A Evolução da Mídia no Brasil: Do Impresso ao Digital

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O Declínio da Comunicação de Massa

Três jornais, dois jovens e um antigo, atingiram seu auge a partir dos anos 1980, o que foi algo inesperado, pois foi justamente nesta mesma época que os jornais, em geral, voltaram a ter problemas financeiros ligados a uma nova crise na leitura. Desta vez, a crise não foi motivada por indicadores sociais, mas sim relacionada a uma nova tecnologia que afetaria profundamente a forma e o que se lê.

Surgido em 1966, com projeto de Mino Carta, o Jornal da Tarde desde cedo contou com uma proposta de textos rápidos e atraentes, diferente do principal jornal do Grupo Mesquita, O Estado de S. Paulo. O pequeno jornal cresceu em qualidade até que, na década de 1980, se tornou o melhor jornal do Brasil, tanto em termos de design quanto em conteúdo. Foi o primeiro jornal que criou as figuras, hoje corriqueiras, do Editor de Fotografia, o primeiro foi Milton Ferraz, e do Editor de Economia, com Luis Nassif. Na época, profissionais como Fernando Moraes, Murilo Felisberto, Marçal Aquino e Willian Waack produziram edições históricas e, a exemplo da revista Realidade, seguiram a linha do New Journalism americano e produziram uma grande quantidade de capas históricas para um jornal.

Havia uma competição interna entre editores e jornalistas para criar capas e, principalmente, títulos impactantes. Numa época em que não havia computadores e os caracteres eram contados em tipografia, fazer isto de forma criativa era uma luta diária em todos os jornais.

A exemplo disto, na ocasião da morte do pintor espanhol cubista, o jornal publicou o título: “Morre Picasso. Se é que Picasso morre.” Outras não foram tão felizes. Na ocasião do naufrágio do Bateau Mouche, em 31 de dezembro de 1988, na Baía de Guanabara, notícia que não era nova, pois O Globo já havia noticiado na capa da edição de ano novo, o JT saiu com o título de extremo mau gosto: “Flores a Iemanjá: em mãos.”

Mas uma batalha interna iniciou a decadência do jornal. Augusto Nunes assumiu o Estadão com a missão de rejuvenescê-lo. O periódico não circulava às segundas-feiras, não possuía páginas em cor e tinha um público leitor perigosamente envelhecido. O JT, que não circulava aos domingos, passou a ser a bandeira de parte da família Mesquita que não aceitava as mudanças no jornal irmão. A queda de braço determinou o início do fim do JT. Hoje, ele é um jornal que só existe para manter algumas estruturas internas do Grupo Mesquita. A redação é mínima, as matérias são, em geral, produzidas pela Agência Estado e, em termos de tiragem, sua participação no mercado é pífia, já que foi derrotado pelo Diário de S. Paulo em seu segmento, jornal que até há pouco tempo pertencia às Organizações Globo.

A Folha de S. Paulo, nos anos 1980, decidiu que já havia chegado a sua hora de tomar a dianteira das vendas em São Paulo e, posteriormente, do Brasil. A elaboração do Projeto Folha foi dada a um intelectual, pesquisador de comunicação, Carlos Eduardo Lins da Silva, autor de Muito Além do Jardim Botânico e O Adiantado da Hora. O projeto consistia em remodelar o jornal a partir do modelo bem-sucedido norte-americano do USA Today, um jornal que havia, com sucesso, combatido o modelo televisivo utilizando uma nova abordagem no uso de imagens e um texto curto e leve, beirando a insipidez.

Além disso, a Folha iniciou suas impressões em cores e foi o primeiro a adotar computadores em sua redação, infografias, e também, mais de uma década mais tarde, foi o primeiro a utilizar câmeras digitais na cobertura da Copa de 1994.

A primeira remodelação foi executada por Cláudio Abramo, antes da época em que Boris Casoy dirigiria a redação, nos anos 80. Mas foi quando Otávio Frias Filho, o herdeiro do jornal, assumiu a direção que os jovens tomaram a Folha. Ele trouxe com ele os colegas da USP: Caio Túlio Costa e Matinas Suzuki. O sucesso foi obtido, mas não quer dizer que tenha sido sem traumas. Uma das novas propostas era atrair estudantes para fazer matérias voltadas para os próprios jovens. Numa destas ocasiões, três estudantes do Colégio Bandeirantes morreram ao serem atropelados por um trem quando tentavam fazer uma matéria sobre surfe ferroviário.

O pequeno grupo de bons jornalistas que a Folha mantinha em suas redações, como Jânio de Freitas, Clóvis Rossi, Paulo Francis e Gilberto Dimenstein, fizeram história ao se tornarem, em certo momento, os únicos a fazer oposição aberta à presidência de Fernando Collor. Este ordenou a invasão da redação pela Polícia Federal, o que culminou na publicação em 25 de abril de 1991 da Carta Aberta ao Presidente da República por parte do editor, que foi o marco inicial da queda de Collor, pouco mais de um ano depois.

Para aproveitar este momento de brilhantismo, a Folha multiplicou suas vendas associando-as a brindes e coleções em fascículos, como fitas de vídeo, aparelhos eletrônicos diversos, etc., aumentando suas páginas e diminuindo a consistência de suas matérias. Ainda hoje a Folha é o jornal mais vendido do país.

O Correio Brasiliense, último grande jornal sobrevivente dos Diários Associados, tornou-se grande apenas no Centro-Norte do Brasil. Fundado em decorrência da inauguração da nova capital, e como uma homenagem que Chateaubriand prestou a Hippólyto José da Costa, criador do primeiro periódico independente com este nome, e que também defendia a criação de uma capital no centro da nação.

