Farsa de Inês Pereira: Análise de Personagens e Temas
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A Chegada dos Judeus à Casa de Inês
Motivo da Visita dos Judeus
Inês tinha-lhes pedido que, nas suas andanças, procurassem encontrar-lhe o marido dos seus sonhos. Os judeus vêm trazer-lhe notícias sobre as suas buscas.
Função dos Judeus na Peça e Paralelo com Lianor Vaz
Tanto os judeus como Lianor Vaz são alcoviteiros: a troco de dinheiro, são intermediários nas relações amorosas. Os papéis que aqui desempenham são idênticos: propor um marido para Inês.
Características da Personalidade dos Judeus
A Hipérbole nas Dificuldades da Busca
Os judeus aparentam ser desonestos, astutos e falsos, pois pretendem convencer Inês e a mãe da dificuldade da busca. Para isso, exageram, fazendo crer que foi longínquo o caminho percorrido (v. 426); que sofreram as agruras das variações meteorológicas (vv. 429-431), e que a busca foi minuciosa (vv. 458-459). Por outro lado, demonstram sagacidade, uma vez que, exagerando as qualidades do pretendente, tentam influenciar Inês para que ela o aceite (vv. 497-505).
Linguagem dos Judeus e Sua Condição Social
Com certeza que sim, uma vez que os judeus eram pessoas de pouca instrução, desprezados pela sociedade que os considerava marginais. É natural, por isso, que não conheçam fórmulas de cortesia e utilizem no seu discurso expressões grosseiras, com toda a naturalidade: “Foi a cousa de maneira, /tal friura e tal canseira, / que trago as tripas maçadas, / assim me fadem boas fadas / que me saltou caganeira.”
A Comicidade na Intervenção dos Judeus
Tipos de Cômico Presentes e Justificação
Encontramos nesta sequência cômico de situação quando as personagens falam em simultâneo, se repetem e se interrompem: “caio eu agora ou não?” Existe também cômico de linguagem quando os judeus usam calão (“tripas (…) que me saltou a caganeira”), fórmulas derivadas da liturgia hebraica, lamentações e incongruências. Também encontramos cômico de caráter, em particular nos traços físicos e psicológicos que as definem e que determinam o seu comportamento. Com efeito, eles revelam-se exagerados, trapalhões, fanfarrões, interesseiros. É evidente que eles estão a exagerar no relato dos esforços que fizeram para satisfazer o pedido de Inês. Antes de anunciarem o êxito das suas buscas, interrompem-se constantemente, repetem-se, perdem com frequência o fio condutor do discurso. Uma completa trapalhada que leva Inês a perder a paciência.
A Atitude da Mãe de Inês
Conclusões sobre o Comportamento da Mãe
Em virtude do comportamento dos judeus, a mãe não aprova o resultado (vv. 477-478). Aconselha, ainda, a filha a comportar-se durante a visita do escudeiro (vv. 524-532).
A Introdução do Escudeiro pelos Judeus
A Imagem do Escudeiro sobre Inês (Antes de a Conhecer)
O escudeiro, homem da corte, imagina Inês como “uma moça de vila”, repelente ou pouco asseada (“tinhosa”), e não está seguro da castidade da protagonista.
Comparação: Atitude do Escudeiro e Inês face a Pero Marques
A atitude depreciativa e desdenhosa do escudeiro revela contornos muito semelhantes à que Inês teve por Pero Marques. O desprezo e a arrogância sentidos por cada um deles têm fundamentos análogos.
Motivações do Escudeiro para Desposar Inês
O escudeiro, que não é homem de posses, pretende casar com Inês por interesse económico: “Deixa-me casar a mi/ depois eu te farei bem.” Também parece querer desposá-la porque, sendo ela provinciana, deve ser ingénua e ser-lhe-á mais fácil dominá-la (vv. 515-523).
Caracterização do Escudeiro: Monólogos e Diálogos com o Moço
O escudeiro é uma personagem com distinção social e com alguma instrução: sabe ler, escrever e é galanteador. No entanto, é pobre, interesseiro e ríspido com o criado.
O Papel do Moço na Caracterização do Amo
O moço serve para denunciar os aspetos criticáveis do seu amo: sobretudo a pelintrice e a fanfarronice. Fá-lo de forma sarcástica e irónica.
O Retrato do Escudeiro: Monólogo e Diálogo com o Moço
Ceticismo e Cautela Antes de Conhecer Inês
Antes de conhecer Inês, o escudeiro apresenta-se cético, pois duvida das qualidades de Inês, mas mostra-se cauteloso com a forma de agir no encontro.
O Caráter Dissimulado do Escudeiro
Durante o diálogo, revela o seu caráter dissimulado quando adverte o moço para não o corrigir, nem mostrar admiração se o vir mentir ou fazer-se passar por aquilo que não é.
O Discurso Sedutor do Escudeiro e o Galanteio da Corte
Por Que o Discurso do Escudeiro é Artificial?
O discurso é artificial porque é retórico e aposta na expressividade das palavras. Além disso, o escudeiro elogia Inês e expressa a vontade de se casar com ela quando, no monólogo de entrada, tinha revelado desprezo por ela.
Definições: Retórico e Retórica
Retórico: Aquele que fala muito, falador, que faz uso da linguagem para se comunicar de forma eficaz.
Retórica: Palavra com origem no termo grego rhetorike, que significa a arte de falar bem, de se comunicar de forma clara e conseguir transmitir ideias com convicção.
A retórica é uma área relacionada com a oratória e a dialética, e remete para um grupo de normas que fazem com que um orador comunique com eloquência. Tem como objetivo expressar ideias de forma mais eficaz e bonita, sendo também responsável pelo aumento da capacidade de persuasão.
Figuras de Estilo no Discurso do Escudeiro
Identificação e Expressividade
- Metáfora: “fresca rosa” (quando o escudeiro trata Inês)
- Antítese: “Senhora eu me contento (…) se vós vos não contentais”
- Enumeração: Entre os versos 587 e 591. Comentário: Brás da Mata elenca as suas qualidades para se valorizar e impressionar Inês, o que revela também o seu narcisismo.
A Imagem de Inês Pereira sobre o Escudeiro
Inês fica inicialmente deslumbrada com o escudeiro, que vem de uma camada social privilegiada, é bem falante, galanteador (“discreto”) e toca viola.
Contraste: Comportamento da Mãe e dos Judeus
Enquanto os judeus procuram lucrar com o casamento de Inês, a mãe está preocupada com a decisão da sua filha e aconselha-a a ser prudente e racional na escolha do marido.