A Experiência e o Saber da Experiência: Uma Exploração Filosófica
Classificado em Psicologia e Sociologia
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**Notas sobre a Experiência e o Saber da Experiência** (2002, 11 páginas) do Doutor em Pedagogia pela Universidade de Barcelona, Espanha, onde atualmente é professor titular em Filosofia da Educação, Jorge Larrosa Bondía. Publicou diversos artigos em periódicos brasileiros.
No texto, o autor começa destacando a importância das palavras, não apenas como carregadoras de sentido, mas como transformadoras, já que as palavras têm um grande poder sobre nós. Nessa lógica, seu objetivo passa a ser, então, o de explorar uma possibilidade de educação pela experiência, pelo sentido.
Descrever a palavra experiência em espanhol seria “o que nos passa”, em português se diria que a experiência é “o que nos acontece”. Nesse primeiro ponto, o autor parte de Benjamin (BENJAMIN, Walter, (1991), Para uma Crítica da Violência e Outros Ensaios, que já havia notado a pobreza das experiências no mundo moderno.
**Primeira questão** que o autor aborda é o excesso de informações - sendo máquinas de obter informações, nos fechamos para a experiência.
**Segunda questão** é a opinião dada pelo sujeito moderno, sendo ele o que sempre opina, assim acaba se fechando para a experiência (outra vez o autor cita Benjamin, mostrando que o jornalismo é um grande dispositivo moderno, com foco na informação e na opinião).
**Terceiro ponto**, é a falta de tempo, com muitas informações e excitação nos faz vivenciar o tempo mais depressa, tudo é efêmero, com isso a memória é afetada, não guardamos mais nada, já que as informações devem ser sempre recebidas e limpadas para que tenhamos espaço para novas informações. Assim, a experiência, também, é anulada.
**Quarto ponto** é o excesso de trabalho, na lógica capitalista, consumista, cada vez mais nos vemos obrigados a trabalhar em troca de capital para obter objetos, nessa lógica, o tempo dedicado ao trabalho destrói a possibilidade do tempo necessário para a experiência. O sujeito moderno, então, por essas características abordadas, um sujeito de ação (Goethe: Fausto) que se crê poderoso para atuar no mundo, com isso, nos tornamos hiperativos, sempre buscando aquilo que não somos, ou não temos, não nos permitindo, assim, a experiência, já que a experiência demanda uma interrupção - parar para pensar, para olhar, escutar, sentir, calar, ser paciente, “dar-se tempo e espaço” (p. 24)
Em qualquer caso, seja como território de passagem, seja como lugar de chegada ou como espaço do acontecer, o sujeito da experiência se define não por sua atividade, mas por sua passividade, por sua receptividade, por sua disponibilidade, por sua abertura. Se a experiência é o que nos acontece, e se o sujeito da experiência é um território de passagem, então a experiência é uma paixão.
Nessa lógica não moderna, essa relação entre conhecimento e vida se dão no âmbito singular, na conhecimento que o indivíduo adquire ao passar da vida, de acordo com suas experiências, de acordo com suas necessidades, sendo assim, esse conhecimento não é neutro, objetivo, mas sim apaixonado, subjetivo, carregado das necessidade singulares e individuais.
O autor, então, estabelece uma **primeira nota** sobre o saber da experiência: seu caráter existencial (dependente da existência individual); Ciência experimental, dentro dessa lógica, nada tem de experiência, já que os experimentos são sempre métodos para se obterem resultados previstos e objetivos, devem ser sempre repetíveis com seus resultados sempre sendo os mesmos. A experiência passa a ser, então, mathema: “acumulação progressiva de verdades objetivas que, no entanto, permanecerão externas ao homem.” (p. 28), sendo assim, surge um importante paradoxo da modernidade: “Uma enorme inflação de conhecimentos objetivos, uma enorme abundância de artefatos técnicos e uma enorme pobreza dessas formas de conhecimento que atuavam na vida humana, nela inserindo-se e transformando-a.” (p. 28).
O autor faz sua **segunda nota** sobre o saber da experiência: sua diferença em relação ao experimento - a primeira singular, o último genérico; a primeira produz pluralidade, heterogeneidade, o segundo, consenso (Ver Rancière), homogeneidade (era da repetição - Attali): “Se o experimento é genérico, a experiência é singular. Se a lógica do experimento produz acordo, consenso ou homogeneidade entre os sujeitos, a lógica da experiência produz diferença, heterogeneidade e pluralidade. Por isso, no compartilhar a experiência, trata-se mais de uma heterologia do que de uma homologia, ou melhor, trata-se mais de uma dialogia que funciona heterologicamente do que uma dialogia que funciona homologicamente. Se o experimento é repetível, a experiência é irrepetível, sempre há algo como a primeira vez. Se o experimento é preditível e previsível, a experiência tem sempre uma dimensão de incerteza que não pode ser reduzida. Além disso, posto que não se pode antecipar o resultado, a experiência não é o caminho até um objetivo previsto, até uma meta que se conhece de antemão, mas é uma abertura para o desconhecido, para o que não se pode antecipar nem “pré-ver” nem “pré-dizer”.” (p. 28)
"As palavras determinam nosso pensamento porque não pensamos com pensamentos, mas com palavras, não pensamos a partir de uma suposta genialidade ou inteligência, mas a partir de nossas palavras. E pensar não é somente “raciocinar” ou “calcular” ou “argumentar”, como nos tem sido ensinado algumas vezes, mas é sobretudo dar sentido ao que somos e ao que nos acontece." (p. 21)
**Informação x Experiência:** "Nunca se passaram tantas coisas, mas a experiência é cada vez mais rara. Em primeiro lugar pelo excesso de informação. A informação não é experiência. E mais, a informação não deixa lugar para a experiência, ela é quase o contrário da experiência, quase uma antiexperiência. Por isso a ênfase contemporânea na informação, em estar informados, e toda a retórica destinada a constituir-nos como sujeitos informantes e informados; a informação não faz outra coisa que cancelar nossas possibilidades de experiência. O sujeito da informação sabe muitas coisas, passa seu tempo buscando informação, o que mais o preocupa é não ter bastante informação; cada vez sabe mais, cada vez está melhor informado, porém, com essa obsessão pela informação e pelo saber (mas saber não no sentido de “sabedoria”, mas no sentido de “estar informado”), o que consegue é que nada lhe aconteça." (pp. 21-22)
**Velocidade x Memória:** "Ao sujeito do estímulo, da vivência pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece. Por isso, a velocidade e o que ela provoca, a falta de silêncio e de memória, são também inimigas mortais da experiência." (p. 23)