Farmacologia Gastrointestinal: Secreção, Motilidade e Tratamentos
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1. Secreção de HCl e Fármacos Relacionados
a) Estímulos Fisiológicos da Secreção de HCl
- Acetilcolina (Ach): via receptor M3, por uma via dependente de Ca2+, aumenta a atividade da bomba H+/K+ ATPase.
- Gastrina: via receptor CCK2, por uma via dependente de Ca2+, aumenta a atividade da bomba H+/K+ ATPase.
- Histamina: via receptor H2, por uma via dependente de AMPc, aumenta a atividade da bomba H+/K+ ATPase.
Observação:
- Prostaglandina (PGE2): por ação no receptor EP3, diminui a atividade da bomba H+/K+ ATPase, por inibir a via do AMPc.
b) Fármacos que Controlam a Secreção de HCl
- Omeprazol (...prazol): são convertidos em sulfonamidas, que interagem no grupamento sulfidrila da bomba H+/K+ ATPase.
- Cimetidina (...tidina): antagonistas competitivos dos receptores H2 de histamina, agindo na secreção basal de HCl.
- Misoprostol (análogo de PG): ação nos receptores EP3, diminuindo a atividade da bomba H+/K+ ATPase.
2. Metoclopramida: Efeitos, Mecanismo e Efeitos Adversos
A metoclopramida age como antiemético por antagonizar receptores 5-HT3 no centro do vômito. Age também como procinético, aumentando o tônus e amplitude das contrações gástricas (especialmente antral), relaxando o esfíncter pilórico e a primeira parte do duodeno, resultando no esvaziamento gástrico e no trânsito intestinal acelerados, e aumenta o tônus de repouso do esfíncter esofágico inferior.
Os sintomas extrapiramidais ocorrem devido à inibição do Estriado (antagonismo do receptor D2), que é responsável pela inibição do sistema extrapiramidal. Consequentemente, há uma liberação desse sistema.
3. Difenoxilato: Ação, Indicação e Associação com Atropina
Atua nos receptores μ da musculatura lisa intestinal, aumentando o tônus do esfíncter retal e reduzindo as secreções. É indicado em diarreias agudas não infecciosas, inespecíficas, para utilização em prazos curtos.
É utilizado em conjunto com a atropina porque, por ser um derivado opioide, pode causar dependência. A associação com atropina serve para desestimular o abuso por reforço negativo.
4. Laxantes: Tipos e Mecanismos de Ação
- Formadores de massa (naturais): fibras se ligam à água na luz colônica, aumentando o volume fecal e a consistência do bolo fecal. Dessa forma, distende o cólon, aumentando o peristaltismo e ativando o reflexo da defecação. Ex: grãos e cereais, frutas e vegetais, celuloses, psyllium (semente).
- Laxante osmótico: atua aumentando a pressão osmótica intestinal, retendo água no cólon. Ex: salinos (sais de magnésio: sal de Epsom) e carboidratos não absorvíveis (Manitol, Sorbitol, Lactulose).
- Laxante estimulante: estimula a motilidade intestinal, aumenta a síntese de prostaglandinas. Ex: Difenilmetano (Bisacodil = Lactopurga), Antraquinonas (Tamaril, Tamarine, Naturetti), ácido ricinoleico.
- Laxante emoliente ou lubrificante: amolece e lubrifica as fezes, além de estimular a contração retal. Ex: Glicerina.
- Laxante surfactante ou umectante: alteram a permeabilidade intestinal e permitem a mistura de água e lipídios (surfactantes aniônicos). Ex: Docusato sódico.
5. Fármacos que Reduzem a Motilidade Intestinal
Loperamida e Difenoxina: são agonistas de receptores µ, aumentando o tônus do esfíncter retal e reduzindo as secreções.
