Felicidade e Ética Teleológica: Uma Análise de Mill
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Felicidade e Ética Teleológica em Mill
A ética teleológica busca avaliar a felicidade, identificando-a com o prazer, tanto quantitativa quanto qualitativamente. Mill propõe um caráter universalista, onde a felicidade individual contribui para a felicidade universal. A virtude, nesse contexto, está intrinsecamente ligada à felicidade.
A questão central é o princípio da utilidade, ou da maior felicidade, defendido por Mill. Ele argumenta que o utilitarismo, formulado por Bentham, defende a felicidade como critério moral e a felicidade do maior número como critério político. Mill define felicidade como "prazer e ausência de dor", estabelecendo uma hierarquia de prazeres, pois a felicidade humana transcende os níveis inferiores de existência.
A Doutrina dos Porcos e a Dignidade Humana
Mill introduz o conceito de "sentimento de dignidade", relacionado às faculdades superiores, ilustrando que "é melhor ser um ser humano insatisfeito do que um porco satisfeito, melhor ser um Sócrates insatisfeito do que um tolo satisfeito". A felicidade, portanto, não se resume à satisfação ou ao prazer imediato. A concepção de felicidade está intrinsecamente ligada à concepção do ser humano.
Felicidade como Fim Suficiente e Necessário
Mill redefine a felicidade não apenas como um fim da humanidade, mas como o desenvolvimento do ser humano em si. Uma "vida feliz" envolve educação, cultura, condições intelectuais e sociais, buscando equilíbrio, tranquilidade e emoção. O sacrifício, nesse contexto, faz sentido apenas se contribuir para a felicidade da maioria, onde "a multiplicação da felicidade é o objetivo da virtude".
As consequências da ação virtuosa qualificam a ação, introduzindo a relação entre indivíduo e coletividade, interesses individuais e coletivos. O utilitarismo, portanto, não se resume ao hedonismo. A educação capacita os indivíduos a buscarem estilos de vida que promovam a felicidade coletiva. É crucial compatibilizar interesses individuais e coletivos.
A felicidade, juntamente com o medo, serve como critério para distinguir ações corretas e incorretas, abordando a liberdade e a educação. A questão da sanção final do princípio da utilidade levanta o problema da justificação da felicidade para o maior número.
A concepção de felicidade proposta exige um senso de sociabilidade, onde o indivíduo deseja a harmonia entre seus sentimentos e os de seus pares. O princípio utilitarista, a felicidade para o maior número, é o teste para julgar todos os comportamentos humanos, considerando a natureza humana e a ordem social.
A Busca Individual da Felicidade e o Dever
Para Mill, o desejo de algo está ligado ao prazer. Mesmo que os desejos variem, a ação é motivada pelo que é agradável, seja por hábito ou por escolha consciente. A força motriz está associada ao prazer, e um comportamento virtuoso surge da associação entre dever e prazer, evitando dores desnecessárias. Este é o teste final do princípio da utilidade.
Mill conecta a busca individual da felicidade com a felicidade da sociedade, baseando-se na interdependência humana e na sociedade de iguais. A tendência de considerar os interesses dos outros como seus próprios é fundamental. Mill afirma que "num estado de progresso do espírito humano, há uma constante de unidade com tudo o mais", buscando o benefício coletivo.
O princípio da utilidade se torna um sentido do progresso humano, levantando questões sobre a relação entre felicidade, justiça e direitos. A promoção da felicidade humana como fim moral parece contradizer o exercício da virtude. No entanto, Mill argumenta que o princípio da utilidade implica igualdade de direitos e a ideia de justiça.
A Crítica a Kant e a Universalidade da Justiça
Mill critica a concepção kantiana de que o homem deve ser digno de felicidade, argumentando que Kant implicitamente aceita o princípio da utilidade ao defender que as ações devem ser adotadas como um direito para todos os seres racionais. O desafio faz sentido ao considerar o benefício da norma para os interesses coletivos.
A felicidade não se opõe à justiça, mas a aplicação da justiça deve ser subordinada à desejabilidade social. A história do progresso social envolve a superação de injustiças, como a distinção entre escravos e homens livres. A defesa do princípio da utilidade mostra como a felicidade está ligada à educação, progresso, desejo, justiça e habilidades sociais.
Em última análise, Mill busca definir o que os seres humanos deveriam ser, centrando-se na realização do ser humano como um fim em si mesmo.