Europa no Século XII: Sociedade e Economia

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Unidade e Diversidade na Europa do Século XII

A multiplicidade de poderes e crenças no espaço europeu teve origem, particularmente, nas profundas mutações políticas, sociais e económicas que deram origem a três grandes conjuntos civilizacionais.

Depois da queda do Império Romano do Ocidente (476), a anterior unidade imperial mediterrânea foi sendo substituída por uma multiplicidade de novos estados, sobretudo de origem germânica, muitos dos quais estão na origem de estados europeus contemporâneos.

Da inserção desses povos no mundo romano nasceu uma sociedade original. Nos reinos que se foram formando, os conquistadores (cerca de 5% da população) acabaram por se misturar com as populações romanas e romanizadas, operando-se uma síntese entre elementos romanos e germânicos. Sob a ação evangelizadora de bispos e monges, o Cristianismo e o legado da cultura greco-romana penetraram nos reinos bárbaros, emergindo uma nova civilização europeia cristã. Esta foi sendo construída com uma identidade própria face aos outros dois conjuntos civilizacionais que rodeavam a bacia mediterrânea:

  • No Mediterrâneo oriental, herdeiro do Império Romano do Oriente, o rico e próspero Império Bizantino permanecia uma importante referência política e cultural para a Cristandade ocidental.
  • Quanto ao Islão, os Árabes, sob a direção de Maomé, pregaram uma nova religião, o Islamismo.

Apesar de o Cristianismo ser a religião comum à Igreja ocidental e oriental, no século XI operou-se uma cisão entre a Igreja Ortodoxa (de tradição grega) e a Igreja Católica (de tradição latina).

Esta divisão consagrou a separação entre uma Europa oriental de cultura grega e forte presença eslava e uma Europa ocidental de cultura latina e forte presença germânica. A separação ficou ainda mais marcada depois do século XIII, quando o Império Bizantino começou a sofrer a concorrência das cidades italianas.

Assim, os contributos greco-romano, germânico e cristão, fundindo-se em graus diversos, constituíram o fundo comum da civilização da Europa Ocidental.

Unidades Políticas: Reinos, Senhorios e Comunas

Senhorio: Território onde um senhor exercia poder sobre a terra (de que era proprietário e de cuja exploração cobrava rendas e serviços) e poder sobre os homens (a quem exigia impostos de natureza económica, jurisdicional e militar).

Reino: Estado ou nação cujo chefe político é um rei. Foi no decurso da Idade Média que se constituíram os reinos que estão na base dos atuais Estados Europeus. O processo de formação de reinos foi mais precoce na Europa Ocidental. Na Europa Central e Oriental, este processo foi entravado por razões várias.

Comuna: O termo designou, inicialmente, a associação dos habitantes de uma cidade que tinha por objetivo libertá-la da sujeição aos grandes senhores. Passou, depois, a designar a cidade que, na Idade Média, possuía uma total ou muito ampla autonomia administrativa. Iniciado no século XI, em Itália.

O Surto Urbano no Século XII

Em torno dos velhos castelos senhoriais, junto aos portos ou às vias de circulação, de origem romana ou de fundação mais recente, as cidades aumentam em número e em tamanho. Para além de crescerem, as cidades transformam-se. Anteriormente, eram sobretudo centros políticos, militares ou religiosos, derivando a sua importância da dignidade do nobre ou do bispo que as habitava. A partir do século XII, as cidades medievais assumem uma feição essencialmente económica. Nelas se estabelecem mercadores, banqueiros, artesãos, lojistas, que as animam e enriquecem. São eles os mais característicos habitantes do burgo e, por isso, tomam o nome de burgueses. Assim, individualiza-se um novo grupo social, a burguesia, que para sempre permanecerá ligada à cidade e às suas atividades.

Mas nem só de comerciantes e artesãos se anima a cidade medieval. A ela afluem nobres à procura de divertimentos e artigos de luxo, peregrinos em busca de hospitalidade, desenraizados na esperança de uma vida melhor. A cidade assume-se, pois, como um polo de atração, em permanente crescimento, atingindo o seu auge no início do século XIV, antes que a mortífera Peste Negra dizimasse boa parte dos seus habitantes. Devemos ter presente que o conceito de cidade abrangia, então, aglomerados bem pequenos, às vezes de um milhar de habitantes.

Polos Econômicos Dinâmicos na Europa

Flandres

Cidades principais: Gand, Ypres, Bruges (local mais cosmopolita da Europa).