1. Tratamento de Úlceras por Helicobacter pylori
Muitas das úlceras pépticas diagnosticadas estão associadas à infecção por Helicobacter pylori. Abaixo, dois esquemas terapêuticos e o mecanismo de ação dos fármacos:
- Esquemas Terapêuticos:
- IBP (1 ou 2x/dia) + Furazolidona 200mg (2x/dia) + Claritromicina 500mg (2x/dia) por 7 dias.
- IBP + Amoxicilina 1g + Claritromicina 500mg 2x/dia por 7 dias.
- Mecanismos de Ação:
- IBP: inibição irreversível da bomba de prótons.
- Furazolidona: interfere com o sistema enzimático da bactéria.
- Amoxicilina: inibe o crescimento bacteriano ao interferir numa etapa específica da síntese da parede bacteriana.
- Claritromicina: inibe a síntese de proteínas ao ligar-se ao RNA ribossomal 50S da bactéria. Pode ser bactericida ou bacteriostático.
2. Administração e Efeito dos Inibidores da Bomba de Prótons (IBPs)
a) Momento Ideal de Administração dos IBPs
A conduta ideal para a administração dos IBPs é em torno de 30 min a 1 h antes das refeições porque esse é o intervalo de tempo que os IBPs levam para chegar ao local de ação, o que coincide com a exposição máxima dos receptores (bombas de H+/K+ ATPase) nas células parietais.
b) Duração do Efeito Terapêutico dos IBPs
Embora a meia-vida dos IBPs seja em torno de 1,5 h, o efeito terapêutico pode ser observado de 24 a 48 h após a interrupção do tratamento. Isso ocorre porque a inativação dos receptores pelos IBPs é irreversível, e esse é o tempo que leva para que a célula parietal produza novos receptores.
3. Fármacos para Cinetose: Mecanismo de Ação
Para o tratamento da cinetose, um fármaco eficaz é a Prometazina ou o Dimenidrinato. Ambos são antagonistas H1 (primeira geração), ou seja, atuam por competição em relação aos outros mediadores químicos.
4. Loperamida: Mecanismo, Indicação e Segurança
A Loperamida atua nos receptores µ, aumentando o tônus muscular do esfíncter e reduzindo as secreções. É indicada como um antidiarreico (também conhecida nos casos de “diarreia do viajante”). É considerada mais segura que o difenoxilato porque penetra pouco no SNC em comparação, enquanto o difenoxilato causa efeitos adversos no SNC (e deve ser associado à atropina para reduzir a dependência).
1. Bromoprida e Domperidona: Diferenças e Ação
Ambos são procinéticos, antagonistas D2 e causam hiperprolactinemia.
- Bromoprida (Digesan): atravessa a BHE (Barreira Hematoencefálica).
- Domperidona (Motilium): não atravessa a BHE.
2. Fármaco Procinético e Antiemético: Metoclopramida
A Metoclopramida é um fármaco tanto procinético quanto antiemético. Seu mecanismo de ação envolve o antagonismo dos receptores D2 e 5-HT3, e o agonismo dos receptores 5-HT4.
3. Fármacos que Causam Hipergastrinemia
Os IBPs (como o omeprazol) e os antagonistas H2 (como ranitidina e cimetidina) causam hipergastrinemia. Isso ocorre porque esses fármacos, ao aumentarem indiretamente o pH gástrico, impedem a ativação das células D, que produzem somatostatina (responsável pela inibição da produção de gastrina nas células G). Consequentemente, a ausência dessa inibição resulta em hipergastrinemia.
4. Laxantes: Uso Clínico e Efeitos Adversos
a) Laxante de Uso Clínico: Sal de Epsom
O Sal de Epsom é um laxante osmótico que atua aumentando a pressão osmótica intestinal, retendo água no cólon. É usado em procedimentos cirúrgicos e radiológicos.
b) Cólon Catártico: Causa e Mecanismo
A classe de Laxantes Estimulantes pode causar cólon catártico. Ao aumentarem a motilidade do TGI, eles estimulam também os plexos mioentéricos, podendo lesioná-los e, assim, causar o efeito adverso de cólon catártico.