Evolução do Conceito de Estratégia: Da Arte da Guerra à Estratégia Total

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Estratégia

Vem do grego, «stratos» (exército) e «agein» (comandar). Da mesma origem podemos referir-nos a «strategos» (general). Significaria assim a ação de conduzir ou comandar exércitos, ação que competia aos generais.

Atividade orientada em ambiente hostil, e lançando mão de todos os meios e recursos (forças) para a aquisição de objetivos disputados entre Unidades Políticas.

A partir do fim do Século XVIII, a palavra estratégia começa a ser utilizada com frequência pelos escritores militares, ou pelos tratadistas que se referiam às artes bélicas. Era na altura usado o termo «Grande Tática».

Primeiras Definições de Estratégia

Arquiduque Carlos (1771-1847): "A Estratégia é a ciência da guerra; ela esboça os planos; abrange e determina a marcha das empresas militares; é, falando com propriedade, a ciência dos generais em chefe".

Marechal Marmont (1774-1852): "A Estratégia é a parte da arte da guerra que se aplica aos movimentos gerais dos exércitos"

Clausewitz (1780-1831): Distingue tática de estratégia, sendo que a primeira organiza e dirige a ação nos combates e a segunda liga os combates uns aos outros, para chegar aos fins da guerra. A estratégia é o emprego da batalha na guerra; a tática é o emprego das tropas no combate.

Ideias básicas comuns a todas estas definições, em 1º lugar trata-se da guerra como objeto da Estratégia, é a ciência da guerra. Em 2º lugar é uma atividade abrangente e diretora, que determina o conjunto da campanha. Em 3º lugar trata-se efetivamente da ciência dos generais em chefe, e como tal é do âmbito militar.

Mudança de Paradigma no Século XIX

Fim do século XIX e princípio do século XX verifica-se um desvio do significado até então geralmente admitido para um conceito de estratégia. Mantém como objetivo a guerra mas aparece como sinónimo de conceção espiritual (arte de conceber, espírito que pensa). O italiano Sechi (1905) disse: A estratégia é para o espírito que pensa, a logística e a tática são os braços que agem. Esta conceção do conceito de Estratégia não vingou, contudo a evolução do fenómeno social e político que é a guerra, influenciou a evolução do conceito de estratégia.

Expansão do Conceito de Estratégia

Almirante Mahan (1840-1914): "A Estratégia naval tem por finalidade criar, favorecer, acrescentar, tanto durante a paz como durante a guerra, o poder marítimo de um país". Embora fale de estratégia naval e em poder marítimo, pode aplicar-se a toda a estratégia e a todo o poder militar. Aqui é evidente desde logo a extensão do conceito no tempo, saltando para fora do âmbito exclusivo ao tempo de guerra. A estratégia passa a exercer-se também em tempo de paz. Isto porque a guerra exige poder e forças, isto é, meios e recursos imediatamente disponíveis, preparação que deve ser feita com antecedência.

A 2ª Extensão do conceito aparece nas definições do Capitão Liddel Hart: propõe o termo «Grande Estratégia». A "grande estratégia" é a "arte de coordenar e dirigir todos os recursos de uma nação ou de um grupo de nações, para a consecução do objetivo político visado com a guerra...." .

Estratégia Total: Abordagem Multifacetada

General Beaufre propõe o termo Estratégia Total. Trata-se de todas as formas de coação: políticas, económicas, psicológicas e também militares. «a arte de empregar a força ou a coação para atingir os fins fixados pela política. General Cabral Couto: "a Estratégia é a ciência e a arte de desenvolver e utilizar, com o máximo de rendimento as forças morais e materiais de um Estado ou coligação, a fim de atingirem objetivos fixados pela política...".

Estratégia na Era Nuclear

R. François Martins: Com as armas nucleares, surge a "necessidade de uma estratégia de dissuasão cuja verdadeira finalidade é evitar a guerra, tornou-se um fator central na dinâmica das relações internacionais. Daí a necessidade de uma Estratégia que inclua não só as preocupações do uso eficaz dos meios de coação, mas também a análise racional das situações, a avaliação dos riscos, a hierarquização dos objetivos, a prospectiva da paz que se pretende após a guerra...".

... surgiram outras formas de conflito, com acréscimo de importância para a estratégia indireta, bem como conflitos, guerras e crises em áreas não cobertas pela dissuasão nuclear".

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