Flandres era conhecida pelos seus tecidos e atraía bastantes pessoas por força da sua posição geográfica.

Produtos comercializados na região:

  • Báltico e Rússia: Ceras e peles.
  • Italianos: Produtos mediterrâneos e especiarias orientais.
  • Espanha: Lãs, amêndoas, figos e uvas.
  • Portugal: Sal, azeite, vinho.
  • Inglaterra: Lã.

Hansa Teutónica

Associação de mercadores. Cidades principais: Lubeque, Hamburgo, Dantzig, Riga.

Quando, no século XI, as trocas se reativaram, o comércio à distância era uma aventura arriscada, em que se perdiam muitas vezes homens e mercadorias. Cedo se desenvolveram, por isso, associações mercantis destinadas a assegurar a proteção dos comerciantes de uma cidade ou região e a defender os seus interesses: as hansas ou guildas. De todas estas associações, a que uniu as cidades do Mar do Norte e do Mar Báltico, conhecida como Hansa Teutónica, foi, sem dúvida, a mais poderosa.

A Hansa Teutónica era, pois, uma vasta associação de cidades destinada a assegurar o monopólio do comércio do Mar Báltico e, quanto possível, do Mar do Norte. Hamburgo, Dantzig, Riga, Colónia e, em especial, Lubeque eram as principais cidades hanseáticas. Muito ativos, os comerciantes hanseáticos carregavam os cereais da Prússia e da Polónia, as peles, as gorduras, a cera e as madeiras da Rússia e da Noruega. De volta, enchiam os seus navios, grandes e pesados (os Kogge), com vinho e sal da França, lãs da Inglaterra, azeite do Mediterrâneo, tecidos da Flandres.

Cidades Italianas

Principais cidades: Génova, Veneza.

  • Génova: Fazia comércio com o Mediterrâneo Ocidental e Mar Negro (produtos da terra e de luxo).
  • Veneza: Fazia comércio com o Mediterrâneo Oriental (especiarias, produtos de luxo).

As Feiras da Champagne

Na época que estudamos, os mercadores eram sobretudo viajantes, «pés poeirentos» que calcorreavam as estradas europeias, ou homens capazes de afrontar os riscos do mar. Deslocavam-se incessantemente, comprando num lado, vendendo no outro, acorrendo aos locais onde o negócio era mais certo ou prometia maiores ganhos.

Em algumas regiões, favorecidas pelas condições geográficas e pelos privilégios dos senhores, desenvolveram-se feiras periódicas que, rapidamente, atingiram dimensão internacional. Para atrair os feirantes, reis e senhores ofereciam condições vantajosas de alojamento e armazenamento, bem como isenção ou redução dos impostos costumeiros. Garantiam, também, a segurança dos mercadores, quer na própria feira, quer na viagem de ida e volta, através de um conduto que os punha a salvo de agressões e processos judiciais (salvo-conduto).

Entre todas as feiras medievais destacam-se as que, na Champagne, se realizavam nas cidades de Lagny, Bar-sur-Aube, Provins e Troyes. Situadas em pleno eixo de ligação entre o Norte flamengo e o Sul italiano, as feiras champanhesas eram o ponto de encontro dos mercadores da Europa e de tudo o que eles tinham para oferecer.

Novas Práticas Comerciais e Financeiras

O desenvolvimento comercial dos últimos séculos da Idade Média estimulou a criação de novas técnicas de negócio. Grandes negócios implicam grandes investimentos, grandes riscos e abundantes meios de pagamento. É, pois, natural que os mercadores medievais tenham inventado práticas novas que lhes proporcionassem facilidade e segurança nas suas transações. Foi assim que surgiram:

  • As primeiras sociedades comerciais
  • Os primeiros seguros
  • Os primeiros pagamentos em papel, como o cheque e a letra de câmbio

Em apoio de todo este pioneirismo financeiro e comercial, desenvolveu-se a atividade dos cambistas ou banqueiros. Estes, sempre presentes nas feiras e nas principais praças comerciais, onde era constante a troca de moedas, depressa alargaram a sua atividade, aceitando depósitos e realizando transferências de dinheiro, bem como operações de crédito. Deste modo, esboçaram-se as primeiras atividades bancárias tal como as concebemos hoje.

Inicialmente encarados com maus olhos pela Igreja, que condenava o lucro e o comércio de dinheiro, mercadores e banqueiros viram, a partir do século XII, a sua posição social reconhecida e o seu ganho legitimado pelos benefícios que a vida económica deles retirava.

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