Farmacocinética: Absorção e Distribuição de Fármacos

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O que é Absorção de Fármacos?

A absorção de fármacos é o processo de transporte da substância ativa desde o local de administração até a corrente circulatória. Para isso, o fármaco deve atravessar as membranas biológicas, que atuam como barreiras semipermeáveis.

Como os Fármacos Atravessam as Barreiras Biológicas?

Os fármacos atravessam as barreiras biológicas principalmente por:

  • Transporte mediado por carregadores: Localizados na membrana, são saturáveis e específicos.
  • Transporte ativo: Requer energia e pode mover substâncias contra um gradiente de concentração.
  • Transporte passivo: Não requer energia e ocorre a favor de um gradiente.
  • Difusão facilitada: Um tipo de transporte passivo que utiliza proteínas transportadoras.
  • Pinocitose: Processo de endocitose em que a célula engloba fluidos e pequenas partículas.
  • Filtração: Passagem através de poros ou canais aquosos.

Importância da Lipossolubilidade do Fármaco no Transporte

A lipossolubilidade do fármaco é crucial para o transporte passivo lipídico. A velocidade desse transporte é diretamente proporcional à lipossolubilidade, que é determinada pelo coeficiente de partição óleo/água (quantidade de fármaco que se dissolve em óleo versus a quantidade que se dissolve em água).

  • Moléculas ionizadas: Apresentam menor lipossolubilidade.
  • Moléculas não ionizadas: Apresentam maior lipossolubilidade, facilitando a passagem por membranas lipídicas.

Absorção de Fármacos Básicos: O Papel do pH

Considerando que o pH do suco gástrico é 2 e o pH do intestino delgado é 6, a estricnina (substância de caráter básico, com pKa 8) será melhor absorvida no intestino delgado.

Isso ocorre porque fármacos de caráter básico são mais bem absorvidos em ambientes com pH mais elevado (básico), onde se encontram predominantemente na forma não ionizada (lipossolúvel). No intestino delgado (pH 6), a estricnina estará mais não ionizada do que no estômago (pH 2), facilitando sua passagem pelas membranas biológicas. A equação de Henderson-Hasselbalch confirma que, para uma base fraca, quanto maior o pH do meio em relação ao seu pKa, maior a fração não ionizada.

Impacto da Formulação Farmacêutica na Absorção

A formulação farmacêutica pode alterar significativamente a velocidade e a extensão da absorção de um fármaco. Isso se deve a diversos fatores:

  • Propriedades físico-químicas do fármaco: Incluem a solubilidade, o coeficiente de partição óleo/água, o pKa, o tamanho da molécula e a concentração.
  • Processos de dissolução e desintegração: A forma farmacêutica (ex: comprimido, cápsula, solução) determina a velocidade com que o fármaco se dissolve e se desintegra no organismo, influenciando o local e a taxa de absorção.

Influência da Área de Superfície na Absorção de Fármacos

Sim, a área de superfície de absorção afeta diretamente a absorção do fármaco. O intestino delgado, por exemplo, é o principal local de absorção para muitos fármacos devido à sua extensa superfície, que é ampliada por dobras, vilosidades e microvilosidades. Uma maior área de superfície permite um contato mais eficiente entre o fármaco e as membranas absortivas, resultando em uma absorção mais rápida e completa.

Biodisponibilidade e Bioequivalência: Definições

Biodisponibilidade: Refere-se à fração do fármaco administrado que atinge a circulação sistêmica na forma quimicamente inalterada e à velocidade com que isso ocorre. É um parâmetro crucial para determinar a eficácia e a segurança de um medicamento.

Bioequivalência: É um conceito utilizado para comparar a biodisponibilidade de dois produtos farmacêuticos (geralmente um medicamento genérico e seu medicamento de referência). Dois produtos são considerados bioequivalentes se apresentarem biodisponibilidades comparáveis sob as mesmas condições experimentais, garantindo que terão o mesmo efeito terapêutico.

O que é Distribuição de Fármacos?

A distribuição de fármacos é o processo pelo qual o fármaco, após ser absorvido e atingir a circulação sistêmica, se move do plasma para o líquido intersticial e, subsequentemente, para os tecidos e órgãos onde exercerá sua ação farmacológica ou será armazenado.

Fatores que Interferem na Distribuição de Fármacos

Diversos fatores podem influenciar a distribuição de fármacos no organismo:

  • Ligação a proteínas plasmáticas: Apenas a fração livre (não ligada) do fármaco é farmacologicamente ativa e capaz de se distribuir para os tecidos.
  • Barreiras biológicas: Como a barreira hematoencefálica e a barreira placentária, que restringem a passagem de certos fármacos para tecidos específicos.
  • Variação de pH entre as fases intra e extracelular: Afeta a ionização do fármaco e, consequentemente, sua capacidade de atravessar membranas.
  • Deposição seletiva em tecidos: Alguns fármacos podem se acumular em tecidos específicos (ex: tecido adiposo, ossos), funcionando como reservatórios.
  • Redistribuição: O movimento do fármaco de um tecido altamente vascularizado para outros tecidos menos vascularizados, o que pode levar ao término do efeito em seu local de ação inicial.

Redistribuição de Fármacos: Conceito e Exemplo

A redistribuição de fármacos é um processo dinâmico em que um fármaco, após ser rapidamente distribuído para tecidos altamente vascularizados (como cérebro, coração, rins), se move subsequentemente para tecidos menos vascularizados (como músculo e tecido adiposo). Este fenômeno é particularmente importante para o término do efeito de fármacos altamente lipossolúveis.

Exemplo: Quando um fármaco altamente lipossolúvel, como um anestésico intravenoso (ex: tiopental), é administrado rapidamente, ele se distribui inicialmente para o cérebro, onde exerce seu efeito. No entanto, devido à sua alta lipossolubilidade, ele rapidamente se redistribui para outros tecidos, como o músculo e o tecido adiposo, resultando em um rápido término do efeito no sistema nervoso central, mesmo que o fármaco ainda esteja presente no corpo.

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