Farmacocinética e Farmacodinâmica: Guia Completo
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Farmacocinética e Farmacodinâmica: Um Guia Completo
Farmacocinética
A farmacocinética estuda o movimento dos fármacos pelo organismo após sua administração, abrangendo os processos de:
- Absorção: Transferência do fármaco do local de aplicação até a corrente circulatória. A rapidez e a intensidade da absorção podem variar. Exemplo: vasoconstritores em anestésicos.
- Distribuição: Processo pelo qual os fármacos se espalham pelos diferentes tecidos do organismo, onde exercem suas funções farmacológicas. A taxa de perfusão sanguínea varia entre os tecidos (alta no cérebro, coração e rins; baixa no tecido adiposo e pele).
- Biotransformação (Metabolismo): Conjunto de reações enzimáticas que transformam o fármaco em um composto diferente, facilitando sua excreção.
- Excreção: Eliminação do fármaco (ou de seus metabólitos) do organismo, principalmente pelos rins e fezes.
Objetivo da farmacocinética: Selecionar e adequar o fármaco, a dose, a via de administração e o intervalo entre as doses para atingir e manter concentrações terapêuticas adequadas no local de ação.
Biodisponibilidade: Porcentagem da dose de um medicamento que atinge a corrente circulatória. Ordem decrescente de biodisponibilidade: solução > emulsão > suspensão > cápsula > comprimido > drágea.
Farmacodinâmica
A farmacodinâmica estuda os mecanismos de ação dos fármacos e seus efeitos no organismo.
- Ação e efeito: Refere-se ao local onde o fármaco age e ao resultado dessa ação.
- Superdosagem:
- Absoluta: Administração de uma dose anormalmente alta do fármaco.
- Relativa: Administração de uma dose adequada, mas com velocidade excessiva em um vaso sanguíneo.
- Interferências nas ações e efeitos entre vários fármacos:
- Farmacocinéticas: Ocorrem durante a absorção, distribuição, biotransformação ou excreção.
- Farmacodinâmicas: Ocorrem nos locais de ação dos fármacos.
Formas Farmacêuticas
- Líquidas:
- Soluções (fármacos dissolvidos em água)
- Colutórios (bochechos e gargarejos)
- Xaropes (atenção para cárie/diabetes)
- Elixires e tinturas (contêm álcool)
- Emulsões (substâncias não miscíveis; agitar antes de usar)
- Suspensões (partículas sólidas insolúveis)
- Vernizes (podem causar hipersensibilidade)
- Colírios, errinos (nasais), otológicos (ouvido), duchas, aerossóis (nebulizadores).
- Sólidas:
- Pós e granulados (fácil ingestão, rápida dissolução)
- Comprimidos (precisão de dosagem, fácil administração, podem ser fracionados)
- Drágeas (fáceis de engolir, mascaram sabor e odor, protegem o princípio ativo)
- Cápsulas (administração de fármacos de sabor desagradável, revestimento gastrorresistente, rápida liberação do princípio ativo)
- Supositórios, óvulos
- Semissólidas: Pomadas, géis, pastilhas.
- Especiais: Transdérmicas (adesivos), dispositivos de liberação lenta.
Cronofarmacologia
Estudo da relação entre os horários de administração dos medicamentos e os ciclos biológicos (relógio biológico). Importante em doenças como: depressão, asma, doenças cardiovasculares, diabetes tipo I e II, gastrite, úlcera, osteoporose, artrite e artrose.
Relação Dose-Efeito
A intensidade do efeito é diretamente proporcional à concentração do fármaco no local de ação, por um tempo determinado. Existe um efeito máximo (efeito platô), acima do qual podem ocorrer efeitos adversos.
Fatores dependentes do medicamento:
- Efeitos colaterais: Ocorrem simultaneamente ao efeito principal. Exemplo: morfina (analgesia e sonolência/depressão respiratória).
- Teratogenicidade: Efeito colateral grave que causa má-formação fetal. Exemplo: talidomida.
- Efeitos secundários: Não ocorrem simultaneamente ao efeito principal. Exemplo: morfina (efeito antitussígeno); penicilina no tratamento da sífilis (liberação rápida de toxinas).
Aplicações da Farmacocinética
Esquema para administração de fármacos:
- Latência: Tempo entre a administração e o início do efeito.
