Filosofia da Ação Humana: Liberdade, Valores e Escolha

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Ação Humana: Conceitos Fundamentais

Definição de Ação

Ação: Acontecimentos únicos que ocorrem num espaço e num certo período de tempo.

Nem todos os atos são ações humanas (ex: terramoto, trovoada).

Ações são acontecimentos que requerem um agente (a pessoa que pratica a ação), e a sua ação dependerá da sua consciência, crenças e desejos.

Nem todos os acontecimentos que envolvem agentes são ações. Exemplo: João caiu acidentalmente. A queda foi algo que lhe aconteceu, mas que ele não fez.

Ações são acontecimentos que consistem em algo que um agente fez, podendo ter sido incentivado por uma crença ou desejo do agente.

Ação: Vários Significados

Ato Humano: Atos conscientes, voluntários, intencionais.

Homem vs. Animal: Racionalidade e Instinto

O Homem é diferente do Animal:

  • O Homem é racional, programa a sua vida, sabe o que quer, o que deseja e o que deve fazer.
  • O Animal é irracional, com condutas baseadas em reflexos condicionados e comportamentos instintivos habituais.

O Que Fazemos vs. O Que Nos Acontece

O que fazemos é diferente daquilo que nos acontece:

  • O que fazemos: É o sujeito que pratica a ação, somos nós que tomamos a iniciativa, os atores (ex: roubar, dar um passeio).
  • O que nos acontece: Somos recetores, o sujeito sofre a ação (ex: ser roubado, furar-se um pneu).

Tipos de Ações Humanas

Tudo aquilo que realizamos pode ser:

Atos Voluntários (Atos Humanos)

Realizados com intenção de os levar a cabo (ex: dançar, cozinhar). A estes chamamos Atos Humanos: atos voluntários, com plena consciência, assumidos pelo agente, livres, ponderados, pensados e responsáveis. São estes atos que humanizam o ser humano e o definem como indivíduo e como pessoa social.

Atos Involuntários (Atos do Homem)

Não pressupõem qualquer intenção (coisas que realizamos independentemente da nossa vontade) (ex: tossir, ressonar, espirrar). A estes chamamos Atos do Homem: atos involuntários, instintivos e reflexivos, praticados sem intenção ativa de vontade, comportamentos automáticos e espontâneos, praticados como reação ao meio ambiente.

Condutas Humanas: Atividade e Passividade

  • O que nos acontece (passividade)
  • O que fazemos (atividade):
    • Atos voluntários: Ação Humana (implicam vontade e intenção)
    • Atos involuntários: Atos do Homem (escapam à vontade)

Análise do Ato Voluntário

Ação Humana: Ato Voluntário

Ação humana é um ato voluntário; um querer pensado, refletido, ponderado.

Quatro Momentos do Ato Voluntário

  1. Conceção: O homem delineia o plano da ação a desenvolver.
  2. Deliberação: Mede os prós e os contras.
  3. Decisão: Ato pelo qual nos determinamos a agir.
  4. Execução: Pomos em prática a decisão tomada.

Rede Conceptual da Ação Humana

A ação humana explica-se não só pelo agente que a produz, mas também pela intenção, pelo motivo e desejo, pela finalidade e pela decisão.

  • Intenção: O que nos propomos realizar; aquilo que o agente quer atingir.
  • Motivo e Desejo: Levam a agir; o porquê da ação; tudo aquilo que é capaz de mover a vontade a agir; a razão consciente do agir.
  • Finalidade: O fim a que se quer chegar (ex: “Porque fizeste isso?”).
  • Decisão: Eleger uma entre muitas possibilidades.
  • Fins: A finalidade ou a meta da ação, que dizem respeito a tudo aquilo que ativa, orienta e dirige a ação.
  • Projeto: É aquilo que alguém se propõe a fazer; neste sentido, trata-se de um conceito equivalente à noção de finalidade.

Deliberação e Decisão

À deliberação segue-se a decisão, que consiste na escolha de alternativas possíveis em função de determinadas razões e motivações.

A decisão é o momento da escolha e da resolução, no qual é superado o conflito de motivos que impulsionavam o sujeito para a ação.

Liberdade e Responsabilidade

A Relação entre Liberdade e Responsabilidade

A liberdade e a responsabilidade estão tão ligadas na medida em que só somos realmente livres se formos responsáveis, e só podemos ser responsáveis se formos livres.

A responsabilidade implica uma escolha e decisão racional, o que vai de encontro à própria definição de liberdade.

Além disso, a liberdade e a responsabilidade são parâmetros essenciais na construção de um indivíduo como pessoa, visto que é através da liberdade e da responsabilidade que um sujeito é capaz de se tornar efetivamente autónomo.

Livre-Arbítrio

Livre-arbítrio é o poder de agir de determinada forma, ou deixar de agir, sem nenhuma razão para tal escolha a não ser a própria pessoa. Pressupõe, portanto, a escolha dirigida pela vontade; o indivíduo age de certa maneira porque assim quer e sente-se responsável pelo ato praticado. O problema do livre-arbítrio consiste precisamente em saber se a liberdade humana é ou não compatível com outras forças que a parecem anular.

