Explorando o Conhecimento: Perspetivas Filosóficas e Distinções

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O Empirismo de David Hume

O empirismo considera como fonte de todas as nossas representações os dados fornecidos pelos sentidos. Assim, todo o conhecimento é «a posteriori», isto é, provém da experiência e a ela se reduz. Segundo os empiristas, inclusivamente as noções matemáticas seriam cópias mentais estilizadas das figuras e objectos que se apresentam à percepção. Hume é um filósofo cuja teoria assenta num conceito-chave: o hábito.

É através deste conceito que Hume se assume como um empirista, no sentido de que a perceção repetida e habitual de uma determinada impressão ou facto nos leva a elaborar ideias sobre os fenómenos naturais, através de generalizações indutivas.

O Racionalismo Crítico de Immanuel Kant

A teoria kantiana do conhecimento consiste numa ultrapassagem ou superação tanto do empirismo quanto do racionalismo. Para Kant, o empirismo — que o filósofo alemão critica referindo-se essencialmente a David Hume — conduz ao ceticismo, à descrença na possibilidade do conhecimento científico ou objectivo. Pensar que o conhecimento se baseia exclusivamente — deriva — no que é dado pela experiência ou intuição sensível e não contém nada mais é ter uma conceção errada do conhecimento.

Embora baseado num modelo de conhecimento distinto do empirista, o racionalismo tradicional revela-se, também segundo Kant, insuficiente para fundamentar (mostrar como é possível) o conhecimento científico. A confiança excessiva do racionalismo tradicional nas capacidades da razão, a crença de que ela por si só, isto é, enquanto pura, pode conhecer, desprezando assim o contributo da sensibilidade, é criticada por Kant.


O Racionalismo de René Descartes

Os racionalistas consideram que só é verdadeiro conhecimento aquele que for logicamente necessário e universalmente válido, isto é, o conhecimento matemático é o próprio modelo do conhecimento. Assim sendo, o racionalismo tem de admitir que há determinados tipos de conhecimento, em especial as noções matemáticas, que têm origem na razão. Isso não quer dizer que neguem a existência do conhecimento empírico. O conhecimento, assim entendido, supõe a existência de ideias ou essências anteriores e independentes de toda a experiência.

Dentro do método cartesiano, destaca-se a dúvida, algo bastante importante porque é através dela que é possível negar tudo aquilo que levanta alguma suspeita de incerteza, exceto as verdades que estão ligadas à fé e ao sobrenatural, que não estão sujeitas a esta. Esta dúvida é metódica, temporária, exagerada, universal e radical.

Descartes aplicou a dúvida em tudo o que causava incerteza, como por exemplo nas informações dos sentidos, nas opiniões, nas crenças, nas realidades físicas, nos conhecimentos matemáticos e em Deus. A dúvida irá conduzir a uma verdade incontestável.

Esta é um ato de pensamento e não pode acontecer sem a existência de um autor. Se há dúvida, há pensamento. A célebre frase “Penso, logo existo” (Cogito ergo sum) surge neste pressuposto.

Apesar de a razão conseguir produzir conhecimentos verdadeiros, não está excluída a hipótese do Deus enganador. Descartes considerou fundamental demonstrar a existência de um Deus que traga segurança e garantia das verdades.

Descartes tentou combater o dogmatismo do realismo ingénuo. Todavia, a sua filosofia, por depositar confiança na razão e por considerar ser possível alcançar a certeza e a verdade, opõe-se ao ceticismo de David Hume.


Características do Senso Comum

O conhecimento vulgar é o primeiro nível do conhecimento e constitui-se a partir da apreensão sensorial espontânea e imediata do real. Corresponde, assim, à nossa forma imediata de apreender o real que não resulta de nenhuma procura sistemática e metódica, nem de qualquer estudo prévio.

O senso comum é, assim, indisciplinar e imetódico, na medida em que não decorre de nenhum plano prévio – apenas surge espontaneamente no suceder quotidiano da vida. Por isso, o senso comum é prático, na medida em que é com base nele que orientamos a nossa vida quotidiana.

Todavia, este conhecimento, sendo comum a todos os homens, é imprescindível para a resolução dos seus problemas do quotidiano, permitindo-lhes orientarem-se no mundo.

Podemos, a esta altura, resumir as principais características do conhecimento vulgar:

  • Espontâneo e imediato
  • Sensitivo
  • Superficial
  • Subjectivo
  • Assistemático e desorganizado
  • Imetódico e indisciplinar
  • Dogmático e acrítico.

Distinção entre Conhecimento Científico e Senso Comum

O conhecimento científico representa um nível de conhecimento mais aprofundado do real do que o conhecimento vulgar. Distingue-se, portanto, na medida em que:

  • Transforma as qualidades em quantidades (através dos instrumentos de medida).
  • Unifica racionalmente a diversidade empírica.
  • Estabelece relações entre os fenómenos observados.

A crítica ou a rutura que o conhecimento científico estabelece com o conhecimento vulgar resulta de uma atitude diferente face ao real. Daí que, apesar de alguns termos serem comuns ao universo do senso comum e do conhecimento científico, o seu significado seja radicalmente distinto.

Foi, portanto, de uma atitude problematizadora, crítica e planeada que nasceu aquilo que designamos por ciência.

Características do Conhecimento Científico

A ciência tem, assim, evoluído ao longo dos tempos. Dessa evolução podemos reter algumas das suas principais características e alguns dos princípios a que obedece:

  • Procura ser objectiva, isto é, ter em atenção o facto, excluindo as apreciações subjectivas.
  • Resulta de um método específico apoiado na verificação e no controlo experimental.
  • Resulta da formação de hipóteses que procuram ordenar a diversidade empírica.
  • Constituído por um conjunto de teorias, que são hipóteses já estabelecidas e comprovadas.
  • É legislador, pois procura leis que exprimam a invariância e a repetibilidade dos factos, ou, em caso de maior complexidade, exprime os factos em termos estatísticos ou probabilísticos.
  • É preditivo, na medida em que prevê a ocorrência de novos fenómenos.
  • É reversível, pois encontra-se sujeito a correcções;
  • É provisório até surgir outra teoria mais eficaz e mais próxima da verdade.

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