A Evolução da Imprensa e sua Influência Social

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Na altura em que a imprensa se começou a desenvolver, a sociedade era denominada por sociedade de corpos, numa clara alusão ao corpo humano – a cabeça seria o rei; os braços, a nobreza; o tronco, o clero; e as pernas, o Terceiro Estado. A distribuição por classes é feita hereditariamente, logo não havia questionamento ou tentativa de mudança de ordem; os indivíduos simplesmente aceitavam esta realidade como a ordem natural das coisas.

Com a introdução da tecnologia de impressão mecânica, de Gutenberg, no séc. XV, as diferenciações entre estas classes acentuam-se. O rei guardava para si e para a sua corte a publicidade das notícias, que tinham como primeiro objetivo a exibição simbólica da realeza enquanto entidade visível, da qual a ordem pública dependia, excluindo a ideia de uma imprensa autónoma que evoluía segundo o modo de discussão ou de debate. Quer as publicações impressas, quer as escritas à mão, tinham também privilégios concedidos pelo rei.

As publicações impressas tinham três tipos de diferenciação distintos:

  • Diferenciação espacial – pois relatavam o longínquo;
  • Diferenciação temporal – pois eram irregulares;
  • Diferenciação social – pois traduziam a estrutura social, relatando (por exemplo) as andanças da ‘corte’.

Este registo altera-se com a introdução de publicações como Tatler e The Spectator, que começaram a descrever comportamentos e ações que reportam à sociabilidade primária, estimulando comportamentos sociais e valores. A imprensa, quase pela primeira vez, vai criticar comportamentos sociais, o que vai provocar uma diferenciação de ordens, não só pelo seu poder (como anteriormente), mas pelo seu comportamento.

O Tatler apresentava-se afirmando que as notícias que publicava eram baseadas em conversas de café, que eram transformadas posteriormente em notícias. Então, a premissa do jornal é tornar público aquilo que é privado, criando uma esfera pública que surge pelo alargamento natural do espaço público.

A imprensa britânica vai então resultar da emergência de uma esfera social autónoma, independente da hierarquia de corpos tradicionais, que se funda na troca de ideias e sentimentos entre indivíduos semelhantes. Esta ideia vai ao encontro do conceito de esfera pública, defendido por Habermas, que se baseia num espaço público de discussão racional e subjetiva entre indivíduos transparentes uns com os outros.

Anteriormente a estes jornais britânicos, surgiu em França o Mercure Galant, um jornal que recorreu à ficção para transmitir as notícias. Este conceito inovador baseava-se no desenvolvimento do jornal enquanto uma carta trocada entre uma mulher parisiense e uma outra mulher francesa da província. O jornal alargava a um público potencialmente vasto uma experiência intersubjetiva. A publicação encerra na sua própria estrutura a passagem de uma esfera privada para uma esfera pública.

Este tipo de publicações vai permitir à imprensa uma passagem de mediação externa – onde os modelos estavam distanciados do público que os contemplava – para uma mediação interna – onde há uma aproximação. A imprensa torna-se um instrumento fundamental, que funcionará como um laço social – qualquer indivíduo pode aspirar ser outro indivíduo e, eventualmente, sê-lo. A imprensa vai exprimir a opinião pública, que vai permitir a automatização da sociedade.

No final do séc. XVIII, surgem as cartas de Junius, que vão abrir caminho para a regulação da imprensa periódica. Edmundo Burke apresenta a ideia de que a imprensa surge como quarto poder. Os outros poderes controlam-se uns aos outros e a imprensa controla-os a todos. Este poder veio exprimir a autonomia da sociedade, denunciando os poderes que faltavam aos seus deveres e direitos.

Em meados do séc. XIX, dá-se o surgimento das imprensas industriais, graças a quatro fatores distintos:

  • Fatores tecnológicos – estes têm a ver com o surgimento da impressora movida a vapor, que vai permitir uma multiplicação de cópias, resultando num aumento das tiragens e despoletando a imprensa de massas.
  • Fatores económicos – estes estão também relacionados com os tecnológicos. Tomemos por exemplo o jornal La Presse, que se denotava um decréscimo de custos, graças ao número de assinantes; contudo, quando comparados os custos crescentes e os decrescentes, este era deficitário. A publicidade veio viabilizar este (e muitos outros jornais), equilibrando os custos.
  • Fatores de regulação – têm a ver com a organização da imprensa e medidas como a abolição do imposto sobre o selo impresso e do papel.
  • Fatores sociológicos – têm a ver com o fato de o público se tornar cada vez mais indiferenciado, existindo uma igualdade de oportunidades.

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