Felicidade, Virtude e o Triunfo do Cristianismo
Classificado em Filosofia e Ética
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Felicidade e Virtude na Ética de Aristóteles
Para Aristóteles, sua ética é baseada na felicidade, o fim último de todo ser humano. Sua ética se fundamenta em uma concepção teleológica. Ao analisar a espécie humana sob uma perspectiva analítica, e não meramente mecanicista, Aristóteles percebe que a felicidade não é uma distinção arbitrária que cada um determina por si mesmo. Tal abordagem levaria a teoria moral a ignorar a questão central. É necessária uma abordagem teórica, pois a questão só pode ser respondida através da análise da natureza humana. Portanto, a felicidade consiste no exercício da atividade própria de cada ser. Nessa teoria, vemos uma clara continuação da concepção teleológica da natureza.
Dito isto, notamos que para o homem, a atividade mais adequada e natural é a racional. Portanto, a atividade contemplativa constitui a mais elevada forma de felicidade para o homem, embora seja factualmente impossível para a grande maioria. Assim, os seres humanos precisam se contentar com uma felicidade limitada (a bem-aventurança é reservada apenas a Deus). Mas para alcançar esta forma humana de felicidade, exige-se a posse de certos bens tangíveis (saúde, etc.) e de meios, e também, especialmente, a posse de virtudes morais.
As Virtudes Intelectuais (Dianoéticas)
As virtudes intelectuais (dianoéticas) são excelentes, pois tornam nosso conhecimento excelente. Entre essas virtudes, Aristóteles atribui enorme importância à sabedoria da vida prática (que Platão considerava a virtude da própria razão, a parte superior da alma), a qual determina o que é certo e apropriado no exercício prático, para se acostumar com a razão e proceder a um estudo matemático.
As Virtudes Morais
As virtudes morais aperfeiçoam o caráter, o modo de ser e de se comportar, tornando nosso caráter excelente. Estas virtudes são disposições estáveis de excelência moral (hábito de escolha), que nos orientam em cada caso sobre o que é correto e adequado (aqui vemos uma posição clara de Aristóteles sobre o relativismo). Este é sempre um compromisso entre ações ou atitudes extremas, que devem ser racionalmente estabelecidas. A prudência e a sabedoria prática são as que determinam o meio-termo. As diversas virtudes são um compromisso razoável entre duas posições extremas; por isso, a moderação é a média entre a permissividade excessiva e a repressão, ou a incapacidade de lidar com o prazer.
O Triunfo do Cristianismo e a Formação Ocidental
No período de 1.500 anos entre o colapso do mundo antigo, por um lado, e a formulação da nova filosofia e ciência no século XVII, por outro, assistimos à formação da cultura e da sociedade ocidental. Na Europa, o ponto de partida para essa formação é a consolidação da religião e das igrejas cristãs, juntamente com o desaparecimento do Império Romano.
Desde suas origens modestas como uma seita judaica, o cristianismo se espalhou, através do trabalho de Paulo, como uma religião universal aberta a todas as nações, já no primeiro século da nossa era. A mensagem cristã, que oferecia a todos os homens a salvação pela fé em Jesus como o Cristo ressuscitado, foi gradualmente ganhando popularidade em todas as regiões e estratos sociais. Enquanto isso, no Império, as seitas gnósticas proliferavam com seus diversos sistemas doutrinários, reivindicando um conhecimento espiritual (gnose) exclusivo para uma minoria, em detrimento da multidão. A Gnose ameaçou fraturar a unidade e distorcer a mensagem cristã.
A incorporação, no século III, de intelectuais pagãos ao cristianismo, como Clemente de Alexandria e Orígenes, trouxe a inclusão de componentes importantes da filosofia platônica na religião cristã. Assim, começou um processo de construção ou interpretação filosófica do dogma cristão, em meio a vários segmentos e "desvios" condenados como "heréticos". Este processo culminou nos séculos IV-V com a formulação de dois princípios fundamentais:
- O dogma trinitário, segundo o qual Deus é uma única substância em três pessoas diferentes.
- O dogma cristológico, segundo o qual, em Cristo, Deus perfeito e homem perfeito, unem-se as duas naturezas, humana e divina, em uma única substância e pessoa.
O Edito de Milão, emitido por Constantino em 313, pôs fim à perseguição do século anterior, que se havia revelado ineficaz, e concedeu à religião cristã os mesmos direitos que todas as outras para adorar a Deus livremente, "em paz e ordem política". Posteriormente, a Igreja Cristã e a religião receberam cuidados especiais e proteção da instituição imperial. Sob o apoio político, a nova religião pôde começar a construir uma forte base social e riqueza. Neste novo contexto, os cristãos, a partir de sua firme convicção de que a verdadeira religião era a única contra a superstição e o erro do paganismo, desenvolveram uma atitude de intolerância, reivindicando a proibição e a perseguição da religião pagã, enquanto suas escolas proibiam o ensino de autores e filósofos pagãos.