Nos anos de 1990, ele passou por uma reformulação editorial gráfica que o tornou o melhor jornal produzido no Brasil. Sob a tutela de Ricardo Noblat e Francisco Amaral, o jornal galgou um novo patamar na imprensa brasileira, vencendo um Prêmio Esso apenas pelo seu projeto gráfico-editorial, e inúmeros prêmios internacionais subsequentes.

A Entrada Tardia da Editora Globo no Mercado

Muitos anos depois de outros conglomerados, as Organizações Globo, ao adquirirem a Editora Globo do RS (que nada tinha a ver com Roberto Marinho), a fundiram com a Rio Gráfica Editora. A produção foi transferida para São Paulo, rebatizando-a como Editora Globo. Na tentativa de aproveitar os profissionais especializados formados pela Editora Abril, o novo empreendimento teve muitos títulos lançados que desapareceram rapidamente, como a Revista do CD, por exemplo. No entanto, ela se firmou no mercado de revistas femininas, quando fez de Marie Claire um grande e rápido sucesso. Outras conseguiram destaque relativo no ramo das masculinas, como Globo Rural, revista pioneira no segmento, e a atual Monet (antiga NET/Multicanal), a revista de maior tiragem do Brasil, com mais de três milhões de exemplares, que atende os assinantes da TV a cabo Net, da Globo.

O objetivo primário de Marinho ao montar a editora em São Paulo foi fazer uma revista semanal de peso para concorrer com a Veja, que dominava quase que absolutamente o mercado.

O modelo da revista Época foi comprado dos alemães para ser uma versão brasileira da revista Focus. Sob o comando de Luiz Roberto de Nassar, seu início não foi dos melhores; foi necessário algum tempo para que ela conseguisse seu lugar no mercado, lugar este que, curiosamente, se ligava às camadas mais populares do público leitor, o oposto do planejado.

Apesar de chegar tarde, a Editora Globo conseguiu se manter. Outras editoras, como a Três, que era um braço da Abril para publicações de menor vulto, passou títulos para frente e encerrou suas atividades por certo tempo. A Editora Peixes, que surgiu e comprou alguns títulos da última, também encarou grande crise, assim como outras revistas semanais, como IstoÉ. Com a CartaCapital aconteceu o oposto: a última publicação criada por Mino Carta, de posicionamento esquerdista, prosperou assim como a Época.

Da Comunicação Bidirecional à Bolha da Internet

Desde 1945, quando Vannevar Bush teorizou sobre o Memex (Memory Extender), tanto a tecnologia quanto a arte e a linguística voltaram seus esforços para desenvolver um novo equipamento e uma nova escrita não hierárquica, ambos bidirecionais: o computador e o hipertexto. Ambos percorreram caminhos diferentes até se juntarem em uma interface comunicacional gráfica com um bom grau de interatividade. Ou seja, não unidirecional como os meios de comunicação de massa, cujo ápice foi a televisão, em que o espectador recebe apenas de forma passiva a informação. Era a World Wide Web, que surgiu em 1991, criada na Suíça por Tim Berners-Lee.

Os primeiros a construírem conteúdo crítico foram os linguistas, já que a WWW se deu como extensão dos estudos de Roland Barthes (a hipertextualidade da lexia), reafirmada por Eric Landow no livro Hypertext 2.0, lançado antes da criação de Lee.

Inicialmente, a interatividade e a possibilidade que todos tinham de criar seu próprio meio de comunicação através de um site foi recebida como a verdadeira democracia cultural. Fato este que se mostrou ilusório com o passar dos anos.

Em termos de jornalismo, o primeiro jornal a ter conteúdos online foi o The Wall Street Journal. Já no Brasil, coube ao Jornal do Brasil estrear como meio, uma vez que a Agência Estado, que já havia disponibilizado conteúdo antes do JB, não era um meio de comunicação.

Com relação à forma, as notícias veiculadas passaram a ser mais fluidas; os leitores, individualmente, agora interagiam de forma dinâmica, e não mais pelas cartas à redação, estas que eram selecionadas e editadas.

O imenso volume de informação na rede levou os impressos a uma nova crise, desta vez pela abundância de fontes, quase todas não especializadas ou mesmo minimamente confiáveis, mas isso gerou o que ficou conhecido como a bolha da internet.

Inicialmente, os donos dos meios de comunicação, tentando aplicar a mesma lógica que havia imperado no século XX, disponibilizaram seus conteúdos de qualidade de forma gratuita. Isso com a simples convicção de que os internautas passariam a pagar por algo que eles já recebiam de graça. Os portais se multiplicavam, empresas virtuais surgiam e em pouco tempo tinham um enorme capital, muitas pessoas foram contratadas... Até que a bolha estourou e varreu boa parte destes empreendimentos.

A nova mídia fez surgir o Jornalismo Online. Entretanto, como o meio ainda não se estabilizou, não há uma forma amplamente aceita de como se escrever para a internet. Os dois estilos mais comuns são: o webwriting e o segundo-a-segundo. O primeiro, oriundo do formato inicial de conteúdo para criação de sites, com linguagem direta, verbos ativos e com, no máximo, 20 linhas por texto, que era o limite do texto em uma tela interativa sem a necessidade de barra de rolagem. O segundo foi planejado especificamente após as primeiras pesquisas de leitura na internet. Trata-se de um texto super lacônico, em que há um título explicativo, um lead bem maior que os formatos impressos, e praticamente sem informações adicionais, que foram transformadas em links variados. O formato favorece o volume constante de informação da internet e o pouco conteúdo demandado pelos seus leitores.

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