado em Psicologia e Sociologia
Escrito em em português com um tamanho de 3,41 KB.
O Vagabundo e o Estrangeiro
Simmel define o estrangeiro como a figura metropolitana por excelência, sendo o estranhamento de si a consequência da vida mental ou personalidade metropolitana. O estrangeiro não é uma figura completamente aberta, mas sim alguém que se consegue enquadrar no grupo, reunindo em si a dualidade processual e a ambivalência estrutural da proximidade e da distância, como o pobre. Simmel afirma que a base psicológica do tipo metropolitano de individualidade consiste na intensificação dos estímulos nervosos, que resulta da alteração ininterrupta entre estímulos exteriores e interiores. Esta intensificação (resultado de atividades simples como atravessar ruas, o ritmo da vida social, a multiplicidade da vida profissional) leva a um desequilíbrio entre forças externas e internas, produzido pela própria metrópole. O resultado é o desenvolvimento da razão, do intelecto, em oposição à sensibilidade, ao afeto – a preponderância do espírito objetivo sobre o subjetivo. A metrópole origina um tipo específico de personalidade, a blasé, que resulta desse desequilíbrio e se traduz, mentalmente, em indiferença ao outro. O estrangeiro é uma figura móvel que contata com uma grande massa de pessoas, mas sem laços de parentesco, localidade ou ocupação.
O Cosmopolita e o Refugiado
Wirth, numa perspectiva de espaço metropolitano de influência transcontinental, vê a metrópole como constituída por estrangeiros. Essa mesma translação se observa na figura do refugiado. Arendt apresenta o refugiado como aquele que, perdendo a pátria, prefere identificar-se como refugiado a assimilar a nova cultura, apresentando-o como vanguarda. Em We Refugees, Arendt recusa a definição de refugiado como apátrida (situação que ela própria vivia), propondo-a como paradigma de uma nova consciência histórica. Agamben propõe que a figura atual do estranhamento é o homem da vida nua: um ser cujo direito a ter direitos é posto em causa por sua própria existência evidenciar que os direitos do Homem são função dos direitos do cidadão. O ser humano que perde a cidadania e a pátria (homeless) torna-se um ser sem direitos, sujeito a todo o poder soberano e destinado à morte.
Hannerz caracteriza o cosmopolitismo como uma perspectiva, um estado de espírito, ou um modo de gerir o sentido. O cosmopolita envolve-se com o Outro, com abertura intelectual e estética a experiências culturais divergentes, buscando contrastes, não uniformidade. Para Hannerz, há no cosmopolita uma mistura de aficionado (abertura e habilidade pessoal para se inserir) e competência cultural (capacidade de gerir sistemas de significados). A abertura ao Outro é uma nova forma de construção do self.
Outros tipos de viajantes (turistas, exilados, migrantes trabalhadores e expatriados) não são, para Hannerz, normalmente cosmopolitas, pois não interagem completamente com a cultura em que se encontram.
O cosmopolita de Hannerz assemelha-se ao estrangeiro de Simmel. A importância que Hannerz dá à tensão entre proximidade (aficionado) e distância (competência), e à cultura do discurso crítico, aproxima seus argumentos dos de Simmel. No cosmopolita de Hannerz, pode-se ver a cultura objetiva de Simmel, pela competência atribuída ao cosmopolitismo.