Evolucionismo e Particularismo na Antropologia: Tylor, Boas e a Diversidade Cultural
Classificado em Psicologia e Sociologia
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A Sociedade Europeia como Centro de Poder e o Evolucionismo
A sociedade europeia era associada às áreas de conhecimento ligadas ao âmbito das chamadas ciências naturais, especificamente a biologia.
Ocorre a passagem do estranhamento e perplexidade para a necessidade objetiva de compreensão dos chamados povos exóticos, cujo objetivo era de inclusão e transformação desses povos em consumidores efetivos dos novos mercados. A problemática da cultura surge marcada por uma necessidade histórica imposta pela colonização, sustentada por novas demandas políticas e econômicas. A sociedade teria se originado de outras formas de vida, num processo de permanente evolução que a levou a tal estágio de complexidade.
Hierarquização da Diferença e Estágios Evolutivos
A hierarquização da diferença postula que a humanidade tem graus e estágios diferentes, mas possui uma unidade psíquica (Tylor), ou seja, os seres humanos nascem com o mesmo potencial e capacidade para se desenvolverem.
- Três estágios evolutivos: Selvageria (povos indígenas), Barbárie (povos africanos) e Civilização (sociedade europeia).
O estado a ser alcançado por todas as sociedades humanas seria o da sociedade europeia. Cultura ou civilização é esse todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes... (Tylor). Todo complexo sugere a concepção de que a mesma é uma colcha de retalhos, deriva de uma série de itens isolados que, quando juntos, lhe confere um sentido de unidade e homogeneidade. Sugere também que existe uma espécie de lei ou princípio geral que governa as condutas humanas. Os evolucionistas dispensam o contato direto com os demais povos – são chamados antropólogos de gabinete. Todos os povos eram variações de uma mesma espécie viva.
Essa perspectiva globalizadora da cultura e uma visão totalizadora da história apresenta uma concepção teleológica da história (com um fim). Para eles, a raça humana deriva de um único tipo primitivo. É uma perspectiva analítica que hierarquiza e classifica a diferença.
Escola Cultural Americana e o Particularismo Histórico
Críticas ao Evolucionismo e o Método Comparativo de Franz Boas
- Século XIX
- Franz Boas: Críticas ao Evolucionismo – às especulações de gabinete.
Boas defende a necessidade de reconstrução da história de forma particularizada para depois realizar a análise comparativa da vida social destes diferentes povos.
Ele funda o Método Comparativo em Antropologia.
Boas argumenta que as culturas são fenômenos particulares e únicos; as culturas humanas são resultados específicos de histórias particulares. Cada povo, cada grupo respondeu de maneira diferenciada e particular aos problemas e dilemas a que foram compelidos a enfrentar.
A ênfase é na pluralidade das culturas humanas, o que leva a ressaltar processos de mudança, difusão, troca e empréstimo cultural, como aspectos capazes de interferir e influenciar o desenvolvimento de cada formação cultural específica. As culturas são constituídas por traços ou um complexo de traços resultantes de condições ambientais, fatores psicológicos, linguísticos e conexões históricas, que as levaram a assumir formas extremamente diferenciadas e particulares.
Boas sugere uma comparação contextualizada.
Superação do Etnocentrismo: Relativismo Cultural de Boas
Boas permitiu a superação do caráter etnocêntrico e adotou uma prática relativizadora.
Etnocentrismo
Etnocentrismo: Dicotomia que opõe o mundo do eu ao mundo do outro. O foco comparativo é nossa própria cultura, portanto, o mundo do outro é percebido como inferior, injusto, anormal, errado. O mundo do eu é o centro das referências de valores, modelos e formas de organização social para qualificar qualquer outro grupo, ignorando a especificidade dele. É presente em todas as sociedades humanas.
Relativismo Cultural
Relativizar: Significa uma prática cuja finalidade é não hierarquizar a diferença, é compreender o mundo do outro, é desnaturalizar nossas práticas. É um diálogo com a alteridade. As culturas são diversas e plurais e devem ser entendidas a partir de seus próprios contextos.
O caráter polissêmico e dinâmico do termo cultura deriva da imensa variedade de formas de expressão adotadas pelos grupos humanos em diferentes épocas, tempos ou lugares para externalizar seus valores, sua concepção de mundo, suas maneiras de organizar e perceber a realidade e a vida social.
Questões e Análises sobre Cultura e Diversidade
1. Contribuição de Tylor para Superar Teorias Deterministas
Ao definir a cultura como um “todo complexo” que inclui “conhecimento, crenças, moral, lei, costumes, ou quaisquer capacidades e hábitos adquiridos pelo homem enquanto membro da sociedade”, Tylor rompe com as teorias deterministas na medida em que a coloca como um produto da própria ação humana, como decorrente de um longo processo de aprendizagem a que o ser humano foi submetido no decurso de sua socialização em um determinado grupo ou sociedade. Desta forma, o comportamento humano deixa de ser explicado como determinado e condicionado seja por fatores internos a ele impostos pela própria natureza genética – determinismo biológico – seja por fatores externos derivados da sua relação com o meio ambiente – o chamado determinismo geográfico.
2. Caráter Etnocêntrico do Pensamento Evolucionista
Na abordagem da diversidade cultural, os teóricos evolucionistas tomavam como foco da comparação a sociedade do observador, ou seja, a sociedade de onde vinha o próprio antropólogo. Esta sociedade – a sociedade europeia – constituía o modelo, o espelho através do qual todas as demais eram percebidas e comparadas. Enquadradas em um eixo evolutivo único, a sociedade europeia era considerada como a mais evoluída e representante por excelência do estágio máximo de civilização, e todas as outras eram percebidas como representando as etapas inferiores de um único e mesmo processo evolutivo liderado pela primeira, rumo ao progresso e ao desenvolvimento. Esta hierarquização das sociedades humanas em um eixo evolutivo único, tendo como modelo a sociedade europeia, impedia o reconhecimento pleno da diversidade, derivando, daí, o caráter etnocêntrico deste tipo de abordagem.
3. Tarefas Básicas da Antropologia Segundo Franz Boas
Ao criticar as ideias evolucionistas, Franz Boas redefine o papel da Antropologia enquanto campo de saber, atribuindo a ela a realização de duas tarefas básicas e correlatas. Em primeiro lugar, preocupado com a importância de se reconhecer o caráter intensamente diverso das culturas humanas, Boas advoga uma posição na qual caberia à Antropologia a realização de estudos que viabilizassem a reconstrução da história dos diferentes povos ou regiões do mundo de uma forma particularizada. Cumprida esta exigência, a Antropologia deveria realizar a análise comparativa da vida social destes diferentes povos, cujo desenvolvimento, segundo ele, pode ser analisado sob leis e princípios gerais.