- Pico de efeito: Tempo para atingir a concentração máxima.
- Duração do efeito: Tempo em que o fármaco produz efeito, influenciado pela velocidade dos processos de eliminação.
Dose de ataque: Não é mais utilizada rotineiramente, pois visava diminuir a latência, mas podia causar intoxicação.
Farmacodinâmica: Ação e Efeito dos Fármacos
- Ação
- Específicas: Combatem diretamente a causa da doença (ex: antibióticos).
- Inespecíficas: Aliviam os sintomas (ex: analgésicos).
- Efeito: Decorrem da ação, mas são influenciados por fatores como dieta, exercícios, horários de administração, associações medicamentosas, condições farmacocinéticas do paciente e idade.
Interações Medicamentosas
Podem ocorrer:
- Indiferentismo farmacológico: Fármacos agem independentemente. Exemplo: prótese valvar cardíaca + anticoagulante + AAS.
- Interação farmacológica: Uma droga interfere no efeito da outra. Exemplo: atenolol + anestesia local.
- Sinergismo: Efeito aumentado do fármaco. Exemplo: analgésico opioide + benzodiazepínico.
- Antagonismo/antidotismo: Diminuição ou cessação do efeito. Exemplo: tetraciclina + antiácidos.
Pacientes propensos a interações: Idosos, pacientes com insuficiência renal, hepática, cardíaca, respiratória, hipertireoidismo, epilepsia, asma, diabetes mellitus, e aqueles que usam múltiplos medicamentos ou álcool.
Injeção Intramuscular (IM)
Indicações:
- Tecido muscular profundo e vascularizado: absorção mais rápida.
- Administração de maiores volumes (até 5 ml).
- Quadros de reação anafilática (emergências).
- Pacientes não cooperativos.
- Impossibilidade de uso da via oral.
- Fármacos alterados pelo suco gástrico.
- Injeções menos dolorosas.
Contraindicações:
- Alterações na coagulação.
- Doença vascular periférica oclusiva.
- Edema e choque.
- Locais inflamados, edemaciados, irritados, com manchas, cicatrizes ou lesões.
Local da injeção: Glúteo, deltoide, vasto lateral da coxa.
Modo de aplicação:
- Desinfetar e secar a área.
- Segurar a pele no local.
- Posicionar a agulha em 90°.
- Inserir a agulha rapidamente.
- Injetar lentamente o fármaco.
- Remover a agulha.
- Massagear a área.
- Proteger a área.
Injeção Intravenosa (IV)
Indicações (em odontologia):
- Diretamente na ATM.
- Alívio da dor.
- Preservação da função.
- Prevenção de contraturas.
- Retardo da atrofia muscular.
Medicamentos usados: Corticoides, anestésicos, lubrificantes.
Contraindicações: Infecção articular, fratura/instabilidade articular, infecção fúngica sistêmica.
Vias de Administração de Drogas
- Enterais (trato digestivo): Sublingual, bucal, oral, retal.
- Parenterais:
- Diretas (injeções): Intravenosa, intramuscular, subcutânea, intradérmica.
- Indiretas (intracanal - endodôntica).
- Outras: Tópica, transdérmica, inalatória, intranasal, intratecal.
Via Oral: Mais comum. Absorção rápida (principalmente no intestino delgado), influenciada por fatores como motilidade gastrointestinal, tamanho das partículas, formulação, interação com o conteúdo intestinal e pH. Contraindicada em pacientes com náuseas e vômitos.
Via Sublingual: Para medicamentos instáveis em pH gástrico. Absorção direta para a circulação sistêmica. Boa vascularização (ex: vasodilatadores cardíacos).
Via Bucal: Para efeitos locais (saliva, soluções ou colutórios para bochechos - ex: clorexidina).
Via Retal: Efeitos locais e sistêmicos. Útil em crises eméticas e hepáticas (ex: antieméticos).
Via Intravascular: Intravenosa, intra-arterial (contínua ou intermitente). Sem contato com o TGI, sem metabolismo de primeira passagem. Efeito imediato. Risco de introdução de bactérias, hemólise e trombose.
Via Intramuscular: Efeito mais rápido que a via oral. Direto na ATM. Velocidade de absorção depende do local e do fluxo sanguíneo. Analgésicos, anti-inflamatórios e, em menor escala, antibióticos.
