Filosofia Antiga: Pensadores, Conceitos e Legado

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Filosofia Antiga

Por milhares de anos, os homens explicaram o mundo em termos exclusivamente religiosos. A interpretação da natureza do homem, que não se baseava em deuses e sacerdotes, nos apresenta um dos problemas da filosofia, assim como a questão do mundo e da Cosmologia. Na etapa pré-socrática, que é essencialmente a filosofia da natureza ou do mundo, ela está sujeita a uma lei que garante a coerência interna dos acontecimentos e fenômenos: a mesma causa sempre determina, em toda parte e sem exceção, os mesmos efeitos. Sem este pressuposto, não há ciência, racionalidade ou lógica. Os representantes da filosofia pré-socrática são: Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, que tentaram definir o ser último da natureza: água, ar. Heráclito aponta do caos para um fogo cósmico inteligente, e Parmênides e seu discípulo Zenão enfatizam que o que é deve ser imutável e imóvel, e, consequentemente, as coisas perecíveis não são o Ser como tal, mas sim aparências inconsistentes. Os pré-socráticos subsequentes: Demócrito, Anaxágoras e Empédocles continuam a linha de Tales de Mileto. Sua doutrina da natureza é realista e materialista: são os quatro elementos que constituem o mundo. Na filosofia grega, inaugurou-se a razão como instrumento para a busca da verdade, lançando os princípios da ciência moderna. Ela surge como uma resposta ao mito, à argumentação sobre a sua natureza (o porquê das coisas), e a mitologia não é um pensamento filosófico, uma vez que não oferece uma demonstração dedutiva e racional de suas principais reivindicações.

Problemas Filosóficos Atemporais

É claro que muitos dos estudos realizados na filosofia mantêm alguma ligação com a sociedade e a época em que foram realizados. No entanto, muitos problemas filosóficos possuem uma generalidade que transcende o contexto histórico e social em que surgiram. Isto é o que explica, em certo sentido, o caráter intemporal de algumas das mais importantes questões filosóficas, como a questão do sentido do ser, da mudança, o conceito de sujeito, a estrutura do significado ou o alcance do conhecimento.

A Relação entre Fé e Razão

Para Santo Agostinho, importante é explicar a relação entre a alma humana e Deus. A fé e a razão são apenas meios ou instrumentos que exigem uma da outra para encontrar a verdade. Assim, a fé e a razão não são excludentes, mas complementares. Nem a fé é irracional, nem o conhecimento (de Deus) destrói a fé. Para superar essas posições que se excluem mutuamente, Santo Agostinho propõe que a fé seja colocada no início e no fim da especulação racional. Primeiro, como uma condição necessária para iniciar uma investigação sobre as questões que de outra forma ainda seriam desconhecidas (a fé é o guia e a programação da razão); segundo, a investigação racional leva o homem à fé, o que remove dúvidas e consolida o conhecimento racional.

Felicidade e Virtude

Para Platão, a felicidade é possível quando o homem pode contemplar a essência das coisas, que para este filósofo são as Ideias Divinas. Refere-se à contemplação com o intelecto, para além da ilusão que os nossos sentidos oferecem. Platão reconhece que ninguém pode ser feliz sem contemplar a obra divina no mundo, que se manifesta como um modelo para a felicidade humana. Para que o homem possa alcançar a felicidade, é necessário identificar-se com Deus pela prática da virtude. Nunca um ser humano será como Deus, mas a tarefa do homem para ser feliz é assemelhar-se a Ele tanto quanto possível, através da sabedoria, e os deuses se preocupam com carinho com todos que desejam ser justos. Platão considerava que oferecer sacrifícios a Deus e os recursos para elevar o homem justo é a melhor maneira de alcançar uma vida feliz, mas para os maus, estas ofertas e pedidos não são eficazes. O culto religioso e a virtude são, portanto, em Platão, meios para ser feliz nesta vida, porque só o justo pode ser verdadeiramente bom e feliz. Para Platão, a virtude é o conhecimento do que é verdadeiramente bom para o homem, e a ideia de que o bem não é relativo, mas um valor absoluto, pois se não fosse, não poderia ser objeto de conhecimento.