Condicionantes da Ação Humana

Entraves à Ação

Os entraves à nossa ação situam-se em nós mesmos (físico-biológicos) ou provêm do exterior (histórico-culturais).

Condicionantes Físico-Biológicas

São determinantes do modo como agimos e reagimos nas diferentes situações; dependem da hereditariedade, uma condicionante básica das nossas possibilidades de ação.

  • Corpo
  • Órgãos internos
  • Sistema nervoso; sistema glandular
  • Motivações primárias: comer, descansar, dormir, etc. O grau de satisfação ou de insatisfação dessas necessidades liga-se a condições fisiológicas que fazem variar as nossas atuações.

Condicionantes Histórico-Culturais

Dependem de normas e padrões sociais; homens diferentes equivalem a diferentes condicionalismos de diferentes épocas.

  • Enquadramento histórico
  • Contexto cultural da época
  • Diferentes modos de agir e de ser
  • Padrões culturais exteriores

Debates sobre a Liberdade

O Compatibilismo

O compatibilismo é uma perspetiva que aceita o determinismo no mundo natural, mas defende que existe espaço para a liberdade e para a responsabilidade humanas. Afirma, além disso, que um ato pode ser, ao mesmo tempo, livre e determinado.

O Libertismo

O libertismo defende de modo radical o livre-arbítrio e a responsabilidade humana, considerando que o agente tem o poder de interferir no curso normal das coisas pela sua capacidade racional e deliberativa.

Objeções ao Libertismo

  • O facto de termos experiência da liberdade e de atribuirmos responsabilidades não prova que elas existam; elas podem ser ilusórias.
  • Se é o acaso que conduz as ações humanas imprevisíveis, então elas também não são livres, nem o agente é responsável.
  • Esta doutrina não nos favorece grandes explicações relativamente àquilo que produz as nossas decisões.

Valores e Experiência Valorativa

Definição de Valores

Os valores são os fundamentos ou a razão de ser das nossas ações e preferências. Os valores representam a não indiferença do ser humano perante os factos, objetos, pessoas ou situações.

A Experiência Valorativa

A experiência valorativa é o ato pelo qual um sujeito atribui ou se apercebe de valores (valoração) nos diferentes objetos, situações ou pessoas. No ato de valoração, o sujeito atribui uma diversidade de valores aos objetos, classificando-os como bons ou maus, belos ou feios, justos ou injustos, etc. Os valores estão na base dos desejos, sentimentos, avaliações, preferências, decisões e ações do sujeito.

Características dos Valores

  • Polaridade: (valor e contravalor)
  • Diversidade: (pluralidade)
  • Hierarquia: (há valores que consideramos mais valiosos que outros)

Juízos de Facto vs. Juízos de Valor

Juízos de Facto

Proposições que pretendem descrever a realidade; são claros e objetivos, ou seja, não dependem da preferência de ninguém; podem ser falsos ou verdadeiros; quando verdadeiros, é possível o seu reconhecimento por todos.

Juízos de Valor

Proposições que pretendem avaliar a realidade; são subjetivos, ou seja, resultam da apreciação e valoração do sujeito; não são falsos nem verdadeiros; muitas vezes não são consensuais.

Perspetivas Filosóficas sobre o Valor

Psicologismo

O psicologismo é a perspetiva filosófica que encara o valor como uma vivência pessoal. Os valores são subjetivos (dependem do sujeito), pelo que os objetos valem porque os desejamos.

Emotivismo

A perspetiva emotivista considera que os enunciados que exprimem os juízos de valor não são mais do que meras expressões das nossas emoções, sentimentos e atitudes.

Naturalismo e Objetivismo Axiológico

A perspetiva naturalista defende a existência real dos valores como qualidades das coisas. Esta definição encontra-se associada ao objetivismo axiológico, corrente que defende que os valores são qualidades reais e efetivas dos objetos.

Ontologismo

A perspetiva ontologista afirma o valor como entidade ideal, independente dos objetos reais e do espaço e do tempo. Deste ponto de vista, os valores são essências imateriais, intemporais e imutáveis.

Debates sobre a Natureza dos Valores

  • Defender a absolutividade dos valores implica defender que eles são independentes do sujeito e do objeto, que valem por si mesmos.
  • Defender a relatividade dos valores implica defender que eles dependem da valoração do sujeito, quer em termos pessoais, quer tendo em conta o contexto social e cultural em que se encontram.
  • Defender a perenidade dos valores implica aceitá-los como intemporais, imunes à história dos homens.
  • Defender a historicidade dos valores implica o reconhecimento dos mesmos como sujeitos ao tempo e a alterações em função da humanidade.

Critérios Valorativos

Critérios valorativos são o princípio ou condição que serve de base à valoração e que permite distinguir as coisas valiosas das não valiosas.

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