Via Inalatória: Anestésicos gasosos e voláteis, medicamentos para doenças pulmonares.
Via Intranasal: Sprays nasais (substâncias instáveis no TGI, antissépticos, vasoconstritores, anestésicos locais).
Via Intratecal: Medicamento no LCR (anestesias regionais, quimioterápicos).
Via Tópica: Efeito local (pele ou globo ocular). Em odontologia: pomadas anestésicas.
Via Transdérmica: Fármacos lipossolúveis. Efeitos sistêmicos (ex: terapia de reposição hormonal).
Via Intradérmica: Medicamento em contato com a derme. Testes diagnósticos de alergia e algumas vacinas.
Via Submucosa e Subperióstica: Mais empregada em odontologia (infiltração de soluções anestésicas locais).
Via Endodôntica: Exclusiva em odontologia. Aplicação nos canais radiculares e região perirradicular.
Técnica de Administração de Medicação Endovenosa (EV)
- Lavar as mãos.
- Desinfetar com álcool a 70%.
- Reunir o material e levar para a unidade do paciente.
- Explicar o procedimento ao paciente e solicitar sua colaboração.
- Calçar as luvas de procedimento.
- Preparar o dispositivo:
- Abocath (cateter): Conectar a seringa e preencher o circuito do polifix (conector) com água destilada.
- Scalp: Deixar o sangue refluir para preencher o circuito.
- Escolher o local de inserção, priorizando membros superiores e locais distais. Evitar articulações.
- Garrotear o membro (15-20 cm acima do local de inserção).
- Apalpar a veia. Se necessário, pedir ao paciente para colocar o braço pendente e abrir/fechar a mão.
- Realizar a antissepsia (PVPI alcoólico ou álcool a 70%), de cima para baixo.
- Aguardar a ação do antisséptico.
- Fixar a veia com o polegar.
- Posicionar o bisel da agulha para cima:
- Scalp: Unir as abas.
- Abocath: Introduzir diretamente.
- Introduzir a agulha em ângulo de 45°, diminuindo o ângulo gradualmente até ficar paralelo à pele. Observar o retorno venoso:
- Scalp: Após o retorno, realizar a coleta ou aplicar a medicação.
- Abocath: Após o retorno, retirar o mandril e conectar o polifix. Soltar o garrote após a coleta (para evitar coagulação).
- Segurar o Scalp ou Abocath.
- Soltar o garrote e pedir ao paciente para abrir a mão.
- Fixar o Scalp com esparadrapo ou micropore, deixando livre a conexão.
- Anotar no esparadrapo: data, número do dispositivo e nome do profissional.
- Posicionar o paciente confortavelmente.
- Deixar a unidade em ordem.
- Registrar o procedimento no prontuário.
Importante:
- Observar reações do paciente (cianose, sudorese, alergia). Suspender a medicação e preservar a punção venosa, se necessário.
- Verificar se a medicação está sendo infundida na veia (e não no subcutâneo).
- Conferir o nome e a dose da medicação pelo menos 3 vezes.
Técnica de Injeção Intramuscular (IM)
- Lavar as mãos.
- Desinfetar com álcool a 70%.
- Reunir o material e levar para a unidade do paciente.
- Explicar o procedimento ao paciente.
- Calçar as luvas de procedimento.
- Fazer a antissepsia do local (preferencialmente no glúteo, quadrante superior lateral).
- Segurar o local da aplicação com uma mão e introduzir a agulha com o bisel voltado para o lado com a outra.
- Aspirar o êmbolo da seringa. Se retornar sangue, retirar a agulha e refazer o procedimento com uma nova agulha.
- Aplicar a medicação.
- Retirar a agulha, colocar um algodão e colar um curativo.
- Deixar a unidade em ordem.
- Registrar o procedimento no prontuário.
Importante:
- Avisar o paciente antes de aplicar para evitar contração muscular.
- Usar agulha de tamanho adequado (30x7).
- Evitar o braço (maior risco de abscesso).
- Respeitar o volume máximo de 5 ml (incluindo diluente, se necessário).
- Na medicação subcutânea (SC), usar agulha 13x4,5 e volume máximo de 1 ml.