Da mesma forma, a filosofia platônica descreve o mundo sensível como ilusório, pois a primeira realidade verdadeira é a Ideia do Bem. O verdadeiro bem da humanidade, a felicidade, deve ser alcançado através da prática da virtude. Platão aceita essencialmente a identificação socrática da virtude com o conhecimento. A falta de virtude não é uma perversão da natureza humana, pois, por sua própria natureza, o homem busca o bem para si; mas se você não conhece o bem, pode tomar o mal como bom, e, portanto, agir de maneira inadequada. A falta de virtude equivale, então, à ignorância. Só quem conhece a Ideia do Bem pode agir de forma adequada, tanto no âmbito público quanto privado, diz Platão na República, no final da apresentação e análise do mito da caverna. Quando alguém escolhe uma ação que é claramente má, fá-lo, de acordo com Platão, acreditando que o tipo de comportamento escolhido é bom, porque ninguém escolhe o mal consciente e propositadamente. Neste sentido, a virtude cardeal seria a prudência, a capacidade de reconhecer o que é verdadeiramente bom para o homem e os meios disponíveis para alcançá-lo. A dependência do intelectualismo socrático é clara no pensamento ético de Platão. Na República, Platão nos fala de quatro virtudes cardeais: sabedoria, coragem, temperança e justiça. Como vimos, ele estabelece uma correspondência entre cada uma das virtudes e as partes da alma e as diferentes classes sociais da cidade ideal.


Platão: Dois Tipos de Conhecimento

Platão envolve dois tipos de conhecimento: o conhecimento sensível, obtido pelos sentidos, que é mera opinião e só nos permite entender as coisas materiais; e o conhecimento intelectual, a verdade pela qual conhecemos o mundo ideal, que é a recordação ("reminiscência"). Conhecer é recordar. O corpo do homem e a alma estão juntos por acaso. A morte é libertação, e a alma retorna ao mundo das Ideias, se tiver vivido uma vida virtuosa (em busca do Bem, da Justiça e da Beleza). É a virtude e a perfeição da Ideia do Bem que purifica a alma. Na República de Platão, os filósofos, que possuem o conhecimento verdadeiro, devem conduzir o governo. O conhecimento sensível consiste em capturar um objeto através dos sentidos, como as imagens capturadas pelo olho. Com ele, podemos armazenar em nossas mentes as imagens das coisas, com forma, cor e dimensões. Os olhos e os ouvidos são os principais meios utilizados pelos seres humanos. Os animais desenvolveram um olfato forte e um tato sensível. Em segundo lugar, temos o conhecimento intelectual (ou conceitual), que consiste em representações invisíveis, intangíveis, mas universais e essenciais. A principal diferença entre o nível sensível e o nível conceitual reside na singularidade e universalidade que caracterizam, respectivamente, estes dois tipos de conhecimento. O conhecimento sensível é singular, enquanto o conceito é universal. Por exemplo, posso ver e reter a imagem do meu pai, que é um conhecimento sensível e singular. Mas também posso ter o conceito de "pai", que inclui todos os pais, e é universal. O conceito de "pai" não tem cor ou dimensões; é abstrato. A imagem do pai é única e representa uma pessoa com dimensões e forma. Em contraste, o conceito universal de "pai" (o pai é o ser que dá vida a outro ser). A imagem do pai só se aplica àquele que tenho à minha frente. Em vez disso, o conceito de "pai" se aplica a todos os pais. Por isso, dizemos que a imagem é única e o conceito é universal.

Santo Agostinho: Fé e Razão

Santo Agostinho, embora não seja um filósofo no sentido estrito, nunca se preocupou em traçar fronteiras rígidas entre fé e razão. Ele acreditava que ambas, solidariamente responsáveis, têm a missão de descobrir a verdade, que para o crente é a verdade cristã. O objetivo de Santo Agostinho é o entendimento da verdade cristã, e por essa razão e fé colaboram da seguinte forma: Em primeiro lugar, a razão ajuda o homem a alcançar a fé; em segundo lugar, a fé irá guiar e iluminar a razão; e em terceiro lugar, a razão contribui para a clarificação do conteúdo da fé. A atitude de Agostinho para com a fé e a razão vem de sua convicção de que a verdade é única. Existe apenas uma verdade, que se encontra no Cristianismo. Do ponto de vista da história cultural, existem duas circunstâncias que ajudaram a moldar a filosofia agostiniana: 1) um contexto em que o cristianismo foi confrontado com a filosofia; e 2) a própria natureza da filosofia neoplatônica, que exerceu uma forte influência em Santo Agostinho.

Aristóteles: O Homem como Animal Político

  • Para Aristóteles, o homem é um "animal político" por natureza. Apenas os animais (no sentido de seres irracionais) e os deuses podem viver em isolamento. A força natural para a reprodução e conservação inclina os homens a viverem juntos, em primeiro lugar na família, depois na aldeia (junção de várias famílias) e, finalmente, na cidade-estado (nem poucas, nem muitas pessoas). O bom funcionamento de uma cidade-estado não é garantido apenas pela união de vontades para o mesmo objetivo, mas também exige leis sensatas e adequadas que respeitem as diferenças e eduquem os cidadãos para a responsabilidade cívica em liberdade (Aristóteles, em sua mentalidade de classe grega, não estendia o direito da cidadania a mulheres ou escravos). Há três formas legítimas de governo: monarquia (governo de um), aristocracia (governo pelos melhores) e República (governo de muitos). As formas retas de governo são aquelas que se opõem à tirania, oligarquia e democracia (Aristóteles entendia por democracia o "governo" dos pobres). Não se pode dizer qual das três é a melhor em particular; uma teoria deve ser deduzida a partir de uma investigação factual da história de várias formas de governo, e definir as circunstâncias em que uma é melhor para um determinado estado (Aristóteles recolheu e estudou as Constituições de 158 estados). Em princípio, qualquer forma de governo é boa se o governante visa o bem dos governados.

Aristóteles: Virtude e Felicidade

  • Recordando as declarações de Platão, vemos que existem duas noções de alma:
    • A alma como princípio de vida. Portanto, haverá uma alma vegetativa, uma alma sensitiva e uma alma racional (humana).
    • A alma como princípio do conhecimento. Neste caso, apenas a alma humana (racional) existe.
    Para Aristóteles, a alma é o princípio vital do corpo, sendo inseparável dele. Ele defende uma união natural entre corpo e alma, onde a alma é a forma do corpo. A alma individual, para Aristóteles, não é imortal no sentido platônico, pois não pode existir separada do corpo. As ideias de Aristóteles sobre a felicidade baseiam-se na afirmação de que este é o fim de todo ser humano. Podemos encontrar duas respostas diferentes:
    • O que cada um individualmente considera.
    • É a mesma para todos os seres humanos.
    Aristóteles, como Platão, é definido por esta segunda opção, identificando a felicidade com a virtude. Ele a materializou como a implementação de atividades que são próprias ou específicas de cada pessoa, de acordo com sua natureza. A teleologia imanente aparece aqui, pois a felicidade é inerente à natureza de cada um, e deve-se buscar aquilo que distingue o ser humano dos outros. No caso dos humanos, como a atividade específica do homem é o pensamento, a realização e a felicidade aparecem quando engajados em atividade contemplativa. Como todos os seres humanos têm a mesma natureza, segue-se que a felicidade é a mesma para todos os homens. No entanto, Aristóteles percebe que o homem não é apenas razão, e, portanto, a felicidade humana é limitada. Isso significa que é preciso ter certas necessidades previamente supridas, tanto bens tangíveis quanto virtudes morais externas. As virtudes são hábitos, mecanismos duradouros que nos permitem agir na vida, escolhendo o meio-termo em relação a nós mesmos. Esclarecendo o conceito de "média", dizemos que a virtude de Aristóteles é sempre representada como a média (Mesotés) de dois extremos, um por excesso e outro por deficiência. Observamos, também, que ele subjetiviza um pouco as virtudes. Podemos distinguir dois grupos de virtudes:
    • Virtudes Morais
    • Virtudes Intelectuais
    Normalmente, não se considera a excelência intelectual como uma virtude moral. No entanto, Aristóteles o faz, tanto sob a influência do intelectualismo moral de Sócrates, quanto em virtude do fato de que a virtude é considerada um meio-termo entre dois opostos, e a excelência intelectual permite agir com excelência, da melhor maneira possível. Quando alguém consegue, de forma excelente, a atividade intelectual, isso deve ser considerado uma virtude intelectual. Para encontrar o meio-termo entre esses dois extremos (excesso e deficiência), usa-se a prudência como padrão, que pode ser entendida como sabedoria prática ou bom senso.

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